terça-feira, fevereiro 26, 2008

Queen Kelly

Queen Kelly (1929) de Erich von Stroheim. Absolutamente genial!!!! Candidato a melhor filme de 2008... lol. Grande tarde, a de hoje, numa "atribulada" sessão na Cinemateca, onde descobri esta pérola do mudo. E onde descobri uma notável Gloria Swanson! Tenho quase a certeza que, para além do incontornável Sunset Boulevard, nunca tinha visto nenhum dos seus filmes, daqueles que a tornaram quem foi, daqueles que ela ajudou a mitificar, daqueles que se resumem sem prejuízo numa palavra – o mudo –, palavra essa que se materializa no olho grande, no negro, no fumo, no cartão de belos letterings entre frames (e como este filme os tem, meu Deus)... Pois, hoje, Gloria Swanson desfilou perante os meus olhos arregalados, a par de um Walter Byron à sua altura, e por entre uma dezena de personagens soberbamente desenhadas. Stroheim no seu melhor, dando forma a personagens perturbadas e maléficas (falo em especial do papel de Tully Marshall enquanto Jan Vryheid, o bandido holandês aleijado que, no fundo, e com ajuda de duas "deliciosas" criaturas, a torna rainha), personagens essas que veremos, mais tarde, muito mais tarde, em cenários imaginados por David Lynch. Eu vi-os lá. Blue Velvet e Wild at Heart têm mais em comum com Queen Kelly do que se poderá imaginar... Podem não acreditar, se quiserem, mas eu até a Maria de The Sound of Music vi hoje ali, só para terem uma ideia do quão doido é o filme... Ao que parece o homem, o Stroheim, era dado a orgias e excessos, não sei dizê-lo, não estou capacitado para tal, mas que neste filme transparecem liberdades que eu não imaginava possíveis, lá isso... Porque penso sempre que 1929 (não viveu 1929 dez anos antes da Segunda Guerra Mundial?) está lá muito longe, intocável, enquadrado e conservado, que agora é que descobrimos e subvertemos, que agora é que se quebram regulamentos. Mas não, já muita gente passou por aqui antes e desfez ideias e constrangimentos. Aliás, apercebo-me agora, e não é que o filme é do mesmo ano do que aquele que revi há três dias atrás, Die Büchse der Pandora?! Ele há coisas! Pabst na Alemanha e Stroheim em Hollywood, em simultâneo, brincando como gente crescida aos amores e venenos, paixões e traições, amor e sexo, podridão e morte. Muito bom. Grandes homens e grandes mulheres.

No Youtube apenas apanhei esta sequência. Dá uma ideia, mas não é só isto. É muito, muito mais. A versão que vi hoje (a última, a actualizada, de 1985) era muda, muda, mas a musiquinha deste trecho não destoa.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

As Benevolentes

É-me impossível não escrever um pouco que seja sobre este livro, sobre esta personagem que dá pelo apelido de Aue, sobre esta energia que consumiu os meus vários tempos durante estes dois últimos meses. Além do mais, é uma obra que se prestou e presta a valentes dissecações e eu não fujo à regra. De lápis em punho foi marcando aqui e ali. Aqui ficam, pois, algumas notas.


