sexta-feira, agosto 31, 2007

Cenas da vida quotidiana OU Quando falamos e não ouvimos o que dizemos

Uma menina brinca na areia junto à esplanada do café da praia. A mãe, visivelmente impaciente, pretende ir embora para casa e não consegue arrancar a menina das suas brincadeiras na areia. Vergada perante a falta de autoridade, a mãe dispara os seguintes argumentos.
Argumento 1: «Filha, anda. Senão, ainda aparecem por aí aqueles homens que tu sabes.»
Argumento 2: «Anda. Olha que ainda és a próxima Maddie.»
Argumento 3: «Bem, se calhar, mais vale chamar já a polícia.»

Isto tudo de rajada, isto tudo assim, a seco. Mas a menina levantou-se e, ordeiramente, foi com a mãe. Dei comigo a pensar nas centenas de meninas (e meninos) por essas praias fora, por essa imensa costa lusitana, que estão nestes tempos insanos a ouvir semelhantes argumentos. Que geração será esta daqui a 20 anos? Que gente, que ouviu semelhantes atoardas, virá a crescer daqui? Eu pretendo estar por aqui, ainda, para ver se percebo. Mas não sei não...

sexta-feira, agosto 24, 2007

Maduros a Preço Verde...

À conversa com o amigo Silva, e na sequência deste regresso ao passado originado pela lembrança do concerto dos Motörhead em Cascais, ou dos Echo and the Bunnymen no Restelo, ou do Rock Rendez Vous em geral, chegamos à conclusão de que um tipo está velho quando as bandas com quem cresceu estão todas na FNAC com o Preço Verde!

Cameraman Metálico

Será que alguém pode ajudar este homem, nesta fase difícil da vida?
Como diria o Sérgio Godinho, «Arranja-me um emprego...». A cena é caricata, mas não faço gozo. Eu cresci com este homem. Desde os meus primeiros concertos no Rock Rendez Vouz (bem, o primeiro mesmo foi Echo and the Bunnymen no Restelo...), e até aos dias de hoje, que este tipo é figura habitual nas salas de concertos por onde vou passando. Eu juraria que o vi nos Cult of Luna, este ano em Corroios. Ou deliro? Será que já o vejo mesmo quando ele não está lá...? O tipo tem um blog (um não, um porradão deles) e, lá, ficamos a saber que para além de ter dedicado uma vida inteira à fotografia da cena musical deste país, também é benfiquista (!), é da margem sul(!!) e gosta do Allende (!!!). E que é MOTÖRHEADBANGER FOR LIFE... fan since 1988 (pois é, também lá estive, no Dramático de Cascais...). Boa sorte no resto da tua vida é o que te desejo António Melão!

Out of the Blue

Finalmente consegui ver o Out of the Blue do Dennis Hopper. Wow! Imaginem que a pequena Addie Pray (Tatum O'Neill) do delicioso Paper Moon (de Bogdanovich) era adolescente em 1980 e não uma criancinha nos anos 30. E que tinha como ídolos Elvis, Johnny Rotten e Sid Vicious (todos acabadinhos de morrer, de lhe falhar). E que o pai em vez de ser um charmoso aldrabão era antes um charmoso filho da puta. E que a mãe (sim, neste caso ela tem mãe) era agarradinha às drogas. Bom, não temos Addie temos CeBe (mas os olhos são os mesmos). Não temos um filme delicioso, temos antes um filme diabólico. Dos bons.
Uma entrada em grande, mesmo antes do genérico (onde a música de Neil Young faz antever o melhor, grande tema), bons diálogos, grandes deixas (Disco sucks!; Subvert normality!; Kill All Hippies!, esta vim depois a descobrir deu um tema dos Primal Scream...), cenas intensas, do melhor. Lindo mesmo, foi descobrir onde se inspirou David Lynch para a cena, já antológica, de Dennis Hopper e Isabella Rossellini em Blue Velvet (1986). Ah, pois... E a Linda Manz? Outro wow. Amanhã tenho de rever o Days of Heaven, primeiro filme dela (e se o grande Terrence Malick a descobriu...), e depois de amanhã tenho de ir ao vídeoclube buscar o Gummo (filme de culto, superbadalado, que acabou por me passar ao lado).
E acabo a prosa com duas máximas da CeBe: «I'm not talking at you, I'm talking to you» ou «I don't want to hear about you, I want to hear from you».



