segunda-feira, março 31, 2008

Iracema, uma transa amazónica

Iracema, uma transa amazónica (1976), de Jorge Bodanzki e Orlando Senna. Este filme é muito bom! Grande país, grande filme. Grande país, grande miséria. Grande país, grande estrada. Grande país, grande transa. A transamazónica (a estrada que liga a cidade à selva; o progresso; um novo desconhecido) em comparação, em resultado, em trocadilho irónico, com a transa amazónica, com aquela sexualidade desbragada, revolta, de pelagem exótica tão característica dos trópicos e que nos intriga tanto, e há tanto tempo, a nós, europeus... A condição do índio, da mulher e da criança quando lançados às feras, aos "brutos", à "civilização", sem regras, sem grande moral, sem sentido aparente. A desmatação, a poluição, a prostituição, a estrada, enfim, o progresso. Desordem e Progresso. Um daqueles filmes meio alucinados, que mistura muito bem o registo ficcional, cinematográfico, com o registo mais "real", documental. E que nos garante, dias depois, ainda uma sensação amarga, um incómodo perante a vida e a condição humana. O que é bom, certo?

{Tião (personagem e tanto!) conversando com um madeireiro junto ao Amazonas, enquanto lhe carregam o camião de pranchas de madeira}

T — Como tá a coisa aí, pelo rio?
M — Tá maravilhoso, tá ótimo...
T — A natureza...
M — É, a natureza. Mãe que cria todo o mundo...
T — Natureza é mãe coisa nenhuma, rapaz. Fica essa gente aí esperando uma correnteza...
M — ...
T — Natureza é mãe coisa nenhuma. A natureza é o meu caminhão, rapaz. A natureza é a estrada.
M — A natureza é essa baía, tudo maravilhoso...
T — Natureza que nada... Não cria nada. Não vê que tá tudo mirrado...
M — Que nada, todo o mundo vem para cá e cria tudo. Isto é uma terra rica...
T — Que nada, isso é uma terra pobre... Vai ficar rica...
M — ...
T — Mãe só tem uma... Mãe é a mãe da gente, não tem nada desse negócio da natureza ser mãe, não.
M — A mãe não é só aquela de que a gente nasce. Nós temos a outra. A maior mãe nossa é a nação...
T — A nação brasileira...
M — Que nos cria...
T — É, essa nação que está crescendo, que está progredindo...
M — Isso. Essa é que é a mãe, a verdadeira mãe.
T — Onde tem madeira, tem dinheiro. Meu negócio é esse mesmo. Eu estou atrás é do dinheiro, da grana. Só não se dá bem nesse país quem não sabe se virar. Quem não tem cabeça. Podicrê. Eu sou mais eu. Eu sou o Tião. Tião "Brasil Grande". Podicrê. Eheheheh.... Vamo lá pessoal, vamo lá, que ainda essa noite eu quero cair na putaria... ehehehe...»







{Esta cena final, uma orgia demente de beira de estrada, o encontro de umas putas com outras, o álcool e a puta da vida num só e desfigurando as almas acabadas de uns e de outros é pura e simplesmente genial.}

Hitler's Willing Executioners

Para você que acabou de ler As Benevolentes e que, como resultado, está deprimido, sem rumo, órfão da leitura, sem saber o que pegar agora... eis a solução! Hitler's Willing Executioners, de Daniel J. Goldhagen! Dificilmente uma leitura será mais recomendada como seguimento de As Benevolentes. Acredite! Testado! Comprovado!

sexta-feira, março 28, 2008

Nem de propósito...

Isto até já começa a correr o risco de parecer ser uma sucursal do Reactor... lol. Mas foi lá que acabei de ver mais uma magistral história (desta feita, animada; desta feita, verídica) desse génio que dá pelo nome de Chris Ware. Mas o mais importante mesmo (como se não bastasse o facto de ser mais uma magistral criação desse génio que dá pelo nome de Chris Ware) foi o facto de, de certa forma, ilustrar, complementar, enquadrar, fortalecer o texto que aqui escrevi há dois posts atrás. Mas fosse como fosse, naturalmente, é de visualização obrigatória!

Vergonha

Hoje o Sr. Geert Wilders prestou um péssimo serviço à Holanda. À Europa. E ao mundo em geral. Shame on you.

Só uma perguntinha...

Por que raio ninguém relaciona a avaliação dos professores com o episódio do telemóvel? O caricato episódio despoletou paleio de todos os formatos e feitios, oriundo de todos os quadrantes, mas em lado algum (os lados onde fui, claro; não estou em todo o lado..) ouvi fosse quem fosse relançar de novo a questão da avaliação dos professores. Bizarro. A mim parece-me mais do que evidente que este episódio só vem provar a necessidade da mesma e, em especial, a avaliação dentro da sala de aulas (logo a primeira medida a ir ao ar...). Mas nem a ministra, nem o primeiro-ministro, nem os socráticos estão a aproveitar a deixa. Porque será? Desistiram? Pois, já prometeram baixar o IVA, o resto que se lixe. É pena.

quinta-feira, março 27, 2008

Quem olha quem; quem olha o quê; e quem olha quem olha?

