quarta-feira, outubro 21, 2009

RIP, my dear friend

Este blog nasceu ao som de Pelican. Há precisamente três anos atrás, "Last Day of Winter" soava aqui, troando, augurando coisas boas. Hoje, Pelican com o seu novíssimo "Ephemeral" {nem de propósito...} troam de novo, velando este ser, augurando outros mundos. Outras vidas. Até um dia destes.

Olha...

E se esse cheiro a mofo, e se essa angústia recente, se essa sensação de perda, se toda essa imobilidade que me tem gelado os sentidos, tem, afinal, como destino, como destinatário, este mesmo blog?

quarta-feira, outubro 14, 2009

Mas e se for para mim? Aí tenho de me decidir, e rápido. Uma coisa é não me importar de morrer já amanhã porque tive uma vida perfeita e em pleno. Outra coisa é não me importar de morrer já amanhã porque a minha tendência niilista me diz que pffff. Parece que não importa, mas importa. E muito. Tenho de me decidir.
A minha mãe acha que estou a lidar mal com o seu envelhecer. Eu digo-lhe que estou a lidar mal com o que vem a seguir a esse tal de envelhecer. E como ando a sentir a morte nas suas rondas ainda mais jumpy fico...
A morte ronda-me. Sinto-a a rondar.

sábado, outubro 10, 2009

De resto, nem deste...

Mas uma coisa é certa. Amanhã à noite não haverá novamente derrotados, só vencedores. E a arrogância continuará, marcando o passo, disfarçada, sem cheiro.

Não está ninguém do outro lado...

É impressão minha ou as eleições de amanhã não estão a despertar um iota de interesse em ninguém? O antagonismo anacrónico, a arrogância de se combater a arrogância, o objectivo comum de se estar contra, a miragem da maioria subtraída, em suma, tudo aquilo que marcou a campanha anterior, nada disso está verdadeiramente presente neste acto eleitoral. Logo, não há interesse. Tristeza...

sábado, outubro 03, 2009

Foi há 2 dias...

... e foi muito, muito, muito bom! Tudo indicava que, tocando eles no meu aniversário, a festa fosse de arromba. Jantarinho, uns mojitos, uns cigarrinhos, converseta, e Fuck Buttons para animar a malta. Bom, nada disso. Baldou-se todo o mundo e restei eu e os Fuck Buttons. Um ficou a tomar conta da filha, um outro foi para as vindimas, outro ainda foi antes para o Sul e o último foi para casa vestir o pijama... Na boa. É que nem a neura posterior ao desaire ateniense me desmotivou. Fui. E dancei e suei como sempre. Energia pura e dura. O duo britânico esteve magnífico e eu senti-me abençoado pelos meus 38 aninhos de existência. Têm sido bem preenchidos e é bom saber que ainda há forças e anima para estas andanças. Descontando, claro está, uma dor aqui e ali...

Abriram, como não podia deixar de ser, com o "Surf Solar" {aqui mesmo em baixo} e fecharam com um superinspirado "Sweet Love for Planet Earth". Mais abaixo o meu personal favorite "Bright Tomorrow". O resto do palavreado deixo para os críticos e teóricos que, como sempre, não faltam a estas coisas. Menos notas e mais encontrões, é o que eu vos digo...



quinta-feira, outubro 01, 2009

quarta-feira, setembro 30, 2009

terça-feira, setembro 29, 2009

domingo, setembro 27, 2009

A arrogância da vizinha não é melhor do que a minha...

Os portugueses fizeram um péssimo negócio. Trocaram 1 arrogância absoluta por 2 arrogâncias relativas + 3 arrogâncias minoritárias. Se isto é um bom negócio não sei o que um mau negócio. Enfim... agora amanhem-se e não vale chorar.

Aqui e agora, nada mais importa...

Agora que o claxon se silenciou, agora que os indecisos se decidem, agora que milhares a mais votam e eu próprio já o fiz, agora em que uma caixinha com suspiros espera por mim e pelos resultados das projecções, agora que falta pouco para o princípio do resto das nossas vidas, que estas palavras sejam a verdade das verdades.


Because I know that time is always time
And place is always and only place
And what is actual is actual only for one time
And only for one place
I rejoice that things are as they are and
I renounce the blessèd face.


T. S. Eliot
Ash Wednesday, 1930

sábado, setembro 26, 2009

Reflictam, por Deus, reflictam!

Reflectir (èt) - Conjugar
v. tr.
1. Reenviar!.
2. Repercutir; reverberar.
3. Fig. Revelar; traduzir; dar a conhecer.
v. intr.
4. Mudar de direcção!; incidir.
5. Pensar com detenção e mais de uma vez; reflexionar.
v. pron.
6. Ser reflectido!.
7. Incidir, recair.
8. Transmitir-se; repercutir-se.

Grafia alterada pelo Acordo Ortográfico de 1990: refletir

quinta-feira, setembro 24, 2009

A esperança é a última a morrer...

Hoje de manhã, a TSF e a Marktest acordam-me com estes valores.

PS: 40%
PSD: 31,6%
BE: 9,2%
CDS-PP: 8,2%
CDU: 7,2%
OBN: 3,8%

Contudo, 1 em cada 3 portugueses diz ainda não saber em quem vai votar {se é que vai votar}.

segunda-feira, setembro 21, 2009

A fama e o proveito, a cada um o seu...

Digam lá o que disserem, e muito sempre há para dizer, uma coisa eu sei. Uma coisa é certa e não há jeito de desmenti-la – o PS está sempre nas bocas do mundo, que faz isto e aquilo, que é este e aquele, que compra fulano e beltrano, que despede ou pressiona fundos e mundos, mas quando soa a hora da verdade, quando a marosca é desmontada, quando the shit hits the fan, é sempre o PSD que lá está, no banco dos réus, na 1.ª página dos jornais, na verdadeira boca do mundo. Uns têm a fama e outros o proveito, lá diz o povo. É tipo aquele estafado discurso, sabem?, do SLB sempre a ser levado ao colo mas os campeonatos sempre a caírem no saco do FCP. {Aliás, cheira-me, não deve tardar muito para mais uma vez essa cantilena aparecer aqui e ali.} Voltando ao PS e ao PSD, e continuando com a analogia futebolística, como eu sou um tipo que acredita sempre nas reviravoltas, confesso que ainda nutro aquela esperança da maioria absoluta novamente. É esperar e ver. Entretanto... PS Absoluto! Absolutamente Sócrates!


PS - E os professores, e os juízes, e os carpinteiros, e os jornalistas, e os adjuntos, e os outros todos, que não quiserem perceber isto, então é porque são muito estúpidos e aí, bom, sejam-no. Cá estarei no dia 28 para os mandar à merda.

sábado, setembro 19, 2009

American Hardcore {#9}

California Über Alles. Assim falava Jello Biafra. E fazia-o com propriedade, de resto. Pois a California é, sem sombra de dúvida, o berço do Hardcore. Mas de que California falava ele? Há muitas californias e para cada uma delas um porradão de bandas. É certo que foi LA o epicentro do fenómeno Hardcore. Mas LA é gigantesca e nela habitavam muitos, imensos, carradas de jovens suburbanos, à toa, desejosos de abrir umas cabeças e sair correndo. Se a LA mais LA, aquela que então os putos denominavam com desdém por Hollywood, tinha ficado no Punk, rodeada de drogas chic e pose, e desdenhava o carácter suburbano destes miúdos, foi então à volta desse centro urbano e elitista que surgiram a maior parte das bandas angelinas.

South Bay, a Sul de LA, deu ao mundo Black Flag {Hermosa Beach}, Minutemen {San Pedro}, Red Cross {Hawthorne}, Saccharine Trust {Wilmington}, Circle Jerks {Hermosa Beach} e Descendents {Manhattan Beach}. A maior parte destas bandas gravitava em torno de The Church {Hermosa}, uma igreja abandonada tornada centro cívico, posteriormente tornada squat, onde uns ensaiavam, outros viviam em condições a caminho de péssimas, e todos se drogavam e bebiam felizes para sempre.