1. O livro é do c......!
2. É grande? Tem 884 páginas (na edição portuguesa da Dom Quixote)? So what? São poucas, digo eu... Também é verdade que, caso se retirassem todas as patentes ali impressas antes dos nomes de todo e qualquer soldado e oficial, bem, o livro ficaria com bem menos uma centena ou duas de páginas...
3. O livro não merecia o Goncourt ou o Grande Prémio da Academia Francesa? Não me interessa minimamente. O livro é excelente. Se está repleto de inexactidões, de atentados, relativamente à língua francesa (logo, não merecia os ditos prémios) tivessem reparado nisso antes. Ou deixem de dar importância aos prémios... É irrelevante para o ponto de vista do leitor. Mas não deixa de ser fascinante todo o trabalho de dissecação da obra, todo o bando de detractores e, logo, de apoiantes do autor, basta uma pequena pesquisa na net para nos apercebermos da dimensão da coisa.
4. Palavra exageradamente utilizada ao longo do livro – volutas. Embora se desculpe, a palavra é linda!
5. Incongruência indesculpável – página 83. Max Aue não se recordar do nome do local onde ocorreu a sua primeira participação numa execução de judeus em massa. E logo numa mata, esse elemento tão caro a Max.
6. Excesso de zelo do tradutor (e único verdadeiro apontamento da minha parte; o resto parece intocável) – página 118. Traduzir Babi Yar... Babi Yar é Babi Yar!
7. Como as coisas boas são como as cerejas, vêm em cachos, As Benevolentes trouxeram-me Couperin e Rameau. Bravo!
8. E a promessa de Pechorin, em Um Herói do Nosso Tempo do escritor russo Mikhail Lermontov. Mal posso esperar...
9. Momento místico-mágico puramente irresistível, a lembrar saudavelmente Corto Maltese – todo o epísódio à volta de Nahum ben Ibrahim (pp. 259-265).
10. Detalhe delicioso que desconhecia – na frente, todos os relógios dos elementos da Wehrmacht estavam acertados pela hora de Berlim...
11. Latrinenparolen e Sprachregelungen, lindo! Aliás, o momento dedicado às palavras (pp. 574 e 575) é todo ele muito bom. E a fazer lembrar uma outra leitura decerto valiosa e já bastante adiada, o Lingua Tertii Imperii do valente Victor Klemperer.
12. Para aqueles que ainda o forem ler, quando chegarem à parte do discurso de Himmler em Posen/Poznan, recomendo vivamente que, nesse momento, façam uma pausa e se dirijam aqui É verdadeiramente enriquecedor da experiência, pois dá-nos uma perspectiva sonora da coisa...
13. «Era uma balbúrdia magnífica.» Assim descreve Max Aue a sua chegada à Hungria em 1944. Parece estranho, mas esta simples descrição é fascinante à quintessência; 1944 deve muito bem ter sido assim.
14. Momento mais olfactivo – página 779. «... tinha náuseas diante da minha máquina de escrever.»
15. Factor de irritação generalizada e avassaladora – A insistência de Aue com os vinhos. Porra, estão francamente a mais as referências a castas e colheitas...
16. O final é fraco, rápido, acelerado nos acontecimentos, meio decepcionante? É um pouco. É pena. Uma experiência destas merecia melhor fecho.
17. A Guerra e o Sexo, a Morte e a Vida. A Guerra exterminando para além do aceitável, o Sexo desejando para além do aceitável. Solução final, no exterior, desejo de incesto desejado, no interior. Para mim, fez todo o sentido. Por vezes extenso, mas sempre sexo do bom...
18. Último lamento – a superficialidade com que Maximilien Aue aborda Stauffenberg, quando Stauffenberg é parente do marido da sua irmã. Parece-me pouco provável.
19. Grande dúvida – Este livro tem tido vendas anormais. Corresponderão elas a leitores satisfeitos? Ou a grandes desilusões e abandonos? A mim quer-me parecer que ou se tem grande estofo e vai-se em frente pelo amor à leitura, ou tem de se gostar muito da temática para aguentar semelhante livro...
20. Ponto final – foi uma experiência e tanto. Obrigado Jonathan Littell.



Fotografia de Benjamim Loyseau.

Como falar dos oscars sem falar dos oscars...

