terça-feira, julho 31, 2007

Óbito

Michelangelo Antonioni
27 de Setembro, 1912 – 30 de Julho, 2007


Saudades

Estou há um mês no Brasil, no Rio de Janeiro. Os meus amigos e familiares que me perdoem, o país e a vidinha que me perdoem, a minha casa e a minha rua que me perdoem, mas o que mais me falta tem feito, de quem eu tenho mais saudades é de montar e dos cavalos da Quinta da Pateira.
É bizarro? É. Mas sinto a falta do calor do Ice, do trote levantado da Safira, do pôr e tirar dos arreios, dos cheiros, em suma, daquele quadrado mágico ali desenhado.

Óbito

Ingmar Bergman
14 de Julho, 1918 – 30 de Julho, 2007


«Film as dream, film as music. No art passes our conscience in the way film does, and goes directly to our feelings, deep down into the dark rooms of our souls.»
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Adoniran Barbosa

Estes últimos dias têm sido dedicados à música, à descoberta de novos cromos brasileiros. Hoje foi o dia de descobrir "o" sambista paulista!

domingo, julho 29, 2007

Maysa

Esta descobri-a hoje. Olhei para ela, tirei-lhe as medidas e, Zás! Ainda nem ouvi o disco todo, mas já percebi que se, por um lado, existe a Bossa Nova, por este, temos a Fossa Nova. A biografia dela anda por aqui nos escaparates, e ao que parece tem muita bebida, muita depressão e um terrível acidente de viação para colocar um ponto final na história. Se calhar ainda mergulho nessa onda.

Dolores Duran

Vida social

Dois dias de intensa vida social. Sexta à noite, jantar em casa da Santuza e do Paulo. Sábado (na realidade, até domingo) imensa "bacalhausada" em casa do Zé e da Anita.

Na sexta houve risoto de camarão e uma salada de maçã e pepino. Regadas com muita cerveja e cachaça ("Canarinha", do melhor!). Ainda tive tempo para descobrir essa pérola que dá pelo nome de Dolores Duran e o Moacir Santos. No fim da noite ainda deu direito a um faduncho cantado pela Susana! Os temas brasileiros ficaram a cargo da Santuza.

No sábado, pela manhã, era a família toda a tratar da "bacalhausada"... Descasquei dezenas de cebolas e alhos (ainda tenho o cheiro nos dedos...), as miúdas descascaram as batatas e a Susana desfiou e cozinhou uma panelão de Bacalhau à Gomes de Sá. Pelas 14:00 começaram a chegar os convivas e só parou neste preciso momento em que escrevo estas palavras. No entretanto foi a confusão típica de uma festa que junta comida, muita bebida, 11 adultos, 10 crianças e 1 cadela... Também nessa noite houve direito a fadunchos, mas desta vez acompanhados pelo violão do Léo "Negão". E outros tantos sambas malandros...

Um agradecimento impõe-se aos Durões pelo apoio e incentivo ao bacalhau.

Maracanã

Sexta-feira passada fomos ao Maracanã. Eu, a Susana, a Matilde, o Zé e a Paulinha. Tínhamos os bilhetes comprados há já uns meses e todos contávamos com o Brasil na final, ou pelo menos a Argentina... Mas, feitas as contas, calhou-nos na rifa um inesperado Jamaica x Equador. Os bilhetes para a final tinham sido todos vendidos mas, mal se soube da eliminação do Brasil nas quartas de final, foi a debandada geral. Restaram os gringos (como nós) e aqueles que não tinham mais nada para fazer. Escusado será dizer que a torcida brasileira, logo logo, apadrinhou a Jamaica e foi por ela que gritou durante o jogo todo. Como esta galera que estava mesmo atrás de nós. Vascaínos, menguistas, tricolores e botafoguenses, todos se uniram na torcida da Jamaica e não se calaram nem um minuto. Aqui fica um pequeno exemplo (há mais no youtube):

«Essa eu já sei, Elvis é o caralho, Bob Marley é o nosso rei.»

















O jogo foi uma miséria (deprimente mesmo), a Jamaica perdeu (foi roubada) mas o estádio e a galera valeram a visita. Aliás, daqui a uns dias quero lá voltar, desta vez para uma joga a sério: Botafogo x São Paulo.

sábado, julho 28, 2007

Escutado aqui e ali (05)

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«Gente, mas isso é hilário!»
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02:30, 28 de Julho de 2007

Ao fim de praticamente um mês no Rio ouvi os primeiros tiros. Meia dúzia de sons secos na madrugada, silêncio total de seguida.
Em 2004 bastaram 10 dias (não esquecer que agora há Pan e reforço policial em peso), mas o som continua seco e o eco continua mudo.