Black Flag


Circle Jerks


Descendents



Ainda mais a Sul, Orange County {"carinhosamente" chamada de Reagan Country}. Mais suburbia, mais violenta. As primeiras bandas Hardcore a surgirem por ali foram Agent Orange, Adolescents e Social Distortion {todas de Fullerton}. Ali pertinho, em Huttington Beach, aparecem os Uniform Choice {a banda que na costa Oeste mais próximo esteve das ideias Straight Edge} e os TSOL {True Sounds of Liberty}, banda que mais miúdos violentos arrastou atrás de si. Como diz Steven Blush «their gigs were magnets for mayhem». E atrás do TSOL vêm os The Vandals, verdadeiros "animais" que em concerto atiravam sapos vivos para o meio da assistência... Ainda em OC, ali em Venice Beach, surgem os Suicidal Tendencies que elevam a violência a um novo patamar, criando {juntamente com bandas como Circle One} aquilo que se poderia chamar de ganstahardcore, em que certos gangs acabavam por se tornar bandas, sem nunca largar os territory issues – «the Suicidal posse took shit over at shows. That's why people tryly hated them. If Suicidal was on a bill, many people wouldn't go 'cause they and their friends would fuck shit up for anyone trying to watch». Finalmente, mais a Sul ainda, em San Diego, surgem os Battalion of Saints.

Agent Orange


The Vandals


Suicidal Tendencies



E a Norte? Subindo, o farol era San Francisco. E San Francisco tinha muito para dar. Ares mais respiráveis, menos brutalidade policial, mais democratas e mais activistas, enfim, outra cena. Mas o mesmo som, o mesmo speed, a mesma raiva. Bandas emblemáticas serão sempre os incontornáveis Dead Kennedys {dispensam apresentações, tal como os Black Flag em LA}, Flipper {«Flipper was a giant "Fuck You!"»} e MDC {Millions of Dead Cops, provavelmente a banda mais politicamente activa em todo o movimento}. Estes últimos eram originários do Texas {como, de resto, DRI, The Dicks e Verbal Abuse} mas assentaram arraiais em SF, numa antiga destilaria abandonada chamada The Vats {como o fizeram os outros texanos referidos}. «With a scene not nearly as violent as LA's, the city most closely paralleled NYC and Philly: desperate, urban, drug-fuelled.» {Steven Blush}

Dead Kennedys


Flipper


MDC

sexta-feira, setembro 18, 2009

Há votar e votar, há ir e voltar

Mas não é só o Facebook o responsável pelo desalento. É também a azia, a ansiedade, a histeria em potência, perante a sombra que paira sobre o dia 28 de Setembro. Há por aí muitos que diriam anátema. Eu digo apenas e só isto, é {se for} uma merda, é o que é. Mas se for, será. O país não vale grande coisa, de resto. Mas há oportunidades que não se devem desperdiçar e esta é uma delas. E mesmo um país que não vale grande coisa deve aproveitá-las. Se há momento em que podemos crescer um pouco mais é este. Porque o que se pede aos portugueses no dia 27 que vem não é que escolham entre Sócrates {o PS, melhor dito} e Manuela {o PSD, melhor dito}, não é que dêem um deputado ou outro a mais ao muro concreto ou que se mantenham fiéis à foice e ao martelo. Não é que se traulitem um pouco mais com o político-mínimo-garantido ou que se humanizem um pouco mais sei lá com que novo movimento que por ai se movimenta. Não. A questão é que sejam honestos e verdadeiros. Consigo próprios. Que se perguntem: «Houve, em democracia, algum Governo melhor que os do PS?; Há algum, nos que estão agora no papel, melhor que o do PS de Sócrates?»; «O país está pior agora do que estava há 4 anos?». Se responderem que sim às questões anteriores, então, só resta mesmo votar noutro que não PS. Mas a grande questão, a do milhão de votos, é o que leva um português a responder sim a essas questões. Que se perguntem então «O meu voto noutro{a} que não Sócrates, o meu sim às questões anteriores, resulta de um ódio/incómodo/raiva/nojo/desgosto/irritação/embirração em relação a Sócrates?» Se também aqui o sim prevalece, está tudo dito. Votar contra Sócrates é votar contra si próprio. Se o não na última pergunta coincide com o sim às primeiras perguntas, ok, é o voto sem contenda. É pacífico, it's politics. Mas votar porque não se grama o tipo é votar por capricho, é votar out of spite. É um voto no lixo. Mais vale não votar. Serão os portugueses capazes de votar contra as suas paixões, afectos e convicções? Será o cidadão português capaz de votar pela razão, pelo pragmatismo, pelo país e não por si próprio? Por uma ideia abstracta, por um futuro incerto, que desconhecem e não controlam? Cria-se um dilema não tão dilema assim. Já vão ver. "Votar contra Sócrates é votarmos contra nós próprios" vs. "Votar contra nós próprios é votarmos Sócrates". Porque entregarmos o país a "bandidos" ainda mais "bandidos", a inúteis ainda mais inúteis, a incapazes ainda mais incapazes, e por aí fora, é, de facto, não estarmos a tratar bem de nós. Já votarmos contra o nosso sistema de crenças, bom, nem é preciso dizer mais, é só ganho. Afinal é simples, pá.



Para post n.º 1.000 não está nada mal... lol.
Dia 27 lá estarei.
Votando contra o meu sistema de crenças, votando PS.

domingo, setembro 13, 2009

O pessoal que me desculpe por isto aqui andar morno, mas tenho andado entusiasmado com o Facebook que é uma coisa parva... Tem muito de face e pouco de book, mas até que é uma cena cool. Tem uma dinâmica interessante e permite mais uma certa espontaneidade. Ah, e tem o raio do poker... eh eh eh.

American Hardcore {#08}

A fisicalidade da dança e a violência inerente ao movimento {ambas referidas nas entradas anteriores} levam-nos inevitavelmente à sexualidade, aos gajos e às gajas. O Hardcore foi provavelmente o único movimento musical isento de sexualidade, o que é, só por si, dizer muito. Aquele era um mundo quase exclusivamente masculino, isso é certo. Mas a grande questão é saber se todos aqueles encontrões, todo aquele suor, todos aqueles troncos nus, toda aquela comunhão, reflectiam {ou não} uma homossexualidade mais ou menos escondida, ou se toda aquela encenação não passava de uma actividade física pura e dura à semelhança de qualquer jogo de rugby, por exemplo. É que as gajas, nas palavras de Steven Blush, «rejected femininity. Their ideal was the tomboy – in contrast to the big-haired bitches you'd find sucking dick backstage at Metal concerts. The truth is, few gorgeous women participated in Hardcore – many of them were nasty, ugly trolls». E os gajos, nas palavras de Meredith Osborne {uma gaja da altura}, quando adolescentes, «are scared of women. In the Punk days, you could fuck whomever and it didn't matter, but in Hardcore that madonna/whore complex was much stronger. Hardcore guys would vilify girls they fucked».

terça-feira, setembro 01, 2009

Ouroboros


Foi há 70 anos. O princípio do fim. Foi há uma vida.

"Tento de honra"

Aquele golo do Vitória de Setúbal ao cair do pano, no último momento dos descontos, quase permitido {numa espécie de entendimento tácito, Quim e David Luiz fingem evitar o golo}, por ninguém esperado {mas, no fundo, por alguns desejado}, naquele momento, naquele golo do adversário, ali reside a grandeza do SLB. Um clube como o Benfica não poderia permitir aquele resultado, o dos tantos a 0, não ficaria bem, não seria nobre. Se existe a expressão "tento de honra" por alguma razão será. E o Glorioso sabe a razão da existência do termo, pois o Glorioso é um clube de futebol, respira e faz futebol. Há mais de um século. Aquele golo do Vitória de Setúbal foi o SLB que o marcou, não tenham dúvidas disto. Pela honra do futebol.


segunda-feira, agosto 31, 2009

Idiotas-a-dias

A empregada pode limpar a merda das nossas sanitas. A empregada pode ir ao Pingo Doce e carregar as nossas comidinhas, que ela própria mais tarde cozinhará. A empregada pode passear as nossas crianças no jardim. Pode até mesmo levar as crianças à praia, que nós temos mais do que fazer. Mas tirar as grainhas às uvas e os caroços às cerejas já não pode?! Já é demais isso? É esse o limite? Tenham juízo!

