(E o que dizer de Carlos Carvalhal a celebrar o golo do empate com um "exuberante" (juro que foi assim que os idiotas da RTP categorizaram a celebração) «tooooomaaa, filhadaputa!»? Nada a dizer, de facto... está tudo dito. Miserável.)
São jogos destes que me fazem pensar que os 8 pontos de atraso são ultrapassáveis! A minha filha regressou ontem do estádio num estado misto de nervos, felicidade, pasmo e receio. Como eu a compreendo. É isto o futebol! Ontem, acho que até o gelado da miúda foi meio a custo... mas os 3 pontos e o 2.º lugar já cá cantam!
Adepto incondicional de Werner Herzog que sou desde a primeira hora, desde o primeiro momento em que lhe pus os olhos em cima (que sei que foi com Fitzcarraldo nos idos de 80, no tempo em que os filmes eram descobertos em cassettes VHS...), e como hoje em dia já só vou ao "quarto escuro" levado pelos meus heróis, ontem fui às Twin Towers (este centro comercial é um mistério, tipo Triângulo das Bermudas; mas tem as melhores salas de cinema da cidade e um "japa" do melhor que há) ver o seu último filme, Rescue Dawn. O homem continua um esteta do caraças (aquele genérico é do melhor que tenho visto; para não falar da queda do avião de Dietler em pleno arrozal, fabuloso!), o Christian Bale está ao seu melhor nível (a escolha de Bale também se deve ao facto de haver semelhanças com o jovem Bush, não vos parece?; eu acho que aqui há Herzog touch...), a história (verídica) em si é interessante q.b., sobretudo por se centrar mais num período pré-Vietname (naquela altura em que a Air America fazia mais voos do que a US Air Force...) do que propriamente no conflito, mas... e, caraças, o que me chateia haver aqui um mas, mas não me convenceu, não me encheu as medidas, ainda hoje estou a pensar no que me terá falhado, no que me terá passado ao lado. Sim, porque estou a partir do princípio que a falha é minha e não de Rescue Dawn que, e digo-o com sinceridade, é de ver sem sombra para dúvidas.
Que populaça mais bizarra aquela que encheu a ZDB no Sábado passado para ouvir os The Sea and Cake. Ex-surfistas, gays de várias formas e feitios, mulheres a caminho de tias, tias já formadas e bem lavadinhas, "oitentóctones", tudo numa mélange meio doida de perceber. Atenção que eu não tenho issues alguns com qualquer das tribos mencionadas, que fique claro. Agora o que me baralhou a cena toda foi a tal mistura de poses, de histórias pessoais. Tipo quando cai um tabuleiro de missangas no chão e elas se misturam todas e um tipo não sabe o que há-de fazer... Eu senti-me um pouco deslocado, devo confessá-lo. Devo ser uma missanga doutra fornada... E quanto aos tipos de Chigago, bem, não são bem o meu cup of tea... mas a companhia foi boa, malta.
Quanto ao notável termo (definição) "oitentóctone" tem direitos e vão todos para a Susana Durão. Que um dia alcunhou assim todos aqueles (e são bem mais do que possamos imaginar...) que por aí andam com uma perna nos anos 80 e a outra a caminho dos meados de 80...
Para muitos (já não serão assim tantos...) será para sempre lembrado como um dos melhores extremos-direitos que o Ajax alguma vez teve nas suas fileiras (jogou de 1922 a 1930). Em 125 jogos apenas marcou 8 golos mas é unânime a definição de Eddy Hamel como o jogador mais recto que a Amsterdam dos anos 20 viu jogar. Era bonito, alto, elegante e pouco mais se sabe dele.
