quarta-feira, dezembro 31, 2008

Enough Is More

No dia de hoje, em jeito de despedida e de reencontro, e com as várias crises da crise na ordem do dia, apeteceu-me aproveitar a boleia de Sagmeister e expressar graficamente um aforismo apropriado aos tempos que correm. Partindo da famosa tirada de Mies van der Rohe e seguindo o conselho de Sagmeister {In general I hate the use of quotes by designers – it just seems so lazy.*} resolvi então ter algum trabalho — «Não ser preguiçoso», eis outro aforismo com pés para andar — e deixar-vos com o pensamento mais apropriado aos ares do momento.

{Clicar para visualizar em condições; não sei porquê não estou a conseguir colocar isto em formato maior...}

— * —

Tudo isto porque, neste Natal, o meu cunhado me ofereceu um exemplar do livro Things I Have Learned In My Life So Far, do designer austríaco Stefan Sagmeister. Nestes tempos intermitentes que tenho vivido aqui por casa {if you know what I mean...}, este livro tem proporcionado uma leitura muito agradável. Pois como pequenos livrinhos que são, veiculando simples histórias e aforismos, adaptam-se bem ao meu ritmo actual. Dos vários aforismos patentes no livro apetece-me destacar aqui os seguintes — Everybody Thinks He Is Right. / Worrying Solves Nothing. / Money Does Not Make Me Happy. / Trying To Look Good Limits My Life. / Everything I Do Always Comes Back To Me. / Helping Other People Helps Me. / Everybody Who Is Honest Is Interesting. / Drugs Feel Great In The Beginning And Become a Drag Later On. / Thinking Life Will Be Better In The Future Is Stupid. I Have To Live Now. / Being Not Truthful Always Works Against Me. Mas mais agradável ainda foi constatar que praticamente tudo aquilo que ele foi descobrindo ao longo da sua carreira como designer, também eu o fui descobrindo ao longo destes anos de vida profissional. E não estou a ser imodesto ou a querer comparar-me ao austríaco, que não vale a pena nem uma nem outra. Mas a verdade é que {apesar de quase 10 anos de diferença entre nós} um paralelo existe, pois em 1991 eu arrancava mais ou menos a sério com a minha vida profissional {cof... cof...} e Sagmeister voava para Hong Kong a fim de iniciar uma carreira fulgurante; ainda conservo o exemplar da Print, dessa altura, em que era apresentado o seu notável trabalho para um congresso de oftalmologistas.... No fundo, a questão é que a leitura das suas descobertas {e a constatação da pouca surpresa da minha parte} deu-me a ver que também eu tenho estado a aprender, não tenho estado parado. A grande questão é que, no matter what, a vida está lá sempre, pronta a desvelar-se perante nós e a nossa vontade de crescer. A inegável questão é que, quer no Oriente (rodeado de dinheiro, massa crítica e oportunidades), quer junto ao Miradouro de Santa Luzia (rodeado de mofo e humidade), a oportunidade de crescer e ver um pouco mais além é sempre possível ao ser humano. Esse potencial não tem sido desbaratado nem em Sagmeister, nem em mim, nem em tantos outros. E isso é sempre bom constatar. Como tal, um bom 2009 para todos vós, seres humanos em crescimento!


* Até aqui o tipo é bom. A quantidade de vezes que ele já deve ter sido citado neste particular...

domingo, dezembro 28, 2008

Este Natal já está a compensar!

Isto porque o barbas da época trouxe-me um outro barbas, de seu nome Phil Sawyer. Não o inglês, mas antes o australiano. Não aquele que ficou conhecido por ter composto uns temas para anúncios da Timotei, mas antes esse obscuro singer song writer dos antípodas {nossos, claro}. Não aquele que está ligado aos percursos de Steve Winwood, Fleetwood Mac, Les Fleurs de Lys e Spencer Davies Group {um yikes geral...}, mas antes esse barbudo psicadélico praticamente desconhecido. Na grande rede muitas são as referências que nos levam ao percurso do inglês, mas muito poucas as que nos falam daquele que verdadeiramente interessa aqui. O melhor que apanhei até ao momento foi este texto aqui. O disco, Childhood's End {1971}, esse, é muito bom e não pára de rodar por estas bandas. Poderia deixar aqui qualquer tema dos disco, mas em tempos de violência cega e de histerias várias {oh, miséria das misérias... posso estar a falar de tanta coisa, não posso?}, deixo-vos com as palavras do notável "Stranger in the Street".



Ah, e um enorme obrigado à Susana por mo ter oferecido. E por ter descoberto, essa que parece ser uma outra boa descoberta, a Past Perfect.

sábado, dezembro 27, 2008

Harold and Maude

Harold — You sure have a way with people.
Maude — Well, they're my species!

Harold — Maude.
Maude — Hmm?
Harold — Do you pray?
Maude — Pray? No. I communicate.
Harold — With God?
Maude — With life.

Maude — You know, at one time, I used to break into pet shops to liberate the canaries. But I decided that was an idea way before its time. Zoos are full, prisons are overflowing... oh my, how the world still dearly loves a cage.



Só pelas falas da Maude vale a pena ver Harold and Maude {1971}. De resto, diga-se em abono da verdade, não é lá grande espingarda. Sobretudo dada a fama de filme de culto que o mesmo carrega. E o que dizer da musiqueta desse tipo horrendo que dá pelo nome de Cat Stevens? Total downer!

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Berlim, 1945

«Aprés s'être tues si longtemps, ces grands-mères meurtries qui, dans leur maisons de retraite, sont prises de panique lorsqu'elles entendent des aides-soignantes parler russe ou lorsqu'on veut leur poser une sonde urinaire, sont-elles prêtes, au terme de leur vie, à raconter leur grand secret?»

A propósito de Anonyma, eine Frau in Berlin que o mais certo é ser uma banhada {trailer aqui}, mas sobre o qual, e cujo tema, o artigo do Le Monde de hoje levantou pontas perturbantes como a das linhas acima. A imagem é assustadora, não é? Quase que dá para cheirar a alcatifa e o rasto de sangue que a História vela, dia após dia.

sexta-feira, dezembro 19, 2008

PUB.

O meu amigo Nuno Fonseca tem um blog. E nesse espaço ele expõe aquilo que ele gosta mais de fazer, isto é, desenhar, encenar, elaborar, dar forma e cor {muita ou pouca, é conforme} a ideias, acontecimentos, sonhos e desejos. Dêem lá um salto, vale a pena.

Eu gosto particularmente desta {ampliar para desfrutar} que ele fez para uma animação de outro amigo {long time no see...}, o Nuno Leonel.

E agora?

Hoje, ao ler isto, apeteceu-me dizer, pensar, que finalmente alguma justiça tinha sido feita. Mas não é possível, pois não? A dimensão da coisa foi tão grande, tão sinistra, tão telúrica, que ver Theoneste Bagosora atrás das grades para todo o sempre de pouco adianta à história.

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Boas companhias...


Ainda há pouco, enquanto embalava a pequena Júlia junto às estantes dos DVDs, reparei com alegria que o Master and Commander: The Far Side of the World se encontra entalado entre os filmes do Visconti e os do Welles. Não está mal acompanhado, não senhor. Ainda bem para ele. E olhem que não se trata de aproveitar as boas companhias para a admissão de alguma espécie de guilty pleasure, não, não, gosto mesmo daquele enorme bicho de madeira e cordame a vogar pelo mundo fora.

domingo, dezembro 14, 2008

No Chump Love Sucker! No Chump Love Sucker!

Mas é óbvio, agora que revivo a coisa a propósito do post anterior, que o "No Chump Love Sucker" é que me enchia as medidas...

O Sol e eu

Foi há praticamente 20 anos atrás, em 1987/1988. Um sol do caraças, daqueles à maneira que aquecem até os ossos. Esparramado nas escadas da entrada da António Arroio. Ténis, calções e t-shirt. O Sol e eu em uníssono. A cabeça embalada em haxixe. Uma fome do caraças e uma barra de Mars na mão, prestes a ser metodicamente devorada. E nos headphones, na cabeça, no corpo todo, de alto a baixo, a vibrar, a hipnótica melodia de "Behind the Sun", do poderoso álbum dos Red Hot Chili Peppers The Uplift Mofo Party Plan {1987}. Naquela tarde devo ter ouvido o raio da música umas 100 vezes, num repeat assustador. Mas, meu Deus, aquela tarde foi perfeita demais!