American Hardcore {#07}

A violência estava lá, é inegável, mas aliada às cabeças rapadas, ao slamdancing, aos jeans and whatnot, lançou sobre o movimento uma sombra, sombra essa que tinha a forma Skinhead. Mas citando Steven Blush uma vez mais: «Contrary to what some people say, there were not hordes of goose-stepping Skinheads at Hardcore shows. But a lot of kids who read about that would emulate Skinhead behaviour. There arose such hysteria over a perceived problem that, by the mid 80s, there became one».

Mas lindo mesmo, é esta declaração de Michael Alago, um music biz exec que viveu aqueles tempos: «Skinheds were kinda scary to me, unless they were cute. Back then, I was absolutely fearless. I loved nasty, tattoed Hardcore boys, and lots of them were filled with so much testosterone that I don't think a lot of them cared whether they got a blow job or had sex with a guy or a girl. So, those Skinheads coming to the scene? I just though it was sexy. I didn't think about politics. I had my own agenda».

quinta-feira, agosto 27, 2009

American Hardcore {#06}

Uma vez achado o termo, o epíteto, uma vez delineadas as sonoridades tanto de inspiração e de base como de caminhos futuros, e sobretudo tendo em conta a energia, a violência, a puberdade desenfreada, faltava, pois, encontrar a dança. O Punk tinha o Pogoing que Lee Ving {Fear} considerava «less interactive, more benign». O Hardcore criou o Slamdancing. Nas palavras de Steven Blush: «Slamdancing developed in Southern California towns like Huntington Beach and Long Beach. [...] Kids referred to it as "The Hutington Beach Strut" or "The HB Strut" – strutting around in a circle, swaying your arms around and hitting everyone within your reach. Slamdancing was significant because it separated the kids from the posers and adults.»

quarta-feira, agosto 26, 2009

American Hardcore {#05}

Mas e o termo? Quem alcunhou Harcore? De onde, e como, surge? Quando podemos começar a falar com certezas em Hardcore? É certo que a primeira versão oficial do termo surge no título de um álbum dos D.O.A. — Hardcore 81. Mas para Steven Blush existem dois momentos anteriores, duas gravações extrictamente Hardcore. Diz ele que para quem vivesse na costa Oeste as honras iriam para o LP Out Of Vogue {1978}, dos The Middle Class, e que para quem vivesse na costa Este seria sem dúvida o 7" Pay To Cum {1980}, dos Bad Brains, a ser o primeiro dos primeiros. Tira-teimas aqui em baixo.

The Middle Class
{fica o "You Belong" porque parece que há problemas autorais com o "Out Of Vogue"...}


Bad Brains


Eu voto no "Pay To Cum", pois no fundo, no fundo, Bad Brains rule!

American Hardcore {#04}

Se a dieta dos Germs eram as drogas e o álcool, para os Fear o combustível era mesmo a violência. Quer verbal, quer física, estes angelinos tanto destilavam violência na pessoa do seu vocalista, Lee Ving, como na postura dos miúdos que enchiam os seus concertos, essencialmente surfistas suburbanos e imbecis. Dez Cadena {Black Flag} acha que eles eram Metal travestido de Punk, talvez porque tocassem bem demais para a norma. Ainda hoje tocam, mas não se aconselham...




Curiosidades adicionais: pelos Fear passou Flea nos idos de 1983/84; e o ponto alto da carreira dos Fear parece ter sido o caos provocado por eles e respectiva "massa associativa" aquando da sua aparição, em 1981, no Saturday Night Live a convite de John Belusci {descrição detalhada aqui}.

terça-feira, agosto 25, 2009

American Hardcore {#03}

Já em solo norte-americano, debaixo do sol risonho de LA, surgem os Germs. Liderados pelo carismático e "muito doido" Darby Crash, por muitos considerado o Sid Vicious norte-americano, os Germs são, na opinião de Steven Blush, a primeira banda norte-americana a engatilhar no rumo em direcção ao Hardcore sendo uma influência inegável para as bandas que se seguiram. Em 1979 lançaram o álbum GI {Slash}, ponto alto da banda, do qual deixo aqui as imagens {desse mesmo ano} do tema "The Other Newest One". Um ano depois, e um dia antes do assassinato de Lennon, Darby Crash morre de OD, apenas com 22 anos de idade – não fossem os Germs muito dados às drogas e ao booze e muitos ainda acham que poderiam ter sido uma das bandas-referência do movimento que por ali nascia.

American Hardcore {#02}

Sham 69. Um punk britânico não tão fashion como o dos Sex Pistols era, antes mais working class. Os Sham 69 foram talvez a primeira sonoridade do punk britânico a mexer com as mentes e os corpos dos jovens californianos no final dos anos 70, tendo sido mesmo uma das poucas bandas punk britânicas que fizeram digressão nos EUA. O single de 1977, There's Gonna Be a Borstal Breakout foi uma lufada de ar fresco e um percursor no princípio dos princípios do movimento Hardcore.





E que raio é um borstal?, perguntam vocês. Borstal é «(in England) a school for delinquent boys that provides therapy and vocational training». Lindo!

American Hardcore {#01}

Recentemente o meu amigo Pedro Mesquita mencionou-me o seguinte documentário – American Hardcore {2006}. Mal cheguei a Lisboa, saquei-o da rede e fui a correr vê-lo. Wow! Motherfucking slamdancing! Aquilo fez-me voltar atrás, rememorar grandes bandas, grandes noitadas, uma época dourada da minha existência, por assim dizer. Depois, percebi que o documentário de Paul Rachman se baseava num livro de Steven Blush. Encomendei-o. Estou a lê-lo. E hoje começo aqui uma nova série, American Hardcore, onde irei traçar a história desse movimento musical norte-americano, salientando-lhe os pontos altos, os episódios mais marcantes.

Hardcore rules! E tal como o Punk, is not dead!



Daqui para a frente todas as entradas terão sempre como referência a obra American Hardcore, A Tribal History, Steven Blush, Feral House, 2001. Quem quiser mais, é só vir aqui.

E recomeço a abrir...

Amigo Alvim, deixa-me que te diga cada vez mais me enoja o PCP. E nem me venhas com o palavreado da honra. Que, tal como as boas intenções, de gente honrada está o Inferno cheio. Morra o PCP, é o que eu te digo. Cambada!

Pequena nota

Tenho recebido críticas, reclamações de como o blog está despido, parado, isto e aquilo, enfim, chato. Eu percebo, eu percebo.

Há uns meses atrás achei que estava na altura de passar esta prosa para um registo mais pessoal, mais intimista, andava a sentir-me farto de encher um chouriço que, além do mais, eu nem sentia ser assim tão interessante aos olhos dos outros. Como podia, se os chouriços dos outros também não me pareciam assim tão interessantes? Estava num ponto em que acreditava sinceramente que o que cada um diz não interessa a quem ouve. Num ponto em que aquilo que os outros diziam não me interessava verdadeiramente, logo o que eu dizia também não deveria interessar. Errado. Hoje percebo que isto dos blogs é tudo menos pessoal e intimista. Aqui não há espaço e lugar para vozes interiores. Isto é realmente o tal café de que falei em tempos. Aqui falamos uns para os outros. {Eu até já me verguei ao fascínio do Facebook, vejam lá...; é só mais um café, numa outra esquina.} Não há aqui espaço para grandes epifanias. Se queremos momentos íntimos e sossegados vamos para um jardim, não para o café. Portanto, estão de volta os links, os vídeos, o hardcore, o socratismo e o diabo a quatro.

De que andava eu a fugir? Nem interessa bem. Andar a fugir já é mau suficiente. Se estive quatro dias acampado no meio da populaça, tipo 3.º Anel elevado à potência, que mal me poderá fazer, que mal poderei eu fazer, à {des}interessante blogosfeira?

sábado, agosto 15, 2009

Férias de quê?

Às vezes consigo ser um chato do caraças, a pain in the ass, uma verdadeira besta, um idiota. Pergunto-me, por vezes, como consegue a Susana aturar-me. Ou a Matilde, que já tem corpinho para apanhar comigo. Até já a Júlia deve ter cheirado um pouco a fumaça... Mas depois vêm as vezes, que isto é como as ondas, em que eu domino a coisa, miro o céu e vejo-me de lá, entendo coisas que nunca entenderia antes de, e torno-me mais humano um pouquinho, e fundo-me, deixo de ser um palerma.