Sempre que a imprensa (e até certos blogs, pasmem-se [ou talvez não]) aborda a questão do, já célebre, "caso Carolina Michaëlis" e nos brinda, como suplemento, com as imagens (em movimento ou não) da cena propriamente dita, as caras (as "identidades") dos intervenientes são mascaradas, são sujeitas a tratamento de ocultação. A professora é mascarada, a aluna é desfocada, as identidades são poupadas. Como se as identidades estivessem ali, naquela imagem. Simplesmente porque alguém também ali está, a observar. Nada mais errado, mas adiante. E o adiante leva-nos aos outros casos, às outras imagens. Como as do, por exemplo, também já célebre, "caso Mariluz", onde o tratamento é distinto, precisamente o oposto. Aqui não se desfoca mas, antes, enfoca. Aqui não se protegem identidades, aqui identificam-se identidades. Aqui destaca-se o presumível assassino à saída de um tribunal. Aqui queremos saber quem é. Na escola, na outra vida, não queremos saber quem é. Pode muito bem ser a nossa filha... Brrr... Se isto não é sinistro, bizarro, perturbante e tudo o mais, bom... a comparação das imagens abaixo é interessante e suficiente (ou talvez não).


Também a mim (como a José Bartolo) o que me interessa, incomoda, desperta o interesse é o outro telemóvel. Não o da disputa mas o que filma a disputa. Não aquele que vemos mas o que nos mostra o que vemos. E aqui sim, digam o que disserem, está o incómodo. Fale-se da falta de responsabilidade, fale-se da falta de autoridade, da falência do ensino, dos tempos idos, fale-se do que quiser, mas tenha-se a certeza de que falamos de tudo isso apenas para fugir a esta outra questão, a este outro desconhecido, este outro medo – o "como chegámos a esta posição?". O que nos trouxe aqui? Porque queremos nós ver as coisas assim, deste modo? Porque o outro telemóvel, o que filma, é também a câmara de filmar da estação televisiva. Um difunde-se pelo Youtube e o outro por um canal televisivo. Mas filmam ambos do mesmo ângulo, e o mesmo incómodo, disso não restam dúvidas. Mas câmara institucional (a TV), essa nós aceitámo-la há já muito tempo. Mas esta nova "câmara" é-nos, ainda, estranha. Ainda não sabemos de onde vem, ao que vem. É que a primeira sempre passa pela régie, organismo onde, de algum modo, depositámos algum grau de confiança. Mas esta, esta vem desabrida, como é, como julga ser. Curiosamente (ou talvez não) este novo olhar acabou mesmo por se revelar exponencialmente, apanhando uma fantástica boleia na difusão dos media, acrescentando ainda mais uma layer à questão. Mas não resistiu ao desfocar das "identidades". Aí, a TV ainda falou mais alto. Mostramos-te, divulgamos-te, mas como nós queremos. E este nós é mesmo a sociedade. Ou uma grande parte dela. A que prefere ver desfocado o que tem ao seu lado (a miúda desafiadora; a professora abusada) e ver com nitidez exarcebada o que não deseja ter ao seu lado (o pedófilo; o assassino). E se, como diz Bártolo, «é nas coisas, e não no olhar sobre as coisas, que reside o perigo», também é verdade que o "perigo" reside tanto nas coisas filmadas como nas coisas que filmam. Há que abrir o olho!

Bom augúrio


Ontem à noite houve festa. É bem verdade que nem a França, nem a Itália, nem a Roménia, se comparam à Áustria, mas... ainda assim é bom ver que os rapazes estão com ganas.

terça-feira, março 25, 2008

Hoje ao almoço bebi uma Abadia Gold (uma cerveja gourmet frutada e seca ideal para acompanhar sabores suaves e frescos... bla bla bla)