Bar Serafim

Dá para acreditar, ó Serafim? Ontem à noite bebi umas cervejas acompanhadas por um pão com alho no Bar Serafim, um boteco português com mais de cem anos bem no começo da encantadora Rua Alice, em Laranjeiras. Tem a N. Sr.ª de Fátima na caixa registradora mas não encontrei o galhardete do Glorioso... Prometo voltar lá e postar umas fotos.

sexta-feira, julho 27, 2007

Escutado aqui e ali (04)

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«Fazer o quê?»
[acompanhado de um ligeiro e resignado encolher de ombros]
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Ó Gomes, Ó Bárcia

Que bom terem telefonado ontem à noite!

quinta-feira, julho 26, 2007

Rua Marquês de Pinedo, 12, Edifício Bom Recanto, Laranjeiras






Rio Squash Clube

Bem no fim da minha rua. Sempre que por lá passo oiço o chiar dos sapatos e as batidas na parede. Naturalmente que és tu, Serafim, quem me vem à memória!

Pan-Americanos 2007

Ontem à tarde foi a vez de mais uma sessão de Pan-Americanos 2007. E que sessão! Partida às 15:00 e regresso pelas 21:00, numa verdadeira excursão ao Engenhão (o novíssimo e belíssimo estádio olímpico do Rio de Janeiro). Cinco adultos e seis crianças de metrô e trem pelos subúrbios até Engenho de Dentro e aí rumo a umas quantas horas de Atletismo.
Pois, Atletismo. Eu até nem dava um chuto pela modalidade, fui mais pelo passeio, mas vim de lá feliz como uma criança. Bem, na realidade, as crianças não estavam assim tão felizes... Os adultos sim. Ontem percebi o porquê do Atletismo ser considerada a modalidade forte dos Jogos Olímpicos e similares. É emoção garantida e, desta feita, acrescida visto o Brasil estar a jogar em casa e ter uma torcida reconhecidamente alegre. Levou mesmo dois ouros ontem à tarde (ver e ouvir o hino nacional na cerimónia dos 1500 metros já aqui em baixo).



Ficámos nuns lugares pura e simplesmente geniais (mesmo em cima da meta) e tivémos direito a 200, 400 e 1500m femininos e masculinos, com e sem barreiras, salto em comprimento (o outro ouro brasileiro), lançamento do martelo (o desprezo geral por esta modalidade é assustador...) e, para mim a crème de la crème, o salto em altura. Sempre me fascinou a modalidade e ontem poder acompanhar uma final feminina foi muito entusiasmante. Ir vendo a fasquia subir gradualmente, ver as atletas com as melhores marcas em compasso de espera enquanto as mais fracas vão trabalhando, ver umas sair de prova e ver as que lutam pelas medalhas sobressair, enfim, assistir a todo um trabalho e a toda uma estratégia (que sempre me escapou na televisão) foi do caraças. Desde o primeiro momento, escolhi a canadiana Forrester (alta, esguia, linda) como minha favorita, mas acabou por ser a mexicana Rifka (genial mexicana!) a levar o ouro deixando para Forrester a prata. Sempre de pé, binóculos em riste, vivi um pouco da emoção olímpica. Valeu!

Estive tão embrenhado no salto em altura que nem me lembrei de filmar um ou outro salto... Pena. Mas aqui ficam os 400m barreiras masculinos.

Bar Luiz (cont.)

O problema do Bar Luiz é que não sai da cabeça... E sempre que estamos por perto (como estávamos ontem) e sempre que a fome de almoço se manifesta (como se manifestou ontem) é lá que se acaba sentado. Ontem, pois, foi a vez de a Matilde ir ao Bar Luiz. E que prazer senti ao vê-la, ali, toda alegre e pespineta, de garfo e faca em riste, lambuzando-se perante uma milanesa com salada de batata! E logo ela que ultimamente nem anda de amores com as carnes... Mas a saladinha de batata, regada a vinagre e temperada sabe-se lá com que ervinhas, bem, essa marchou sem hesitações. Já o fantástico apfelstruddel com creme (chantilly) não a convenceu.
Quanto a mim, ontem, pelas duas da tarde já tinha o dia ganho!

terça-feira, julho 24, 2007

Desde que o Anauel se instalou nos trópicos as andanças pela blogosfera têm estado mais ou menos de molho, um salto ali, um pulinho acolá. Mas hoje, sozinho em casa, desforrei-me e passei em revista todas as ligações do Anauel e, daí, todas as posteriores que se mostrassem relevantes. Da saltaria desenfreada restam algumas impressões agradáveis, algumas risadas e algumas descobertas interessantes. A anotar.