No outro dia pensava, em jeito de epifania, no bom que era eu não ter poder, verdadeiro poder, de espécie alguma. Tivesse eu poder e seria a desgraça, correriam as multidões, escorreria sangue vário, ruiriam construções e erguer-se-iam ideias erradas e perigosas {em forma de monumentos sinistros, concerteza}. Mas depois pensei, «Olha lá, mas tu tens poder. Tu tens poder sobre ti. No fundo, esse é o verdadeiro poder. E, bem vistas as coisas, até nem tens feito um mau trabalho. Bom, é certo que és o teu maior carrasco, mas também te tens mostrado por demais vezes capaz de te amares. Olha, deixa-te de tretas e vai em frente. Olha, olha para a Júlia». E assim tem sido nos últimos dias. É isto que trago de férias. Nada mal. Fui para elas com menos.

sexta-feira, julho 31, 2009

I
Bem amiga comigo cantar
Esta minha linda canção
Tu para mim es tudo na vida
Estas dentro do meu coração

II
Tu és muito linda e Bela
No Mundo não á igual
Es a menina mais linda
Deste nosso Portugal

III
Es linda e és bela, simpatia
não te falta quando vais ao
pingo dôce es a alegria da malta

{transcrição integral; ler e/ou cantar na toada de "Canta, canta, amigo canta" de António Macedo}




A menina Júlia volta a fazer das suas... Desta vez não foi a avó a puxar da caneta, mas antes a mulher-a-dias cá de casa que se despede assim, a caminho de férias, da sua companhia quase diária. Eu percebo a Glória e o pessoal do Pingo Doce, a Júlia é de facto a alegria da malta. Nos dias que se avizinham serão os veraneantes da Consolação a consolarem-se com ela... Até um dia destes. Boas férias, a quem for de. Boa Lisboa, a quem ficar em.

terça-feira, julho 28, 2009

A Vida de morte em morte...

Se no episódio relatado no post anterior as importantes palavras surgiam de manhã, dou-me agora conta de que na noite anterior outras palavras tinham sido ditas e que, sim, umas estão relacionadas com as outras. No final de uma noite de jantarada e de copos, em casa de uma amiga felizmente recém-encontrada, no final de uma noite, dizia eu, que acabou em torno do tema morte, já estava eu de pé, casaco na mão, o pessoal a desmobilizar, por entre procuras simultâneas de objectos deslocados, onde estão as chaves de casa?, e os cigarros?, ouvi-me dizer, já a meio-gás, quase na certeza de que ninguém ouviu, que «no fundo, no fundo, um bom passo será sempre o de contrariarmos as nossas certezas, as nossas crenças, as nossas particularidades». Se tivermos a capacidade de contrariar o nosso sistema de crenças, se tivermos a coragem para nos interrompermos, se levarmos a cabo estas pequenas mortes {não confundir com la petite morte} de nós mesmos, então a vida cresce em nós. Matar, pouco a pouco, certas prisões de nós mesmos, liberta-nos. A minha mente, o meu desejo, diz-me «não vás ao baptizado, foda-se, era o que faltava agora ir perder o meu tempo com um baptizado, ainda por cima de fato e gravata, caramba, e o calor que está?»? Pois eu digo {e faço} «vou ao baptizado!». Fui.

segunda-feira, julho 27, 2009

Serviço

No domingo acordei com uma frase na cabeça. Ela acordou-me. Despertei para aquele dia que começava com a nítida sensação de aquela ideia estivera a noite toda a maturar, a construir-se, a aperfeiçoar-se depurando-se. E que, quando escrita a contento, me deixara dormir sossegado as horas que faltavam para o amanhecer. Quando a luz se impôs no corredor, a frase, a ideia, dava-me então os bons-dias dizendo-me que «se não conseguires fazer o que os outros te propõem, não vais conseguir fazer aquilo a que tu próprio te propões». O desafio era claro, a pena aventada dura.

Nessa manhã saquei o meu fato de casamentos e velórios e pendurei-o na ombreira da porta. Ali esteve a olhar-me até meio da tarde. Acabei de ver o Le Samouraï, vesti o fato e dirigi-me ao baptizado do filho da primo da mulher. Família é, também, isto. Durante duas semanas andei a remoer, evitar, desprezar, a isentar-me do fato antracite, mocassins pretos com sola de couro, cinto dupla-face e botões de punho. Agora, estou grato pela sabedoria da frase. Grato pela sabedoria que é saber que uma frase, um pensamento, pode mudar uma vida. O meu fato, agora, é de casamentos, velórios e baptizados. E eu estou, agora, um pouco mais capacitado para fazer aquilo a que me proponho. Bingo.



PS - A gravata ficou em casa, mas a lição estava aprendida...

quarta-feira, julho 15, 2009

Similitudes



Esta fotografia da minha filha mais nova, tinha ela uns 5 meses, anda, desde então, a perseguir-me. Saltou quase imediatamente para o desktop do PC cá de casa e diariamente a vejo ali, redondinha, uma lua-cheia amorosa, mas sempre recortada, como a vemos aqui. No dito desktop eu olho para a fotografia completa, com fundo, com sofá, com áreas desfocadas, mas o que me fica ali a tinir na retina do mental é este recorte, este balão misterioso, sempre esta vinheta. E sempre a sensação de que algo de muito íntimo se espelha nesta fotografia tão recente, tão inexperiente. Como se nos conhecessemos há já muito tempo. Esta carinha redonda tem despertado em mim sensações de memórias, mas de memórias que não se dão a mostrar, que não se revelam. É estranho ter emoções mexidas por memórias que não se identificam. Um bom estranho.

Pois hoje de madrugada {creio mesmo que foi naquela fase de passagem do a dormir para o acordado, numa espécie de lusco-fusco revertido entre o consciente, o inconsciente e o subconsciente}, pois hoje, uns meses passados desta constante relação diária, desta persistência, dei-me conta da ligação. A similitude deu-se a mostrar. A Máscara Misteriosa que marcou indelevelmente a minha infância está estampada {pelo menos para mim, que a mãe dela apenas encolheu os ombros...} na carinha marota da Júlia. Não se trata apenas de um álbum do Spirou. Trata-se "do" álbum do Spirou. A intriga, o medo, o delírio, Tati muito antes de Tati, o frenesim, o mal, os tempos e luzes e matizes e cheiros do dia e da noite, o "outro", o desespero, a febre e, finalmente, o clímax que esta aventura de Spirou e Fantásio derramava ocuparam de novo as minhas horas. E tudo graças à similitude. Por isso existia uma estranheza instalada. Agora que os motivos da estranheza estão identificados, resta-me explorar os motivos dos motivos. Que me quer ainda esta carinha laroca {marota?} mostrar, dizer, sussurrar? A ver em próximos capítulos...


quarta-feira, julho 08, 2009

Crescendo

Hoje ouvi uma parte de conversa alheia. Foi só um pouquinho, e não era privada. Uma pré-adolescente falava com um pré-adolescente. Faltavam da Matilde, uma colega de ambos na turma de equitação. Falavam de algo que não identifiquei à primeira, era algo lá deles. Gerou uma risada aqui, um aceno ali, um entendimento de ambas as partes. E eu observava-os, a uma distância, sob um céu chuvoso, deixando a brisa quente trazer-me alguns sopros da dita conversa.

E agora que faço o jantar, passadas tantas horas do sucedido, é que me dou conta da sensação de estranheza que me invadiu naquele momento. O verdadeiro interesse deste episódio. Isto é, o facto de a tal Matilde ser a minha filha mais velha. E de ali, naquele momento, a Matilde ser outra. Não era da minha filha que aqueles dois falavam. Era de outra Matilde que eles falavam. Dou-me conta de que a Matilde tem já, inquestionavelmente, uma vida dela, uma vida que me escapa, à qual eu não pertenço inteiramente. Existe já uma rede que emana dela, própria, característica, em crescendo. Existem já criaturas que se lembram dela em determinados momentos. Que a mencionarão em conversas ao sol. Quem sabe, que lhe telefonarão a propósito disto ou daquilo. Que ela influencia. A isto se chama crescer, expandir. Isto, sim, é a verdadeira rede social.

