· Não vos parece ridícula, a mim dá-me mesmo para o esgar esverdeado, toda esta onda de legitimação das manifestações convocadas por sms? Como se uma manifestação convocada por sms valesse mais do que uma convocada pelos meios tradicionais. Como se fosse mais genuína, mais livre. Mais exercício da cidadania. Da tão propalada cidadania. Baah! Bardamerda para o Alegre... bem que lhes enfiou o barrete.
· A Maria João Ruela, ontem à noite, no telejornal da SIC, afogada no seu sorriso, acreditando estar a ajudar (o famoso "dar o meu contributo"...) a ministra, o país, ao sugerir à mesma ministra modos de resolução do problema, atitudes apaziaguadoras para a crispação. «Mas não acha que...» «Mas, e se...» De vómitos, se não fosse tão cómico. Coitada da rapariga. Via-se que ela acreditava estar a ajudar a ministra. A mesma ministra que já tinha dito, uns dias antes, que se dormia bem ou não era irrelevante!
· E o fascínio (até dá para ver os olhos a brilhar de muitos articulistas da nossa praça) com o facto de muitos dos cidadãos que lá foram ontem nunca o terem feito antes? Tipo new born christians, estão a ver? Viram a luz (os portugueses e os articulistas). Porra, dirão, se até portugueses que nunca deram bola para isto foram ontem à manif, então é porque o caso é grave e a ministra tem mesmo de sair. Balelas. Barulho. Estes são os mesmos portugueses que nunca tinham dado bola para a bola e em 2004 foram para as ruas, encheram as praças. Movidos pelo barulho, pela festa, pela noção (patética) que têm de cidadania, pelas promessas vãs de vitória. Tristemente, assim parece. A maioria é cobarde e, como tal, sai à rua quando cheira que a coisa vai cair. Quando acha, ou a isso foi levada, que a vitória é certa, sai a rua e estrebucha. É a merda da fé. E de fé (ou será antes de fézada?) está este país cheio. Pois, nem em 2004 nem em 2008. Que a ministra seja o Charisteas (ou lá quem foi o grego...) de 2008.
· E continuando na imagem futebolística, se o Cristiano Ronaldo (ou Mourinho, também serve), como promessa de vingança, de retaliação, como espelho redentor, como legitimação crística de um protesto infundado, se essa imagem que aqueles milhares foram ver ontem à tarde, após horas de desfile, ali ao Terreiro do Paço, foi aquele senhor de bigodes da Fenprof... bom, está tudo dito. Se a salvação da classe, da cidadania, da honra do convento, está ali, naquele discurso bacoco, então pode o país descansar, ganha a ministra no fim dos 90 minutos...
· Eu sou pai e tenho uma filha em idade escolar... Brrr, não é esta frase uma coisa tenebrosa, nos dias que correm? O estado das coisas, senhores. Mas sou pai e tenho um filha, lá dentro, no quarto, a aprender contas de dividir. E se não digo (porque não o digo) que os professores são todos uma treta, digo que sei a treta que são os professores de treta. E esses, perdoe-me quem tem de me perdoar, bem podem ir para o sector privado. E não me refiro ao ensino privado (que esse padece dos mesmos males), refiro-me mesmo ao sector privado. Tipo, vão trabalhar para a TMN, ou para a Sonae, ou para o IKEA...
· E por falar em pais, onde andam os pais? Esses, nunca se dá por eles. Quando são os estudantes a estrebuchar nas ruas, nada. Quando são os professores a estrebuchar, népias. Porque será? Já viram que eles fazem sempre parte da equação e nunca são vistos, ouvidos, interrogados? Fuga. Ai não, pudera, são o principal foco da infecção... Eu bem vejo os seus filhos por aí, ao abandono, fora de si, desvairados... Quando chego a este ponto, invariavelmente, tomo consciência do terrível que pode ser ser-se professor e, pasmem-se, solidarizo-me com eles, mesmo com os que desfilam avenida abaixo... Mas depois penso que eles também devem ser (na sua grande maioria) pais e aí penso, que se lixe, estão mas é a fazer mal o seu trabalho duas vezes...
· Sempre vai realizar-se uma manifestação do PS, no Porto, daqui a uma semana? Ai, ai, está tudo doido!
Há 10 anos
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