Aqui fica o tema de Neil Young. Nunca um tema se imiscuiu, tanto e tão bem, no espírito de um filme...









My my, hey hey
Rock and roll is here to stay
It's better to burn out
Than to fade away
My my, hey hey.

Out of the blue
and into the black
They give you this,
but you pay for that
And once you're gone,
you can never come back
When you're out of the blue
and into the black.

The king is gone
but he's not forgotten
This is the story
of a Johnny Rotten
It's better to burn out
than it is to rust
The king is gone
but he's not forgotten.

Hey hey, my my
Rock and roll can never die
There's more to the picture
Than meets the eye.
Hey hey, my my.

quinta-feira, agosto 23, 2007

Vamos fazer um pecado, suado, safado, do lado debaixo do equador...

O Strange Maps é, desde que o descobri, um blog de visita obrigatória. Daqueles que passo a vida a visitar, a ver se surgiu no entretanto alguma cartografia singular.
E hoje, brindou-me com este belíssimo mapa...


















© Corriette Schoenaerts


Daí dou um salto para o trabalho da artista/criadora/fotógrafa/performer Corriette Schoenaerts e, digo-vos, a senhora é muito, muito boa. O trabalho criativo da tipa é formidável e o website igualmente, daqueles websites em que se fica a clicar até ao último link possível. Façam-no, não se vão arrepender.

[Claro que a senhora tinha de ser... holandesa.]

Novela

E para os meus amigos brasileiros que por aqui tenham passado ultimamente e se tenham perguntado se eu já terei ultrapassado as saudades dessa cidade maravilhosa, a resposta é de tal maneira negativa que devo confessar o inconfessável. Já dei por mim a parar na novela das 9 só para poder ouvir a doce toada do português tropical e vislumbrar recantos, ruas, praças e o azul do mar no background das cenas. Triste cena. Mas compensa.

Aqui e ali, a vida desenrola-se...

Entre filmes e mais filmes e mais filmes, um jogo do Glorioso aqui e ali, cavalgadas extenuantes sempre que o corpo permite, refeições fora quando dentro não há coragem, tudo sob um calor quase intenso numa cidade quase deserta, aqui vou andando com a cabeça entre as orelhas (como diz o outro). Não me queixo, atenção, não. Eu gosto da minha companhia (como dizia um outro). Tenho é saudades da vida em família! Tenho a mulher no Rio de Janeiro, a filha no Alentejo e eu ando por aqui, entre contas erradas da Netcabo, a insuportável TSF e o coração tripartido. Vidas... Não me queixo, atenção. Não. Cresço. Obrigado.

O Bom Impostor

Ontem à noite vi o The Good Sheperd, segundo filme de Robert De Niro (treze anos após o A Bronx Tale). Não me divertia (e este divertia significa ficar siderado, colado ao sofá, with the jitters, respirar ao ritmo da trama, you know what I mean) assim tanto com a CIA e os seus meandros desde O Fantasma de Harlot do Norman Mailer. Valeu bem a espera. É sempre bom ver um filme como quem lê um romance. Até a Angelina Jolie passa com distinção... nada como uma boa direcção de actores e a companhia de uma cafraria dos melhores (quem não se lembra de Stallone em Copland?). A ver!

sexta-feira, agosto 17, 2007

Architectures of Control

Acabo de descobrir o Architectures of Control (obrigado amigo Alvim). Assustador yet fascinante. Recomenda-se vivamente. O texto sobre os motivos das carpetes dos casinos é notável!

Skypar ou não Skypar, eis a questão...

Há dois dias que ando a martelar a cabeça nas paredes devido a problemas de ligação ao Skype. Serão problemas com as portas, com o novo Norton, comigo? Não havia resposta. Até que hoje visitei (para matar saudades) a página de internet do jornal O Globo. E, catrapáz, lá estava a explicação. De seguida visitei o Público, o DN, o Correio da Manhã e o Jornal de Notícias. Vi notícias sobre jogadores estrangeiros a jogar em Portugal (sempre me perguntei qual será o verdadeiro interesse destas notícias), vi que o Moita Flores é o novo reforço da SIC (????), vi que as taxas de juro vão subir (bem, esta é importante...), entre outras. Do Skype nada. No Brasil, é notícia com destaque no principal jornal do Rio de Janeiro. Por aqui se vê a grandeza de um país. Fui.