Isto é tão bom. É a única coisa que me ocorre dizer. Tão bom.

segunda-feira, julho 06, 2009

Salvação

Hoje aprendi que a Salvação surge de onde menos se espera. Uma mão na parede. Um despertar, um demolir paredes, um mundo novo que nos espera. Nina Simone, sweet music to my ears... Haja esperança.























{O Home fez-me lembrar o House, 1993, da Rachel Whiteread}

sexta-feira, julho 03, 2009

E pára o baile...

Sócrates pode ter muitos defeitos. Pode ser um trafulha, um convencido, um mirabolante, o que queiram. Muita gente já não o pode ver à frente. Convencidos que estão de que não há pior. Mas há. Há o lado negro de Sócrates, a verdadeira pecha da sua existência. Aquilo que é mesmo mau, porque, sim, ele tem um lado negro. Inominável. Falo, naturalmente, de Manuela Ferreira Leite. Manuela Ferreira Leite {na realidade, o PSD; este e qualquer um, porra...} é o verdadeiro problema que Sócrates representa para este país e para os seus habitantes. Parece haver por aí muita gente tentada a experimentar esse lado negro. A vertigem, essa puta. Mas também parece haver por aí muita gente a começar a ter medo de tal revelação. Pode ser que já seja tarde. Estão avisados. Estar sempre a ladrar e a roer as canelas do "engenheiro" tem um custo. Alto.

quinta-feira, julho 02, 2009

Sturmbannfüher

A noite é fria e dura.
O chão molhado, a água gélida da chuva recém-caída
repele a luz demente dos esparsos candeeiros
e dá novas arestas aos objectos,
aos abjectos.
O homem deita-se,
depois de ter despido o dólman que tresanda
a charuto
e a morte.
A última imagem que lhe atravessa a cabeça dormente
é aquela onde figuram dois pontos de luz que esvanecem.

segunda-feira, junho 29, 2009

And that lock is open...





É belo, nem que seja pelo serviço que presta. Marc Weber Tobias até pode muito bem não se dar conta disso, mas presta um serviço à humanidade. Por nos forçar a ver que apenas uma coisa é segura neste mundo, a insegurança. A noção de insegurança, não a insegurança em si. Pois ausente a noção {logo, o medo} de insegurança, a insegurança não existe mais. A realidade do "não existe mais" é bela. E não há chave que nos valha.

sexta-feira, junho 26, 2009

Dos 10 aos 14

Os meninos e as meninas dos 10 aos 14 têm coisas em comum. Têm medo de morrer, da morte antes do tempo. Também não querem que sucedam coisas chatas aos seus pais e familiares próximos. Alguns também estendem estes mesmos medos relativamente ao planeta Terra. Isto é bom. Por estranho que possa parecer, isto é bom, muito bom.

quarta-feira, junho 24, 2009

Menina-Anjo-Bombista

Era uma menina muito linda e forte, com os olhos vivos e duas asinhas agitando-se ao nível dos ombros. Encontrei-a no pequeno jardim da grande cidade, extasiada com o movimento das folhas das árvores contra o azul do céu. Nas mãos, meia embrulhada numa fralda bordada, segurava uma bomba.
— Como podes tu, sendo Menina e Anjo, lançar uma bomba no Planeta? — perguntei eu.
— Não fales do que não sabes — respondeu ela. — Esta bomba não é para o Planeta, é só para a minha casa. E não é violenta, é uma bomba de Amor. Os meus pais e a minha irmã mais velha, os avós, tios e muitos primos, todos vão perceber a força desta bomba. Eu prometi, há muito tempo.
— Ai sim? — brinquei eu. — Conta lá isso.
Fechou o rosto. Ficou parada, por instantes. Logo abriu um doce sorriso condescendente.
— Tu já estás na lista, vais ser atingida. Andas há anos a ler livros que dizem que o Amor é a Maior Força do Universo, e ainda foi preciso vir eu com a minha Bomba!...


{pequeno texto da avó Lisete, que não resisti a publicar aqui}

domingo, junho 21, 2009

sábado, junho 20, 2009

Massa adiposa

No último ano, mais coisa menos coisa, ganhei uma pança. Ou será apanhei? Calhou-me? Apanhou-me? Seja como for, também não é bem uma pança, talvez uma pancinha. É mais que um pneu, mas não atinge ainda proporções dramáticas. Será aquilo a que as mulheres geralmente se referem como sendo a barriga, «ganhei uma barriga»? O facto é que altera-me o sentido da prumada. Afasta-me das minhas t-shirts, ao afastá-las de mim, do meu umbigo. Cria-me ali em baixo uma camada de ar que não reconheço, um espaço estranho, um vazio que eu não criei. E o que dizer daquele reflexo nas montras, nos passeios? É melhor não dizer nada... E pesa-me na coluna, caramba. Mas o mais chato mesmo é ela não falar comigo. Não sei o que quer de mim, não sei o tenho a aprender com ela. Só me lembro do talk-to-me-i'm-bored do Seinfeld, mas do que se trata mesmo é de um silêncio chato, chato. E não me serve o argumento da idade, da vida sedentária, da falta de exercício dos últimos tempos. Muita gente vegeta para aí em vidas desregradas e, contudo, mantém a "forma". Não, ela está aí porque tem algo a dizer. Mas não a oiço. Estou incapaz de a ouvir. Eu não a odeio, mas, de facto, também não a quero ali. E não querer aqui uma coisa que aqui está, regra geral, dá asneira. Estranheza. De momento.

quinta-feira, junho 18, 2009

«Estou muito satisfeito comigo.»

Infelizmente, nos dias que correm, não consigo dizer o mesmo... Mas é sempre bom ouvir alguém dizê-lo. Nunca um voto foi tão fácil de conseguir.

quarta-feira, junho 17, 2009

Dear John Deere

Ontem vi um homem morto matar dois dos seus vários filhos. Como dizia um dos que acabou por escapar à espiral de violência, «ele vai ser julgado pelo que fez de mal e não pelo bem que fez». As mães {biológicas} assistiam, impávidas e não tão serenas, à distância. Impressionante como um homem mesmo já morto detém ainda o poder da destruição. Como se da morte dele tivessem resultado ainda uma série de ondas concêntricas cheias de energia destruidora que, tal como uma pedrada num lago, gerassem eventos imprevisíveis. Felizmente que, tal como no lago assim é na vida, as ondas acabam sempre por se desvanecer na acalmia que as leis da física impõem.

Mas o mais interessante mesmo, para mim, foi ver como esse homem morto provisoriamente encarnou num tractor verde e amarelo que teimosamente insistia em não pegar. Como se quisesse evitar à força o tal julgamento de que falava o filho acima. Quando finalmente resolveu arrancar sons e vibração do seu motor, fumo negro subiu no ar, e a matança parou. Cada um seguiu, finalmente, o seu caminho pessoal e intransmissível. Cheio dos seus próprios erros e não mais dos erros alheios.

segunda-feira, junho 15, 2009

Creio que me cansei de me castigar.
Creio estar de volta à superfície.
Um tipo pode ser uma besta.
{... um tipo é ...}
Mas indefinidamente?

Não juro porra nenhuma, porque quem mais jura mais mente.
Mas estou de volta.
Aonde não sei.
Nem de onde quanto mais aonde.
E quando?
«Inté», escreve-se hoje em dia nos msns da vida...

domingo, abril 26, 2009

Fiquemos, pois, em dutch mode...




Não vá a primeira hipótese mencionada anteriormente ser a verdadeira, que os visitantes deste blog fiquem, pois, "pendurados" nesta belíssima imagem de Gerrit A. Berckheyde.

Crossroads

Este blog das duas uma; ou morre {não acredito muito, mas...} ou ganha alento após o meu regresso da minha terra de eleição. Até lá, seja qual for esse lá.

sábado, abril 11, 2009

{ ... longo e cansado suspiro ...}

Bem me quis parecer que aquela cena do crucificado com dúvidas em relação ao amor paterno não podia ser um bom presságio...

Coisas do sobrenatural...

Faltam 15 minutos para começar o Benfica x Académica e está neste momento, no mesmo canal televisivo, um tipo semi-nu, ensanguentado, pregado numa cruz, a olhar para um céu nublado e a perguntar «Porque me abandonaste?»... Pergunto-me como é possível um tipo acabar de escrever estas linhas e ir sentar-se ali no sofá para ver o referido jogo? No entanto, vou fazê-lo, como não? A isto se chama a fé dos crentes? Será?

