domingo, março 27, 2011

Sopa de letras, não obrigado.



Há uns 12 anos atrás, quando me dei conta de que o meu querido amigo e patrão tratava inequivocamente os livros que publicava como sacas de batatas, tomei a decisão de abandonar a Pergaminho e lançar-me a solo.

Ontem, ao saber que a Leya* comprou o supermercado biológico onde tenho andado a fazer as minhas compras recentemente, só me restou tomar a decisão de não mais comprar as minhas cenouras no Brio.

Grelos não são livros, livros não são tangerinas.






* Mais correctamente a Quifel Holdings, detentora tanto da Leya como do Brio.

sexta-feira, março 25, 2011

O Negro e o Branco

Ontem à tarde dei-me conta de que Campo de Ourique foi invadida por cartazes negros. Colados em caixas de electricidade, ao nível da cintura para baixo, desfilamos perante uma série — incompleta? apanhei estes, não sei se há mais — de mensagens, de rasgos, de gritos de revolta, de pensamentos e desabafos. Eu gosto de Campo de Ourique e ontem fiquei a gostar um pouco mais. Não gosto particularmente dos cartazes, mas eu não tenho de gostar de tudo o que é bom. E isto é bom. Parece-me.













Hoje de manhã dei-me conta {thanks Gonçalo} destes senhores {maismenos}. Também eles se mascaram de preto. Também eles procuram o branco onde o pensamento possa surgir, nesse breve momento. As letras destes tipos são negras, e não brancas como as do loner de Campo de Ourique, mas mais parecem brancas dado o negro negro negro da realidade circundante onde são apostas. Estes são mais consistentes. Procuram mais além. E, acima de tudo, não tratam mal a língua portuguesa... Bem pelo contrário.

quinta-feira, março 24, 2011

Bela merda...



Ontem, na Assembleia da República, PSD, CDS-PP, PCP (PEV) e BE rejeitaram o PEC 4. Ao fazerem-no, aprovaram o PEC 5. Isto é, aprovaram 2 a 3 meses da mais pura e abjecta campanha eleitoral, onde certamente assistiremos ao grau zero da política nacional {sim, acreditem, este ainda não foi atingido...}. Depois do acto eleitoral, onde certamente os do costume não vão votar {e a ver vamos se não aumentam...}, deixando novamente tudo na mão de poucos, logo veremos se o país resiste ou não ao PEC 6.


{encimar uma pintura de Francis Bacon com o termo merda é praticamente sacrilégio... bem sei, mas os tempos andam difíceis...}

quarta-feira, março 23, 2011

Mas...

... meus meninos, senhores e senhoras, por favor, indignados da vida, espoliados, enrascados e quejandos, prestem muita atenção, para o ano que vem, tudo o que for abaixo de 500.000 na Avenida é miserável, só dá para rir, é andar a brincar com o resto da malta! Ouviram bem?

Vão-se predispondo...

Vão-se prevenindo...

Vão-se mentalizando...

Vão-se amanhando...

Vão-se compondo...

Vão-se resignando...

Vão-se resolvendo...

Vão-se dispondo...

Vão-se preparando...

Vão-se habituando...

Vão-se acostumando...

Quiseram castigar, acabaram castigados...



Os portugueses são maus. Atrasados, pouco esclarecidos, medrosos, não sabem ler, estacionam em cima das passadeiras. Não vivem o país, utilizam-no. Usam e abusam-no. Um país que sempre os tratou mal. Lá isso é verdade. Mas o país são eles. E mesmo assim, sempre que podem, tratam mal esse país, tratam-se mal a eles próprios e aos seus vizinhos, e a quem tiver a lata de levantar a garimpa. E assim foi, uma vez mais, em Setembro de 2009. Os portugueses quiseram castigar o partido do Governo, sobretudo o seu líder Sócrates, aquele a quem tinham dado certo dia uma maioria absoluta. Quiseram castigar a acabaram castigados. Todos aqueles {e, infelizmente, mais uns quantos...}, indignados da vida, que há um ano e tal atrás festejaram a derrota da maioria, a nefasta maioria, que juntos conspiraram e deixaram de rastos a besta socialista, que exultaram com o fim do posso-quero-e-mando rosa, todos eles continuam castigados. E ainda vão ser mais castigados. É só deixar ver quem se segue... De facto, os portugueses são maus.