Porque raio este tipo de memórias assaltam um tipo quando ele está deitado num sofá, na penumbra, num dia frio e ventoso e chuvoso como o caraças, enquanto tenta recuperar uns minutinhos de sono perdido, é que me intriga sobremaneira. Ele há coisas...

invent yourself and then reinvent yourself...


no leaders, please


invent yourself and then reinvent yourself,
don't swim in the same slough.
invent yourself and then reinvent yourself
and
stay out of the clutches of mediocrity.

invent yourself and then reinvent yourself,
change your tone and shape so often that they can
never
categorize you.

reinvigorate yourself and
accept what is
but only on the terms that you have invented
and reinvented.

be self-taught.

and reinvent your life because you must;
it is your life and
its history
and the present
belong only to
you.




"Roubei" este poema do Bukowsky do blog da Joana. Soube-me muito bem lê-lo. Inventar, reinventar, desafiar, chocar, tirar o tapete a, desbaratinar, veste "azul" hoje e amanhã "castanho", são tudo verbos e acções que me são muito caras. Obrigado a ele e a ela.

sexta-feira, dezembro 12, 2008

No comments...



It's only castles burning...

Em tempo de crises várias, de barricadas e chamas, de voltas e revoltas, de hotéis explodidos, de classes sem classe, de gritos ao vento, sim, confesso, é verdade, voltei a comprar jornais..., apeteceu-me deixar aqui uma toadinha, uma bela fiadinha, do meu mais recente redescobrimento musical {ando outra vez apaixonado pelo homem, vejam lá...} e que me parece vir muito a propósito.

terça-feira, dezembro 02, 2008

A vida sai-nos, de facto, do lombo...

O rapaz devia ter uns 5, 6, 7 anos de idade. Era loiro loiro, sardas dispostas em redor do nariz, camisas aos quadrados e calças de fazenda {quando não de bombazina} e fazia as alegrias dos seus pais. Sabia-o, sentia-o. Na realidade, bem vistas as coisas, o rapaz nem era bem rapaz. Naquele tempo, naquele país, rapazes loiros com calças de fazenda eram meninos. E esse menino era esperto. Atento. E miserável. Encontrava-se na pior das situações, encurralado. Já tentara utilizar a manha, a sonsice, a manipulação, que tinha ao seu alcance, em doses adequadas à sua idade, para contrariar as intenções dos seus pais. Já ensaiara a fuga, solução de quando tudo falha, fuga desenfreada pelos corredores do hospital que tão bem conhecia. Era um hospital verde, e castanho, e tons cinza aqui e ali, nas fardas, nas maçanetas, nos aparelhos. Nas patentes, estava o dourado. Nas boinas e nos ombros. Mas esse dourado, esse brilho, não o fascinavam, não o ofuscavam, neste preciso momento. Agora era tempo de salvar a pele. Fuga. Falhada. Preso. Agarrado. E com um toque de força a mais! Aquele toque a mais que machuca além da pele. O menino estava desamparado. Além de que já tinha levado com aquele olhar felino, assustador, que tão bem conhecia na sua mãe. E levara também com aquele outro, do pai, tão assustado quanto ele, mas disfarçado de autoridade e resolução, mãos-dadas com a chatice de tudo aquilo. Era uma chatice, não houvessem dúvidas. Mas para o menino era também, e essencialmente, uma traição. Todos os meninos {e rapazes, que aqui não há distinções!} experimentam, têm de, a sensação de traição. A deste menino foi naquele dia. Era a traição que emanava, vejam bem!, de presenças tão fortes na sua vida, como não havia outras, as mesmas que infernizavam a sua vida naquele dado momento. Era a traição de o fazerem passar por estúpido ao lhe acenarem com o milagre dos gelados sem limites, sem restrições, sem escolha de sabores, eram todos possíveis. Era só pedir. Que se lixassem os gelados! Ele queria era manter as amígdalas! Ele queria era evitar toda aquele sofrimento e humilhação. É verdade que já lhe tinham explicado que era assim mesmo, necessário, e que nem havia de custar horrores. E havia o tal prémio, no fim. Mas nem o conforto dos gelados o demovia daquele estado de terror. E agora, apanhado que estava, imóvel na cadeira, só lhe restava a traição daqueles ali em volta, aqueles estranhos de bata, frenéticos, embasbacados uns, resolutos outros, todos aplicados naquele ataque coordenado. Em relação a estes nem se tratava de traição, que não os conhecia de lado algum, nem eles a ele. Não havia laços, a quebrar. Estes, o que praticavam era mesmo tortura. E esbirros que eram, machadada letal deram. Na forma de máscara etílica, sufoco, grito, morte. Pontos cyan, magenta, yellow, black. Tudo decomposto. E de seguida o vazio. A morte. O silêncio.

{...}

A mão da mãe na sua. Sussurros. A respiração da mãe, ali ao alcance de um olhar. Mas os olhos insistiam em permancer pesados. O corpo, mais que a alma, dorido. E lentamente o menino despertou. Com a luz veio um pouco de rapaz até àquele menino. Assim meninos se tornam rapazes, assim rapazes se tornam homens. Assim homens se tornam meninos. Mas o corpo dorido persistia. Agora que pensa nisso, lembra-se de ter comido, realmente, um ou outro gelado. Mas também se recorda de que não souberam a nada {a sua mãe, mais tarde, contou-lhe que, recordando esse episódio, ele lhe confessou que só anuiu em comer e saborear e elogiar os famigerados gelados por consideração pela sua mãe e pelo seu sentido sentido de culpa}. E se não lhe sabiam a nada não era devido a um qualquer defeito físico, não, era mesmo porque o mal estava feito. E mais do que isso, era o mal estar feito e nada ter mudado. O mundo não acabara. Antes pelo contrário.


Quando contaram ao homem que fora esse rapaz que fora esse menino que toda esta aventura, toda esta dor e toda esta culpa estavam aninhadas ao longo da sua espinha dorsal, das suas vértebras e dos seus múltiplos nervos, proporcionando-lhe dores e incómodos, todos eles assentes em 30 anos de culpabilização dos progenitores, ele nem queria acreditar. Mas era, de facto, bem simples. Não lhe restaram dúvidas quando, após mãos mágicas operarem as suas artes e deixando essa energia entrar-lhe corpo/mente/espírito adentro, tudo se dissipou, os nós se desfizeram, e lavar a louça sem dores adicionais voltou a ser possível. A questão, para ele, agora, é determinar o que significarão, o que ocultarão, aqueles pequenos incómodos que ainda por ali se manifestam...




Por aqui é a osteopatia que fascina e as capacidades de quem é realmente competente. Aqui é mais a vertente sacrocraniana e a certeza de que tudo está no "realmente". Bliss!, essa é que é essa!

A little comfort...

Nos pequenos momentos {que não têm sido lá muitos} em que consigo resgatar resquícios daquilo a que cá em casa chamamos de "vida própria" ainda consegui iniciar, e dar alguma espécie de continuidade, ao The Naked and the Dead do falecido Norman Mailer. E, como se isso servisse de conforto..., lá vou pensando, noite adentro, quatro da manhã que podiam ser onze da noite ou mesmo, quem sabe?, dez da manhã, que se eu penso que isto das noites mal dormidas é difícil, o que pensar de estar desterrado, seminu e apavorado, a milhares de quilómetros de casa, cheirando mal e picado por bichos vários, sob a metralha e na vã esperança de se manter vivo até ao fim do dia? Sim, isso é difícil. Isto, é apenas divertido; é o que é.

Interregno...

