No domingo acordei com uma frase na cabeça. Ela acordou-me. Despertei para aquele dia que começava com a nítida sensação de aquela ideia estivera a noite toda a maturar, a construir-se, a aperfeiçoar-se depurando-se. E que, quando escrita a contento, me deixara dormir sossegado as horas que faltavam para o amanhecer. Quando a luz se impôs no corredor, a frase, a ideia, dava-me então os bons-dias dizendo-me que «se não conseguires fazer o que os outros te propõem, não vais conseguir fazer aquilo a que tu próprio te propões». O desafio era claro, a pena aventada dura.
Nessa manhã saquei o meu fato de casamentos e velórios e pendurei-o na ombreira da porta. Ali esteve a olhar-me até meio da tarde. Acabei de ver o Le Samouraï, vesti o fato e dirigi-me ao baptizado do filho da primo da mulher. Família é, também, isto. Durante duas semanas andei a remoer, evitar, desprezar, a isentar-me do fato antracite, mocassins pretos com sola de couro, cinto dupla-face e botões de punho. Agora, estou grato pela sabedoria da frase. Grato pela sabedoria que é saber que uma frase, um pensamento, pode mudar uma vida. O meu fato, agora, é de casamentos, velórios e baptizados. E eu estou, agora, um pouco mais capacitado para fazer aquilo a que me proponho. Bingo.
PS - A gravata ficou em casa, mas a lição estava aprendida...
Há 10 anos
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