Portugal (e os Portugueses) têm a ideia de que sabem fazer cerveja, de que por aqui se bebe boa cerveja. O mercado é inundado ciclicamente com cervejas de todas as formas e feitios como reflexo dessa mesma ideia e, claro, reforçando-a ainda mais. Mas uma coisa é certa. Portugal (e os Portugueses) não sabem fazer cerveja. Primeiro, sabem todas ao mesmo. As marcas e as gamas não páram de crescer e de se multiplicar mas a cerveja é sempre a mesma. Depois, todas elas arranham a boca, a língua e a garganta assim que as ingerimos e, numa verdadeira operação de pinça, invadem as nossas narinas com um manto gasoso indiscritível, tornando a experiência em algo assustador. Em suma, as cervejas que aqui se fazem não valem um flying fuck.
Mas qual, então, a razão deste mito? Eu atrevo-me a supor que muito se deve ao facto de, durante anos a fio, em tempos idos em que apenas existiam 2 cervejas..., os Portugueses, no Verão, se terem habituado a ouvir dos "camónes" que, sim, a cerveja lusa é "very good". E os Portugueses foram na conversa. Que durou o tempo suficiente para, vindo enfim o mercado, se iniciar esta verdadeira campanha insana. Os Portugueses esquecem-se é que os Alemães, os Holandeses, os Belgas, os Ingleses, só bebiam a Sagres e a Superbock porque não havia mais nada para beber. Mesmo aquele argumento de que os tipos gostam da cerveja portuguesa porque estão fartos das deles não pega. Quem se farta da Franziskaner? Da Hoegaarden? Da Chimay? Da Guiness? Por fim, o "very good" devia vir por serem bem-educados... ou porque, quando em férias, um Alemão, um Holandês, um Belga, um Inglês, não sabe dizer mais nada.


{Só para não me acusarem de ser, digamos, um traste, deixo uma ressalva e atestado de confiança quer à Sagres Preta quer à Cervejaria Lusitana}

Robert Bresson


Domingo passado descobri este senhor. Com S capital! É um mestre. Sessão dupla com Les Dames du Bois de Boulogne e Au Hazard Balthazar. Dá tanto prazer ouvi-lo falar como ver aquilo que ele acertadamente decidiu não mostrar. Isso é (isto é, o falar ao nível do realizar), regra geral, condição para se determinar se estamos na presença de um bom realizador. Ou, melhor, de um meteur-en-ordre como ele gostava de sugerir.

Definitivamente? Querias!

Nos elevadores do prédio onde tenho o meu atelier ainda se fuma! Este povo tem, de facto, muito caminho pela frente...

E ainda, e definitivamente, o fumo...

E se há uns meses atrás a discussão da, chamada, nova lei do tabaco se tivesse centrado no fumo e não nos fumadores? Não teria sido mais ajuizado? Toda a questão se centrou em duas posições, duas posturas, duas maneiras de estar, duas definições — fumadores e não-fumadores. Quando o ponto central da discussão devia ter sido o acto, a acção, o verbo – fumar. Nas portas dos estabelecimentos os autocolantes vermelhos dizem "não-fumadores" e os azuis dizem "fumadores"... Não há melhor maneira de modo a se criarem antagonismos e consequentes disparates (e ouviram-se muitos). Os autocolantes deviam simplesmente dizer "fuma-se" e "não se fuma", ou "com fumo" e "sem fumo"... (existe, aliás, há muito tempo uma sinalética própria neste sentido). Porque um restaurante onde não se fume também é um restaurante para fumadores, tal como um restaurante onde se fume também o é para um não fumador! Uma pequena alteração no centro da discussão e tudo teria sido diferente... imagino.

sábado, março 22, 2008

A Educação em retalhos...

Voltando ainda ao tempo passado (sabem?, o tempo do «no meu tempo é que era bom») versus tempo presente, esse combate sem tréguas, estou cá em crer que o problema mesmo não é as coisas já não serem como foram. Não, o grande problema é as coisas ainda serem, numa enorme parte, como foram. Isto quando o resto já não é. O país de hoje já não é o país de quando eu tinha 10 anos, muito menos o país de quando o ilustre Doutor Lobo Antunes tinha 10 aninhos (naquela altura devia ser assim que se dizia...). Os miúdos, os adolescentes, são uma outra coisa hoje, mas os métodos, as ideias, as abordagens, os textos são, mais coisa menos coisa, os mesmos.
Fiquemo-nos pelos textos. A minha filha (a frequentar a 3.ª classe) ainda hoje tem de resolver problemas de matemática com o mesmo palavreado que aqueles que eu resolvi há cerca de 30 anos atrás. Justificar-se-á tal coisa? Não creio. A semana passada, ao reunir com a professora dela devido ao final do 2.º período, ao rever a prova de matemática, deparei-me com um problema que utilizava o termo "retalho" (que é como quem diz "parte", "pedaço", "fracção"). Lembram-se, certamente, dos exercícios em volta das fracções, tipo "a Dona Maria tinha uma peça de tecido e dela retirou três retalhos...". Ao ler aquela palavra, ali no meio de um enunciado de um problema de matemática, vieram-me à flor da pele, assolaram-me a nuca, mil e uma sensações passadas. Ali, num instante, cheirei o oleado da minha escola primária, esfolei-me de novo no recreio em cimento, provavelmente até nauseei com lembranças de frango na panela... mas, acima de tudo, estranhei novamente a palavra. Retalho. «Porra, ainda?», pensei. E comentei o sucedido com a professora. Ao que ela me respondeu com um «engraçado, os miúdos também estranham a palavra, até me pedem para dar sinónimos, que eu entretanto escrevo no quadro». Não são parvos estes miúdos. Tal como eu estranhei (e, pelos vistos, entranhei) também eles estranham a palavra "retalho" no meio de enunciado de matemática. É que não ajuda em nada, mesmo nada. É que, convenhamos, "retalho" é muito António "ó Evaristo" Silva, não é? Se para mim, que tenho 30 e tais a caminho dos 40, o Pátio das Cantigas já foi a custo que se tolerou, imaginem então o que será para crianças que ouvem Nelly Furtado na PSP enquanto desenham no chão da sala a pensar na vida em geral. Não em retalhos...