Hoje, segunda-feira, pelas 3 da manhã, não estava a ver os oscars, não, estava a despedir-me de Maximilien Aue. Acabou-se. Vernichtung. Zu Befehl!

domingo, fevereiro 24, 2008

Bourbonese Qualk

O Simon Crab é o maior! Num dos meus comentários a um dos seus posts relativos aos early warning devices e afins (resumi tudo aqui), para além de o felicitar pelo excelente trabalho realizado no Stalker, também o felicitei pela sua prestação ao serviço dos Bourbonese Qualk e mormente pelo fantástico concerto que eles deram no fim da década de 80 no mítico Rock Rendez Vous e ao qual tive o enorme prazer de assistir. E não é que o Simon Crab puxou pela memória e pelos arquivos (ouvir já aqui em baixo; não é muito, são só alguns minutos, mas é o que há) e revive esse momento vinte anos depois?!? É o maior! Obrigado Simon.

Bourbonese Qualk
Rock Rendez Vous
Lisboa, 08-12-1987

«Mete o Rock'n'Roll no cu!», ouve-se a certa altura... Lindo!

Pedestres

Todos nascemos pedestres.
Todos somos pedestres.

Via Panóptico.

Louise "Lulu" Brooks


E ontem à noite revi este filme (Die Büchse der Pandora, 1929). Ah, as longas tardes, as longas noites, embevecido, entorpecido, estupefacto, encantado, entumecido pela sereia das sereias! Longe vão os tempos, mas aquela energia "berlinense" continua imparável na sua contagiante féerie. Grandioso, genial, perverso, infecto, glamoroso, só finito às mãos de Jack, o Estripador... e imaginar tudo isto filmado apenas quatro anos antes de Adolf, o Exterminador... e imaginar uma parte disto (a melhor parte, diga-se) resultando, cinquenta e tal anos depois, em longas (literalmente!) sessões de masturbanço (descobrir algures por aqui)...

sábado, fevereiro 23, 2008

[SAFE]


Ontem à noite revi este filme (Safe, 1995). Treze anos volvidos (vinte e um, se levarmos em conta aépoca retratada...) e continua um grande filme, sempre actual. Incómodo, tortuoso, cine-eczema! Muito bom. Todd Haynes em grande.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Zu Befehl!

Mas como há que continuar, mesmo quando no meio da maior desgraça, faço o que posso para deixar de lado as angústias vermelhas e aqui vou eu ter com o passado negro de Aue... Até qualquer dia, zu befehl!

Arrrrrrgggghhghhh....

Isto não se faz! Ganhar uma eliminatória da Taça UEFA e, no fim, exausto (sim, com o Glorioso é possível ficar-se exausto no sofá), só ter vontade de queimar o cartão de sócio e de deixar de pagar as quotas, só ter vontade de dar pontapés na boca do Makukula, só ter vontade de pedir desculpa ao mundo mineral pela quantidade de vezes em que insultei as pedras ao apelidar o Luís Filipe de "calhau com olhos", só ter vontade de, numa de Dexter, esvaziar o Camacho de todo e qualquer fluido, só ter vontade de ir para as ruas e exigir eleições no SLB, só ter vontade de gritar e chorar quando o momento é de alegria e de vitória... bom, volto a repetir, ah!, e não me venham dizer que o Benfica não mereceu a eliminatória (que o Benfica merece tudo!), mas volto a repetir, ISTO NÃO SE FAZ!

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Unbranding...*

Hoje de manhã abri o jornal Público e vi mais ou menos isto. Eu já tinha mencionado aqui este assunto vai para dois meses, e de como ele insistia em se arrastar, e de como ele me incomodava dado o 3.º elemento não ser nunca puxado à baila, e, espanto meu, vejo hoje o resultado. Sim, a primeira ilação é a de que a Justiça até funcionou rápido. Mais ou menos um ano após o rebentar do "escândalo" até que nem está mal... É verdade que o caso não era para menos, não o esqueçamos, tratava-se do financiamento ilegal de um partido político. Os montantes das multas, bem, esses são um tanto ou quanto ridículos, podem ser discutíveis, mas outra coisa não se estava à espera. MAS... sim, há sempre um mas, a principal questão (pelo menos para mim) está ainda por responder. E a questão para mim é saber onde fica, no meio disto tudo, o papel, a responsabilidade, a multa, o puxão de orelhas, o pontapé-no-cu à Brandia/Novodesign. Em lado nenhum, é a resposta. Pois. Hoje, suspeito, lá na sede, houve suspiros, palmadinhas e sorrisos e, quem sabe, até uma garrafa de champanhe aberta e bebida mais com sofrimento do que com alegria. Safaram-se, pronto, passou. E mais não se podia desejar... Ou podia?