Deadwood's gems... {#3}















«What's he ever done for me? Except let me terrify him every goddamned day of his life 'til the idea of bowel regularity is a forlorn fuckin' hope.»

«E.B.: Anything the mayor should know?
Al Swearengen: The name of another tailor.»

«Al Swearengen: As damp as your hands are, why do you continuously lick your fuckin’ thumb?
E.B.: Habit, I suppose.
Al Swearengen: Could you learn the habit of lickin’ a fuckin’ stump?»

«Al, if you're not dead and already moldering, I send news to revive you. A fish to rival the fabled Leviathan has swum into our waters. Get well soon, and we'll land the cocksucker together. Your friend, E.B.»


E. B. Farnum no seu melhor... Ou aqui.

Deadwood's gems... {#2}

















«I'm drunk. Correct. What the fuck is it to you?»

«Reverend H.W. Smith: When I read the Scriptures, I do not feel Christ's love as I used to.
Calamity Jane: Aw, is that so? That is too bad! Join the fuckin' club of most of us!»

«E.B. Farnum: Be brief.
Calamity Jane: Be fucked!»

«Calamity Jane: Maybe I will have a fuckin' drink, for sociability's sake and 'cause I'm a fuckin' drunk.
Joanie Stubbs: What's your preference?
Calamity Jane: That it ain't been previously swallowed.»

«I don't drink where I'm the only fuckin' one with balls!»


Calamity Jane no seu melhor... Ou aqui.

quinta-feira, abril 09, 2009

Deadwood's gems...














«Announcing your plans is a good way to hear God laugh.»

«Get a fucking haircut. Looks like your mother fucked a monkey.»

«Al Swearengen: You want a blow job while I talk to you?
Judge: No.
Al Swearengen: I wasn't offering personally.»

«Seth Bullock: There's a blood stain on your floor.
Al Swearengen: Yeah, I'm... I'm gonna get to that.»

«Every fuckin' beatin' I'm grateful for. Every fuckin' one of them. Get all the trust beat outta you. And you know what the fuckin' world is.»

«I'd rather try touching the moon than take on a whore's thinking.»

«Say what you’re gonna say or prepare for eternal fucking silence.»

«How's that pussy-lotion? Should I try some on my ass?»

«Don't fucking call me Al!»


"Al" Swearengen no seu melhor... Ou aqui.

terça-feira, abril 07, 2009

Lindôôôôô....


{Mimar um TOP TOP TOP após o visionamento.}

{Via}

domingo, abril 05, 2009

My head, my world...



De seu nome Levi van Veluw, decididamente a explorar aqui.

terça-feira, março 31, 2009

De útrás a kreppa é só um instantinho...

Belíssima reportagem de João Moreira Salles sobre a recente perda da inocência da Islândia, e dos islandeses, e da sua atribulada aventura financeira, cultural e social. Uma história absolutamente fantástica, que daria sem sombra de dúvida um belíssimo romance {e não páro de pensar que Michel Tournier seria ideal para tal empresa}.

Ah, claro, e onde é que se pode ler tal peça de jornalismo à maneira? Na Piauí, como não podia deixar de ser. Vale mesmo a pena. É só seguir o link. A Piauí actualmente exige registo no site para se poder ler certos artigos, mas é gratuito e vale bem o esforço.

quinta-feira, março 26, 2009

WWWOOOOOOOOOOOOOWWWWW!!!!!!!!













O cunhadão trouxe-me um CD com buédacenasbuédaloucas lá dentro, mas estes é que me estão a encher as medidas!!! Quero ver!!! No final de Maio passam por Madrid e Barcelona. será possível que ninguém os traga até cá?!? Pleeeeaase! Vá lá...

{Crystal Antlers – myspace}

domingo, março 22, 2009

Safa!

Angelina Jolie, Madonna, Marilyn Monroe, Ava Gardner, Grace Kelly, Sophia Loren. Tudo tipas que ilustraram, languidamente, lascivamente, elegantemente, badalhocamente, as últimas entradas da rubrica "Eu hoje acordei assim..." desse blog inexplicável que dá pelo nome de Bomba Inteligente. É por tal que não deixa de ser extremamente curioso, para não dizer altamente desonesto, ouvir {agora mesmo, na Rádio Europa} a senhora Quevedo lançar postas de pescada contra a pretensa perda de moral da sociedade contemporânea, vergada que está perante o aspecto, os looks vários, enfim, a ditadura da imagem. Ele há cada uma...

sexta-feira, março 20, 2009

Ó pai, ó pai...

É impressão minha ou este ano o Dia do Pai ganhou uma dimensão anormalmente grande? A quantidade de blogs {alguns tão insuspeitos que até me surpreenderam...} que por aí fora fizeram questão de assinalar o dito dia é imensa. O ano passado este dia passou, mais ou menos, ao lado. Há dois atrás, não me dei ao trabalho de averiguar, mas suspeito que ainda mais em claro ficou. Explicação possível? Deve ser da crise... {já se sabe que quando a coisa aperta só resta o pai}. Ou será da histeria em torno do bicentenário de Darwin?


Pequena nota: Eu sou o que se poderia considerar um filho desnaturado. Nunca liguei muito a sério a este dia, bem pelo contrário; este ano até o deixei passar... Mas uma coisa é certa. Como não pensar no meu pai diariamente quando olho para a "minha" Júlia e só o vejo a ele, e à mãe dele, e ao pai dele?

quarta-feira, março 18, 2009

The Virgin Prunes

Esta conversa à volta dos Easterhouse – dos quais, diga-se em abono da verdade, nunca gostei muito; devo tê-los ouvido intensamente durante um mês ou dois à conta do camarada Alvim... – levou-me, inexplicavelmente?, a uma outra banda, essa sim, também dos idos de 80 {acabaram em 1986} mas da qual gostei muito, muito, muito. The Virgin Prunes, uma daquelas bandas que terei sempre pena de nunca ter visto em concerto. Mas, que se dane, sempre temos o YouTube...













Mas o melhor mesmo é um dos múltiplos comentários que se podem encontrar no YouTube – «my mom loved them in high school and she went to one of there concerts and they spit on her and kick her in the face haha»

terça-feira, março 17, 2009

Twisted

Isto aqui é mesmo verdade. Por aqui também é motivo para indagação. Aqui a resposta também ainda não chegou. Eu junto-me ao grupo e, para além de não perceber qual a verdadeira intenção, logo qual o interesse, do Twitter, pergunto-me – porquê a cena dos 140 bytes/caracteres? Não podiam ser menos? Faz-me lembrar as palavras do fascista do Steve Jobs, que quando indagado acerca do desinteresse da Apple em competir com o Kindle respondeu «people don't read anymore». Porque será?

Além do mais, se o Twitter fosse a ferramenta oficial como é que o Daniel me faria relembrar os sons desses comunas dos idos de 80?

Ah, e este post tem exactamente 551 caracteres. Toma!

Osmose?

As personagens do post anterior fizeram-me lembrar as mesas do poder fotografadas há uns anos por outra artista/fotógrafa holandesa, de seu nome Jacqueline Hassink. Lembrei-me dessas mesas porque não deixo de pensar em como serão as reuniões de direcção da Ordem dos Notários... lol. E de como olho para essas mesas com o mesmo fascínio com que olho estes tabeliães. Pessoas e objectos sofrerão as mesmas alterações quando expostas a cenários e ambientes de poder?


Este filminho não revela nem um centésimo da força das fotografias de Hassink, nem mostra o resto do interessantíssimo projecto, mas é o que há...

segunda-feira, março 16, 2009

Tabeliães

Preciso de um documento autenticado por um notário. Dou uma vista de olhos na internet a ver se há uma lista dos notários em Lisboa. Vou dar com o website da Ordem dos Notários. E descubro que a Rineke Dijkstra deu mais uma saltada a Portugal...



Estas fotografias dos membros da direcção da Ordem dos Notários não estão, pasmem-se, ou talvez não, assinadas; não são, claro está, da Rineke Dijkstra mas são um assombro. Adoro-as pura e simplesmente.