Mário Moura uma vez mais exemplar nos seus excelentes textos que vai colocando no The Ressabiator e sobretudo pelos seguintes links: a rivalidade Brasil x Argentina magistralmente expressa pela tipografia e o fascinante mundo e 770 dos Lubavitchers.

Um agradecimento ao Reactor e a José Bártolo pelo desafio proposto. Pena que tenha sido tão pouco participado (em termos lusos).

As despedidas calorosas ao Tristes Trópicos que, ao que parece (pois na blogosfera nem tudo o que parece é), acabou e partiu para novas pastagens...

Iguarias (07)

Milanesa (bife panado; 1cm de espessura!) com Salada de Batata. No Bar Luiz. Acompanhado de chopes claros e escuros (um para cada metade do bife).

Bar Luiz

Regresso ao Rio de Janeiro sob chuva intensa ao longo de toda a viagem. Cansado e com fome, nada melhor para recuperar as minhas forças do que uma refeição no Bar Luiz. Local de eleição (local de peregrinação!) onde gosto de voltar.

Fundado em 1887 pelo suíço Jacob Wendling, abriu as portas com o nome Zum Schlauch na Rua da Assembleia. Posteriormente passou para as mãos do carismático Adolf Rumjanek, personagem que popularizou o consumo do chope na cidade através dos braços-de-ferro que disputava com os clientes que pediam outra bebida que não cerveja... Adolf Rumjanek morre mas o Bar Adolf perdura, agora sob a direcção de Luiz Vöit (e já na Rua da Carioca, onde ainda hoje se mantém). Contudo, em 1942, fruto dos tempos agitados que se viviam, o bar sofre uma tentativa de destruição por parte de exaltados estudantes do Colégio Pedro II (ali perto) que pensavam, erroneamente, tratar-se (o nome do bar) de uma homenagem a Adolf Hitler. Felizmente, Ary Barroso (notável compositor brasileiro) encontrava-se nesse momento por ali, bebendo um chope (que mais?), e de pé, em cima de uma das mesas, acalma os ânimos, esclarece os estudantes e salva o estabelecimento. Daí em diante o Bar Adolf passa a Bar Luiz. Até hoje. Até sempre!

Quem me conhece sabe que só esta história é o suficiente para me fazer apaixonar pelo local. Caso não fosse bastariam os chopes e os pratos que lá se servem (ver post seguinte). Curiosidade: não servem café. Nem se fuma.

Iguarias (06)

Camarão à Grega no Branca's em Trindade (Parati). Camarão e cubos de queijo panados acompanhados de arroz grego e batatas fritas.

Parati

Parati. Terra fundada por portugueses já lá vão alguns séculos. De Ouro Preto vinha o ouro, de Diamantina vinham os diamantes. Ambos desciam a Estrada Real e ambos desaguavam em Parati, de onde embarcavam rumo a Lisboa. A Parati actual (o centro histórico) é basicamente uma vila de Oitocentos e mantém-se toda ela praticamente inalterada. Cidade para turistas onde nem se dá muito por eles. Boa comida e bons passeios (numa calçada terrível de calcorrear; uma calçada de Oitocentos...). À volta há praias de sonho e cachoeiras perdidas no interior da Mata Atlântica.

As ruas






















Festas de Santa Rita
A faixa "Cultura em Greve" na fachada da igreja é deliciosa...


Onde é que eu já vi isto?...
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África Latina?

O meu amigo Ribas não vê como («não tem condição!») mas, por vezes, a mim isto parece-me África (ou melhor, a ideia que eu, europeu, tenho de África). O isto anterior é partes deste Brasil que vejo a ladear a BR 101, ou zonas por onde passo em Parati.

