Fartei-me de esperar por alguém que me ouvisse. Já papei a first season, estou na second season e a third season espera por mim, ali em cima da mesa. As duas primeiras vieram via Pirate Bay {you're the man, ingekul!} enquanto a terceira veio via Amazon. Ainda não pensei o que fazer em relação às fourth e fifth seasons, mas não perdem pela demora.
Mas uma coisa é certa, caros amigos. Todas as expectativas foram não só comprovadas como amplamente superadas. The Wire é, pura e simplesmente, do melhor que tenho visto em televisão; e olhem que já muita televisão passou por estes olhinhos. Dos vários textos, aqui e ali, que já tinha lido sobre a série, a conclusão mais comum, para além dos contínuos elogios, era a de que a série estava decalcada da realidade com uma eficiência considerável. O trabalho de campo, a investigação e a entrega aos assuntos abordados tinham sido levados muito a sério, quase parecendo, em certos momentos, mais um documentário do que uma série televisiva. A malta da rua, os agentes dos narcóticos e os dos homicídios, os estivadores, a Lei, todos eles representavam crivelmente a realidade. A ideia, diz Simon David algures, era que um qualquer estivador de um qualquer porto norte-americano que visse a série se identificasse automaticamente com Sobotka. O mesmo aconteceria com um qualquer McNulty que, do balcão de um bar qualquer, desse uma espreitadela para a televisão em mute, lá no canto. O mesmo já não diria de qualquer dealer afro-americano de uma qualquer esquina, pois essas tribos fazem ponto de honra em se diferenciar umas das outras. Mas os afro-americanos de Baltimore revêm-se certamente; um Omar ou um Wee-Bey não serão difíceis de encontrar.
A série é, por vezes, muito pouco série, pois tem uma dimensão muito própria, uma noção de ritmo pouco usual, onde a acção por vezes se arrasta ou se demora em pormenores ou diálogos que noutros formatos, e para outros públicos, não se aguentaria. A cidade, a rua, os vários segmentos da sociedade, estão definidos e presentes em The Wire de uma forma muito interessante; a própria forma como no site da HBO o elenco da série é apresentado é testemunha disso. Tal como o é a própria forma como a série foi pegando nestes segmentos, nestas instituições da city life {e lembro-me do sticker de Bunk que diz "I love city life"...}, a Rua, a Polícia, a Lei, a Escola, os Media, e as foi distribuíndo pelas várias, cinco {acabou este ano nos EUA}, épocas em que a série se desenrolou. Esta noção de proximidade com a realidade, esta veia documental, parece que deve muito à mini-série que a precedeu, The Corner — que acabei agora mesmo de ripar para um DVD, que segue por sua vez para fila de espera... —, trabalho que abordava apenas a rua, a esquina, e os "mitras" que a habitam. The Wire e, presumo, The Corner, em suma, o trabalho de David Simon e da sua equipa fazem-me lembrar, em certos momentos, o trabalho de Studs Terkel, esse incontornável e incansável divulgador do average american e das suas histórias e hábitos, o que é sempre bom.
E já referi que o cenário onde a acção se desenrola é a cidade de Baltimore? Eis outra das boas marcas de qualidade da coisa, Baltimore. Quem se lembraria de Baltimore? Bom, os carolas por detrás da escrita da série, que são de lá. O que torna a coisa ainda mais perfeitinha, convenhamos. Não há cá New York, nem Chicago, nem San Francisco, nem Las Vegas, nem Miami, nem LA. Não, os locais são mesmo estes aqui.
E quem quiser ler um pouco mais, pode fazê-lo aqui {só para assinantes...}, aqui, aqui e aqui. E volto a divulgar essa bela conversa entre David Simon e Nick Hornby.
Há 10 anos
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