Não consegui voltar ao esquema de cores de tempos passados...

O verde, o azul e o amarelo recentes deixaram marcas profundas. Mudo-me para os azuis profundos e entreolho o Oceano Atlântico, esse imenso mar de emoções que permeia dois mundos tão distantes e tão próximos.

quinta-feira, agosto 16, 2007

O meu enorme agradecimento!

Um mês e meio depois, cento e poucos posts depois, não interessa quantas caipirinhas e saladas de batata depois, aqui fica o meu enorme agradecimento a todos aqueles e aquelas com quem tive o prazer de contactar nos últimos tempos.

Um caloroso e especial agradecimento deve-se ao Zé, à Anita, à Paula, ao Francisco e à Mila por terem dado guarida a semelhantes espécimes europeus. Só mesmo o vosso enorme coração permitiu tal cohabitação. Obrigado.

Maria Paula, Pedro, Hermínia, Vera, Léo, Luíza, a turma da Paulinha, Serrano, Júlio (Cosmopolita), a prof. da patinação, Telma, Núbia, Santuza, Paulo, Júlio, Filipe, Octávio, Tatiana, Juliana, Gilberto Velho, Marcelo e os miúdos, Dr. Jorge e Dona Ruth, Larissa, Zakya, Leo e Gigi, Ana, Getúlio, os motorneiros do bondinho, o Bar Luiz (um abraço especial ao garçom do costume), a Casa Paladino, a Modern Sound, os pais da Anita, Jasmim e Manga (mesmo as donas marrentas...), Marcô, Espírito de Santa, Esquina de Santa, o Gomez, o Café Lamas, os vários Belmonte e Informal, a Mil Frutas, o Túnel Rebouças, Arnaldo "Tudo bem" Jabor, todos os músicos, micos e aves com que me cruzei, Trindade, as múltiplas livrarias, Copacabana, Ipanema, Santa Teresa, Lapa, Lagoa, Centro, Bar Serafim, Rua das Laranjeiras, Rua Marquês de Pinedo, MAM, Maracanã, Parque Lage, Jardim Botânico, a cachaça, os sucos (abacaxi à cabeça), a Antartica Original, a Piauí, os taxistas aqui e ali, Antonádia e Marcelo, o zelador da Cândido Mendes, o Globo durante o café da manhã, Petrópolis, Paraty, Grumari, o Pacheco (e porque não?), os jogos Pan-Americanos, o Presidente Lula (aguenta camarada!), a BR 101, Stefan Zweig (mesmo que lírico...), as cocadas, os pastéis, as tartes, os filés, a areia de Copacabana (açúcar puro), o Guimas, o Atlântico, o Vascão, a galera da TJJ, e todos aqueles que esqueço neste momento... para vós o meu enorme agradecimento!

quarta-feira, agosto 15, 2007

Drafts

Dou-me conta que tinha 2 posts em modo draft, que nunca chegaram a ver a luz do dia enquanto estive no Brasil. Para não haver posts descontentes no meu dashboard nem queixas de discriminação, aqui ficam eles.