BR 101

Duzentos e cinquenta e sete quilómetros ao volante de um VW Gol. Na BR 101, do Rio de Janeiro a Parati (para uns dias de praia). Uma estrada com momentos de sonho, serpenteando entre a serra e caindo sobre o mar.


sábado, julho 21, 2007

Mané Garrincha

Hoje ao fim do dia ainda pude correr e apanhar a projecção de Garrincha, Alegria do Povo, de Joaquim Pedro de Andrade. Na Cinemateca (é sempre tão bom ir às cinematecas!) do MAM pude assistir a esse filme tão difícil de apanhar. Sobre esse mítico número 7 também ele tão difícil de apanhar. Os "Joãos" que o digam...




Mané Garrincha, o anjo das pernas tortas, o melhor jogador brasileiro de sempre, que tinha nome de pássaro e que tinha um pássaro que não cantava, falava. E apenas dizia: «Vasco! Vasco!». Lindo.

Morro banhado a Lua e Sol

De um lado do morro, o azul e a Lua. Do outro lado do mesmo morro, o vermelho e o Sol. O morro é Santa Teresa, é lá que fico quando visito o Rio de Janeiro, e eu gosto muito dele.

Dick Farney

Ao fim da tarde regressámos a Santa Teresa subindo pelas Laranjeiras, Rua Alice em diante. Já lá em cima, bem em cima, numa curva forrada a verde, numa curva mágica, pude parar, admirar e respirar a rua e a casa onde nasceu e viveu um dos meus maiores heróis brasileiros — Dick Farney. Estar ali, por momentos, rodopiar debaixo de uma lua que observa deitada num azul tranquilo, entre o verde o azul, naquela curva, imaginar o som do piano de Farney descendo a colina, os "drinques" tinindo, tudo faz mais sentido.





[O filme está bem manhoso, eu sei, mas se for visto ao som de Um Piano Ao Cair da Tarde, tudo bem.]

Se alguma vez vier a morar no Rio de Janeiro...

... já sei onde o quero fazer! Hoje descobri a rua e o prédio onde, se algum dia a vida me trouxer aqui, quero assentar arraiais. Prédio "Bom Recanto" na Rua Marquês de Pinedo, mesmo na fronteira de Laranjeiras e Flamengo. Não é todos os dias que se descobrem ruas onde gostaríamos de morar! Esta é uma delas. Amor à primeira vista. Ficam desde já prometidas imagens da casa e da rua.

Parque Lage

De manhã fomos passear no Parque Lage, ali junto ao Jardim Botânico. Uma casa fantástica (erigida para albergar o amor da vida de um magnata carioca; actualmente uma academia de artes plásticas) no meio de um parque gigante com uma flora fantástica (e mesmo considerada como a única verdadeiramente carioca, visto que a Floresta da Tijuca é resultado de um reflorestamento) e uma fauna variada (passarada, sapos, cobras venenosas e não venenosas, preguiças, micos e macacos). Bom passeio.







quinta-feira, julho 19, 2007

Badminton

E hoje foi a vez de realizar mais um sonho de longa data. O Badminton (final masculina e final mista de pares) ao vivo, nos Pan-Americanos 2007. [Ok, quem quiser pode gozar... Mas acabaram-se as esquisitices, para a semana fico-me pelo atletismo e pelo futebol.] Deu até para a Matilde ganhar um dos volantes utilizados na final mista de pares! O norte-americano vencedor deu show no final distribuindo volantes pelo público, chegando mesmo a vestir a camisola canarinha. Um acto redentor perante o público brasileiro, eternamente contra e ainda visivelmente ofendido com o episódio do Welcome to the Congo!...



quarta-feira, julho 18, 2007

Hockey sobre Grama

Hoje realizei um sonho de longa data. Assisti, ao vivo, a um jogo de Hockey em Campo, numa das eliminatórias dos Jogos Pan-Americanos 2007. [É, eu sei, mais um dos meus estranhos interesses, mas o que fazer?] Fui com o meu amigo Zé assistir à vitória por 4 a 0 da Argentina (os que correm para o ouro) sobre Cuba. Bela tarde a ali passada, entre a torcida cubana, os piores hamburguers que alguma vez comi, a equipa brasileira feminina que treinava no campo ao lado, e a joga propriamente dita. Até o gigantesco engarrafamento, na Avenida Brasil, no regresso passou bem... Nada como as férias, o ócio e uma terra estrangeira.