Ainda há uma hora atrás a nossa querida Maria José nos afirmava, entusiasmada e encorajadora, que «o primeiro mês é para a Júlia, ela é que vos guia!». E isto, realmente, não tem andado fácil... São tantos os percalços, soluços, berreiros, alegrias e fervilhanços que não tem sido fácil sentar e escrever. A ver vamos se o Anauel {e os seus leitores, onde quer que estejam} aguentam tamanho hiato.

segunda-feira, novembro 24, 2008

Círculo

O passado dia 23 viu, nas suas horas iniciais, a minha filha Júlia abrir os seus olhinhos ainda "inúteis" e viu, nas suas horas declinantes, o fechar dos olhos de um homem sensível e sabedor, Rogério Moura. Garanto-vos que sair de uma maternidade repleta de criaturas lactentes e ir directamente para um velório, o de um homem que muito tinha de menino e que, suspeito, foi um avô "à maneira", é uma verdadeira lição de vida. Um turbilhão de emoções, de uma clareza assertiva.

Rogério Mendes de Moura

Perdeu-se um Senhor. Mais não é preciso dizer neste momento. Até mais, amigo.

23 de Novembro de 2008—01h:03m—51,5cm—3,595gr

Sê bem-vinda a este planeta querida Júlia! Que a aventura te seja benéfica!

sexta-feira, novembro 21, 2008

Lightning Bolt

Domingo que vem, estes caramelos {que não têm outro nome} vão dar espectáculo num dos pisos do parque de estacionamento do Largo de Camões. Eu vou estar lá. Espero. Espero que a Júlia assim mo permita... Vê lá rapariga, ou antes ou depois, mas não durante, ok? Valeu.

quarta-feira, novembro 19, 2008

Fritz Walter


«Walter, a midfielder with I.FC Kaiserslautern, was a man of some footballing sophistication but personal simplicity and an obvious cypher for the characteristics of the German workforce that were hauling the country out of its economic abyss: focused, modest, loyal, unyielding and undying in his dedication to the collective cause. His enigmatic reticence made his life magnetic to myth and legend. At the end of the war Walter was attached to the football team of an air-force unit on the Eastern Front. He was captured by the Americans but handed over to the Soviets who put him on a train for Siberia. At the final stop at the Ukraine he joined a kickabout with the guards. He was recognized by the camp officers and miraculously sent back to Germany. During the war he was said to have contracted malaria, a condition he never entirely shook off, and was ever after strangely energized by dank wet weather – known colloquially as Fritz Walter weather. This was a man who miraculously survived the Armageddon of defeat and occupation, who carried the feverish sickness of the whole experience in his veins, who came back to the same club and the same life he had left in 1939 and just tried to get on with it.» David Goldblatt, The Ball Is Round, 2006


Fritz Walter, o primeiro alemão a erguer a Taça Jules Rimet, que é como quem diz o primeiro alemão campeão do mundo. Nos idos de 1954 sob a batuta de Sepp Herberger dirigindo o Das Wunder von Bern.

Rectificação — Na verdade, Fritz Walter foi o primeiro alemão a "segurar" a Taça Jules Rimet, e não a "erguer". Pois, como é sabido, o primeiro homem a fazê-lo, mesmo que por sugestão alheia, foi Hideraldo Bellini, 4 anos depois, na Suécia, quando o Brasil conquistou a sua, também, primeira Taça Jules Rimet.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Das Wunder von Bern

Como não ficar plenamente emocionado ao assistir a isto?









Estádio de Wankdorf, Berna {Suiça}, 4 de Julho de 1954. Final do V Campeonato do Mundo de Futebol. A fenomenal selecção da Hungria face à pouco reconhecida selecção da RFA. E o Milagre de Berna perante os olhos de milhares e os ouvidos de muitos mais. A Alemanha de Sepp Herberger e de Fritz Walter derrotando a Hungria de Gusztav Sebes e Ferenc Puskas! Mein Gott! Provavelmente a mais completa partida de futebol de sempre {embora esteja certo de que os brasileiros devam contestar tal imputação...}. Pela emoção do jogo propriamente dita, pela qualidade do jogo jogado, pelos casos {o offside a Puskas ainda hoje é contestado}, pelas bolas à trave, pelas magníficas defesas de ambos os guarda-redes, pela chuva torrencial, pelo lindíssimo relógio Longines, na torre, sempre presente, assustador e, sobretudo, pela implicação política que representou o regresso da Alemanha à competição e à realização de feitos de cariz mundial. E pelo relato radiofónico de Herbert Zimmermann, considerado por muitos como um dos mais expressivos e emocionantes radialistas desportivos de sempre {embora esteja certo de que os brasileiros devam contestar tal imputação...} Ainda hoje os seus efusivos berros finais «Aus! Aus! Aus! Das Spiel ist aus. Deutschland ist Weltmeister, schlägt Ungarn 3 zu 2!» são reconhecidos e despertam emoções na Alemanha. E, nem que fosse por este momento {ver os primeiros segundos do 3.º filme}, pela belíssima, deliciosa, magnética, fritzlanguiana saída de Sepp Herberger dos balneários, prestes a enfrentar a segunda parte e o destino.

sábado, novembro 15, 2008

Com amigos destes...

Um está de carraspana, em casa, desgraçado da vida. O outro enfrasca-se e já não recupera como dantes. Um outro mete-se em fins-de-semanas com gurus do branding ou whatever. E eu fico agarrado desta maneira... Sim, também eu já não tenho as forças do antigamente e o Barreiro ainda é longe, pá. Assim sendo, fico-me aqui com um duchesse na mão e os episódios derradeiros da fourth season do The Wire na caixinha mágica. Bom, resta-nos sempre este notável "Lord Have Mercy".

quinta-feira, novembro 13, 2008

Coração aquecido...

Entretanto, com o frio, e neste compasso de espera à espera da Júlia, regressei ao tricot. Um belo cachecol em três tons de castanho, bem Howlin Rain!, para aquecer o primeiro Inverno da filhota que aí vem. Sempre que ali volto, é a mesma história, a mesma sensação de bem-estar, de relaxe, de vida plena. Ontem – ali encaixado no sofá, de frente para a "gorda" e para a garota, eu no tricot, elas no crochet, todos embalados por uns tipos a cantar ópera em francês – foi puro deleite.

Howlin Rain

Ontem foi assim, em Barcelona. E depois de amanhã, no Barreiro?

terça-feira, novembro 11, 2008

E à 44.ª vez...


Por muitas dúvidas que eu tenha acerca do futuro aberto pela eleição, e sobretudo pela emoção gerada em torno da eleição, de Barack Obama, uma coisa é certa – contra factos não há argumentos. Além de que a ilustração está muito boa; está muito, como dizer?, ilustrada...

{Via}

quarta-feira, novembro 05, 2008

Afinal foi mais isto...

Ontem à noite, enquanto os EUA se preparavam para contratar o porteiro Obama, era com este "Harper Lewis" que os Russian Circles abriam as hostilidades. Abençoados sejam os três rapazes!

Bater no ceguinho...

Nada mais triste do que os elogios a que tenho assistido em relação a McCain e ao seu discurso de derrota. Típico da maledicência profissional que esculhamba a torto e a direito, esmifra o pobre do homem e a louca do Alaska e, depois de ganho o jogo, bom, lhe tira o chapéu e reconhece que o homem é capaz de ser nobre. Se fossem um pouco mais honestos berravam: «É bem feito! Toma! Engole, porco!». Mas não. Afinal, o coitado até que se portou bem.

Eu a leitura que faço do dito discurso é esta: até McCain gostou de ver Obama eleito. Atenção, não por se ver ele livre de tal cargo {como vi por aí várias vezes apregoado}, não, acho que ele acredita mesmo que Obama é melhor escolha. O que, bem vistas as coisas, não abona muito a favor de Obama, não é?

Os males de Morales...

Eu bem que gostava de ter visto ou ouvido tamanha comoção acerca das questões da raça, e de como é bonito e histórico e comovente ver alguém de uma outra cor ser eleito, quando Evo Morales foi eleito Presidente da Bolívia há dois anos atrás. Mas uns são mais pretos que os pretos, isto é, são índios. É a vida.

