Queen Kelly (1929) de Erich von Stroheim. Absolutamente genial!!!! Candidato a melhor filme de 2008... lol. Grande tarde, a de hoje, numa "atribulada" sessão na Cinemateca, onde descobri esta pérola do mudo. E onde descobri uma notável Gloria Swanson! Tenho quase a certeza que, para além do incontornável Sunset Boulevard, nunca tinha visto nenhum dos seus filmes, daqueles que a tornaram quem foi, daqueles que ela ajudou a mitificar, daqueles que se resumem sem prejuízo numa palavra – o mudo –, palavra essa que se materializa no olho grande, no negro, no fumo, no cartão de belos letterings entre frames (e como este filme os tem, meu Deus)... Pois, hoje, Gloria Swanson desfilou perante os meus olhos arregalados, a par de um Walter Byron à sua altura, e por entre uma dezena de personagens soberbamente desenhadas. Stroheim no seu melhor, dando forma a personagens perturbadas e maléficas (falo em especial do papel de Tully Marshall enquanto Jan Vryheid, o bandido holandês aleijado que, no fundo, e com ajuda de duas "deliciosas" criaturas, a torna rainha), personagens essas que veremos, mais tarde, muito mais tarde, em cenários imaginados por David Lynch. Eu vi-os lá. Blue Velvet e Wild at Heart têm mais em comum com Queen Kelly do que se poderá imaginar... Podem não acreditar, se quiserem, mas eu até a Maria de The Sound of Music vi hoje ali, só para terem uma ideia do quão doido é o filme... Ao que parece o homem, o Stroheim, era dado a orgias e excessos, não sei dizê-lo, não estou capacitado para tal, mas que neste filme transparecem liberdades que eu não imaginava possíveis, lá isso... Porque penso sempre que 1929 (não viveu 1929 dez anos antes da Segunda Guerra Mundial?) está lá muito longe, intocável, enquadrado e conservado, que agora é que descobrimos e subvertemos, que agora é que se quebram regulamentos. Mas não, já muita gente passou por aqui antes e desfez ideias e constrangimentos. Aliás, apercebo-me agora, e não é que o filme é do mesmo ano do que aquele que revi há três dias atrás, Die Büchse der Pandora?! Ele há coisas! Pabst na Alemanha e Stroheim em Hollywood, em simultâneo, brincando como gente crescida aos amores e venenos, paixões e traições, amor e sexo, podridão e morte. Muito bom. Grandes homens e grandes mulheres.
No Youtube apenas apanhei esta sequência. Dá uma ideia, mas não é só isto. É muito, muito mais. A versão que vi hoje (a última, a actualizada, de 1985) era muda, muda, mas a musiquinha deste trecho não destoa.
Há 10 anos
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