Ocaso e Poente

Nós, em Portugal, vemos o Sol nascer nas nossas costas e deitar-se no mar, à nossa frente. Aqui, no Brasil, vêm o Sol nascer no mar à frente deles e deitar-se nas costas, no asfalto, atrás do morro.
Há já uns valentes dias que ando a matutar nisto. E não me sai da cabeça um povo a trabalhar que nem um mouro, arrastando-se durante o dia (empurrando o Sol...) para depois ficar prostrado, cansado, saudoso, olhando o Sol laranja desaparecer, esvair-se lentamente, levando com ele a energia que nunca perdeu. E um outro povo que mal vê a luz solar levantar a cabeça, lhe diz bom-dia, lhe oferece mil xícaras de café (como se ele precisasse...), lhe pede força e bênçãos para o dia que tem pela frente, que se guia pelo seu trajecto e que, finalmente, se deita, suado, queimado e feliz por uma brisa nocturna, acompanhada por um chorinho distante, lhe vir refrescar a última cerveja do dia.

É esta a diferença entre o Ocaso e o Poente.
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Rio divino

«Aprés Rio, toutes les autres villes vous semblent ternes, monotones, trop ordonnées, trop simples; tout semble vide, fade, dégrisé, en comparaison avec la multiplicité divine de Rio.»

Lá para Agosto, quando regressar a Lisboa, comprovarei se Zweig acertou desta vez. Cá para mim, entre nós, parece-me bem que sim...

Seixos

Quanto mais leio o Zweig mais vou vendo como ele andava enganado acerca deste país e deste povo. No meio do seu lirismo e cegueira generalizada, contudo, vai-me encantando com pequenas pérolas, pequenas imagens como esta.
A propósito das múltiplas origens dos habitantes deste território, e de como elas valem pouco e se esfumam rapidamente, Zweig compara os brasileiros aos seixos de um rio. Embora de múltiplas e diversas origens, todos eles acabam por rolar juntos no leito de um rio comum, limando desse modo toda e qualquer aresta mais aguda que teimasse em afirmar os seus particularismos de origem. Assim, rolando e chocando uns com os outros, alisando-se num bailado contínuo, eles se vão misturando e se tornando um corpo só. Um povo.

Ao volante de um Fiat Mille...

No sábado passado fiz a viagem Petrópolis-Rio num final de tarde fenomenal. Domingo conduzi na cidade meio adormecida e ontem enfrentei a fúria quotidiana do asfalto carioca. É grande o prazer de conduzir, mas ainda mais intenso quando numa cidade estranha e de hábitos e códigos, no mínimo, curiosos.

terça-feira, julho 17, 2007

Floresta da Tijuca (2)






Floresta da Tijuca (1)

Ontem fomos passear na Floresta da Tijuca, esse monstruoso colosso de verde que domina a cidade. Debaixo de chuvisco e neblina, os animais escondiam-se de nós mas não a cidade lá em baixo.


Manuel Bandeira

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Porquinho-da-Índia
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!

Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos, mais limpinhos,
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...

— O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.


Teresa
A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna

Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)

Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.


Madrigal tão engraçadinho
Teresa, você é a coisa mais bonita que eu vi até hoje na minha vida, inclusive o porquinho-da-índia que me deram quando eu tinha seis anos.


Tragédia brasileira (1933)
Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade.
Conheceu Maria Elvira na Lapa — prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, e apolícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.

sábado, julho 14, 2007

Petrópolis

Hoje saímos, feitos turistas, em direcção à Áustria tropical. De carro, serra acima, fomos conhecer Petrópolis, a cidade de veraneio do Imperador Pedro II. Verdadeira Áustria, Baviera, Westphalia, whatever, ali enterrada entre a selva, nas montanhas, no fresco. A arquitectura, a comida, as origens familiares da Imperatriz, a catedral gótica ali construída, tudo puxa o feeling para uma espécie de Música no Coração em versão sul-americana. Tudo, portanto, para ser um bom passeio!

Devo confessar que quanto ao Palácio do Imperador propriamente dito, surpreendeu-me pela positiva. Deixei de lado (já ía avisado...) a sua pequenez, a sua fraca sumptuosidade, e concentrei-me no conteúdo. Que é interessante, diga-se. A sala onde podemos observar as coroas, essa, é notável. A coroa de Pedro II cheia de brilhantes e a de Pedro I (seu pai)... despida deles. Na altura da sucessão utilizaram os mesmos brilhantes! Não quiseram fazer uma nova e tiraram de uma para colocar na outra!

A casa de Alberto Santos Dumont vale, sem sombra de dúvida, a visita. Desenhada e erigida pelo próprio nela podemos ver maquetas, fotos, documentos, a vida meio asceta que o cara levava enquanto sonhava com o espaço e o primeiro avião de sempre:
o 14 Bis.
