Obama

Não me consigo emocionar com a eleição de Obama. Primeiro, porque o cargo é sujo por natureza e é ele que agora o preenche. É por isso legítimo perguntarmo-nos se será bom vermos alguém que estimamos e em quem depositamos esperança ocupar {é mais ser ocupado...} tal cargo. Além do mais, não acredito que Obama, só por si, chegue para limpar o cargo de tamanha herança {veremos quem se segue na lista de nomeações}. Segundo, porque aquilo que para muita gente parece ser já uma grande, enorme, vitória {black power!? mas andam a brincar?}, a eleição, para mim, é apenas o início. A coisa começa agora, ou não? Ou acham que acabou? O tipo já está eleito e nós já podemos dormir descansados? Não creio. Porque, terceiro, mais do que saber se ele é preto, ou se acabou, como se diz aqui, com a Guerra Civil norte-americana {está bem, está}, o que me interessa realmente saber é se ele é inteligente, competente, civilizado e honesto e, por conseguinte, saber: se ele vai anular o infame Patriot Act {é o vais}; se ele vai fechar Guantanamo e julgar em tribunais civilizados os seus detidos {deve ser, deve}; se ele vai finalmente classificar o waterboarding como uma forma de tortura e bani-la de uma vez por todas; se ele vai deixar de atacar países como tem sido, infelizmente, a tradição {mas essa vem de longe, não é?}; se ele vai deixar de se imiscuir nos assuntos internos dos mais variados países a sul do seu próprio país {ai, a tentação...}; se ele vai fazer algo de concreto para evitar que as corporations continuem a envenenar, nas mais variadas frentes, os seus próprios concidadãos {e muitos outros por tabela}; se ele sabe verdadeiramente ler as várias comunidades e sentimentos afro-americanos e, sabendo-o, representá-las e dar um passo em direcção ao apaziaguamento da brutal guerra racial que por lá se desenrola; se ele vai afirmar um dia legalize it! e reforma a DEA de uma vez por todas; se ele vai fazer a tal diferença no processo israelo-palestiniano {ou o sonho é só ao nível interno?; aqui já crescem dúvidas...}; se ele vai dar a mão à palmatória e admitir e corrigir o gigantesco erro que foi, e continua a ser, a invasão, bombardeamento e o infeliz dia-a-dia iraquiano; se ele vai, acima de tudo {e porque tudo é business, tudo é showbizz e ele sabe-o melhor que ninguém...}, pontapear nos tomates todo e qualquer CEO aldrabão, ganancioso e fora-da-lei. São muitos ses, caramba. E é por todas as respostas a estas interrogações estarem ainda tão longe, e por eu não acreditar que Obama tenha coragem, capacidade, oportunidade, suporte para as fornecer, que continuo sem conseguir emocionar-me com o homem e a sua eleição. Para mim, Obama é mais um porteiro contratado para abrir as portas desse enorme edifício que dá pelo nome de corporation. E, vistas bem as coisas, não há nada assim de tão histórico em contratar um preto para porteiro...


P.S. — Ainda bem que este blog apenas é lido por amigos, conhecidos e desconhecidos civilizados. Se não fosse assim ainda me arriscava a ter de ler comentários deste nível aqui. É certo que o tipo esticou-se mas ter de ler «Ó meu granda camafeu ignorante...» {Barack anónimus, lol} não deve ser fácil.

sexta-feira, outubro 31, 2008

O Sapo de Arubinha

Deliciosa história, esta do Sapo de Arubinha e do meu estimado Vascão!

«A similar cross-fertilization of Brazilian culture came through the mingling of Catholicism and African cultic magic. It was widely believed that Vasco da Gama's decade-long wait for a championship victory was caused by the curse of Arubinha, a player from a small team called Andrari [sic] wich had been humiliated by Vasco 12-0 in 1937. In 1943 and 1944 exceptionally strong Vasco teams were pipped for the Carioca title, and the club actually resorted to ploughing up the playing field in search of buried frogs that held the curse. No frog was found and Vasco begged Arubinha to tell them where the frogs were. He assured them there were none and the curse was now lifted. Vasco won the 1945 championship.» David Goldblatt, The Ball Is Round, 2006

Uma versão mais detalhada aqui. Onde fiquei igualmente a saber que existe um tal de O Sapo De Arubinha: Os Anos De Sonho Do Futebol Brasileiro do incontornável Mario Filho {crónicas seleccionadas pelo não menos incontornável Ruy Castro}. Must have...

quarta-feira, outubro 29, 2008

Russian Circles

Já falta menos de uma semana para estar a ver isto:


Embora suspeite que vai ser mais isto:

PUB.

Hoje faço publicidade à antropóloga cá de casa. Tem um livrinho novo a sair {chancela da Almedina}, está quentinho, quentinho, e este post faz alarde da coisa e do seu lançamento no próximo dia 6 de Novembro {quinta-feira}. Ocorrerá pelas 18:30 no auditório do Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna, na Rua 1.º de Maio, n.º 3, Lisboa {ao Largo do Calvário, ali mesmo debaixo da ponte} e terá a sua apresentação a cargo de Manuela Ivone Cunha (Universidade do Minho), João Vieira da Cunha (Faculdade de Economia da UNL), Intendente Paulo Valente Gomes (Director do ISCPSI) e Subintendente Manuel Monteiro Valente (Director do Centro de Investigação do ISCPSI).

Não sei se vão servir um Porto ou não, mas sei que vale a pena dar lá uma saltadela e comprar uma cópia do dito livro. Eu já li o texto e digo-vos que vale a pena, é interessantíssimo. Um olhar que não costumamos ter sobre o dia-a-dia dos agentes de uma esquadra em plena Lisboa, século XXI. Está repleto de pormenores, rituais e esquemas próprios de uma profissão fascinante como esta. Desde as incongruências típicas de organizações desta natureza até aos encontros com os "mitras", passando pelas angústias, fobias e desejos de quem anda a "pisar paralelo" nesta nossa cidade querida. Dava um episódio ou outro do The Wire, em suma. Bom, está feita a publicidade à antropóloga residente.

Marralyil

Há já uns tempos que me apetece partilhar este belo tema com a comunidade. Fui adiando, mas aqui fica ele. Chama-se "Marralyil" e descobri-o ao sabor do acaso no resourceful Killed in Cars, dentro de um muito interessante disco de Oz Fritz, All Around the World {2004}.

sábado, outubro 25, 2008

Fanny och Alexander

Uma lasca de olhar, eclipse de pessoa.

Reflexos de traços negros que pautam o caos.

Antecipando, na antecâmara, na passagem,

a fresta das frestas...

Visionada a fresta que não está lá,

surge então a fissura social, sentimental.

Que só a fresta redentora apazigua.



Delírio surgido após visionamento — finalmente! — de Fanny och Alexander {1982}, de Ingmar Bergman. Filme há muito em lista de espera, filme há muito desejado, filme há muito em muito imaginado. Nada do que estava à espera, contudo. Twisted, sofrido, asfixiante, perverso e no entanto... graças a Deus há suecos neste planeta! Hemsk film! ;{}

Waterboarding e o silêncio dos inocentes...

Em Fevereiro de 2008 o editor-chefe da revista Vanity Fair desafiou Christopher Hitchens a submeter-se a uma sessão de waterboarding. O tipo aceitou passar pela experiência e escrever sobre a mesma. Em Maio, num ambiente altamente controlado e sob espécie alguma de violência adicional, Hitchens deitou-se na famigerada tábua inclinada, deixou-se amarrar e sujeitou-se à prática infame. Resistiu 12 segundos e, devido a uma espécie de embaraço..., sujeitou-se e resistiu ainda a uns adicionais 19 segundos. E concluiu, como não podia deixar de ser, e tomando o pensamento de Lincoln sobre a escravatura uns tempos atrás, que se o waterboarding não é tortura, então nada é tortura.

A filmagem da experiência aqui em baixo e o artigo subsequente aqui.


