segunda-feira, dezembro 17, 2007

«Nem só dinheiro se furta»

Por razões pessoais tenho consultado, na Hemeroteca de Lisboa, os volumes do jornal nacional-sindicalista Revolução. E, à margem, deparei-me com esta pequena história impressa em 13 de Maio de 1933.


[clicar para ampliar]

«Acêrca do "caso" do cartaz que reclama a corrida de automóveis e motos que amanhã se realiza no Campo Pequeno [erro no original, lol], "caso" que "Revolução" apontou em primeiro logar, "caso" que envolve, como dissemos, o plagio (roubo) de um outro cartaz extrangeiro, exibido em Nice no mês de Julho de 1932, da autoria do artista D'Aey, também o "Diário da Manhã" de hoje dedica um artigo – certo com a sua simpática, oportuna e inteligente campanha a fâvor dos artistas e intelectuais portugueses –, no qual, aprovando a nossa atitude nacionalista, censura a leviandade dos autores do plagio. (...) Nem um momento acreditamos na intenção consciente, propositada, em prejudicar os nossos artistas e o nome já hoje sólido de Portugal! Mas não podemos perdoar a distração, o alheamento de pessoas de bem que têm deveres a cumprir e que somente o não fazem porque – e isso é pecha portuguesa – não pensam que é indispensavel ter consideração pelos outros. Que a liçao fique de emenda, que todos se lembrem que necessitamos, mais do que nunca, manter e dilatar a dignidade da Pátria Portuguesa. Para que o público possa avaliar da razão que nos assiste e de como o plagio (roubo) é flagrante, reproduzimos, ilustrando êste artigo, os dois cartazes: o autentico e o copiado. Como os leitores vêm, o espírito é o mesmo. O automóvel e a moto, perfeitamente iguais, absolutamente copiados. O resto foi disfarçado. Uma espécie de gato escondido... Em vez de Nice, outros dizeres; em logar de um aspecto da conhecida cidade, um aglomerado de casas do Campo Grande... (...) Como todos vêm, o plagio (roubo) é indiscutível! Oxalá não tenhamos que voltar a tratar de assuntos desagradáveis como êste. Que a lição fique de emenda (...) e que de futuro as autoridades saibam reprimir os roubos de ideias assim como sabem castigar os outros. E que também a Litografia Portugal – onde o cartaz foi feito – passe, como industria portuguesa, a ter dignidade profissional não se tornando cumplice consciente de "casos" desta ordem...» O HOMEM DAS MULTIDÕES

É interessante notar como, então, e pelo menos para certos órgãos de comunicação, estes assuntos eram assunto. E, sobretudo, de como a responsabilidade (fosse qual fosse o motivo) era alargada a todos os elementos do processo, como se pode constatar no "puxão de orelhas" à litografia que imprimiu o trabalho (o roubo, como constantemente é referido). Por algum motivo, naqueles tempos, raros eram os cartazes (reclamos) que não mencionavam, para além do artista, a casa impressora e, mesmo, as tiragens. A responsabilidade era assunto. E hoje, será? Só me vem à cabeça o caso PSD/Somague/Novodesign... (sim, para mim, o caso é a três) Quando o caso rebentou ficou tudo doido, e com razão, com a promiscuidade entre um partido político e uma construtora. O PSD e a Somague eram presença constante em tudo o que era meio de comunicação. Mas à Novodesign parece ter bastado afirmar (ver aqui, aqui e aqui) que foi o PSD quem lhe pediu para passar as facturas em nome da Somague. Mas bastará? Quem passou as facturas? Não havia ninguém ali que percebesse que era errado o procedimento? Pois. E como andará o caso? No Google as referências ao assunto datam todas de 21/22 de Agosto...

Sem comentários: