segunda-feira, agosto 31, 2009

Idiotas-a-dias

A empregada pode limpar a merda das nossas sanitas. A empregada pode ir ao Pingo Doce e carregar as nossas comidinhas, que ela própria mais tarde cozinhará. A empregada pode passear as nossas crianças no jardim. Pode até mesmo levar as crianças à praia, que nós temos mais do que fazer. Mas tirar as grainhas às uvas e os caroços às cerejas já não pode?! Já é demais isso? É esse o limite? Tenham juízo!

American Hardcore {#07}

A violência estava lá, é inegável, mas aliada às cabeças rapadas, ao slamdancing, aos jeans and whatnot, lançou sobre o movimento uma sombra, sombra essa que tinha a forma Skinhead. Mas citando Steven Blush uma vez mais: «Contrary to what some people say, there were not hordes of goose-stepping Skinheads at Hardcore shows. But a lot of kids who read about that would emulate Skinhead behaviour. There arose such hysteria over a perceived problem that, by the mid 80s, there became one».

Mas lindo mesmo, é esta declaração de Michael Alago, um music biz exec que viveu aqueles tempos: «Skinheds were kinda scary to me, unless they were cute. Back then, I was absolutely fearless. I loved nasty, tattoed Hardcore boys, and lots of them were filled with so much testosterone that I don't think a lot of them cared whether they got a blow job or had sex with a guy or a girl. So, those Skinheads coming to the scene? I just though it was sexy. I didn't think about politics. I had my own agenda».

quinta-feira, agosto 27, 2009

American Hardcore {#06}

Uma vez achado o termo, o epíteto, uma vez delineadas as sonoridades tanto de inspiração e de base como de caminhos futuros, e sobretudo tendo em conta a energia, a violência, a puberdade desenfreada, faltava, pois, encontrar a dança. O Punk tinha o Pogoing que Lee Ving {Fear} considerava «less interactive, more benign». O Hardcore criou o Slamdancing. Nas palavras de Steven Blush: «Slamdancing developed in Southern California towns like Huntington Beach and Long Beach. [...] Kids referred to it as "The Hutington Beach Strut" or "The HB Strut" – strutting around in a circle, swaying your arms around and hitting everyone within your reach. Slamdancing was significant because it separated the kids from the posers and adults.»

quarta-feira, agosto 26, 2009

American Hardcore {#05}

Mas e o termo? Quem alcunhou Harcore? De onde, e como, surge? Quando podemos começar a falar com certezas em Hardcore? É certo que a primeira versão oficial do termo surge no título de um álbum dos D.O.A. — Hardcore 81. Mas para Steven Blush existem dois momentos anteriores, duas gravações extrictamente Hardcore. Diz ele que para quem vivesse na costa Oeste as honras iriam para o LP Out Of Vogue {1978}, dos The Middle Class, e que para quem vivesse na costa Este seria sem dúvida o 7" Pay To Cum {1980}, dos Bad Brains, a ser o primeiro dos primeiros. Tira-teimas aqui em baixo.

The Middle Class
{fica o "You Belong" porque parece que há problemas autorais com o "Out Of Vogue"...}


Bad Brains


Eu voto no "Pay To Cum", pois no fundo, no fundo, Bad Brains rule!

American Hardcore {#04}

Se a dieta dos Germs eram as drogas e o álcool, para os Fear o combustível era mesmo a violência. Quer verbal, quer física, estes angelinos tanto destilavam violência na pessoa do seu vocalista, Lee Ving, como na postura dos miúdos que enchiam os seus concertos, essencialmente surfistas suburbanos e imbecis. Dez Cadena {Black Flag} acha que eles eram Metal travestido de Punk, talvez porque tocassem bem demais para a norma. Ainda hoje tocam, mas não se aconselham...




Curiosidades adicionais: pelos Fear passou Flea nos idos de 1983/84; e o ponto alto da carreira dos Fear parece ter sido o caos provocado por eles e respectiva "massa associativa" aquando da sua aparição, em 1981, no Saturday Night Live a convite de John Belusci {descrição detalhada aqui}.

terça-feira, agosto 25, 2009

American Hardcore {#03}

Já em solo norte-americano, debaixo do sol risonho de LA, surgem os Germs. Liderados pelo carismático e "muito doido" Darby Crash, por muitos considerado o Sid Vicious norte-americano, os Germs são, na opinião de Steven Blush, a primeira banda norte-americana a engatilhar no rumo em direcção ao Hardcore sendo uma influência inegável para as bandas que se seguiram. Em 1979 lançaram o álbum GI {Slash}, ponto alto da banda, do qual deixo aqui as imagens {desse mesmo ano} do tema "The Other Newest One". Um ano depois, e um dia antes do assassinato de Lennon, Darby Crash morre de OD, apenas com 22 anos de idade – não fossem os Germs muito dados às drogas e ao booze e muitos ainda acham que poderiam ter sido uma das bandas-referência do movimento que por ali nascia.