Mas outra história, e outra particularidade, define e entrega à História este judeu nascido, em 1902, em Nova Iorque. A boa circulação sanguínea deste homem salvou a vida a um outro, Leon Greenman! Hamel era um judeu nova-iorquino em Amsterdam e Greenman era um judeu britânico em Rotterdam. Ambos sentiram a malha nazi a apertar e ambos foram despejados no famigerado campo de Westerbork (de onde saíram milhares e milhares de judeus holandeses em direcção à morte na longínqua Polónia). Dali foram transportados para Birkenau e foi aí que se conheceram e travaram uma luta desigual durante longos meses. Hamel e Greenman partilhavam a mesma tábua num dos dormitórios e dormiam costas com costas. Hamel tinha uma boa circulação sanguínea e era extremamente quente, facto que ainda hoje Greenman considera ter sido de importância capital na sua sobrevivência. Hamel, pelo contrário, e devido a um abcesso que o tornou dispensável, não escapou. Ainda hoje Greenman afirma que Hamel era um cavalheiro, que viu muitos indivíduos se transformarem em seres inenarráveis no campo de extermínio mas que Hamel sempre se manteve íntegro, companheiro e... quente.
Foto e história retiradas do livro Ajax, the Dutch, the War: Footbal in Europe During the Second World War, de Simon Kuper.
Agora que penso já ter encerrado as minhas idas ao DocLisboa, e em jeito de comentário final, permitam-se-me duas notas finais. 1. Bilheteira centralizada já! É preciso, é serviço, não dá para adiar mais. 2. Sessões próprias para visitas de estudo. É óptimo que haja professores que estejam atentos e achem que é útil levar os seus jovens estudantes ao cinema, ao documentário. Não se discute tal acção. Mas a realidade é que se alguns jovens se comportam civilizadamente (e aqui lembro-me dos menino(a)s do Valssassina que estoicamente aguentaram as 3h30 de Wiseman...) já outros são umas verdadeiras bestas (refiro-me aos idiotas que ontem foram à Culturgest ver os Halfmoon Files). Nesta última sessão foi por um fio que não se chegou a vias de facto... Já que os professores/progenitores desta malta não tem mão neles, ao menos que o DocLisboa lhes dê uma sala só para eles...
«José Manuel Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia, recebeu, no passado dia 8 de Outubro, Henrique Cayatte, Presidente do CPD e promotor deste encontro, Michael Thomson, Presidente do BEDA (The Bureau of European Design Associations), e dois elementos do board do Bureau, na sede nacional da Comissão Europeia, no Centro Jean Monnet. Foi apresentado a Durão Barroso um cenário das agressivas políticas de design das nações competitivas, acentuando a necessidade de existência de uma estratégia mais coerente a nível europeu. O BEDA propôs a criação de um forte mecanismo europeu para a construção das competências em design na Europa do séc. XXI, como estratégia complementar da performance de inovação europeia. O Presidente da Comissão manifestou o seu acordo sobre a necessidade de reconhecimento da importância do design, declarando-se disponível para apoiar esta acção.» [retirado da DesignList do CPD]
Primeiro a agricultura, depois os têxteis e agora o design. Meu Deus, ninguém se dá conta do ridículo...?
Eu gosto de uma boa gargalhada a começar o dia. Perfeito complemento ao cafézinho da manhã, à viagem no 28 e à mirada no quiosque. A de hoje saíu bem encorpada e saudável. A ver.
Não tenho maneira de provar, nem tenho interesse, é cá uma impressão minha, mas a mim parece-me que muitos dos que tanto se indignam actualmente com as barbaridades e brutalidades dos generais de Myanmar, e apelam ao boicote daquele país asiático, são os mesmos que de há uns tempos para cá descobriram a Turquia, e estimulam e incitam a sua adesão à UE. Se isto não dá que pensar, o que dará? [sim, onde eu quero chegar é que, para mim, não há diferença entre um coronel turco e um coronel de Yangon] E onde ficarão os curdos neste cenário, pergunto-me eu. É que, desgraçados, nem umas vestes laranja-pacífico-serenity now têm de modo a atingir melhor os seus targets. Mas será que eles serão os próximos monges indefesos a alimentar os media? É que se se tornarem o motivo do próximo banner militante a adornar as malhas laterais dos blogs ocidentais, então, só resta desfazer o noivado. Myanmar aqui tão perto e nem davam por isso... tsk, tsk.