Mas o estranho mesmo, para mim, é que aqui no burgo {e falo exclusivamente da blogosfera} ninguém tenha dado atenção à coisa. Ninguém postou, ninguém criticou o mérito ou o disparate da coisa, ninguém esbracejou, ninguém gritou «eu não disse?», ninguém acautelou um «olhe que não, olhe que não» que fosse. Fui ao blogsearch da Google e pesquisei os termos "Hitchens + waterboarding" para blogs escritos em língua portuguesa, entre Janeiro e a data de hoje. Resultados aqui. Bom, apenas nove blogs e todos brasileiros. Bizarro, não?

sexta-feira, outubro 24, 2008

Há que não sufocar totalmente o Doug Wilson que habita dentro de nós...

Aproveitando a boleia do post anterior, e vestindo superficialmente a pele de Doug Wilson, só me dá vontade de afirmar — que se lixe, caramba — que compreendo perfeitamente o Lourenço. So What?!

terça-feira, outubro 21, 2008

Doug Wilson for President

Este tipo encarna toda a javardice que eu gostaria, secretamente, claro está, um dia poder exibir, assim sem grandes traumas. À luz do dia, assim abertamente, cuspindo migalhas, exalando vinho rasca e coçando a tomatada como só ele sabe. Mas à falta de coragem, ou será mesmo de interesse?, e constrangimentos sociais à parte, resta-me a ocasional farta gargalhada e o constante anuir perante as suas dúvidas, hesitações e sabedoria {que a tem, não duvidem}. Se estivesse na corrida presidencial era nele que eu votava. É muito melhor, mas muito melhor, que o Pato Donald. E eu a dar-lhe... ;)

Choose wisely

Ainda por aí tudo entretido com sondagens blogueiras a propos de uma tal de cisão entre camaradas desavindos {não tenho visto os "morangos", confesso que não apanhei a trama...}, mas a mim esta poll é que me dá um gozo desmedido. Vão lá e votem. Este tipo é bom, tem saídas muito curtidas e esta é só mais uma delas.

É óbvio que a minha escolha foi direitinha para a sequência de Fibonacci. Mas é que foi mesmo sem grandes hesitações. Só podia.

quarta-feira, outubro 15, 2008

The F word...



Momento alto, altíssimo, da first season. De mestre.

Ikea for all...

Tenho ali um beliche Mydal, por montar, a olhar para mim. Nem sei bem por onde começar. Quero dizer, saber sei que o manual é claro, clarinho. A empresa é que é do caraças. Mas se o cabrão do bêbado do Jimmy McNulty conseguiu montar o dos rapazes dele, eu hei-de consegui montar o das minhas meninas!



Parece que muito depende do tipo de scotch que se usa...

segunda-feira, outubro 13, 2008

The best show on television, period.

Fartei-me de esperar por alguém que me ouvisse. Já papei a first season, estou na second season e a third season espera por mim, ali em cima da mesa. As duas primeiras vieram via Pirate Bay {you're the man, ingekul!} enquanto a terceira veio via Amazon. Ainda não pensei o que fazer em relação às fourth e fifth seasons, mas não perdem pela demora.

Mas uma coisa é certa, caros amigos. Todas as expectativas foram não só comprovadas como amplamente superadas. The Wire é, pura e simplesmente, do melhor que tenho visto em televisão; e olhem que já muita televisão passou por estes olhinhos. Dos vários textos, aqui e ali, que já tinha lido sobre a série, a conclusão mais comum, para além dos contínuos elogios, era a de que a série estava decalcada da realidade com uma eficiência considerável. O trabalho de campo, a investigação e a entrega aos assuntos abordados tinham sido levados muito a sério, quase parecendo, em certos momentos, mais um documentário do que uma série televisiva. A malta da rua, os agentes dos narcóticos e os dos homicídios, os estivadores, a Lei, todos eles representavam crivelmente a realidade. A ideia, diz Simon David algures, era que um qualquer estivador de um qualquer porto norte-americano que visse a série se identificasse automaticamente com Sobotka. O mesmo aconteceria com um qualquer McNulty que, do balcão de um bar qualquer, desse uma espreitadela para a televisão em mute, lá no canto. O mesmo já não diria de qualquer dealer afro-americano de uma qualquer esquina, pois essas tribos fazem ponto de honra em se diferenciar umas das outras. Mas os afro-americanos de Baltimore revêm-se certamente; um Omar ou um Wee-Bey não serão difíceis de encontrar.

A série é, por vezes, muito pouco série, pois tem uma dimensão muito própria, uma noção de ritmo pouco usual, onde a acção por vezes se arrasta ou se demora em pormenores ou diálogos que noutros formatos, e para outros públicos, não se aguentaria. A cidade, a rua, os vários segmentos da sociedade, estão definidos e presentes em The Wire de uma forma muito interessante; a própria forma como no site da HBO o elenco da série é apresentado é testemunha disso. Tal como o é a própria forma como a série foi pegando nestes segmentos, nestas instituições da city life {e lembro-me do sticker de Bunk que diz "I love city life"...}, a Rua, a Polícia, a Lei, a Escola, os Media, e as foi distribuíndo pelas várias, cinco {acabou este ano nos EUA}, épocas em que a série se desenrolou. Esta noção de proximidade com a realidade, esta veia documental, parece que deve muito à mini-série que a precedeu, The Corner — que acabei agora mesmo de ripar para um DVD, que segue por sua vez para fila de espera... —, trabalho que abordava apenas a rua, a esquina, e os "mitras" que a habitam. The Wire e, presumo, The Corner, em suma, o trabalho de David Simon e da sua equipa fazem-me lembrar, em certos momentos, o trabalho de Studs Terkel, esse incontornável e incansável divulgador do average american e das suas histórias e hábitos, o que é sempre bom.

E já referi que o cenário onde a acção se desenrola é a cidade de Baltimore? Eis outra das boas marcas de qualidade da coisa, Baltimore. Quem se lembraria de Baltimore? Bom, os carolas por detrás da escrita da série, que são de lá. O que torna a coisa ainda mais perfeitinha, convenhamos. Não há cá New York, nem Chicago, nem San Francisco, nem Las Vegas, nem Miami, nem LA. Não, os locais são mesmo estes aqui.

E quem quiser ler um pouco mais, pode fazê-lo aqui {só para assinantes...}, aqui, aqui e aqui. E volto a divulgar essa bela conversa entre David Simon e Nick Hornby.

domingo, outubro 12, 2008

The Garden

Isto deve ser bom. Cheira-me. Interessante, sem dúvida. É esperar que cá chegue.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Meryl, the blonde...

Mas o Still of the Night não trouxe só o Roy Scheider, também trouxe alguém mais, a tal loira de serviço. Meryl Streep. Sim, também ela entrou na minha vida via Still of the Night. Caramba, sempre se tratava de uma jovem rapariga atraente em início de carreira e já com três filmes "proibidos" em carteira {embora tenha sérias dúvidas acerca desta minha percepção então...}. Filmes "proibidos" eram todos aqueles filmes que, quando miúdos, ouvíamos os adultos à nossa volta comentarem, de brilho nos olhos, excitação mais que visível, vezes sem conta, na sala, no café ou no trabalho, e que não nos deixavam ver, nem pensar nisso!, de modo nenhum, ou porque eram violentos ou porque tinham sacanagem ou porque, bom, ambos. A Meryl Streep tinha passado pelo The Deer Hunter {1978} {o filme "proibido" dos filmes "proibidos"!}, pelo Kramer vs. Kramer {1979} e pelo The French Lieutenant's Woman {1981}; e o Still of the Night foi a chance, a oportunidade aceite.

No fundo, o engraçado nisto tudo é como foram os maus filmes a servirem de apresentação a óptimos actores – falo, claro está, de Oates e Streep; que o Scheider é um acidente de percurso, poor guy... {embora Jaws, Klute e French Connection possam ser considerados atenuantes} Seja como for, Blue Thunder trouxe-me Warren Oates e Still of the Night trouxe-me Meryl Streep. Não está mal, não senhor.

Scheider, the guy next door...