«O que é preciso são dois ou três salazares... um de cada cor, de preferência»

Ainda a propósito da professora de francês e do mais recente debate sobre o estado da educação nacional que este episódio despertou, e em particular em relação ao argumento tantas vezes ouvido (nesta e noutras situações) de «que no meu tempo é que era bom», «antes sim, havia respeito», «eu tinha respeito e admiração pelos meus professores», e por aí fora, só dá mesmo vontade de perguntar, assim à laia de provocaçãozinha — MAS ENTÃO SE NO VOSSO TEMPO ERA TUDO TÃO BOM, TUDO TÃO CERTINHO, E TUDO TÃO DEDICADO AO ESTUDO E À APRENDIZAGEM DA VIDA EM SOCIEDADE, E SE, COMO SABEMOS, SÃO VOCÊS QUE ESTÃO NO PODER, A LEGISLAR, A CRIAR EMPRESAS, A FAZER LIVROS, A CONTRATAR CHEFES ALEMÃES PARA GERIR AS VOSSA ESTRELAS MICHELIN, A COMANDAR HOSPITAIS E UNIVERSIDADES, A LEVAR O PAÍS PARA A FRENTE, ENTÃO PORQUE É QUE ISTO ESTÁ TÃO MAL? ISTO NÃO DEVIA ESTAR ESPECTACULAR?!?! SE ESTA ESCOLA ONDE ESTA PROFESSORA SE DEIXOU TOLAMENTE DESAFIAR FOI FEITA POR VÓS E É RESULTADO DA VOSSA GERAÇÃO ONDE FICA O «NO NOSSO TEMPO É QUE ERA BOM»? POIS... SE ISTO ESTÁ UMA MERDA A ALGUÉM SE DEVE...

Serve a provocaçãozinha apenas para demonstrar o quão ridículo e desnecessário é o argumento «no meu tempo é que era bom». O agora é que interessa, não o ontem, nem o amanhã, meus senhores. E, agora, constata-se, o que vocês sabem adiantar é que no vosso tempo é que era bom. Pois não chega. Ou fazem algo ou se calam.

sexta-feira, março 21, 2008

Esta professora já está a ser avaliada... da pior maneira, é verdade, mas está a sê-lo...

Espero sinceramente que o bigodes da Fenprof perceba de uma vez por todas o erro que cometeu ao iniciar toda esta campanha (leia-se trapalhada) contra a ministra. Agora não há ninguém que não fale na necessidade de tomar medidas. Há uns meses atrás ninguém queria ouvir falar das ditas. E aquela que parecia ser uma (primeira) grande vitória dos professores vai revelar-se (e este episódio só vem prová-lo) um fiasco redondo. Falo da avaliação dentro da sala de aula. Fizeram tudo, deram tudo, para que a avaliação dentro da sala de aula caísse. Conseguiram-no, aparentemente. O que o bigodes exultante nunca imaginou é que a avaliação dentro da sala de aula surgisse deste modo... Eu pergunto-me, não teria sido melhor deixar a avaliação dos professores aos professores? Em vez de a termos assim exposta à vista de todos e em termos nada interessantes? Uma coisa quando tem de ser avaliada será avaliada, custe o que custar... disso não tenham dúvidas.


Mas triste, triste, mesmo triste, assim mesmo triste como não há mais triste, lamentável, de envergonhar qualquer um foi o facto de nem um rapaz ter feito fosse o que fosse para separar a colega histérica (sim, todos podemos bloquear um dia; queimar a miúda é o caminho mais fácil) e a tonta da professora (sim, não passa de uma tonta e já devia há muito ter sido avaliada...) naquela sala de aula. Nem um rapaz! Apenas as miúdas se mexeram e agiram. Isto, sim, é preocupante. E uma vez mais eu pergunto: onde andam os pais? Eu tinha vergonha de ser pai de um dos alunos colegas daquela miúda, ai tinha, tinha.

quinta-feira, março 20, 2008

O Carlos Queirós (ou será o Chalana?) da Barata Salgueiro...