sábado, março 19, 2011

Nostalgia for the present



«My final day at the magic shop, I stood behind the counter where I had pitched Svengali decks and the Incredible Shrinking Die, and I felt an emotional contradiction: nostalgia for the present. Somehow, even though I had stopped working only minutes earlier, my future fondness for the store was clear, and I experienced a sadness like that of looking at a photo of an old, favorite pooch. It was dusk by the time I left the shop, and I was redirected by a security guard who explained that a photographer was taking a picture and would I please use the side exit. I did, and saw a small, thin woman with hacked brown hair aim her large-format camera directly at the dramatically lit castle, where white swans floated in the moat underneath the functioning drawbridge. Almost forty years later, when I was in my early fifties, I purchased that photo as a collectible, and it still hangs in my house. The photographer, it turned out, was Diane Arbus. I try to square the photo’s breathtakingly romantic image with the rest of her extreme subject matter, and I assume she saw this facsimile of a castle as though it were a kitsch roadside statue of Paul Bunyan. Or perhaps she saw it as I did: beautiful.»

Born Standing Up. A Comic's Life, Steve Martin, Scribner, 2007.


sexta-feira, março 18, 2011

WTF!?

Recibo Verde me confesso...

Há já uns bons tempos que os Recibos Verdes andam pela rua da amargura. Alvo fácil de ataques constantes, de todos os quadrantes. Porque são isto, porque são aquilo, é uma injustiça, é um descalabro, uma falcatrua. Mas deviam ter mais cuidado com esses ataques, pois há quem se sinta incomodado com a situação. Eu, por exemplo. Não continuem, por favor, a insistir no erro de meter tudo no mesmo saco. Há que separar as águas. Nem tudo é igual. Nem tudo é ilegal. Se querem atacar as injustiças laborais, tudo bem, contem comigo. Atacar a Precariedade, sim senhor, vamos a isso. Mas daí a generalizar e a declarar guerra aos Recibos Verdes... Sinceramente, a mim chateia-me esta situação de todos os dias ouvir dizer mal dos Recibos Verdes. Há quem seja Recibo Verde com muito prazer. Eu sou. Foi a melhor coisa que me aconteceu. Deixem os Recibos Verdes em paz! Ataquem antes os Recibos Verdes Falsos, ataquem a Precariedade. Deixem os Recibos Verdes seguir o seu caminho. Tem sido, de resto, um caminho muito interessante. Agora até já são electrónicos... E não se esqueçam de colocar, muito importante!, o Falso no final. Ah, e já agora, não se esqueçam igualmente do e a seguir ao i, no meio de Precariedade... ;)


Já foi azulado, esverdeado, em escudos, em euros, com as mais variadas taxas e isenções,
e agora até é electrónico... mas continua a ser feio, feio, feio. 


quinta-feira, março 17, 2011

Ciranda de Pedra

Quem tem memórias recônditas, tão enigmáticas quanto inexplicavelmente saborosas, da telenovela Ciranda de Pedra {1981}, ponha a mão no ar. Por favor, alguém se acuse. Alguém diga que não estou sozinho...



É certo que tinha a maléfica Frau Herta {!}, mas que mais tinha aquela telenovela, por que raio me apareceu hoje à frente, assim sem mais nem menos?



Ah, os meus queridos amigos brasileiros estão de fora do inquérito...

segunda-feira, março 14, 2011

Geração à Rasca, uma ilha rodeada de Portugal (2)

População da Islândia: 318.452 (wikipedia)
Manifestantes Geração à Rasca: 280.000 (Lisboa e Porto, segundo o Expresso)

A Islândia, ao longo dos anos, criou o mais completo mapa genético de sempre. Toda a sua população está inventariada, dando mesmo para saber as linhagens todas até ao mais remoto momento.

Portugal, ao longo dos tempos, criou o mais complexo mapa frenético de sempre. Toda a sua população despreza a classe política, dando para saber facilmente quem é quem, quem mama aonde, desde quando e por quanto.

A realidade é dura.

Geração à Rasca, uma ilha rodeada de Portugal (1)

População da Islândia: 318.452 (wikipedia)
Manifestantes Geração à Rasca: 280.000 (Lisboa e Porto, segundo o Expresso)

Quando os 300.000 islandeses acordam e olham em seu redor, o que vêem são litros e litros e litros e litros e litros de água gelada.

Quando os 280.000 manifestantes acordam e olham em seu redor, o que vêem são 9.700.000 portugueses.

A realidade é dura.

domingo, março 13, 2011

A4s



Pergunta inocente, alguém levou os tais A4s? Alguém os entregou a alguém? E e eles vão mesmo ser juntinhos em caixotes e entregues na Assembleia da República? Ou já não interessam? É nestes momentos que quase me dava vontade de ser jornalista {cruzes credo!}. Eu não largava de jeito nenhum esta história dos A4s. Porque era ali que residia a justificação para uma ausência de programa, atenção. O movimento apenas era laico, pacífico e apartidário {hum... hum...}, nos A4s é que viriam as ideias. Os A4s é que iriam desabrochar numa miríade de ideias luminosas que nos levariam, como povo unido como nunca, a um futuro garantido. Sigam os A4s, digo eu!