1.
Correndo o risco, o enorme risco, de chocar, irritar, surpreender, escandalizar e/ou irar alguns dos poucos (mas bons) leitores deste blog, atrevo-me ainda a apontar mais uma diferença entre nós (tugas) e eles (cariocas). [rufar de tambores] Estes tipos não levam o futebol a sério! Ui, disse-o. Permitam-me ainda (antes de começarem a atirar pedras) uma emenda: falo do futebol ao nível dos times (os clubes). Pois ao nível da selecção nacional, aí, penso que sim, eles levam isto muito a sério. Quem sabe, a sério demais. A imagem mundialmente traçada (e conquistada, diga-se) do Brasil como potência e país amante do futebol é digna de registo e louvor. Mas ouvir um vascaíno afirmar que, perante a escolha entre ver o seu Vasco campeão ou a descida de divisão do Flamengo, escolheria a última dá arrepios. E o que dizer dos cânticos das torcidas? Pura diversão, futebol disfarçado de rei momo, esculhambação pela certa, nada sofrido. E ver tipos abraçados com camisas de times rivais? Vasco, Flamengo, Botafogo e Fluminense tocando-se, bebendo em conjunto, fundindo-se, sim, fundindo-se numa só cor, numa só bandeira. Tudo isto me leva a reafirmar que estes tipos não levam o futebol a sério. Por fim, deixem-me confessar (se é que ainda está aí alguém a ler estas palavras...). Ainda bem que assim é. No fundo, no fundo, eles é que estão certos!

2.
Após uma noite de chorinho e petiscos num restaurante suspenso sobre a cidade, contacto com a polícia carioca. Cerca da meia-noite, paramos o carro à porta da irmã da Anita. O Francisco tinha ficado lá enquanto jantávamos e o Zé subiu para o ir buscar. No carro, a Anita ao volante, eu e a Susana no banco de trás. Surge, devagarinho, a nosso lado, um carro de polícia com dois policiais. Pára. Só a visão dos caras (acompanhada por todos o tipo de histórias e estereótipos já usuais) nos gelou. Um deles remata, áspero: «Tudo bem aí?». «Sim, tudo bem», responde a Anita. Repete a pergunta, não acreditando. Resposta afirmativa novamente. O carro avança. Pára. Recua. De novo, de rajada: «E esse cara aí?...». Aí, confesso meus amigos, tive medo, o meu peito doía. «É meu amigo, está comigo. Só estamos esperando a minha irmã descer», responde a Anita desconfortável (e cometendo um deslize que podia ter saído caro). Arrancam de novo. No fundo da rua, uns vinte metros à frente, param e permanecem. Não acreditaram. Estão ali parados. Surge então uma amiga da Anita e inicia conversa connosco. O carro arranca. Não os vimos mais. Chega o Zé com o Francisco e partimos.
Mais tarde, revejo os factos e chego a esta conclusão. Os caras são brutos? São. A visão do cano do fuzil espetado pela janela do carro fora é assustadora? É. Não foram simpáticos? Não. Mas fizeram o trabalho deles, aquilo que esperamos deles. Eles zelaram ali, naquele momento, pela nossa integridade. Ou melhor, pela delas. Pois, visto à distância, apercebo-me de que, vejam bem, eu estava no banco detrás do carro abraçando a Susana pelo pescoço. A Anita estava à frente, à minha frente, sozinha. Suspeito, não diriam? Não tenho dúvidas que eles acharam que eu estava a tramar algo. Aliás, aquela mesma rua tinha tido 3 assaltos a carros na semana anterior, daí eles estarem por ali (casa roubada, trancas na porta). Avançaram e ficaram à espera da confirmação da história da Anita. Que a irmã descesse. Quando quem era suposto descer era o Zé... Mas aí apareceu a amiga dela, eles avançaram e tudo acabou em bem.
Já pensaram se eu fosse mesmo um bandido? Não acham que se justifica o fuzil espetado, o ar intimidatório? Eu acho que sim. Até porque não tenho dúvidas que eles também têm medo, muito medo. O peito dorido que senti eles devem senti-lo quotidianamente. Barra pesada, não acham?

No céu azul traçam-se caminhos de ida e volta...

Vou na rua, ou estou sentado no sofá, e vejo (oiço) passar um avião no céu azul. Assalta-me a sensação de que perdi algo, de que me esqueci de algo importante, de que parte de mim ficou para trás. A isto se chama ter saudades.

Tangências

A minha amiga Ju tem um blog.
Deu o passo. Atirou-se.
Que lhe saiba bem o mergulho, é o meu desejo.

Tangências
.

Serviço?

Mas também sinto falta dos serviços, da qualidade dos mesmos. Ontem à noite uma tasca (que o Correio pouco é mais do que uma tasca) não tinha ovos! Nem isto, nem mais aquilo!!! Porra, esta terra não tem a noção do serviço. Aqui um tipo abre as portas para sacar dinheiro, se possível, não para servir quem entra portas adentro. Triste!

