Em poucos dias deparei-me com diversos sketches, produções, filminhos, aqui e ali, na net, na televisão, nos blogs, na rádio. Um filme a gozar com Sarah Palin. Um outro goza com McCain. Outro com Hillary. Outros, inúmeros, gozam com Bush. Um outro explica-nos, entre gargalhadas, a origem da crise económica. Ainda uns outros, mais domésticos, gozam com Sócrates com Lino e com Pino. E, sempre, incontornável, com Chávez. Num ainda gozava-se, e mal, muito mal, com as casas usurpadas.
Eu que sou um gajo dado ao riso, aos humores vários, dos sarcásticos aos mais deprimentes, sem acanhamento nem pudores, acho que não me ri com nenhum deles. A pergunta – e, no fundo, é mais uma inquietação – é, será que já só nos resta rir? Nem é tanto a ideia de que já não há saída, logo só "nos resta" rir. Não. É mesmo no sentido de tão estúpidos andamos que nos rimos de qualquer merda. Além do mais, a resposta ocidental, civilizada, urbana e académica deste mundo em crise é rir? Ou fui eu que perdi o dom?... Nããã, que eu do Daily Show consigo {ainda e sempre, pelos vistos} sacar belas e fartas, redondas e agudas, gargalhadas! Mas esse é um caso particular. É que o Daily Show vive da realidade, ali a realidade é a estrela, não o actor, não o guionista, não o génio de um ou outro comedian. É óbvio que eles servem-nos a realidade com condimentos e enquadramentos escolhidos a dedo, e que é biased enough eu sei, mas ela está lá sempre, ali a realidade manda e entra-nos pela cabeça e estômago adentro. E a mim dá-me infinitamente mais gozo rir da realidade, da verdade da crise, do que da versão, mais sofisticada ou mais sacripanta, que um ou outro tenha da mesma. Rir pode ser o melhor remédio mas a realidade há-de ser sempre a melhor doença. Ou será cura?
Há 10 anos
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