American Hardcore {#02}

Sham 69. Um punk britânico não tão fashion como o dos Sex Pistols era, antes mais working class. Os Sham 69 foram talvez a primeira sonoridade do punk britânico a mexer com as mentes e os corpos dos jovens californianos no final dos anos 70, tendo sido mesmo uma das poucas bandas punk britânicas que fizeram digressão nos EUA. O single de 1977, There's Gonna Be a Borstal Breakout foi uma lufada de ar fresco e um percursor no princípio dos princípios do movimento Hardcore.





E que raio é um borstal?, perguntam vocês. Borstal é «(in England) a school for delinquent boys that provides therapy and vocational training». Lindo!

American Hardcore {#01}

Recentemente o meu amigo Pedro Mesquita mencionou-me o seguinte documentário – American Hardcore {2006}. Mal cheguei a Lisboa, saquei-o da rede e fui a correr vê-lo. Wow! Motherfucking slamdancing! Aquilo fez-me voltar atrás, rememorar grandes bandas, grandes noitadas, uma época dourada da minha existência, por assim dizer. Depois, percebi que o documentário de Paul Rachman se baseava num livro de Steven Blush. Encomendei-o. Estou a lê-lo. E hoje começo aqui uma nova série, American Hardcore, onde irei traçar a história desse movimento musical norte-americano, salientando-lhe os pontos altos, os episódios mais marcantes.

Hardcore rules! E tal como o Punk, is not dead!



Daqui para a frente todas as entradas terão sempre como referência a obra American Hardcore, A Tribal History, Steven Blush, Feral House, 2001. Quem quiser mais, é só vir aqui.

E recomeço a abrir...

Amigo Alvim, deixa-me que te diga cada vez mais me enoja o PCP. E nem me venhas com o palavreado da honra. Que, tal como as boas intenções, de gente honrada está o Inferno cheio. Morra o PCP, é o que eu te digo. Cambada!

Pequena nota

Tenho recebido críticas, reclamações de como o blog está despido, parado, isto e aquilo, enfim, chato. Eu percebo, eu percebo.

Há uns meses atrás achei que estava na altura de passar esta prosa para um registo mais pessoal, mais intimista, andava a sentir-me farto de encher um chouriço que, além do mais, eu nem sentia ser assim tão interessante aos olhos dos outros. Como podia, se os chouriços dos outros também não me pareciam assim tão interessantes? Estava num ponto em que acreditava sinceramente que o que cada um diz não interessa a quem ouve. Num ponto em que aquilo que os outros diziam não me interessava verdadeiramente, logo o que eu dizia também não deveria interessar. Errado. Hoje percebo que isto dos blogs é tudo menos pessoal e intimista. Aqui não há espaço e lugar para vozes interiores. Isto é realmente o tal café de que falei em tempos. Aqui falamos uns para os outros. {Eu até já me verguei ao fascínio do Facebook, vejam lá...; é só mais um café, numa outra esquina.} Não há aqui espaço para grandes epifanias. Se queremos momentos íntimos e sossegados vamos para um jardim, não para o café. Portanto, estão de volta os links, os vídeos, o hardcore, o socratismo e o diabo a quatro.

De que andava eu a fugir? Nem interessa bem. Andar a fugir já é mau suficiente. Se estive quatro dias acampado no meio da populaça, tipo 3.º Anel elevado à potência, que mal me poderá fazer, que mal poderei eu fazer, à {des}interessante blogosfeira?

sábado, agosto 15, 2009

Férias de quê?

Às vezes consigo ser um chato do caraças, a pain in the ass, uma verdadeira besta, um idiota. Pergunto-me, por vezes, como consegue a Susana aturar-me. Ou a Matilde, que já tem corpinho para apanhar comigo. Até já a Júlia deve ter cheirado um pouco a fumaça... Mas depois vêm as vezes, que isto é como as ondas, em que eu domino a coisa, miro o céu e vejo-me de lá, entendo coisas que nunca entenderia antes de, e torno-me mais humano um pouquinho, e fundo-me, deixo de ser um palerma.

No outro dia pensava, em jeito de epifania, no bom que era eu não ter poder, verdadeiro poder, de espécie alguma. Tivesse eu poder e seria a desgraça, correriam as multidões, escorreria sangue vário, ruiriam construções e erguer-se-iam ideias erradas e perigosas {em forma de monumentos sinistros, concerteza}. Mas depois pensei, «Olha lá, mas tu tens poder. Tu tens poder sobre ti. No fundo, esse é o verdadeiro poder. E, bem vistas as coisas, até nem tens feito um mau trabalho. Bom, é certo que és o teu maior carrasco, mas também te tens mostrado por demais vezes capaz de te amares. Olha, deixa-te de tretas e vai em frente. Olha, olha para a Júlia». E assim tem sido nos últimos dias. É isto que trago de férias. Nada mal. Fui para elas com menos.