* Que é como quem diz, em bom português, desmarcanço...

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Mais um update...

O Google Analytics indica-me uma baixa de visitas desde dia 8 (estou sem escrever desde então...), uma consequente baixa na média de permanência (pudera, andam há uma semana a aqui vir e é sempre o mesmo cenário...) e apresenta ainda uma taxa de retorno na casa dos 75% (e aqui desenha-se um largo sorriso na minha cara). Isto só pode querer dizer que devo uma explicação a algumas pessoas... Mas que explicação? A de que tenho estado submerso em trabalho? A de que ainda não tenho net no novo atelier? A de que ainda me ando a habituar a novos ritmos, novas ruas, novos passeios, novas caras, novos sons? A de que o, recentemente promovido, obersturmbannführer Aue continua a sugar-me todo e qualquer momento livre? Pode ser. Mas também pode ser que não tenha estado para aqui virado. É a vida. Mas atenção, caros 75%, não desesperem (lol) que eu volto, e a bom ritmo...

E se alguma alma caridosa me souber explicar por que raio tenho acesso ao router wireless de modo a poder ver e enviar e-mails, de modo a poder falar pelo Skype, de modo a poder "baixar" quilos de mp3 no Soulseek, mas não tenho acesso, RAIOS!!!!, de modo a aceder à internet... bom se alguma alma caridosa souber o porquê e a solução, pleeeease, prove que é uma alma caridosa e explique-me como resolver este mistério.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Parkour











Por Lisboa...


Em Telheiras...


E o meu favorito... Parkour lituano (Vilnius)

Update

O sturmbannführer Aue continua imparável e não me deixa respirar livremente, logo, não me dá muita margem de manobra, logo, o Anauel fica refém, melhor, órfão. Mas consegui escapar-me por uns momentos (deixei-o debruçado num relatório...) e aqui vos deixo alguns apontamentos do que tem acontecido por aqui ultimamente (nos entrementes).

O Parkour veio dar comigo em encontros interessantíssimos (num parque infantil de Telheiras e nos equipamentos exteriores do Museu Nacional de Etnologia...) e não posso deixar de me emocionar com tal actividade, com tal apropriação, relação amorosa quase, com a cidade. Parkour rules!

O Carnaval é, nas palavras sábias do amigo Silva, um coisa grotesca! Tanta energia, tanto dinheiro, tanta pele eriçada do frio, tanta movimentação de portugueses nas estradas e... tão pouca diversão!!!

Uma óptima notícia! Os Cult of Luna estão em estúdio! Ainda na fase de composição mas à qual se seguirá, certamente, a gravação e, finalmente, o nosso deleite. Yesss!

Dois grandes filmes, antigos e contudo tão actuais!, vistos e apreciados largamente – Johnny Got His Gun e La Battaglia di Algeri. Falarei deles quando me for possível (e me apetecer...).

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Pergunta há já muito tempo atrás da minha orelha...

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Porque será que a Bomba Inteligente* nunca acorda assim?




* E ainda estou para perceber os motivos de tanto fuss com a bomba... a mim parecem-me mesmo é estalinhos, lembram-se?, daqueles que à mínima humidade nos lixavam a brincadeira. Nothing personal, mas não entendo a cena com a bomba. A foto é do mesmo holandês de ontem, Erwin Olaf