Hoje pude ver o documentário State Legislature (2007) de Frederick Wiseman. São 3 horas e meia (de 160 filmadas!) de puro deleite legislativo. ?!?! Tal coisa é possível? Então não é! Para mim, que sou grande fã da ARTV (e quem me conhece e/ou por aqui passa sabe que je plaisante pas), é mesmo uma delícia, uma ARTV de luxo. Wiseman, como sempre faz, "apenas" se limita a deslizar perante os seus objectos, e os objectos dos seus objectos, e, como sempre faz, deixa-nos mais ricos. Ver como o corpo legislativo do estado norte-americano de Idaho se desenrola dia após dia (três meses por ano, que nos outros nove cada um vai à sua vida...) é uma experiência e tanto. Aqui há uns tempos falei aqui da experiência que é assistir à construção de Portugal (uma de múltiplas, para ser mais correcto), pois hoje assisti um pouco àquilo que é a construção do Idaho e, por tabela, desse país tão rico quanto estranho que dá pelo nome de EUA. Wiseman no seu melhor! Sério candidato ao melhor documentário (por mim visto) no DocLisboa 2007.
... se há dois dias vi um documentário à maneira, ontem vi uma verdadeira banhada. Nuns dias chove, noutros faz sol. Tudo bem. Mas este era mesmo mau. Tão mau que acabei por fazer algo que raramente faço, isto é, saí a meio. Gosto de acreditar que tenho uma capacidade de aguentar maus filmes (e já vi tantos, meu Deus...), que por muito maus que sejam fico até ao fim, não tanto numa de "esperança é a última a morrer" mas mais numa de "a vida é isto mesmo". Mas tenho de dizê-lo, este não era só mau. Este documentário era desonesto (e não há pior que um documentário desonesto). E isso para mim foi fatal e preferi matá-lo logo do que arrastar-me juntamente com ele. Falo de On Hitler's Highway de Lech Kowalski. Um filme que teve direito a duas projecções, ambas esgotadas. Um filme integrado numa secção do festival dedicada exclusivamente a Lech Kowalski. Um filme importante, portanto.
Partindo de uma história com um enorme potencial, o documentário acaba por ser o assassinato da mesma. Tanto Hitler como a auto-estrada apenas moram no título. O resto, o filme em si, é Kowalski, Kowalski, Kowalski. Me, me, me. O que para mim (mas gostos discutem-se) é crime grave em documentário. Filmado à mão, irritantemente, mas isso é estilo (e estilos também se discutem), o filme transporta-nos ao longo da auto-estrada (contruída pelos trabalhadores polacos escravizados pela Alemanha nazi) que o exército alemão desenhou para a sua expansão em direcção ao Leste. A mesma auto-estrada que ainda hoje lá se mantém, remendada, estafada, repleta (nas bermas e apeadeiros) de indigentes, deslocados e prostitutas. E Kowalski lá vai filmando e inquirindo os indivíduos sobre uma auto-estrada que ele próprio não estudou (não acredito que o tenha feito; a parte sobre as pontes é sintomática disso). E lá vai falando da guerra passada e das marcas que ainda hoje perduram, enquanto nos mostra uma mata poluída (chega ao ponto de fazer close-ups a preservativos usados!), uma mata poluída! Mas o gajo é parvo?! E depois pára, perdurando, pateticamente, numa zona onde algumas prostitutas descansam e dão à língua. Numa cena (a que me fez levantar e sair) Kowalski está à conversa com umas tantas prostitutas e uma delas pede-lhe que páre de filmar (uma outra estava a emocionar-se demais ou algo parecido) e ele afirma que sim, desce a câmara, não pára (a cena não tem corte), levanta-a de novo e prossegue com a filmagem. Mais desonestidade não há. Mesmo que, posteriormente, tenha falado com elas e tenha obtido a sua permissão, o corte tinha de lá estar. Isto não é crime grave em documentário, é crime capital. Levantei-me e fui-me embora.