Update _ fui ao perfil do movimento no facebook e afinal agora basta enviar um e-mail... lá se foi toda a imagem de protesto liceal... :(

Das duas, uma...

Muito sinceramente, custa-me bastante assistir ao contentamento de muita da malta que foi ontem à passeata na Avenida. Muitos dos que foram são meus amigos e conhecidos. Muitos são pessoas que tenho em conta e estima. Que sei serem inteligentes. Que conheço há já uns tempos. Que têm mundo. Como é possível entenderem que foi um sucesso? Como é possível virem a terreiro afirmar que estava compacta, que vibrava {como se isso fosse difícil de conseguir}, que hoje será um dia diferente, que não é mais possível assobiar para o lado? Como?!

O que eu vi foi 200 mil pessoas a descerem a Avenida, ventilando descontentamentos vários {na boa, é para isso mesmo que a Avenida serve}, naquela cadência típica da Avenida, e, por fim, desaguarem nos Restauradores e ficarem entregues àquelas 3 alminhas! Meu Deus! Acho que foi um andar para trás muito lamentável. Não há muito tempo atrás, quando o pessoal descia a Avenida sabia que no fim estavam lá os profissionais. Eram os do costume, ok, eram os da cassete, os dos sindicatos, os desalinhados, os combatentes, os resistentes, whatever, mas eram os profissionais da coisa. Agora, desceram, berraram e ficaram ali encostados a um palanque improvisado com 3 alminhas que não sabiam bem o que fazer, o que dizer. À rasca.

Só vejo uma conclusão: ou o descontentamento não era assim tão grande, ou o contentam-se com pouco.

sexta-feira, março 11, 2011

Eu não vou, porque eu já lá estou!

Faço minhas algumas das palavras do João Nuno Martins...

«Mas esta mudança que eu desejo nunca acontecerá se não soubermos e estivermos absolutamente convictos do que queremos. E acima de tudo não se fará se não tivermos consciência de que temos que ser nós os primeiros a mudar. Cada um de nós. Na sua casa. No seu condomínio. No seu emprego. Na sua cidade. Na sua Rua. No seu grupo de amigos. No seu íntimo. Na sua mentalidade.»

O texto do homem é longo, e nem sempre concordo com tom da coisa, mas a ideia geral aproxima-se em muito da minha. Sobretudo esta ideia primordial, a deste parágrafo, em que ele coloca a tónica em nós próprios. Sempre achei isto, sempre me pautei por estas linhas, e é nas minhas acções e nos meus passos que me concentro, diariamente. E nunca esperei que governo algum me viesse dizer como é que é ou não é. Nunca esperei respostas e soluções de governo algum. Porque se o fizesse, mais cedo ou mais tarde, estaria na rua a berrar contra ele. Não me iria restar alternativa. Só que isso não é vida, muito menos o suficiente para eu ir à Avenida. Um dia, e esse dia é o próximo dia 12, vai a Avenida estar cheia de gente que, estando o programa em aberto, são A4s em branco, não vai ter outra alternativa senão estar contra alguém {leia-se Sócrates}, este ou aquele {leiam-se os administradores das empresas públicas... e privadas}, aquilo {o PS} ou aqueloutro {o PSD}. E eu gostaria era de ver a Avenida cheia de gente que está a favor de si e do outro. Nesse dia eu vou estar lá.