Mas o Blue Thunder não tinha só o Warren Oates {do qual, na realidade, nem me lembrava}. O Blue Thunder tinha, e foi este o actor que sempre associei ao filme, Roy Scheider. O Roy Scheider era, para mim, naqueles idos de 80, um tipo que eu associei sempre ao capitão Furillo de Hill Street Blues {que eu via, naturalmente, mas não curtia assim tanto}, mas ao qual dava mais crédito, que sempre achei superior, que me fascinava mais. E grande parte desta superioridade justificava-se essencialmente, e também só me dou conta disto agora, porque um ano antes de Blue Thunder tinha havido Still of the Night. Que filmaço esse Still of the Night! Um dos filmes marcantes da minha vida de pré-adolescente. Lembro-me de, naquela altura, o ter visto mais do que uma vez e de todas elas me surpreender e apaixonar ainda mais pelo filme. O enredo policial, o suspense, a sensualidade da loira de serviço, os ambientes dark foram para mim, naquele momento, uma verdadeira revolução.

quinta-feira, outubro 09, 2008

Warren, my man...

Recentemente, a propósito da minha relação com os helicópteros, fui relembrar esse filme dos meus 12/13 anos, de seu nome Blue Thunder. Ao ler a respectiva ficha na IMDB descobri que esse tal Blue Thunder foi, não tenho dúvidas, e só por isso é filme a estimar, o meu primeiro contacto com Warren Oates. O filme data de 1983 e estreou já com Warren a ser repasto dos vermes há coisa de um ano. Foi o último filme de Warren Oates e o meu primeiro filme com Warren Oates! E desde então Warren Oates me persegue, me embala e me conta historietas. Abençoado seja.

É de homem!

O meu amigo Pedro Magalhães abriu a caixinha de comentários no Margens de Erro... Agora, sim, vai ser um fartote. Ui, ui. Mas é uma boa política, sim senhor. Eu sei quem vai lá deixar uma posta de bacalhau de vez em quando...

terça-feira, outubro 07, 2008

LOLOLOLololololol...l...l.l.o..o.cof.cof.cof...l.o.l..... RIP

Em poucos dias deparei-me com diversos sketches, produções, filminhos, aqui e ali, na net, na televisão, nos blogs, na rádio. Um filme a gozar com Sarah Palin. Um outro goza com McCain. Outro com Hillary. Outros, inúmeros, gozam com Bush. Um outro explica-nos, entre gargalhadas, a origem da crise económica. Ainda uns outros, mais domésticos, gozam com Sócrates com Lino e com Pino. E, sempre, incontornável, com Chávez. Num ainda gozava-se, e mal, muito mal, com as casas usurpadas.

Eu que sou um gajo dado ao riso, aos humores vários, dos sarcásticos aos mais deprimentes, sem acanhamento nem pudores, acho que não me ri com nenhum deles. A pergunta – e, no fundo, é mais uma inquietação – é, será que já só nos resta rir? Nem é tanto a ideia de que já não há saída, logo só "nos resta" rir. Não. É mesmo no sentido de tão estúpidos andamos que nos rimos de qualquer merda. Além do mais, a resposta ocidental, civilizada, urbana e académica deste mundo em crise é rir? Ou fui eu que perdi o dom?... Nããã, que eu do Daily Show consigo {ainda e sempre, pelos vistos} sacar belas e fartas, redondas e agudas, gargalhadas! Mas esse é um caso particular. É que o Daily Show vive da realidade, ali a realidade é a estrela, não o actor, não o guionista, não o génio de um ou outro comedian. É óbvio que eles servem-nos a realidade com condimentos e enquadramentos escolhidos a dedo, e que é biased enough eu sei, mas ela está lá sempre, ali a realidade manda e entra-nos pela cabeça e estômago adentro. E a mim dá-me infinitamente mais gozo rir da realidade, da verdade da crise, do que da versão, mais sofisticada ou mais sacripanta, que um ou outro tenha da mesma. Rir pode ser o melhor remédio mas a realidade há-de ser sempre a melhor doença. Ou será cura?

segunda-feira, outubro 06, 2008

hélix + ptéryks

Desde sempre que este objecto, este animal de reino invulgar, este rotor assanhado, este amontoado de metal e coragem, me fascina. Se bem me lembro não devia ter mais de 5 ou 6 anos quando vi o primeiro helicóptero da minha vida. Foi num ambiente de concurso hípico {creio que em Vidago} e era um Alouette da Força Aérea, já batido pelo tempo e pela guerra, sem grande aura, mas que me impressionou deveras. Mais tarde, tenho memórias de um que tive para brincar. Numa escala bem à maneira, dava para pegar-lhe por uma pega que, com um gatilho, accionava as pás {fazendo em simultâneo o seu som característico; como eu adorava aquele som...} e com outro botão disparava rockets contra inimigos invisíveis. Claro, já mais tarde, também não fui insensível aos disparatados encantos do Blue Thunder {1983} e, ainda mais tarde, às misérias impostas pelas "valquírias" do Coronel Kilgore. Recentemente, não fiquei imune ao poder que emana de semelhantes bichos, ao ver um documentário no National Geographic {ou coisa que o valha...} sobre a linha de montagem do Apache que serve actualmente no Iraque. Mas hoje li uma das mais belas definições, inspirações, pensamentos sobre o assunto. Sobre essa dimensão estranha, onde forças contrárias, onde energias sobrehumanas desafiam as leis da natureza, e criam um estado fremente de sofrimento necessário à elevação. Hoje, ao ler estas palavras, senti o helicóptero tão próximo do ser humano...

«O helicóptero é um bicho que voa sem querer voar, porque ele tem tantos desgastes que é como se ele quisesse se autodestruir o tempo todo.» {Élson Sterque, Helipark}

{Vale bem a pena clicar na imagem, de modo a ampliá-la e poder desfrutar a fascinante complexidade destes bichos...}

sexta-feira, outubro 03, 2008

Placebo buttons e extinction burst

Muito fixe esta leitura. E dessa parte-se para esta.

!!! GLORIOSO !!!

Dou-me conta que o meu último post da série !!! GLORIOSO !!! já data de há uns bons 10 meses atrás. Só para verem por onde páram os meus níveis de blackout, blackin e blackallaround... Mas ontem foi notável, foi muito bom mesmo, muito saboroso. Grande casa, grande jogo, grandes golos. A vida é bela novamente.

Mas o mais marcante da noite de ontem foi a estréia da, já mística, já espétaclar, já sucesso garantido, Benfica TV. Ontem nasceu para o mundo lusófono, qual quê, para o mundo global, para esse universo de 44 milhões de benfiquistas {juro que foi esse o número avançado pelo canal...} o primeiro canal televisivo clubístico nacional. E tal como eu suspeitava cumpriu com tudo o que implicitamente prometeu. Ou seja, mau grafismo, má infografia, má coordenação entre os jornalistas, por vezes até má qualidade do sinal, mau som. Mas que interessa isso? Pouco, naturalmente. O Benfica é gigante, ponto final. Tudo o mais é possível e irrelevante. Mas o melhor, e garanto-vos que foi toda uma vida à espera disto, o melhor mesmo da Benfica TV é o relato do jogo. O relato, o comentário, o apontamento, a sugestão, do homem de serviço, ao serviço, o grande Zé Carlos. Atentem, Zé Carlos!!! Não podia chamar-se melhor. Perfect timing, devo dizê-lo. Só assim em jeito de apanhado geral, e sacadas de memória, deixo aqui uns exemplos de algumas das tiradas.