Voltei

Depois de uma viagem em branco, regressei a Lisboa. Já passaram praticamente três dias e continuo ainda um pouco em branco. Já lavei roupa, já cozinhei, já fui à bola (porra, como jogámos mal ontem à noite!), já lavei o chão do atelier, mas continuo ainda um pouco zonzo, um pouco deslocado. Primeiro foi a diferença de escala; como isto é pequeno, caramba. Depois, sei lá. Sinto falta da ginga, do som, do bruá.

Sinto falta da Natureza!

Do verde, do azul e do amarelo (nunca pensei alguma vez vir a dizer isto!). Sinto falta da unidade. Se há local (por muito estranho que possa parecer, e às vezes parece) onde a unidade se faz sentir é no Rio de Janeiro. O Anauel (que professa a Percepção da Unidade) foi muito feliz no Rio de Janeiro. Eu fui junto com ele!
E voltei. E ele também. E aqui está o primeiro post após o regresso.

Saravá!

...

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domingo, agosto 12, 2007

E ainda há mais...

Este pessoal aqui não usa lãs, já repararam? Não sabem o que é a experiência, a vivência, das lãs. Dá que pensar, não dá?

Fazer o quê? Diferenças são diferenças...

No Velho Mundo o moto é: Sangue, Suor e Lágrimas.
No Novo Mundo o lema é: Samba, Suor e Cerveja.
Posto isto, fazer o quê?

Visto no Cristo Redentor

quinta-feira, agosto 09, 2007

Americanos (Sul e Norte)

E por falar em "gringos", apetece-me registar a surpresa, e consequente alegria, de encontrar tantos cidadãos norte-americanos passeando pelas ruas do Rio de Janeiro. Uma vez que é do conhecimento público o já antigo antagonismo entre os EUA e o Brasil (para não dizer tudo o mais...), e uma vez que o fechamento cultural é (sadly) um dos traços fortes dos do Norte, é sempre uma alegria constatar que nem tudo está perdido. A malta do Norte passeia no Sul. Chego mesmo a ouvir alguns "gringos" a falar o português! Falar mesmo, não é arranhar, tipo estudantes que aprendem a língua. Tipo rapazes e raparigas que vêm e vêem mais longe. Boa.

Eu, um "gringo"...

Fora de gozo. Às vezes sinto-me "gringo". Claro que os meus amigos e conhecidos o contradizem. «Que é isso, rapaz?» É óbvio que só o conhecimento/partilha da língua afasta esse epíteto, mas sem a ginga natural, sem o programa musical da espécie local, sem o abandono do corpo, sem a incontinência da derme, por vezes, só me resta sentir-me "gringo". Eu vejo aquela malta toda girando, apanhando o cabelo, bebendo, sussurrando, acompanhando as letras dos sambas e eu, o europeu, vou-me deleitando, é certo, mas sempre com um peso surdo que me vai lastrando.
A mim só me resta assistir e vibrar. Ou não sou eu o Vibrador? Carlos, o Vibrador. Como me apelidou há dias o grande Serrano.

Moyseis Marques

Quarta à noite fomos a mais uma noite de samba. Novamente na Lapa (onde mais?), bem na sombra (sim, que à noite a Lapa também brilha!) dos Arcos, no Bar da Ladeira. Sessão ligeira, das 21:00 às 12:30, que amanhã é dia de trabalho. Por sugestão e recomendação do Léo, fomos (eu e o Zé) com eles (o Léo e a Vera) assitir ao concerto de Moyseis Marques. Acompanhado por quatro músicos e uma bateria de amigos estes tipos deram show. E hão-de dar mais em breve, pois só podem melhorar (são bem jovens todos eles) e ainda estão a finalizar o seu primeiro CD (o que lhes dará maior exposição). Para muitos puristas estes miúdos deviam ir para o paredão, pois não fazem mais do que conspurcar o bom nome do Samba. Para muitos puristas ver a malta branca, zona sul, classe média, a apropriar-se gradualmente do Samba (quer escutando, quer executando) é um ultraje e um doer no coração. Mas fazer o quê, quando a malta negra não dá bola para o Samba e se perde no Funk?! Pois.