Terça-feira que vem tenho mais Kowalski para ver. Mas como o tema é a bola, mais propriamente a final do Campeonato do Mundo de 2006 (o jogo da cabeçada de Zidane), deve ser mais easy going. Será?
Em dia de aniversário só posso considerar isto como uma prenda. Muito amavelmente Mário Moura, do The Ressabiator, incluiu o Anauel no seu blogroll. Fica aqui expresso o meu agradecimento. Tendo a perfeita noção de como o Anauel foge, não raras vezes, às balizas temáticas do The Ressabiator isto só me faz sentir ainda mais contente. Não tanto pelo blogroll em si, mas mais pelo confirmar de um reconhecimento mútuo. Obrigado.
4.275 visitas ...455 posts ...365 dias .....36 labels .....20 visitas (em média) por dia .....18 dias seguidos sem comentários .....17 links externos apontam para Anauel .......8 de authority (no Technorati) .......8 número máximo de comentários a um post (este) .......3,37 minutos (em média) por visita
A leitura correcta destes números, no que diz respeito à análise da performance de um blog, não sei bem qual seja. Serão muitas certamente, e de acordo com as pretensões de cada um. Por mim, sei que reflectem um ano de gozo e de entrega. Um ano de exposição contínua. [Esta cena dos blogs é mesmo coisa de voyeurs/exibicionistas...] Regozijo-me com o n.º de visitas e com o tempo médio de leitura e trepo às paredes com o reduzido n.º de comentários. Porra, isto é um café, conversemos pois.
Quanto aos factos abaixo descritos, bem, esses são de leitura fácil. A ver.
weirdest referral – fist fucking melhor período de postagem – 1 do 7 a 16 do 8 (período Brasil) o post que mais gozo me deu escrever – este, ou talvez este o post que mais me custou escrever – este, ou talvez este o post mais bizarro/codificado – este blogger mais simpática – a Zazie do Cocanha (uma vez mais obrigado) blog que mais saudades deixou – Lida Insana blogs que continuam presentes – ver blogroll blog onde mais comentários deixei (e isto fala por si) – este e este
O Anauel tem blogs irmãos (nascidos na mesma altura, mas não gémeos). Este cumpre a sua missão intemporal. Este arrancou quase um ano depois, espero não perder o gás e desejo sinceramente que venha a crescer. E este, meu Deus, que dor de alma, um ano volvido e nem um e-mail... Ó tristeza das tristezas... Bem, tenho de admitir que este é um pouco doido, para não dizer absurdo, mas, pô, loucos é que que não falta para aí...
Ontem à noite os God Is An Astronaut abriram o concerto assim:
com o "Tempus Horizon" (do + recente álbum Far From Refuge) acompanhado visualmente por archive footage do Project Excelsior e dessa fantástica personagem que foi Joseph Kittinger (mas onde é que eu já vi isto?; ah, pois, foi aqui). A ideia já foi utilizada (e melhor, na minha opinião)? Já. Está um pouco forçado? Sim. Mas o pessoal perdoa e parte do princípio que é propositado e não mero pseudoplágio... A realidade é que funciona sempre. Daí em diante tocaram o álbum novo e "velhas" pérolas. Como este "From Dusk To The Beyond" (do álbum de 2002 The End of the Beggining).
Sempre bem tocado, sempre com imagens de arquivo por detrás deles e sempre a oscilar entre o ambiental e o headbang total. Não desiludiram nada e provaram mesmo serem melhores ao vivo do que em disco. E aqui confesso que até nem são uma das minhas bandas favoritas (por vezes é demasiado perfeitinho, if you know what I mean...), mas a míngua é tanta (sim, que os Pelican já foram há uma eternidade...) que um gajo vai a todas... (e para quando os Red Sparowes?!?!?!). Foram óptimos, em suma, profissionais até dizer chega, o som estava baril e o meu corpo diz-me hoje que a onda, embora um tanto ou quanto flat (f*cking emos! lol), se dependesse de mim (ah, tivesse eu menos 20 anos...), levantaria salpicos... Headbanging rules!
Quanto aos putos de Leiria, esses começaram assim:
E permitam-se-me algumas notas. Primeiro sugiro que deixem de ouvir/admirar tanto Red Sparowes e concentrem-se mais na parte da thrashalhada; abandonem os interlúdios com as guitarrinhas líricas e melódicas (deixem isso para quem sabe) e toca a abrir (que isso, sim, os TASP fazem-no bem). // Não bebam (e nunca por palhinhas!) entre os temas, dá cabo da encenação por completo. O modo como corriam para os copos era confrangedor... Nervos? Acredito. // Grande baixista (Paco) e grandes linhas melódicas. // Notável o tema com que acabaram o concerto! (se exceptuarmos a parte inicial que, e lá vamos nós, mais parecia um ensaio dos Red Sparowes). Bocas foleiras à parte The All Star Project promete!
Já fiz muitas coisas sozinho, mas no que concerne a concertos acho que ontem foi a primeira vez. Down: a seca que se leva enquanto se espera por um concerto em atraso. Up: temos tempo e disposição para observar cenas que nunca veríamos caso estivéssemos acompanhados. Por exemplo: o momento, entre actuações, em que reparei no baterista Velásquez, dos TASP (enquanto desmontava a sua bateria), a olhar, perfeitamente embevecido, para o baterista Loyd, dos GIAA (enquanto montava a sua). O aprendiz e o feiticeiro! Cool.
... que é como quem diz Capitão Iglo em norueguês. Fora de brincadeira, parece que é o maior sucesso de bilheteira na Noruega, um verdadeiro filme de culto lá para aqueles lados, e percebe-se porquê. Bem no meio do círculo polar árctico, na aldeia de Berlevåg, numa pequena comunidade que definha juntamente com a indústria local de filetes (!) existe um grupo de homens barbudos que resiste e que afirma a pés juntos que a melhor coisa que lhes aconteceu foi ir ali parar, e ficar. Para além da neve, do frio, do mar gelado, da cerveja e dos ternurentos desejos sexuais que vão, aqui e ali, exprimindo, o que os prende acima de tudo àquela terra? A música, o coro local! Homens feitos, viúvos, separados, mesmo muito velhos alguns (um já tinha mesmo assistido à morte de um grupo coral inteiro...), ex-drogados, recém-casados, ex(?)-comunistas, casanovas na reforma, todos unidos pela música e cantando, sob a batuta de um maestro em cadeira de rodas, nos locais mais inóspitos e inesperados. Estes são os homens (que mulheres só para cobiçar e assistir) que Knut Erik Jensen filmou em 2000 e com quem eu, em 2007, me diverti hoje à tarde. É isto (também) a globalização. É isto a massificação dos suportes e das maquinarias e dos circuitos culturais. E isso é bom. É bom estar no cinema Londres a consumir um pouquinho de Berlevåg.
Já passou um dia (da abertura do DocLisboa), continuo sem olhar para a programação como deve ser, se calhar até já nem há bilhetes para o Zidane, mas uma coisa eu sei, é que já perdi um dos mais bizarros e, provavelmente, interessantes documentários que por aqui vão passar. Trata-se de ZOO. Não deixa de ser curioso como o IMDB, na página dedicada a ZOO, recomenda aos espectadores de ZOO o visionamento de Cruising (aqui abordado há uns dias atrás) e Twin Peaks, Fire Walk With Me... olha que três.
«Na madrugada do dia 2 de Julho de 2005, um homem moribundo foi deixado nas urgências de um hospital numa zona rural dos Estados Unidos. Tendo identificado a matrícula do carro que o deixou no hospital através de uma câmara de vigilância, a polícia seguiu a pista até uma quinta onde foram descobertas centenas de cassettes de vídeo mostrando homens de todo o mundo fazendo sexo com puros-sangue árabes. A causa da morte do homem foi um cólon perfurado. Alvo de uma cobertura mediática sensacionalista, o caso foi abordado por Robinson Devor de maneira completamente diferente. "Zoo" adopta a perspectiva dos homens que frequentavam a quinta e obriga-nos a reflectir sobre os limites da perversão que estamos dispostos a tolerar nos outros.» (retirado do programa do DocLisboa)
Como sempre, o blogArchitectures of Control continua do melhor. Desta vez Dan Lockton faz uma recensão do artigo "Architecture as Crime Control", de Neal Katyal, publicado há uns anos no Yale Law Journal. Deixo aqui o resumo do artigo, embora o texto de Dan Lockton valha, ele todo, a pena.
Building on work in architectural theory, Professor Katyal demonstrates how attention to cities, neighborhoods, and individual buildings can reduce criminal activity. The field of cyberlaw has been transformed by the insight that architecture can regulate behavior in cyberspace; Professor Katyal applies this insight to the regulation of behavior in real space. The instinct of many attorneys is to focus on criminal law as the dominant method of social control without recognizing physical constraints--constraints that are sometimes even shaped by civil law. Ironically, even an architectural problem in crime control--broken windows--has prompted legal, not architectural, solutions. The Article considers four architectural concepts: increasing an area's natural surveillance, introducing territoriality, reducing social isolation, and protecting potential targets. These mechanisms work in subtle, often invisible, ways to deter criminal activity and, if employed properly, could stymie the need for architectural self-help solutions that are often counterproductive because they increase overall crime rates. Professor Katyal then illustrates specific legal mechanisms that harness the power of architecture to prevent crime. Distinguishing situations where the government acts as a builder, as a civil regulator, and as a criminal enforcer, the Article suggests solutions in a variety of legal fields, drawing on property, torts, taxation, contracts, and criminal law. Procurement and taxation strategies can promote effective public architecture; crime impact statements, zoning, tort suits, and contractual regulation may engender private architectural solutions as well. Criminal law, particularly through forfeiture, may also play a role. Several problems with architectural regulation are considered, such as the extension of social control and potential losses in privacy. Professor Katyal concludes by suggesting that local jurisdictions devote more attention to architecture as a constraint on crime instead of putting additional resources toward conventional law enforcement.
E destaco esta deliciosa sugestão de Katyal de como a simples adição de um arco a uma zona residencial pode mudar os comportamentos de quem não lá reside. Isto é, dos indesejados. Porque a arquitectura, embora não determine, influencia os comportamentos. Não o esqueçamos.
Começa hoje mais um Festival Internacional de Cinema Documental, vulgo DocLisboa. Vão ser 10 dias de documentários para todos os gostos e feitios. A não perder. Ainda não olhei atentadamente a programação, mas já vi que vão passar o Zidane de Michael Gordon e Philippe Parreno. Lá estarei. Se conseguir bilhetes...
Hoje a Selecção Nacional joga com o Cazaquistão. Trata-se de um jogo importante. Tipo mata-mata (para usar uma expressão tão cara ao "pacífico" seleccionador). Mas qual o tema de capa dos três diários desportivos? Ah, pois. Tá tudo dito.
E, já agora, se o seleccionador diz (meio a brincar, li algures; o tipo é um brincalhão) que quase é capaz de comunicar por telepatia com Flávio "Murtosa" Teixeira e que este, que o substitui nestes tempos difíceis, é tão bom quanto ele a dirigir a equipa, porque não despedir Scolari duma vez por todas e pagar, quiçá, 10 vezes menos ao Murtosa? Poupavam-se uns trocos e, talvez, umas vergonhas...
No fim-de-semana que passou a Deolinda voltou a pisar um palco, desta feita nos Recreios da Amadora. Se a 23 de Fevereiro deste ano (no intimista Cefalópode) foi num ambiente familiar expectante que ela nos deslumbrou, desta vez foi num ambiente familiar seguro de si (dela) que ela nos encantou. Não restam mais dúvidas (se alguma vez as houve) de que a Deolinda sabe o que faz, que sabe ao que veio. O alinhamento foi-se aprimorando, novos elementos saltam constantemente ao ouvido, a encenação vai ganhando forma e eu continuo a morrer de inveja de quem a descobre... Não há como a primeira vez. Contado ninguém acredita. Há que experimentar.