PS — Ah, e cliquem nelas, por favor; explorem-nas ao máximo.

sábado, março 14, 2009

ZÁS, SMAS, PÁS

Ouvir a Ana afirmar, na televisão, que trabalhar no atendimento ao público nos SMAS lhe fez muito bem, sim senhora, foi algo de muito interessante.

domingo, março 08, 2009

Some people never go crazy. What truly horrible lives they must lead.

Poucos filmes podem gabar-se de resistir desta maneira a 22 anos de vida. Esta história toda em redor do The Wrestler fez-me querer rever esse long time no see que é Barfly. Vi-o {há 22 anos...} com o camarada Serafim, na sala 3 do King, munidos de uma garrafa de aguardente de figo {caseira, feita pelo pai de um colega nosso}, e saímos para a luz assassina de um fim de tarde de Verão, Avenida de Roma abaixo, com uma das mais estranhas bebedeiras da minha vida. É estupendo como passados 22 anos este filme continua fresco, honesto, bem disposto, com uma energia rara. Diálogos do caraças, ambientes à maneira {as rajadas de luz de cada vez que alguém entra nos bares são geniais!}, um Rourke do melhor, um par de pernas como não há muitos {e fossem só as pernas... long live Faye!}, o irmão do Stallone {lindo!} e o grande Jack Nance; sem dúvida, o melhor Schroeder de todos. Grande filme.


PS – Bom, é verdade que não há grande pachorra para a lamechice à volta da tontinha da editora de poesia, a Tully Sorensen. Mas, ainda assim, um grande filme.

Mitos urbanos {#2}

Não se iluda quem acha que é um sinal positivo o facto de Portugal ser o 4.º país da União Europeia com as menores desigualdades entre homens e mulheres ao nível dos valores salariais. Tal não significa que a igualdade é maior, apenas significa que os homens portugueses são, regra geral, mal pagos.

quarta-feira, março 04, 2009

Olha, olha, a minha primeira corrente...

Finalmente, uma corrente atravessou-se no meu caminho. Esta eu já conhecia, tem já algum tempo, mas por fim deu volta tal que me bateu à porta. Ora bem, boa, eis então a 5.ª frase completa, da página 161, do livro mais à mão, a saber, Os Irmãos Himmler {Katrin Himmler, 2005}.

«Alguns meses mais tarde compraram uma casa em Berlim Dahlem, onde a família viveu durante os anos seguintes.»

E lanço a corrente aos seguintes blogs: Il Miglior Fabro, The Ressabiator, Animais Domésticos e Histórias do Brasil e Stalker {que é para internacionalizar a coisa...}.

domingo, fevereiro 22, 2009

O Amor é...

Esta discussão em redor do casamento entre pessoas do mesmo sexo tem sido muito interessante. A mim agrada-me este tipo de situação em que a discussão de um tema, de uma causa fracturante como alguns gostam tanto de afirmar, não nos deixa em paz durante uns tempos. No sentido em que enquanto o tema é debatido vão sendo levantadas questões íntimas, que nos confrontam com preconceitos que desconhecíamos {em nós e nos outros}, que nos fazem questionar ideias e posições tidas como certas {ou erradas}. E queremos, e procuramos, respostas. E depois há coisas que lemos e ouvimos e que nos fazem confusão, que nos fazem torcer o nariz.

Nada tenho contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Se o Governo de Sócrates o aprovar, tudo bem. Se Pacheco Pereira e os seus amiguinhos levaram em diante o infâme referendo, também. Levanto-me e vou votar {a favor, note-se}. Se do casamento decorrer a adopção {como, de resto, deve decorrer}, na boa. Adoptem. Se querem saber, até com o maior medo dos opositores – falo, claro está, da extinção a longo prazo da populaça {absurdo dos absurdos} – eu não tenho problemas. Extinga-se. Quem disse que temos de ficar por aqui eternamente?

Mas tenho questões, ai tenho, tenho. E estas prendem-se com duas situações, a saber, o casamento poligâmico e o casamento incestuoso. [Aliás, antes mesmo de entrar pelo assunto dentro, permitam-me a sugestão de que daqui em diante se substitua o termo "casamento incestuoso" por "casamento entre familiares". Porque se se entende {e eu passei a entender} que se deve falar de "casamento entre pessoas do mesmo sexo" e não de "casamento homossexual", então... Casamento entre familiares it is.] Mais, também não consigo entender o argumento {que é, de resto, utilizado para rebater a comparação com estas duas outras formas de casamento} de que a homossexualidade é uma "orientação sexual" e não uma "opção sexual". Em suma, uma questão identitária. Como tal, diferente da poligamia e do incesto.

Eu vi o "Prós & Contras" de uma ponta à outra {pela primeira vez, note-se}, tenho andado pela blogosfeira, oiço e leio aqui e ali, acompanho por alto a discussão. E fui notando que havia ali algo de comum a eles todos {os apoiantes do casamento entre pessoas do mesmo sexo} no discurso, nos conceitos que abordavam, até no modo como os defendiam. Como se tivessem lido o mesmo manual antes de iniciarem os debates, como se estivessem todos afinados por uma mesma bitola. Havia ali uma concordância {para além do tema propriamente dito, claro está} que me soava estranha. Pois há uns dias atrás, o MVA deu-me a perceber a origem de tal metrónomo ao mencionar e postar o parecer jurídico "Um símbolo como bem juridicamente protegido" de Pedro Múrias {descarregar aqui}. Estava encontrado o cerne da coisa, desta estranheza. Era este o documento, a palavra. Saquei-o da net e li-o. Como não tenho problemas com a questão de fundo, o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e as suas consequências, absti-me de ler atentamente as questões legais, jurídicas, etc. da questão e centrei-me praticamente naquilo que dizia respeito às minhas dúvidas, isto é, aquilo que no parecer são denominadas por analogias inevitáveis. Note-se, desde já, a ausência de uma analogia inevitável, mas aqui "esquecida", que é a do casamento poligâmico. Mas atentemos às outras {e todas as citações são do citado parecer}.

1.ª analogia
«A semelhança entre a «questão» do casamento civil e a «questão» do casamento entre pessoas do mesmo sexo sugere, é claro, uma outra analogia. Uma eventual supressão do casamento civil, hoje, quiçá num «regresso às origens» da figura, seria uma amputação gratuita de um direito fundamental. A negação do casamento entre pessoas do mesmo sexo é uma amputação idêntica. Entre o surgimento do casamento civil e o do casamento gay ou lésbico há, entretanto, a diferença histórica de mais de um século. O que foi político e, inclusive, revolucionário, é agora assente e constitucional. O casamento homossexual é apenas o último estádio do casamento civil.»
Como se pode pretender, assim tão peremptoriamente, que este seja o último estádio do casamento civil? Parece-me extremamente abusivo. Além de redutor. Não há nada mais além?

2.ª analogia
«Mais importante é a analogia entre a proibição do casamento entre pessoas do mesmo sexo e a proibição do casamento entre pessoas de raças diferentes. A homologia dos argumentos históricos e possíveis e das explicações aceitáveis chega aos pormenores mais ínfimos. Em ambos os casos, a proibição resulta, sociologicamente falando, de um preconceito estabelecido e de uma atitude de distinção opressiva de grupos de pessoas. O racismo, num caso, a homofobia, no outro.»

«Por seu lado, o racismo e a homofobia são em si mesmos homólogos absolutos. São sistemas de opressão com um passado e algum presente de violência extrema, estruturados, na sua forma prototípica, através da identificação indelével de grupos de pessoas consideradas piores e repugnantes.»

Se o argumento anterior me parecia abusivo e redutor, este parece-me mesmo absurdo e causa-me estupor. Comparar sexo {sexo, relações e apetites sexuais; não é género} e raça/etnia vai além da minha compreensão. Estão mesmo a falar sério?


3.ª analogia
«A analogia é invocada pelos opositores do casamento homossexual no sentido de que, tal como a proibição do incesto é constitucionalmente válida, também a proibição do casamento homossexual assim seria. Por outras palavras, se a proibição do casamento entre pessoas do mesmo sexo fosse inconstitucional, teríamos de concluir pelo absurdo de também a proibição do incesto o ser.»