Soube que Pedro Mexia foi nomeado (pelo ministro!) para próximo (havia um, antes?) subdirector da Cinemateca Portuguesa. Não faço ideia se o homem passa(rá) algum dia por aqui, mas se por acaso alguém dos que passa conhece o novo subdirector que lhe diga uma, duas, três coisitas sobre a cena.

1. Que esta coisa de fechar um dia antes dos feriados acabe de uma vez por todas!
2. Que esta coisa dos velhotes da sessão das 15:30 acharem que «e esta merda é toda nossa!» acabe de uma vez por todas!
3. Que o restaurante lá de cima (sim, aquela coisa armada ao pingarelho) deixe de ditar o começo das sessões na esplanada de uma vez por todas!
4. Que as cadeiras da sala principal comecem a estragar-se/enrançar-se (um pouquinho que seja) de uma vez por todas!
5. Dá para mandar tudo abaixo e voltar a pôr como estava...? Bom, o novo subdirector pode manter-se... desde que tire de lá rapidamente o director.

Primavera


Hoje é Primavera. Seja em Lisboa, seja em Viseu, seja no Allgarve, seja no Funchal, seja em S. Bento, seja numa qualquer C+S do Cacém, seja em Campo de Ourique, seja no Bairro das Colónias, seja na 2.ª Circular, seja na VCI, seja no Holmes Place, seja nas Urgências, seja no Prós, seja no Contras... Assim seja.

quarta-feira, março 19, 2008

Não se pode pedir mais...

Ler as memórias do marechal Soult enquanto se ouve as obras completas para cravo de Rameau, eis um belíssimo dia de trabalho sob um céu cinzento e chuvoso.

segunda-feira, março 17, 2008

E quem diz ciclistas...

... diz velhotes, crianças, cegos, pedestres em geral. Porque, como já aqui lembrei uma vez, todos nascemos pedestres. Por favor, vejam o filme, façam o teste e ganhem um poucachinho mais de awareness.



(via 5 Dias)

quinta-feira, março 13, 2008

The Street as Platform


Grande texto este — The Street as Platform, de Dan Hill. {Via Reactor; muito agradecido pelo texto e pelo City of Sound}

«The way the street feels may soon be defined by what cannot be seen with the naked eye.» Assim começa o texto. É longo, é. Mas é mandatory. A primeira parte do texto é Neuromancer sempre a abrir... A segunda parte levanta questões muito interessantes sobre a gestão e partilha de toda a informação invisível, privada ou não, que calcorreia as ruas das nossas cidades, lado a lado com os nossos corpos. E quais as estratégias a ter em conta (pelo Estado, pela iniciativa privada), num futuro não tão distante assim, de modo a não perdermos o controlo (a alma?) perante tanto tráfego (tráfico?). Gramei especialmente a imagem do caminho "rasgado" na relva em frente à Biblioteca Pública... Muito interessante toda a perspectiva, toda a ideia futura, sobretudo como contraponto muito válido às, já quase estafadas e deprimentes, teorias da perda de privacidade, do big brother insensível, dos dados expostos... safa. É reconfortante saber que há sempre alguém a pensar sobre isto tudo. Nada está perdido.

Dan Hill é o responsável pelo blog City of Sound e pode ver-se aqui algo mais sobre o seu percurso.

quarta-feira, março 12, 2008

E se hoje fosse Natal?

Eu pedia ao barbas que me trouxesse os 5ive a Portugal!

Avassalador!

"Gulls", do último álbum Hesperus.







[Para quem tem Firefox e não vê/ouve nada aqui em cima é favor clicar aqui...]

terça-feira, março 11, 2008

Lira d'Ouro

Hoje descobri o Lira d'Ouro, o restaurante Lira d'Ouro. Isto dito assim não parece nada de muito interessante. Mas, acreditem, é. Há anos que passo na sua porta, para cá e para lá, ele situa-se num eixo (num daqueles eixos...) da minha vida, rua essencial dos meus circuitos lisboetas, e há anos que digo para mim mesmo «tenho de ir almoçar ali». Hoje foi, pois, o dia.