Deixo-vos com os vídeos do "Contado Ninguém Acredita" e do "Ai Rapaz". E com o som do "Eu Tenho Um Melro", numa notável, notável, interpretação. O melhor tema da noite!
E agora? Agora, depois de quase um ano (e que ano glorioso tem sido), de concertos aqui e ali, a Deolinda está prestes a descalçar as suas brilhantes sabrinas. Vai regressar a casa, vai lavar o chão e as escadas, estender a saia e o xaile lavados com Clarin no varão e, enquanto fuma um cigarro, descalça e cansada, no sofá, vai fazer contas à vida e pensar no melhor modo de se lançar no seu próximo desafio. Nós, pela nossa parte, aguardamos com todo o fervor esse menino que aí vem.
E oiço, logo pela fresquinha, as seguintes sábias palavras – «Eu só tenho pena é da menina, dos outros todos não tenho pena nenhuma»*. Mainada. Venham mais 90 anos!
* Esta frase pode ser perfeitamente traduzida por algo como «eu tenho pena é da miúda [a Maddie, claro] mas os outros [os pais, os ingleses de nariz arrebitado, os sérvios provocadores, os ricos, o Sócrates...], a esses, matava-os a todos no paredão, ai não».
É triste constatar que este país passou ao lado de todo o século XX. A festa bacoca, o atraso mental, as dependências suspeitas, todo o júbilo irracional, continuam de vento em popa. O planeta consome-se, o mundo anda e Portugal arrasta-se. Mas preocupações para quê? Devagar se vai ao longe, diz o povo.
Esta coisa dos blogs é tramada. Sobretudo no que toca aos comentários. Um blog que tenha caixa de comentários (como é o caso do Anauel) tem sempre por detrás dele um tipo que, por muito que diga que não, vai controlando a existência e a qualidade dos mesmos. O comentário ao post é a prova dos nove, é um dos pilares da actividade blogueira, digo eu, que tenho um blog, que tenho caixa de comentários e que, geralmente, me queixo da falta deles... Sobretudo no que toca aos amigos. Sim, que eu sei que eles andam por aí, lêem mas depois piram-se, tipo toca-e-foge. Vêem, já me estou a queixar...
Mas tudo isto é relativo, pois quando me ponho a cogitar na agitada discussão que vai, por exemplo, lá para os lados da Vida Breve, não posso deixar de sentir que, apesar de tudo, sou capaz de preferir a semi-solidão à desenquadrada e disfuncional relação de certos comentários com a sua própria caixa (de comentários, claro está). Eu, por exemplo, ontem, à laia de pensamento inócuo e pachorrento, interrogava-me (sim, -me, pois nunca pensei que tal assunto pudesse alguma vez suscitar interesse, mas...) acerca do paradeiro da 1.ª Circular. E não é que obtive resposta, e quase imediata?! Da fé dos psicólogos ao paradeiro da 1.ª Circular, este mundo dos blogs só pode mesmo reflectir o mundo dos passeios (meaning, a rua, o quotidiano). Tudo conta, tudo interessa, tudo enerva, tudo é banal e passageiro. E o mais lindo é que, como diria a minha mãe, o tudo não existe!
Anda tudo para aí embevecido com este filminho, mas, cá para mim, parece-me que se esquecem do evidente: esta miúda já falou com eles, os pais desta miúda já perderam a parada, esta miúda só existe mesmo ali, no mundo deles. Senão como seria possível o êxito deste filminho? Com uma miúda de olhos embaçados de tanto sono irregular? Com um rapaz que tem dores de barriga só de olhar para a sopa? Com dois manos que competem em doenças pela atenção dos pais? Não me parece...
Já aqui tinha mencionado há uns tempos atrás a recém-publicada biografia (escrita por Lira Neto) dessa fabulosa cantora brasileira que é a Maysa. Pois bem, já ando a lê-la, melhor, a devorá-la, e uma coisa vos digo: essa mulher é Demais! A Rainha da Fossa (Nova; ou não), dos copos, dos cigarros, dos suicídios e dos amores intempestivos. Mas a leitura de Maysa trouxe-me também, entre outros tantos, Sylvia Telles. Outra grande rainha do samba canção. Que aqui vos deixo cantando "Demais" (como ela e Maysa o são), um tema (de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira) que, embora cantado inicialmente por Sylvia, acabou mesmo por ficar imortalizado por Maysa (de tão certeira letra e sombrio tom lhe assentarem que nem uma luva).
Mas também vos deixo o som de Maysa, num genial medley de "Demais", "Meu Mundo Caiu" e "Preciso Aprender a Ser Só".
Depois de um jogo como o de ontem, nada melhor que rever esse dark movie de William Friedkin que dá pelo nome de Cruising (1980). Já o tinha visto há uns bons anos atrás e desde então que ele periodicamente me vinha à cabeça (ontem, percebi melhor o porquê...). Grande filme, datado, janado, suado e safado. Muitos tons de escuro, muita sombra (eye linner), vermelhos e verdes saturados no ponto, uma cena de dança num bar S&D perfeitamente filmada por Friedkin, membros decepados aqui e ali, muito cabedal e muito fist fucking... [ah, o que eu não daria por ver um tal de Wolfgang Stark ali no meio de tanto fist fucking...] A must see movie!
Enquanto espero que alguma alma caridosa me explique a presente fixação por Myanmar vou para a Catedral. Na esperança de que os brasileiros ucranianos achem que está calor por estas bandas e não corram tanto. Na esperança que um dia Camacho perceba o quão está errado quando acha que não se deve cobrar ao Glorioso a passagem aos oitavos de final da Champions. Isso é ser benfiquista, Camacho! Exigir, sempre, a Champions, e a Liga, e a Taça e... o derrube dos militares em Myanmar!
Qual é a cena com Myanmar? Sim, o que toca tanto os portugueses (e os europeus) em relação a Myanmar? Ontem nem sabiam onde era (e ainda hoje repetidamente se referem ao país como Birmânia; é o problema de verem pouco o Seinfeld...), agora é só revolta e indignação. Será que tem algo a ver com o recente périplo do Dalai Lama por alguns países europeus? Mas Myanmar não é o Tibete... É das vestes? Que, imaginamos, os tornam mais frágeis e sujeitos às sevícias militares? Uma coisa é certa, Myanmar é (e aqui cito a Wikipédia) "atualmente um regime militar com capital em Yangon (originariamente Rangum) e capital administrativa em Naypyidaw, governado por uma junta militar. Sua constituição, promulgada a 3 de janeiro de 1974, está suspensa desde 1988. Em 2004, o governo convocou uma nova constituinte, dessa vez sem a participação dos partidos de oposição (...) É composta por 7 estados (Chin, Kachin, Kayin, Kayah, Mon, Rakhine e Shan) e sete divisões administrativas (Ayeyarwady, Bago, Magway, Mandalay, Sagaing, Tanintharyi e Rangoon). Obteve a sua independência do Reino Unido em 4 de Janeiro de 1948, sendo esta a data do seu feriado nacional". Conquistou a independência há praticamente 60 anos (parabéns a Myanmar) e estes (ou outros) militares já suspenderam a Constituição vai para 20 anos (deu este brado então...?). A mim, na realidade, parece-me mais um país de um planeta cheio deles. Qual, então, a cena com Myanmar? Expliquem-me, por favor.
Só me lembra o Marco (o do 1.º BB, lembram-se?). Jovens esforçados que naqueles tempos olhavam a política como hoje olham as pochettes da Louis Vuitton que os jogadores de futebol carregam nos corredores dos aeroportos. Com um brilhosinho nos olhos que não conseguem verdadeiramente descodificar. E ainda o Santana Lopes se pergunta como há-de o país andar para a frente...