«Quem faz queixinhas vai para o Inferno.» [enquanto um italiano se queixava ao árbitro da demora em fazer o lançamento]
«Aqui não há funfuns nem gaitinhas.»
«Calem-se. Calemo-nos. Ouçamos o Inferno da Luz...»
«Será que os italianos ainda pensam ser possível marcar dois golos? Nuuuuunca.»
«Acabaram-se as pipocas.» [estava o jogo praticamente no fim]

Eu, que sempre fui adepto da imprensa politizada, estou com a Benfica TV, estou com o Zé Carlos. Imparcialidade é para professores, políticos e gurus. Aqui, no glorioso mundo da bola, não há funfuns nem gaitinhas. E é mesmo assim, o Benfica é o maior e ponto final. O que me anda a arreliar é que acho que não vou ter paciência para migrar da Zon para o Meo... Chatice.

quarta-feira, outubro 01, 2008

Fala Tu / Rize


Recentemente tive a oportunidade de ver dois documentários que, vistos assim de seguida, se complementaram de forma interessantíssima. Por um lado, o brasileiro Fala Tu {2003} e as desventuras de Thogum, Macarrão e Combatente. Por outro lado, o norte-americano Rize {2005} e as desventuras de Tommy, La Niña, Dragon, Miss Prissy e outros tantos clowns e krumpers. Por um lado, um documentário muito bem preparado previamente, visivelmente bem investigado e guiado por dois tipos {Guilherme Coelho e Nathaniel Leclery} oriundos de meios exteriores ao cinema e na sua primeira experiência de realização. Por outro lado, um documentário super bem filmado, a câmara sempre no local certo, do já mais que reconhecido, fotógrafo David LaChapelle. Pesem embora as diferenças, de produção, de budget, de estilo, ambos os documentários são exercícios muito interessantes sobre as estratégias da malta que vive a rua em zonas abandonadas, pobres e perigosas, quer seja no grande Rio de Janeiro quer seja na grande Los Angeles. Em ambos os documentários, e em ambas as cidades, a cultura Hip Hop serve como escape e tentativa de melhoria da vida de cada um. Num é o Rap, noutro é a Dança. Entre as balas perdidas e a ralação da vida quotidiana; uns cantam, outros dançam. Mas, e pormenor muito curioso, em ambos os documentários, em ambas as cidades {e no México, e em Lima, e em Nairobi, e algures no Oriente; atrevo-me a sugerir} um elemento é constante, um elemento sempre cativa um ou outro rapper, krumper, whatever e os dirige na vida – Cristo, a espiritualidade, sob múltiplas formas. Seja o Santo Daime, seja uma qualquer evangelical church. Dá que pensar.

terça-feira, setembro 30, 2008

Gulp!

Enquanto magicava o post anterior, e com esta foto de abertura do site dos Wilco a encher o monitor, a minha filha querida sai-se com esta — «Quem é esse? É o Tony Carreira?». E eu a pensar que estava a ter sucesso na educação {musical, pelo menos} da garota... E onde é que a tipa foi desencantar o Tony? Estou tramado...


Update – A miúda leu o texto aqui em cima e explicou-me de onde vinha o malandro do Tony... Querem mesmo saber? Da escola! Na sala de aula, enquanto se expressam plasticamente {depreende-se que não é necessária assim tanta concentração...} ouvem este tipo de personagens. Isto está mesmo entregue...

Sweet music to my ears...

Obama gosta dos Wilco e os Wilco gostam de Obama. Tocaram para ele recentemente em Chicago, trocaram piadinhas sobre o teor do ipod de Obama e oferecem, no site deles, um tema à borla {"I Shall Be Released" de Bob Dylan} a quem for votar no próximo dia 4 de Novembro. Circus aside a fotografia é deliciosa. Quase dá vontade de acreditar.

{Via}

Hoje só tenho 3 palavras para vós...


Howlin "Frickin" Rain


Mas também tenho espaço e vontade para aqui vos deixar um dos temas do mais recente álbum, Magnificent Fiend, o genialmente hiperbólico "Lord Have Mercy". I'll drink to that...

domingo, setembro 28, 2008

Óbito

Paul Newman
26 de Janeiro, 1925 – 26 de Setembro, 2008




Ainda muito recentemente desanquei no homem, logo logo me redimi e agora presto-lhe a devida homenagem. Nunca foi um daqueles actores com lugar garantido no meu panteão pessoal mas sempre lhe admirei uma faceta que agora, olhando para ele, para o mosaico que a vida dele assenta, me salta à vista. Presumo que para mim Paul Newman só pode ser definido por uma palavra. Perigo. Perigo de dentro para fora. E de fora para dentro. Perigo tortuoso. Quase falta de confiança, o que não é o mesmo que desconfiança. Perigo ali no limite. Perigo característico desse outro forte elemento que é o Jogo. E quando um Perigo, assim nestes termos, define uma personagem, essa personagem garante poder, corpo, fascínio, brilho e uma dimensão para além do aceitável. Paul Newman reflectiu, viveu, deu tom, encarnou o Perigo. Mais do que uma, duas, três, vezes. Na vida e na película. Até ontem. RIP.

sexta-feira, setembro 26, 2008

A word of advice...

Nina Katchadourian. Não percam o trabalho desta senhora. Provavelmente é uma artista bastante conhecida, lá trabalho tem ela..., mas para mim foi descoberta total. Passear pelo seu site, de projecto em projecto, é uma aventura muito interessante. A não perder!

Imagens do projecto CARPARK, 1994.

{Via The Ressabiator}

quinta-feira, setembro 25, 2008

É lindo, é lindo, é lindo, é lindo, é lindo!

Adoro isto. Adoro, adoro, adoro. Descobri isto via 4.º D. Já passei horas em frente a isto, inserindo os urls do pessoal que eu gramo {e dos que não gramo...} em busca de emoção, vibração e sei lá que mais. E de sentido. Isto não tem grande sentido, mas é irresistível. Certamente que tem uma grande teoria por detrás, certamente que para muitos as leituras são possíveis e inúmeras {até que os invejo}, mas para mim é "apenas" sensorial. Wow!

Os exemplos seguintes correspondem aos meus urls na grande rede. Mas não se fiquem pelas belas imagens, vão até lá, pois isto com movimento é muito mais poderoso.

ANAUEL


Es Lebe Unser Geheimes Deutschland


1971. The Ultimate Biopic


O Ar do Lisboeta


www.carlosvieirareis.com


myspace


quarta-feira, setembro 24, 2008

Ainda o defensor da grande pátria...

Apercebi-me no outro dia do que tanto me agrada em Hugo Chávez. Não são as boutades, nem os afrontamentos verbais ao Señor Peligro aka Mister Danger. Não são os ideais de esquerda, muito menos quando aplicados e ao serviço da visão da grande pátria em que, ele, Hugo "Bolivar" Chávez será o farol a mirar. Nem é o "Aló Presidente". Nem é o facto de ele ser muito mais inteligente e interessante do que a maior parte das pessoas está disposta a admitir. Também não é a profusão do vermelho. Não. O que verdadeiramente me agrada em Hugo Chavez é ele tornar visível aquilo que muitas vezes teima em permanecer invisível. Isto é, a falta de tolerância, a falta de bom senso, a falta de honestidade, por parte da Europa, dos EUA, do Ocidente esclarecido {presume-se}. A arrogância e a ignorância com que o Ocidente fala e aborda as questões venezuelanas, para não dizer mundiais {no sentido "do resto do mundo"}, são candidamente expostas pelos discursos de Chávez. Não pelas suas palavras, não pelo seu programa e conteúdo, mas antes pelas reacções às suas palavras. Não pelos seus gestos e grimaces, mas antes pelo asco e pela repulsa que despoletam. Porquê tanto ódio e tanta desconfiança perante o outro, aquele outro? Essa, sim, é a pergunta intrigante. Mais do que os porquês e comos da eleição de semelhante personagem. O abuso de poder, a idiotice desbragada, a prepotência, a falta de sentido das mais elementares noções de civilidade, e tantas outras falhas que usualmente lhe apontam, bom, eu descubro tudo isso e todas elas nos seus detractores. No fundo, o que Chávez me diz constantemente é «mira alrededor, Carlos». E eu olho, se olho.

terça-feira, setembro 23, 2008

Terça-feira de manhã, no café Ertilas

O tipo é grande, meio que disforme, um tanto ou quanto badalhoco, fumador tingido, com toques de Orson Welles. Fica para ali, na mesa do lado, a beber cafés e a tresler jornais, revistas, livros, cartas, catálogos e publicidade. E, pormenor estranho, sempre que tosse despoleta algo nele que o faz mandar umas tiradas para o éter. Umas saem em português, outras em línguas estrangeiras. Hoje apanhei estas duas.

