Dou-me conta que tinha 2 posts em modo draft, que nunca chegaram a ver a luz do dia enquanto estive no Brasil. Para não haver posts descontentes no meu dashboard nem queixas de discriminação, aqui ficam eles.
1.
Correndo o risco, o enorme risco, de chocar, irritar, surpreender, escandalizar e/ou irar alguns dos poucos (mas bons) leitores deste blog, atrevo-me ainda a apontar mais uma diferença entre nós (tugas) e eles (cariocas). [rufar de tambores] Estes tipos não levam o futebol a sério! Ui, disse-o. Permitam-me ainda (antes de começarem a atirar pedras) uma emenda: falo do futebol ao nível dos times (os clubes). Pois ao nível da selecção nacional, aí, penso que sim, eles levam isto muito a sério. Quem sabe, a sério demais. A imagem mundialmente traçada (e conquistada, diga-se) do Brasil como potência e país amante do futebol é digna de registo e louvor. Mas ouvir um vascaíno afirmar que, perante a escolha entre ver o seu Vasco campeão ou a descida de divisão do Flamengo, escolheria a última dá arrepios. E o que dizer dos cânticos das torcidas? Pura diversão, futebol disfarçado de rei momo, esculhambação pela certa, nada sofrido. E ver tipos abraçados com camisas de times rivais? Vasco, Flamengo, Botafogo e Fluminense tocando-se, bebendo em conjunto, fundindo-se, sim, fundindo-se numa só cor, numa só bandeira. Tudo isto me leva a reafirmar que estes tipos não levam o futebol a sério. Por fim, deixem-me confessar (se é que ainda está aí alguém a ler estas palavras...). Ainda bem que assim é. No fundo, no fundo, eles é que estão certos!
2.
Após uma noite de chorinho e petiscos num restaurante suspenso sobre a cidade, contacto com a polícia carioca. Cerca da meia-noite, paramos o carro à porta da irmã da Anita. O Francisco tinha ficado lá enquanto jantávamos e o Zé subiu para o ir buscar. No carro, a Anita ao volante, eu e a Susana no banco de trás. Surge, devagarinho, a nosso lado, um carro de polícia com dois policiais. Pára. Só a visão dos caras (acompanhada por todos o tipo de histórias e estereótipos já usuais) nos gelou. Um deles remata, áspero: «Tudo bem aí?». «Sim, tudo bem», responde a Anita. Repete a pergunta, não acreditando. Resposta afirmativa novamente. O carro avança. Pára. Recua. De novo, de rajada: «E esse cara aí?...». Aí, confesso meus amigos, tive medo, o meu peito doía. «É meu amigo, está comigo. Só estamos esperando a minha irmã descer», responde a Anita desconfortável (e cometendo um deslize que podia ter saído caro). Arrancam de novo. No fundo da rua, uns vinte metros à frente, param e permanecem. Não acreditaram. Estão ali parados. Surge então uma amiga da Anita e inicia conversa connosco. O carro arranca. Não os vimos mais. Chega o Zé com o Francisco e partimos.
Mais tarde, revejo os factos e chego a esta conclusão. Os caras são brutos? São. A visão do cano do fuzil espetado pela janela do carro fora é assustadora? É. Não foram simpáticos? Não. Mas fizeram o trabalho deles, aquilo que esperamos deles. Eles zelaram ali, naquele momento, pela nossa integridade. Ou melhor, pela delas. Pois, visto à distância, apercebo-me de que, vejam bem, eu estava no banco detrás do carro abraçando a Susana pelo pescoço. A Anita estava à frente, à minha frente, sozinha. Suspeito, não diriam? Não tenho dúvidas que eles acharam que eu estava a tramar algo. Aliás, aquela mesma rua tinha tido 3 assaltos a carros na semana anterior, daí eles estarem por ali (casa roubada, trancas na porta). Avançaram e ficaram à espera da confirmação da história da Anita. Que a irmã descesse. Quando quem era suposto descer era o Zé... Mas aí apareceu a amiga dela, eles avançaram e tudo acabou em bem.
Já pensaram se eu fosse mesmo um bandido? Não acham que se justifica o fuzil espetado, o ar intimidatório? Eu acho que sim. Até porque não tenho dúvidas que eles também têm medo, muito medo. O peito dorido que senti eles devem senti-lo quotidianamente. Barra pesada, não acham?
Há 10 anos
5 comentários:
interessante a cena policial
já cá tou, depois passo aí em casa, não tenho o teu número, só o da susy
1. Conversa mole cara. Ainda te vou ver junto dos Duper Dragões a festejar mais um título...
2. Com a tua barba (talibam) o risco é uma constante aqui ou noutro emisfério qualquer...
Abraços e mais uma vez bem vindo
Ó pá, essa tua conversa sempre à volta dos morcões já me está a irritar... (lol) E não é Duper é Super. A não ser que seja de "dupe", termo inglês para tolo, imbecil. Aí, está bem...
Já arranjei o Elite da Tropa, adaptação para filme do livro do Luiz Eduardo Soares e de um cara que foi do Bope, uma força policial de acção especial da polícia militar. Vamos vê-lo juntos. Mas aconteceu uma coisa com o filme que é muito à Brasil: uma cópia pré-editada foi roubada ou passada por alguém para as ruas e agora, antes da estreia, é vendida pelos camelôs em todos os cantos (com outros do Bruce Willis) a 5 ou 10 reais e é um sucessão... entre os pobres. Os mercados paralelos organizam-se para conseguirem ser mais modernos que os convencionais. Não deixa de ser curioso.
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