O Lira d'Ouro fica ali à Escola Politécnica, na Rua Nova de São Mamede, no n.º 10. E tem portas de batente em madeira. E os vidros das portas e da montra misturam o transparente e o translúcido. E porque é que isto é importante? Porque restaurantes que tenham portas de batente (em madeira e vidro) e montras que alternem vidro transparente e translúcido são bons restaurantes, isso é certo. Acreditem que é verdade. Se até hoje isto não passava de uma teoria cá do rapaz, hoje deixei de ter dúvidas e, assim sem puxar muito pelo caco, junto o Lira d'Ouro ao Restaurante da Trindade, à Mimosa do Camões (antes da remodelação, claro está) e à Gruta Velha (idem, idem, aspas, aspas) e da teoria faço um facto, um tratado. Puxando um pouco mais pelo caco ainda junto ao lote esse fantástico restaurante, em Alcobaça, que dá pelo nome de Corações Unidos. Eu suspeito que esta relação entre as portas de batente (ao jeito de casa de pasto) e a boa comida tem, em muito, a ver com os Galegos, fruto de uma imigração muito forte e constante ao longo de vários séculos, personagens que muito deram a esta cidade e que são sinónimo de boa cozinha. Se a relação é sustentável ou não, bom, não sei. Para mim faz sentido.

Hoje entrei (pelas portas de batente, claro está), sentei-me (as cadeiras são de tempos idos, lindas), comi (sem pressas, com o tempo), senti-me em casa (e esse é outro traço comum a todos estes restaurantes, são familiares, neles podemos criar raízes se assim o entendermos), paguei (não tem multibanco, ficam avisados). Escolhi o que comi com o claro intuito de testar o Lira d'Ouro, não fosse a minha teoria perder-se precisamente hoje... Comi meia-dose de pastéis de bacalhau com arroz e salada. Os pastéis (assunto delicado) estavam mais que satisfatórios, cheios de pimenta, com espinhas à mistura (daquelas que fritam e depois acabam por se comer...). A salada marchou todinha, o que nem sempre acontece, sendo por isso um bom sinal. E o arroz, com uma textura pouco habitual, dando aqui e ali a alegre surpresa de um pedacinho de migas/açorda que, supostamente, acompanhavam um outro prato do dia mas que, por movimentos migratórios próprios de uma cozinha, escaparam para a minha travessa. Eu gosto dessas misturas e aprovei. A imperial (pastéis de bacalhau pedem imperial) estava bem tirada e fresca. Como sobremesa, uma prova difícil, superiormente ultrapassada. O leite-creme. Vem do frio e leva com o açúcar antes de cair na nossa frente. Misturam-se as temperaturas na boca e está feito o almoço. Quanto ao café (ponto, ainda, essencial), terá de ficar para a próxima... Como não tinham multibanco e eu só tinha comigo 8,50 euros e a conta eram 8,10 euros, tive de optar por uma de duas – ou pedia para ficar a dever 10 cêntimos e bebia o café ou deixava 40 cêntimos de gorjeta. Optei pela última. Suspeito que fiz bem. Porque vou lá voltar, é certo, e porque também faz parte da minha teoria, perdão, tratado, o facto de que o café é geralmente mau neste género de restaurantes.

Na net ainda procurei uma ou outra imagem do dito restaurante, mas nada. Fiquei, contudo, a saber que um tal de LPontes ali ía por volta de 1960 comer o que então era uma raridade, o churrasco. E fiquei a saber aqui que o grande O'Neill também o frequentava, o que não me espanta nem um pouco. É fácil imaginar uma boa parte dessa Lisboa já em vias de extinção a passar por ali; o O'Neill a beber umas imperiais ali, de pé, mangas enroladas e os braços no frio daquela pedra negra, daquele belíssimo balcão, logo à entrada. Sim, é possível. E é precisamente por isso que estes locais são encantandores. Por último, fiquei a saber (pelo primo David, que ali almoça diariamente) que a quinta-feira é o dia do cozido. Ui. Essa sim, é a prova definitiva. Lá estarei.



{pequena actualização}
1. Não se chama Restaurante Lira d'Ouro mas sim Casa Lira d'Ouro. E faz toda a diferença. Casa é muito mais familiar, certo? Está explicado.
2. Foi fundada em 1962 (lá se vai a teoria dos galegos...). Mas, cá para mim, já lá devia existir antes algum restaurante, quem sabe... de galegos.
3. O cozido é um espectáculo! E as pataniscas de bacalhau com arroz de feijão também.
4. Não se fuma.

segunda-feira, março 10, 2008

Ainda os 100.000...

Eu já não estou raivoso, talvez ressacado (e não é que o murciano lá foi à vida dele...), mas já não raivoso. Mas não resisto a deixar aqui a seguinte interrogação. Quantos dos 100.000 estiveram nos últimos minutos a ouvir Pedro Silva Pereira na SIC Notícias? Quantos? Suponho que muito poucos. A maioria deve ter estado mais ocupadinha a saber das últimas notícias da menina que caíu do 5.º andar (na TVI), ou se a Marilu tinha ou não mais peluches (se era mais amada, leia-se...) do que a Maddie (na SIC), ou mesmo que tirada magnífica tinha o Vitorino para animar a malta (na RTP1)... Depois queixam-se de que não sabem o que vai ser da vida deles... Da vida dos outros, ao menos, isso é limpinho, estão bem informados...

domingo, março 09, 2008

Grrrr....Serenity Now!

Eu bem sei que estou raivoso... Não é caso para menos... Bom, é sempre caso para menos, para não estar raivoso... Mas eu estou... Mas como estou e não quero estar (já basta de gente raivosa por estes dias), vou então para ali (parece que tenho um candeeiro para montar...) respirar um pouquinho. E vou a pensar nestas belas e sábias palavras do camarada Alvim, deixadas como comentário a um post recente: «A única coisa que me parece é que este país precisa de educação porque, se Portugal não precisa, o resto do mundo precisa de portugueses educados». Nem mais.

Tudo isto é triste, tudo isto é parvo...

· Não vos parece ridícula, a mim dá-me mesmo para o esgar esverdeado, toda esta onda de legitimação das manifestações convocadas por sms? Como se uma manifestação convocada por sms valesse mais do que uma convocada pelos meios tradicionais. Como se fosse mais genuína, mais livre. Mais exercício da cidadania. Da tão propalada cidadania. Baah! Bardamerda para o Alegre... bem que lhes enfiou o barrete.

· A Maria João Ruela, ontem à noite, no telejornal da SIC, afogada no seu sorriso, acreditando estar a ajudar (o famoso "dar o meu contributo"...) a ministra, o país, ao sugerir à mesma ministra modos de resolução do problema, atitudes apaziaguadoras para a crispação. «Mas não acha que...» «Mas, e se...» De vómitos, se não fosse tão cómico. Coitada da rapariga. Via-se que ela acreditava estar a ajudar a ministra. A mesma ministra que já tinha dito, uns dias antes, que se dormia bem ou não era irrelevante!

· E o fascínio (até dá para ver os olhos a brilhar de muitos articulistas da nossa praça) com o facto de muitos dos cidadãos que lá foram ontem nunca o terem feito antes? Tipo new born christians, estão a ver? Viram a luz (os portugueses e os articulistas). Porra, dirão, se até portugueses que nunca deram bola para isto foram ontem à manif, então é porque o caso é grave e a ministra tem mesmo de sair. Balelas. Barulho. Estes são os mesmos portugueses que nunca tinham dado bola para a bola e em 2004 foram para as ruas, encheram as praças. Movidos pelo barulho, pela festa, pela noção (patética) que têm de cidadania, pelas promessas vãs de vitória. Tristemente, assim parece. A maioria é cobarde e, como tal, sai à rua quando cheira que a coisa vai cair. Quando acha, ou a isso foi levada, que a vitória é certa, sai a rua e estrebucha. É a merda da fé. E de fé (ou será antes de fézada?) está este país cheio. Pois, nem em 2004 nem em 2008. Que a ministra seja o Charisteas (ou lá quem foi o grego...) de 2008.

· E continuando na imagem futebolística, se o Cristiano Ronaldo (ou Mourinho, também serve), como promessa de vingança, de retaliação, como espelho redentor, como legitimação crística de um protesto infundado, se essa imagem que aqueles milhares foram ver ontem à tarde, após horas de desfile, ali ao Terreiro do Paço, foi aquele senhor de bigodes da Fenprof... bom, está tudo dito. Se a salvação da classe, da cidadania, da honra do convento, está ali, naquele discurso bacoco, então pode o país descansar, ganha a ministra no fim dos 90 minutos...

· Eu sou pai e tenho uma filha em idade escolar... Brrr, não é esta frase uma coisa tenebrosa, nos dias que correm? O estado das coisas, senhores. Mas sou pai e tenho um filha, lá dentro, no quarto, a aprender contas de dividir. E se não digo (porque não o digo) que os professores são todos uma treta, digo que sei a treta que são os professores de treta. E esses, perdoe-me quem tem de me perdoar, bem podem ir para o sector privado. E não me refiro ao ensino privado (que esse padece dos mesmos males), refiro-me mesmo ao sector privado. Tipo, vão trabalhar para a TMN, ou para a Sonae, ou para o IKEA...

· E por falar em pais, onde andam os pais? Esses, nunca se dá por eles. Quando são os estudantes a estrebuchar nas ruas, nada. Quando são os professores a estrebuchar, népias. Porque será? Já viram que eles fazem sempre parte da equação e nunca são vistos, ouvidos, interrogados? Fuga. Ai não, pudera, são o principal foco da infecção... Eu bem vejo os seus filhos por aí, ao abandono, fora de si, desvairados... Quando chego a este ponto, invariavelmente, tomo consciência do terrível que pode ser ser-se professor e, pasmem-se, solidarizo-me com eles, mesmo com os que desfilam avenida abaixo... Mas depois penso que eles também devem ser (na sua grande maioria) pais e aí penso, que se lixe, estão mas é a fazer mal o seu trabalho duas vezes...