«Deus nos dê juízo até ao fim dos nossos dias, que a Morte é santa. Além do mais, o juízo é cada vez mais como o dinheiro. Está cada vez mais mais mal distribuído.»

«Não há nada pior do que um inteligente a fazer-se passar por idiota para impressionar uma plateia de idiotas que se fazem passar por inteligentes.»

.

quarta-feira, setembro 17, 2008

A vida dífícil de um pai...

Como explicar à pré-pré-adolescente cá de casa que, não, os Lehman Brothers não são a banda rival dos Jonas Brothers; mas que, sim, de certa maneira, talvez sejam os dois lados da mesma moeda?

terça-feira, setembro 16, 2008

E os ouvidos também...

E depois admiram-se que surjam, aqui e ali, e aqui, e ali, e ainda lá, ali mesmo, não vêem? {hão-de ver...}, uns tipos, ou ainda outros, que só tenham vontade de gritar {e enquanto for a gritar, tudo bem...}

VAYANSE AL CARAJO, CIEN VECES!


Abram os olhos, pá...

O povo anda apavorado com os desaires da economia-farol. E com as manobras incompreensíveis de uns tantos irmãos {já foram os Dalton, já foram os Metralha e agora são os Lehman} nesses mercados sinistros que supostamente nos fazem bem. E o povo, enquanto espera pela queda, ou não, da segunda peça {esta do efeito-dominó é de morrer a rir}, o povo lá vai tentando completar o habitual esgar {com que encara a vida em geral} com mais um esgar habitual {aquele com que perpetua a sua própria morte em leasing}, num «enquanto há vida há esperança» desesperado. E quando não há vida? Mas, antes, cegueira? Bolas, a mim parece-me simples. Caramba, os tipos devem ser mesmo imbecis. Eu se estivesse estado lá estes anos todos, tinha certamente lido correctamente o painel. Há que saber lê-lo, pois é no painel que estão valores. Os valores faciais, atenção, não os morais {hã?; que é isso?; dá para trocar por milhas aéreas?}. E nas entrelinhas aprende-se sempre muito. Não tenham dúvidas disto.



segunda-feira, setembro 15, 2008

Mas também existe a Julia Florida...

E esta, sim, é aquela melodia que lançamos ao ar quasi religiosamente, todos os dias, ao cair do dia e ao levantar da noite. Uma Julia para uma Júlia...

"Julia Florida", de Agustin Barrios Mangore, interpretada por David Russell




Update — Um enorme obrigado ao Luís por ter trazido esta Julia Florida até nós!

Júlia Florista

Daqui a dois meses, mais coisa menos coisa, a minha segunda filha abrirá os seus pequenos e virgens olhos para este mundo terreno. E com ela, bem do alto do seu cucuruto ainda molinho até às plantas dos pés encarquilhados, virá até ao seio familiar o sonoro nome de Júlia. Esta foi a escolha dos pais, será por ele que responderá, será ele que unirá os mais diversos ares/humores da miúda. Mas pensam, porventura, que Júlia tem sido um nome pacífico, que a escolha de Júlia tem arrancado {e não esperam todos os pais por isso?} grandes aplausos e encómios? Nada disso. Tem sido mais ais e uis do que outra coisa... Durante uns tempos ainda andei banzado. Como podia tanta gente torcer o nariz perante semelhante escolha por parte dos progenitores? E a par da suspeita vinha sempre a referência à Júlia Florista!... A Júlia Florista para aqui, a Júlia Florista para ali, sempre presente o raio da criatura, fosse uma tia, uma empregada, uma avó, uma bisavó, a comentar o nome da criança vindoura. Mas quem era, é, a Júlia Florista? Nada mais do que a alma de um típico faduncho lisboeta. Bom, fui ao soulseek {e como viver sem o soulseek?, pergunto eu} e saquei o dito fado, para sempre celebrizado por, quem mais?, Amália. Aí tudo fez sentido. Ao ouvir a letra daquele fado apercebi-me de como, apesar de já ter passado cerca de meio século sobre uma certa Lisboa e uma certa Júlia {a Florista}, ainda hoje a «chinela no pé» e o «ar de ralé» fazem mossa nas projecções dos ideais familiares de sucesso e nas ambições e aspirações a uma vida acima sabe-se lá do quê.

Pois nós, cá por casa, temos ouvido com enorme prazer o dito faduncho e aqui vos deixo esta preciosidade gravada no Grupo Desportivo da Mouraria em, pasmem-se!, Agosto passado. Numa tanto deliciosa e engraçada quanto bizarra e confrangedora versão interpretada por mais uma Júlia {Lopes} e uma Joana Veiga. A não perder! Aquele bater de pé no chão de madeira, bem lá no final, é genial.




E para não ficarem de certo modo defraudados, aqui fica a notável versão da grande Amália Rodrigues.

sábado, setembro 13, 2008

E daí talvez não...

Provavelmente era mesmo no McCain... Então não é que o Obama é objecto de devoção por parte de Nobre Guedes?! Yikes!

Oxalá me engane...

Eu gostava, a sério que gostava, de embarcar nesta barcaça da esperança que é a candidatura, e eventual eleição, de Obama como próximo Presidente dos EUA. Mas não consigo. E porquê? Bom, porque, e não esqueçamos o essencial, ele vai {porque vai, não vai?} ser eleito Presidente dos EUA. O pessoal fala dele, e da esperança que ele vende, como sendo alguém de bem, alguém em quem possamos confiar, alguém de quem possamos esperar coisas boas e reveladoras. Esperar isto tudo, e mais alguma coisinha, do Presidente dos EUA?! O pessoal endoideceu? O lugar é sinistro por natureza. E só lá cabe alguém sinistro, dúbio e encarneirado. Mas como o pessoal está tão desenfreadamente assustado, cansado, desesperado e revoltado {ao ponto de para alguns até o Pato Donald ser voto viável...} o pessoal vai-se estampar. Ai vai, vai. Ou pensam que o tipo vai iluminar a Pennsylvania Avenue todinha até ao Capitólio? E depois do Hill o mundo! Deve ser, deve. Cheira-me que o pessoal à custa de tanto desespero vai é encher-se de mais um totó. Por vezes, chego mesmo a pensar se seria possível colocar desesperos à parte e, numa de racional, tentar perceber se McCain seria ou não {e eu acho que acho que não...} uma opção mais viável e lúcida. E se ele fosse? Já repararam o erro que tudo isto pode ser? O facto é que eu olho para os dois e aquele que mais me enerva é Obama. Aquele que mais me parece produto do mais puro branding é Obama. Aquele que mais cheira a corporation friendly é Obama. Aquele que menos parece surpreender é Obama. E isso não é bom, pois não? Mas sabem o que é mesmo mau? É que, pudesse eu, provavelmente votaria no tipo...

Riachão

Mas o melhor do documentário da Cristiana Grumbach {ver post anterior} foi a descoberta, num extra do DVD, desse fantástico personagem que é Riachão {de seu nome Clementino Rodrigues}. Ainda não explorei a sua música, mas adorei a cena do homem. E esta cartinha aqui em baixo é deliciosa!

Morro da Conceição

Há uns dias vi esse documentário brasileiro que dá pelo nome de Morro da Conceição {2005} de Cristiana Grumbach. Assistente e discípula e amiga de Eduardo Coutinho, Cristiana tem já todos os seus defeitos nomeadamente o dos planos longos e disparatados, aquele lirismo deslocado, mas não vou dizer muito mal pois se não for Coutinho e os seus a fazerem disto ninguém o fará... Mas o que é isto? Isto é ir aos sítios mais esquecidos, marginais, em vias de, e filmar o que lá se passa. Sentar na frente de pessoas que ninguém se dá ao trabalho de conhecer e deixá-las falar por uns momentos. Pode nem ser grande coisa. Mas é sempre saboroso. Coutinho fê-lo uma vez com Edifício Master {2002} e Cristiana fá-lo agora com Morro da Conceição, esse belo e raro bairro carioca {que não posso deixar de visitar da próxima vez...}, ali entre a Candelária e o porto, esquecido, onde o tempo parece parado, tal como os portugueses que por lá restam...