A qualidade das imagens é bem mazinha, mas o som tá baril. É curtir minha gente!


Tropicália

















Voltei ao MAM para ver uma exposição sobre a vertente artes plásticas do movimento Tropicália. Desde instalações de Hélio Oiticica aos engenhos sensoriais da grande Lygia Clark, passando por variados trabalhos gráficos da altura (sobretudo cartazes de cinema brasileiro) e um vídeo bem sacado da outra Lygia, a Pape, o que mais me entusiasmou (até por ser algo feito agora...) foi o trabalho do colectivo +2 (Moreno Veloso, Domenico Lancellotti e Alexandre Kassim). Estes três músicos espetaram duas colunas de som numa grande parede branca, uma virada para a outra, e entre elas espetaram 8 caixas de madeira. Ao lado deste aparato estava um caixote contentor que servia de suporte a várias mesas de mistura, material musical electrónico diverso, um monitor, tipo um mini-estúdio de som. Ao abrirmos a porta de cada uma das caixas de madeira deparamo-nos com um pequeno ecrã LCD exibindo um mix de imagens em loop, mas, acima de tudo, accionamos uma pista de som de oito possíveis. Uma pessoa solitária (isto é, com acesso isolado à instalação) pode entreter-se com as tampas das caixas,abrindo e fechando canais de som, compondo a seu belprazer uma música de dança (sim, os sons são batidas electrónicas e samples vários retirados aos sons da Tropicália). Quem estiver num momento de bulício (isto é, se a exposição estiver cheia de visitantes) pode simplesmente afastar-se e assistir ao abrir e fechar (ao acaso) das portas/pistas e ouvir o que dali sair. Experiência muito interessante!

Esta imagem (o Caetano de então vestindo uma "capa" desenhada por Oiticica), saquei-a do site da CosacNaify que publicou o catálogo da exposição.

Visto no Odeon (Cinelândia)

terça-feira, agosto 07, 2007

Piauí (2)

O novo número da Piauí mantém a qualidade que mostrou ter no mês passado. No próximo mês já vou estar em Lisboa, mas sei que vou querer continuar a lê-la. Será que a Tema tem disto? Terei de assiná-la? Parece disparate, mas não é.

A vida tem destas coisas...

Ainda há uns dias atrás descobri a obra de Andrea Robbins e Max Becher através do
The Ressabiator. Toda aquela história à volta do 770, esse número/edifício mágico dos Lubavitchers, me fascinou. Hoje entrei no CCBB para ver uma exposição que reúne vários olhares estrangeiros sobre o Brasil e quem vejo exposto numa das paredes?
O 770 de São Paulo (entre outros)!



















(imagem sacada ao site de Robbins e Becher)

Iguarias (09)

Uma omoleta de camarão, uma sanduíche de salame e queijo minas e dois chopes claros. Na Casa Paladino, claro. Não é não?

A rua é implacável...

Como diz o amigo Ribas, a rua é implacável. Seguindo a melhor tradição da malandragem a rua vai fazendo das suas. Dois exemplos.

1. No Brasil as populações das favelas há muito que fazem gatos. Um gato é uma ligação ilegal a um poste de electricidade, com o fim de subtrair sem encargos o tão desejado bem. Na era da internet (e a velocidade com que ela se espalha nas favelas é impressionante!) a banda larga é subtraida não através de um gato mas de um cat.

2. Há uns dias atrás, numa festa, já depois de algumas caipivodkas, o amigo Ribas pede mais uma. «Mas fraquinha», acrescenta prontamente. Ao que o garçom (o grande Júlio) responde: «Ok, ok, estou vendo que já está com pouco grooving».
.
[O termo grooving entrou muito recentemente no léxico brasileiro através do acidente de aviação no aeroporto de Congonhas. Grooving são as ranhuras que ao longo da pista proporcionam melhor escoamento das águas da chuva e, logo, melhor aderência do avião no momento da aterrisagem. Naturalmente, neste caso é a referência à aderência que está em causa...]

segunda-feira, agosto 06, 2007

Prometido é devido

Amigo Serafim, aqui ficam as fotos prometidas.


