quarta-feira, novembro 05, 2008

Obama

Não me consigo emocionar com a eleição de Obama. Primeiro, porque o cargo é sujo por natureza e é ele que agora o preenche. É por isso legítimo perguntarmo-nos se será bom vermos alguém que estimamos e em quem depositamos esperança ocupar {é mais ser ocupado...} tal cargo. Além do mais, não acredito que Obama, só por si, chegue para limpar o cargo de tamanha herança {veremos quem se segue na lista de nomeações}. Segundo, porque aquilo que para muita gente parece ser já uma grande, enorme, vitória {black power!? mas andam a brincar?}, a eleição, para mim, é apenas o início. A coisa começa agora, ou não? Ou acham que acabou? O tipo já está eleito e nós já podemos dormir descansados? Não creio. Porque, terceiro, mais do que saber se ele é preto, ou se acabou, como se diz aqui, com a Guerra Civil norte-americana {está bem, está}, o que me interessa realmente saber é se ele é inteligente, competente, civilizado e honesto e, por conseguinte, saber: se ele vai anular o infame Patriot Act {é o vais}; se ele vai fechar Guantanamo e julgar em tribunais civilizados os seus detidos {deve ser, deve}; se ele vai finalmente classificar o waterboarding como uma forma de tortura e bani-la de uma vez por todas; se ele vai deixar de atacar países como tem sido, infelizmente, a tradição {mas essa vem de longe, não é?}; se ele vai deixar de se imiscuir nos assuntos internos dos mais variados países a sul do seu próprio país {ai, a tentação...}; se ele vai fazer algo de concreto para evitar que as corporations continuem a envenenar, nas mais variadas frentes, os seus próprios concidadãos {e muitos outros por tabela}; se ele sabe verdadeiramente ler as várias comunidades e sentimentos afro-americanos e, sabendo-o, representá-las e dar um passo em direcção ao apaziaguamento da brutal guerra racial que por lá se desenrola; se ele vai afirmar um dia legalize it! e reforma a DEA de uma vez por todas; se ele vai fazer a tal diferença no processo israelo-palestiniano {ou o sonho é só ao nível interno?; aqui já crescem dúvidas...}; se ele vai dar a mão à palmatória e admitir e corrigir o gigantesco erro que foi, e continua a ser, a invasão, bombardeamento e o infeliz dia-a-dia iraquiano; se ele vai, acima de tudo {e porque tudo é business, tudo é showbizz e ele sabe-o melhor que ninguém...}, pontapear nos tomates todo e qualquer CEO aldrabão, ganancioso e fora-da-lei. São muitos ses, caramba. E é por todas as respostas a estas interrogações estarem ainda tão longe, e por eu não acreditar que Obama tenha coragem, capacidade, oportunidade, suporte para as fornecer, que continuo sem conseguir emocionar-me com o homem e a sua eleição. Para mim, Obama é mais um porteiro contratado para abrir as portas desse enorme edifício que dá pelo nome de corporation. E, vistas bem as coisas, não há nada assim de tão histórico em contratar um preto para porteiro...


P.S. — Ainda bem que este blog apenas é lido por amigos, conhecidos e desconhecidos civilizados. Se não fosse assim ainda me arriscava a ter de ler comentários deste nível aqui. É certo que o tipo esticou-se mas ter de ler «Ó meu granda camafeu ignorante...» {Barack anónimus, lol} não deve ser fácil.

2 comentários:

Anónimo disse...

Meu querido vizinho, só te digo uma coisa, se um republicano é ruim para o mundo todo, um democrata sempre foi péssimo para a latinoamerica. Passe em revista e veja quem andava por lá quando as maiores atrocidades foram perpetradas no sul. Mas, estranhamente, ainda assim comemorei; a alternativa me dava engulhos...
Grande abraço,
Byron

anauel disse...

My point exactly, amigo Byron.

São os dilemas e engulhos de quem de vários males tem de escolher o menor...

Haja saudinha!