quinta-feira, março 10, 2011

Pré-HJ {02}



«Among the leaders of the pre–1933 German youth movements there was one who became a legend in his own lifetime. Eberhard Köbel—better known as “Tusk”— was born in Stuttgart in 1907, the son of a senior government official. Köbel joined a Wandervogel group as a boy, then became a member of the Freischar and leader of the Wurttemberg region of that group in 1928. In 1929, Tusk founded his own movement known as DJ 1–11 (Deutsche Jungenschaft—German Youth Movement of November 1). He revolutionized the youth press, radically changing newspapers’ layout, making them simpler, livelier and more attractive by using catchy illustrations and photographs. He introduced a new form of tent (the kohte from Lapland) which became very popular throughout the youth movement. The eccentric Tusk also introduced the banjo and balalaika; new songs and dancing styles were imported from Northern Europe. There was fanaticism and even ecstasy apparent in his speech and behavior. He was a visionary who thought in terms of a community for life, with all-embracing demands upon the individuals. Finding even the Prussian tradition too mild, Tusk introduced extreme ilitaristic practices and held up the ideal of the ancient Japanese warrior caste known as samurai. His dream was to forge German youth into one great army of followers whowere to become models of intrepidity, an elite of radiant physique and character, free from all bonds. Tusk’s Jungenschaft was a school of character. It became popular other groups envied his boys’ verve and élan, and often imitated their innovations, including attire and songs. He also met with jealousy and derision, and many rival leaders ridiculed his artificial pathos and tendency to swank. Tusk was a German nationalist but not an extreme one. As all right-wing leaders, he denounced the iniquities of the Treaty of Versailles, and attacked democrats, Marxists and Jews, but he never gave intelligible purpose to his feverish activities. His attitude in 1933 was more and more inconsistent. For a while he joined the Communist Party, and displayed much interest in Zen Buddhism. He advised members of his Deutsche Jungenschaft 1–11 to join Hitler’s youth and try to gain positions of command in order to subvert the Hitler Jugend from within. It seemed that Tusk nursed illusions of being appointed head of the Hitler Jugend. This was unthinkable and in January 1934 he was arrested by the Gestapo. Released in June 1934, he left Germany for Sweden and England where he stayed until the end of World War II, making a living as photographer and studying Far Eastern languages. In August 1944, Tusk, trying to make up for his own past political mistakes, expressed the hope that his former followers would fight as partisans against Hitler in the final phase of the war. The charismatic, legendary and eccentric Eberhard “Tusk” Köbel—regarded as both a genius and a charlatan—died in East Berlin in 1955, a sick, lonely and forgotten man.»

Trecho retirado de Hitler Youth, 1922-1945, Jean-Denis G. G. Lepage, MacFarland and Company, 2009. {Na fotografia, Eberhard Koebel}

Pré-HJ {01}



«The Bund der Artamenen (Artaman League) was another youth group that influenced the future HJ. The name came from the ancient Indo-German word “Artam” that was supposed to mean “revival through forces of the origin.” The Bund der Artamenen was a tiny organization of young ultranationalists created in the early 1920s by a young man by the name of August Georg Kenstler. Participants were devoted to the concept of soil and to the idea of German race. The idealist members of the back-tothe-land league wished to escape decadent and corrupt urban life through farming. They preferred to work on farms in lieu of military service. The Artamans were strongly chauvinist, anti–Slav and urged that Polishfarmers living in Germany be returned to their own country. Sympathizing with the Nazis, they had a flag displaying a swastika and a motto: “We want to march to the East!” Their device was “Blood, Soil and the Sword”—a slogan which was to become a basic principle of the SS. Many Artamans journeyed to farms in eastern Germany to defend the fatherland against the Slavs. The movement intended to mobilize hundreds of thousands of young Germans, but never succeeded in enlisting more than 2,000. It was not a success because the leaders quarreled, and also the idealism of these young people from the cities appeared insufficient to pass the severe test of agricultural labor. It was easier to rhapsodize about blood and soil than to buckle down to a working day of ten hours. The Artamans were also preoccupied with occultism and mysticism; they held that by communing with the ghostly spirits present in nature, mysterious veils of the past would be lifted. Their rituals tried to recreate that primordial kinship with nature which they supposed ancient Germans to have had. They abhorred science and reason as enemies of the life of the soul. Many of them became vegetarians and teetotalers, a few observed abstinence from sex, as they believed that the purification of the physical body would help the soul to see “reality.” They threw over orthodox medicine for spiritual and herbal healing, which were somehow felt to be closer to the primal source. They were thus open to the theory of the Nazi “philosopher” Richard Walther Darré (1895–1953), who preached selective breeding, the agrarian philosophy of Blut und Bodem (blood and soil) and the protection of the peasantry as the “life source of the Nordic race.” More and more the movement took on the character of an anti–Semitic society seeing the Jews as the exemplar of the bourgeoisie, and the urban bourgeoisie as the source of all misery. As the situation deteriorated in the late 1920s, some of the Artamans were drawn deeper into politics, and engaged in a holy war against their enemies: liberals, democrats, Free-Masons and Jews. Eventually many members of the Artaman League turned to National Socialism. Among the Artaman leaders in 1924 were two men destined to infamy in the Third Reich: Heinrich Himmler, who would later become Reichsführer SS, and Rudolf Hoess, later the commander of extermination camp Auschwitz. The small league was dismantled and incorporated into the Hitler Jugend in October 1934 as the Nazi youth movement gained strength.»

Trecho retirado de Hitler Youth, 1922-1945, Jean-Denis G. G. Lepage, MacFarland and Company, 2009. {Na fotografia, Wolfram Sievers}