Iguarias (08)

Filetes de linguado com arroz de bróculos. No Bar Serafim, Laranjeiras.

Escutado aqui e ali (06)

.
«Não é não?»
[interrogação procurando afirmação...]
.

Cosmopolita OU O samba na Lapa é um milagre de Deus!

Mas o ponto alto do fim-de-semana foi, sem sombra de dúvidas, a festa do Léo "Negão". Amigo dos nossos amigos cariocas, logo nosso amigo (não acompanhou ele a Susana num dos seus fadunchos?), este negão escolheu para o seu local de aniversário um notável boteco na Lapa (coração boémio desta cidade), mesmo em frente aos Arcos, o Cosmopolita. A festa começou mais ao menos pelas 19:00 e estendeu-se até às tantas. Nós saímos pelas 03:00 do dia seguinte, mas acredito que eles ainda tenham ficado um pouco mais...
A cena é que o Léo é músico profissional (os belgas, os franceses e os holandeses têm o prazer de o ouvir tocar uma vez por ano, quando ele e a sua banda se deslocam à Europa) e num dia de aniversário o aniversariante faz o que gosta, certo? Então a noite foi de samba, tocado por ele e pelos seus parceiros sambistas (não os da banda, os da farra). De arromba. Tive o privilégio de poder assistir in loco a uma noite de farra na Lapa! A Susana não foi (tinha um texto para redigir) mas a Matilde foi e delirou. A sua primeira noite de boémia!
Este samba todo embalou uma belíssima tortilha à espanhola, cubos de provolone panados e uma carne sol com aipim frito e farofa. Tudo isto regado com muita caipivodka (diria mesmo demais; o meu amanhecer que o diga...). Pelas 01:00 deixámos as meninas em casa e trouxemos a Susana (acelerado que estava, tive de voltar), bem como a da primeira vez esquecida (como me recriminei...) máquina fotográfica. São já, pois, da recta final estas imagens.






O cara barbudo que aparece a tocar pandeiro no último vídeo é o Serrano. Um grande viva ao Serrano!

Toda esta festa decorreu no Cosmopolita já se disse. O que não se disse ainda foi que quem nos serviu a noite toda (sempre com a maior das amabilidades) foi esse garçom que dá pelo nome de Júlio. Grande Júlio! Há 22 anos a servir no Cosmopolita, este é um homem que diz não ganhar o que gostaria mas fazer o que gosta! Quem fala assim não é gago. E o Júlio não é gago. O tipo aparece num vídeo ou outro, mas não resisto a colocar uma foto minha com ele para a posteridade.

Visto na Prainha

domingo, agosto 05, 2007

Visto em Grumari



O Brasil contado em bonequinhos...

Ontem reservámos o dia para ir visitar a Museu Casa do Pontal. Um museu que reúne uma fantástica colecção de bonecos e bonequinhos, e máscaras, e geringonças, que nos mostram e narram a história dos costumes, dos lugares, das religiosidades, das personagens deste vasto país. A não perder.















No regresso viemos pela estrada junto ao mar e vimos praias de morrer. Descobrimos Grumari, Prainha e toda a zona do Recreio. A menos de 1 hora do Rio de Janeiro!

sexta-feira, agosto 03, 2007

Café Lamas

E hoje fui a essa grande instituição da cidade que é o Café Lamas. Aprovado!

O Bar Luiz abordado há uns tempos aqui também tem site. Aqui fica ele.

Bia Lessa

Hoje assisti a uma das melhores instalações dos últimos tempos! Fui de manhã ao MAM ver a instalação que Bia Lessa montou em torno da grande obra (um dos pilares da brasilidade) de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas. Muito bom, muito, muito bom. Não pude fotografar, é demasiado complexo para descrever (não tenho tempo nem pachorra), podem saber um pouco mais aqui. Uma coisa é certa: vou ter de ler Grande Sertão: Veredas!

Copacabana

Ontem só deu praia...