A casa de Stefan Zweig, essa, encontra-se em vias de recuperação e de futura abertura ao público. Pena.

Visto no Saara

Visto na Lapa

Escadaria Selarón

Ontem passeámos no Centro e para lá chegarmos utilizámos a bela e curiosa Escadaria Selarón. Selarón, artista chileno radicado no Brasil, e morador nesta mesma escadaria, resolveu um dia iniciar a cobertura dos seus degraus por azulejos (inteiros e escaqueirados). Com 215 degraus e 125 metros de comprimento esta escadaria conta já com mais de 2.000 azulejos diferentes, oriundos de mais de 60 países.

Selarón.


A escadaria.


O Glorioso!

Escutado aqui e ali (03)

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«E aí, eu detonei.»
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sexta-feira, julho 13, 2007

Iguarias (05)

Um suco de abacaxi. A qualquer hora. Em qualquer lugar. Com ou sem menta.

Escutado aqui e ali (02)

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«Abssuuurdo!» / «Mas que absurdo.» / «Isso é um absurdo!»
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Casa Paladino

A Casa Paladino já teve direito a entrar na série "Iguarias" mas tem forçosamente de ter um post próprio. Lugar mágico, encontra-se na Rua Uruguaiana, 226, bem no Centro do Rio de Janeiro. Misto de Mercearia e Bar, resiste ao passar do tempo e mantém na cidade fervorosos clientes e defensores. Quem achar, como eu acho, que a comida (e o acto de comer) é um meio tão bom, ou melhor, que ver monumentos ou vistas de modo a conhecer povos e cidades, este é um lugar a não perder. No Rio come-se bem, muito bem, e neste lugar a comida dá-nos mais, algo mais. Não se trata tanto da qualidade mas sim da intensidade. Uma fritada ou uma sanduíche ali tragadas fazem-nos sentir a história de toda uma cidade, de todo um tempo que parecia perdido.
Só a experiência de parar por momentos, lá fora, no passeio, a centímetros das divisórias de madeira, e ficar a escutar o burburinho lá dentro é uma viagem!

Iguarias (04)

Uma Sanduíche Tripla (Provolone, Presunto [fiambre] e Ovo) e um chope claro. Na Casa Paladino. Em pé.

quinta-feira, julho 12, 2007

Como em tudo neste país, as polaridades, os extremos, manifestam-se.












................O Cauê...............................O Cauê de Fuzil

Desgraças e Graças

Stefan Zweig escreve: «Cette chance – on ne saurait assez répéter que toutes les catastrophes du Portugal on été des chances pour le Brésil – ...».

Senão, vejamos estes dois exemplos.
1. Desgraça: Portugal perde a sua independência para a Espanha de 1578 a 1640. Graça: Os Holandeses sentem-se à vontade para pôr os pés e as mãos no Brasil. Com a chegada do humanista Maurice de Nassau o Brasil vê pela primeira vez a organização económica. Na busca da conquista da "Het Zuikerland" (a Terra do Açúcar) chegam ao Brasil astrónomos, botânicos, técnicos, engenheiros e sábios. Um mundo novo se abriu então. Graça adicional: após 1640 Portugal dispõe-se a retomar o Brasil para si, mas hesita, e negoceia, e hesita novamente. Não querendo esperar mais, pela primeira vez, ergue-se uma identidade nacional e são os brasileiros que defendem o Brasil correndo com os Holandeses.
2. Desgraça: Napoleão às portas de Lisboa. Graça: D. João VI parte para o Brasil. Entre perder Portugal e o Brasil, D. João VI prefere guardar aquela que, percebe ele então, é a sua maior jóia. E parte para o Rio de Janeiro levando com ele dinheiro, a nobreza, a magistratura, o clero, os generais. E depois, lá instalado, a banca, a imprensa, as artes, a ciência, a indústria.

Como diz o povo: há males que vêm por bem.

Brasil x Argentina

Domingo tem final da Copa América, Brasil x Argentina.

Como cantou Wilson Simonal:
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
olha o sambão, aqui é o país do futebol
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
olha o sambão, aqui é o país do futebol

quarta-feira, julho 11, 2007

Jockey Club do Rio de Janeiro

Há uns dias atrás fomos ao Jockey Club do Rio de Janeiro. Era um desejo de há muito. Apostámos e perdemos. Na boa. Vimos os cavalos e os viciados. Aqui ficam uns e outros.