· Sempre vai realizar-se uma manifestação do PS, no Porto, daqui a uma semana? Ai, ai, está tudo doido!

sábado, março 08, 2008

Ora aí está um concerto que eu aconselho vivamente ao bigodes da FENPROF... fazia-lhe bem.

Fiquei agora mesmo a saber que o pessoal do Amplificasom confirma, para 26 de Maio que vem, Boris + Growing. Promete e de que maneira. Vai ser no Porto e vale decerto a viagem. Bora'lá, Vasco?


Aqui fica um cheirinho de Boris e os Growing podem ser ouvidos aqui.

E mais vos digo...

... a esta ministra só falta mesmo atirar-se aos pais. Aí sim, esta ministra mostrava ser uma senhora. Muito abanão merecem esses pais por esse país fora, sejam eles professores ou não. Se forem professores, bom, então que levem abanão duplo. Paciência.

100.000 na rua...

... e os restantes? Como irão eles trabalhar na próxima segunda-feira? Como enfrentarão eles as salas de professores por essas escolas fora? Que dirão eles aos seus alunos? Como será ter um stôr de Química a espumar e um de Francês a dar tempos verbais? Por aqui pensa-se sobretudo nesses, nos que vão ter de trabalhar com a ministra (para responder a esta interrogação) e com o futuro.

Mas também se pensa aqui na desonestidade. Há muito tempo não assistia a tamanha desonestidade, a tamanha falta de senso, a tamanho disparate. É só assistir a meia dúzia de minutos de qualquer noticiário... É só prestar boa e honesta atenção aos argumentos, de um lado e de outro. É só ver e escolher. A maior preciosidade talvez tenha sido o professor (pasmem-se) que proferiu conjectura quando queria nitidamente dizer conjuntura. Bom, talvez fosse professor de trabalhos manuais, dirão alguns... É folclore, nada mais, mas não resisti. Mas não destrói o argumento. O de que de um lado só há raiva e barulho e que do outro há uma tentativa, um desejo, uma espécie de trabalho de mudança. É pouco e, sobretudo, pouco sério? Talvez seja. Mas o que querem, com os diabos, não é este o país que temos?*

Infelizmente, ao que parece, este país não passa de uma gigantesca repartição pública... mas, ao menos, ficou-se a saber quais os 100.000 que estão a mais... quais os 100.000 que não progredirão na carreira. É só esperar. Que desistam, que se reformem, que metam baixa. E como diz a ministra, uns escolhem o caminho mais fácil, outros o mais difícil. Por falar em caminho difícil, que Sócrates não se atreva a tirar o apoio à ministra. É o que se deseja por aqui.

E, já agora, neste momento em que a festa acabou, em que se contam os ganhos das rifas feitas durante a viagem para a capital, também se deseja um pouco mais de confiança. Na ministra, nos superiores, em si mesmos. Sobretudo confiança na certeza de tudo isto poder dar asneira, de erros saírem ao caminho. Confiança, pois, de que será possível resolvê-los. Só isto pode ter interesse na vida das pessoas. Mas se preferem ficar como estão...


* Já com o caso das casas do Sócrates andava tudo indignado com o fraco teor arquitectónico das mesmas, que eram isto, que eram aquilo, que eram maisons... mas então o homem não é um merdas? Um dia é um tretas, não presta, no outro dia tem de andar a fazer casas à la Siza? Decidam-se...

sábado, março 01, 2008

Das "Against Me!" Boot

Descobri este vídeo na, como sempre, muito interessante VBS.TV e apeteceu-me colocá-lo aqui porque, de uma maneira verdadeiramente estranha (diga-se), me fez lembrar o interior de um submarino alemão nas águas geladas do Atlântico. Há algo de terno e de trágico nestes corpos barbados que se agitam nesta cave mal iluminada ao som de uma banda de hardcore (que dá pelo nome de Against Me!; fenómeno interessante mas musicalmente inócuo...), todos em sintonia surda, que só me fez lembrar essa camaradagem asfixiante, mas inegável na sua força, retratada magistralmente por Wolfgang Petersen em Das Boot...

Jagdflieger

O camarada Graf von A. tem um blog! Um diário de um piloto virtual. Um local de memórias presentes e futuras, nem sempre em redor da aviação, mas sempre à caça de algo. Ele pretendia anonimato (o malandro!) mas o seu último post não lhe deixa chance alguma... Escreveu sobre Mellita Stauffenberg e eu faço questão de o "linkar" e de o colocar definitivamente no blogroll. Bem-vindo sejas, ó caçador!