Museus

Anteontem foi dia de passeata nos museus (há que aproveitar a trégua de 15 dias na Greve da Cultura). Primeiro (embora fechado para obras de melhoramento), o TempoGlauber dedicado a esse grande cineasta brasileiro que dá pelo nome de Glauber Rocha. Mesmo ao lado, o Museu Villa-lobos. Pequeno, mal amanhado mas ainda assim muito interessante (sobretudo um tríptico de Dimitri Ismailovitch, na sala dos fundos). À saída fomos agraciados com esta visão.

















De seguida, o Museu do Índio. Lá, vimos a exposição "A Presença do Invisível", dedicada à vida quotidiana e ritual dos povos indígenas do Oiapoque. Bem planeada, bem estruturada, muito interessante. Até vimos uma índia...



















Por fim, fomos ao Museu da República. Antiga residência do Presidente da República (até à mudança do Governo para Brasília), foi local de muitas e, por certo, interessantes histórias e políticas mas, no fundo, no fundo, o seu maior atractivo é o quarto de Getúlio. Getúlio Vargas, o Presidente amado, o Presidente suicidado. O quarto mantém-se intacto e, num canto, lá estão a pistola, a bala e o pijama perfurado e ensanguentado. Lindo. No fim, nos seus belos jardins, encontrámos outra índia...


quarta-feira, agosto 01, 2007

Tarde

As meninas subiram no Pão de Açúcar e eu fui na Praia Vermelha. Ver o mar e ler um pouco da Tarde, livrinho de poesia da autoria do nosso amigo Paulo Henriques Britto.
Eu ando apaixonado por este livrinho. Vejam só.

Noturno com ar-condicionado

O tédio infinito dos hotéis
de três estrelas, tardes que se estendem
em direcção a noites povoadas

por dois ou três garçons indevassáveis
num bar onde nenhum turista húngaro
cochila diante da tevê autista

em que uma locutora silenciosa
exibe a três poltronas de pelúcia
duas fileiras de dentes de carnívora.


II
(da série "Uma Doença")

O mundo está fora de esquadro.
Na tênue moldura da mente
as coisas não cabem direito.

A consciência oscila um pouco,
como uma cristaleira em falso.
Em torno de tudo há uma aura

que é claramente postiça.
O mundo precisa de um calço,
fina fatia de cortiça.


II. Summer Sonettino
(Da série "Quatro Autotraduções")

Seduced and betrayed by words.
The world is a hopeless mess.
My heart is bruised and hurt.
My soul can't bear such treason.
My body couldn't care less.

My thoughts won't go into verse,
my verse refuses to rhyme,
my rhymes are adverse to reason,
and reason's deserted my mind.
Lust is in full season.

My poetry is on the ropes.
My life isn't any better.
There is no good. No hope.
Hmm. Great beach weather.

Pão de Açúcar

As meninas subiram no Pão de Açúcar e viram isto.
O mundo já viu isto vezes sem conta, mas a resposta continua a ser:
«Palavras para quê?».




Urca

Hoje de manhã fomos, finalmente, flanar na Urca. Uma espécie de Cascais meets French Riviera, esta é uma das zonas mais apetecidas do Rio. Isolada do bulício, altamente segura (está numa zona militarizada), com uma vista singular sobre o Rio, ortogonal, toda ela plana, é uma zona cara e toda a gente que eu conheço não se importaria de ali viver. Mas a mim não me convenceu. Demasiado isolada, demasiado afastada da realidade. A própria vista que a Urca tem do resto da cidade é muito interessante. Como que por magia, quer a disposição geográfica quer a disposição urbanística nos mostram (vistas da Urca) uma cidade nova, uma cidade que parece não existir. Das favelas apenas se vêem uns vislumbres, a cidade a perder de vista não se vê pura e simplesmente. Todo o barulho, toda a loucura carioca, os contrastes, a poluição, a ginga, tudo isso fica oculto de quem da Urca olha a cidade. Da Urca a cidade fica amputada. Pois. Não tem condição...




Visto na Urca

Cidades Maravilhosas (e interessantes)

















Este foi o comentário deixado pela minha filhota no livro de ponto da exposição do de fotos (tiradas na modalidade pinhole) do alemão Jochen Dietrich.

Visto na Candelária

Vamos jogar totó?


Eu e o Zé a sermos arrasados pela Ana e pela Anita.