«O incesto promove juízos negativos sobre actos, só mediatamente sobre as pessoas que os praticam, ao contrário do racismo e da homofobia. Simetricamente, mas mais importante, um afecto incestuoso não é uma condição identitária, ao contrário da raça e da orientação sexual. A orientação sexual, como a etnia, identifica cada pessoa como membro de um grupo socialmente distinto e permanece, tendencialmente, ao longo de toda a vida dessa pessoa. Faz parte daquilo a que cada um chama a sua natureza. A autocensura de um amor incestuoso corresponde ao juízo de que se comete um erro; a autocensura de um amor homossexual corresponderia ao juízo de que se é um erro.»

Outra vez a raça e o sexo... E esta implicação com o termo orientação como sendo antípoda do termo opção. Orientação, orientação, orientação. A mim parece-me nitidamente uma opção. Mais levada a sério, mais levada levianamente, mas sempre opção. Eu conheço pessoas que viviam uma relação heterossexual e passaram a viver uma relação homossexual. Conheço pessoas que viviam uma relação homossexual e passaram a viver uma relação heterossexual. E quando falo em viver uma relação, falo em viver debaixo do mesmo tecto, partilhar a cama, as refeições e as contas ao fim do mês. Até os filhos. Nunca vi, ou soube, ou consigo imaginar sequer, casos semelhantes implicando a raça/etnia... Mas depois vem o parecer jurídico e reforça a ideia de... natureza!? Tipo "não tenho palavras, é mais forte do que eu...»? E o que será isso do grupo socialmente distinto? Terá um alimentação também ela distinta, tipo a comida kosher dos judeus? Sinceramente, não entendo.

«O incesto é tema literário e académico, não é objecto de perseguições organizadas nem bandeira de movimentos reivindicativos.»
Tema literário e académico? Não foi em tempo a homossexualidade entendida nestes termos? Não aprendemos nada? Os polígamos e familiares enamorados deste mundo não estão organizados em movimentos reivindicativos? Porque será...? Bom, é como diz o parecer: «Não se discute o casamento entre pessoas no mesmo sexo na Arábia Saudita, nem na Inglaterra vitoriana. Numa sociedade em que a identidade homossexual e as relações amorosas homossexuais forem vistas como a mais natural das coisas, tal como a identidade e as relações amorosas heterossexuais, o casamento para ambos os grupos será um produto esperável.» {substitua-se "homossexual" por "polígamo", p. ex.}

Volto a lembrar que uma quarta analogia, a do casamento poligâmico, foi deixada de lado pelo parecer. Continuo sem saber porquê. Bom, até percebo. É verdade que os movimentos LGBT não têm que andar a defender os interesses e as lutas de outros grupos e movimentos {inexistentes, latentes ou em vias de organização}. É verdade. Mas também seria desejável que não os segregassem de modo a poderem levar as suas causas avante. Não aceitar que a poligamia e o casamento entre familiares possam ter a ver com esta discussão é errado e pouco honesto.

De modo a finalizar a minha posição e as minhas dúvidas, eis novamente as palavras do parecer: «A importância do casamento é a ligação indissociável deste, na cultura que temos, aos factores emocionais decisivos referidos ao longo do parecer. A limitação do acesso ao casamento é a supressão de uma possibilidade de sucesso emocional. A proibição do casamento homossexual viola, pois, o direito ao livre desenvolvimento da personalidade e o art. 26.º, n.º 1, da Constituição». É por acreditar que o que interessa aqui é o tal sucesso emocional e o tal livre desenvolvimento da personalidade, e por acreditar que o amor toma as formas mais díspares, que não posso concordar com o "afastamento" do casamento entre familiares e do casamento poligâmico da discussão. São formas de relacionamento amoroso tão legítimas quanto as que estão agora em debate. Desde que – e friso sempre e com convicção estas duas condições inatacáveis – se verifique que as partes são {1} maiores de idade e que estão {2} de livre vontade na relação. Verificadas estas condições, o que poderá obstar ao casamento de duas {ou mais} pessoas, do mesmo ou de sexos diferentes?

Ainda Sócrates...

«Agora, eu não acredito em vitória. Nem em sucesso. É tudo especulação. Nós somos frágeis, somos fracos, somos carentes. Todos nós. Existem sobrevidas. Mas a maior parte da vida é de carência, sofrimento, dor, de ir buscar um monte de coisa que a gente não conquistou. E conquistar não quer dizer ganhar, não quer dizer ter sucesso. Conquistar é aquilo que lhe dá prazer, que lhe faz bem, que lhe dá felicidade. Eu não acredito nesse discurso da sociedade contemporânea, tudo voltado para a Ilha de Caras. Falsidade do caralho. Mostram coisas muito bonitas, muito ricas. Se você pegar a maior parte das pessoas que tiram foto naquela revista, elas não estão em casa. Na casa delas é muito mais difícil. A vida é muito maior do que o sucesso. A vida é real, cara. A casa delas é que vale, é onde elas choram.»

É por estas e por outras que este tipo é um senhor com S grande! Mais outras numa gostosa entrevista dada por Sócrates à revista Boemia.

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Sócrates Brasileiro

Ontem foi o aniversário deste "barbas", de seu nome Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira. Desde já os meus parabéns {mesmo que atrasados} a esse grande homem que ajudou a mudar a minha vida para sempre. Mal eu sabia... Apetece-me relembrar as minhas próprias palavras {escritas aqui em Junho do ano passado, por ocasião do Euro2008} a propósito desse capitão barbudo e do escrete canarinho de 1982.

«A primeira selecção que apoiei foi a do Brasil de Sócrates e companhia. Era forçoso que assim fosse, pode dizer-se, uma vez que o meu primeiro Mundial foi o de 1982, o do Naranjito, em Espanha. Foi nesse ano que acompanhei com algum interesse {difícil saber o quanto}, pela primeira vez, um acontecimento desta natureza. O Euro de 1980 {em Itália} e o Mundial de 1978 {na Argentina} passaram-me ao lado, mas o Naranjito cativou-me {e como não?} e despertou-me para esta realidade dos países, com exércitos de 11, em grupos de 4 e depois em eliminatórias a doer, todos com um único objectivo, o de erguer a taça. Bom, as regras eram estas e estavam entendidas, mas faltava-me algo. Torcer por alguém. Portugal não estava lá {embora figure na caderneta dos cromos de então...}, mas eu queria na mesma jogar aquele jogo. Logo, era preciso torcer por outro alguém. E o Brasil pareceu-me a solução óbvia, ou possível, ou alguém mo suspirou? E naquela altura, do alto dos meus 11 aninhos, eu convenci-me de que aquela era uma turma especial. Fiquei hipnotizado. Não sei se era o azul e o amarelo, se a barba do Sócrates {eu diria que é impossível ficar indiferente a um jogador de barba...}, se era aquele ar doidão do Falcão, se a magia do Zico, mas aqueles eram decididamente os meus tipos. Para quem, como eu, começava naquele momento a admirar aqueles duelos colectivos, aquelas guerras pacíficas {ou nem tanto}, aquele Brasil era a escolha óbvia. E naquele fatídico jogo frente a Paolo Rossi {nunca um hat-trick, numa altura em que nem sequer sabia que tal coisa existia, me soube tão mal...} eu saboreei o amargo da derrota, a injustiça injustificável. Foi um baptismo terrível. Ali começava a minha devoção ao mundo da bola e ali eu chorei pela primeira vez por causa de um resultado de um jogo de futebol. Encontrava-me de férias no hotel da Torralta {o amarelinho; o mesmo amarelinho do escrete...} na serra da Estrela com o meu pai, nunca me esquecerei. Vi o jogo dentro do hotel, numa televisão na sala de estar, em silêncio, angustiado. Terminado o jogo, fui dar uns toques de bola, na relva, lá fora, com o meu pai. Sempre em silêncio. Aguentando em surdina algo de muito estranho para mim. Até que rebentei e chorei como a criança que era. É isto que guardo daquele que foi, provavelmente, o melhor escrete canarinho de sempre. A minha primeira selecção, como as primeiras escolhas?, foi efémera e amarga...»

A fotografia e a indicação do seu aniversário foram prestadas pelo botequim imaginário do Bruno Ribeiro. O meu agradecimento e o conselho geral de lá darem uma saltada, que valerá sempre a pena.