... se há dois dias vi um documentário à maneira, ontem vi uma verdadeira banhada. Nuns dias chove, noutros faz sol. Tudo bem. Mas este era mesmo mau. Tão mau que acabei por fazer algo que raramente faço, isto é, saí a meio. Gosto de acreditar que tenho uma capacidade de aguentar maus filmes (e já vi tantos, meu Deus...), que por muito maus que sejam fico até ao fim, não tanto numa de "esperança é a última a morrer" mas mais numa de "a vida é isto mesmo". Mas tenho de dizê-lo, este não era só mau. Este documentário era desonesto (e não há pior que um documentário desonesto). E isso para mim foi fatal e preferi matá-lo logo do que arrastar-me juntamente com ele.
Falo de On Hitler's Highway de Lech Kowalski. Um filme que teve direito a duas projecções, ambas esgotadas. Um filme integrado numa secção do festival dedicada exclusivamente a Lech Kowalski. Um filme importante, portanto.
Partindo de uma história com um enorme potencial, o documentário acaba por ser o assassinato da mesma. Tanto Hitler como a auto-estrada apenas moram no título. O resto, o filme em si, é Kowalski, Kowalski, Kowalski. Me, me, me. O que para mim (mas gostos discutem-se) é crime grave em documentário. Filmado à mão, irritantemente, mas isso é estilo (e estilos também se discutem), o filme transporta-nos ao longo da auto-estrada (contruída pelos trabalhadores polacos escravizados pela Alemanha nazi) que o exército alemão desenhou para a sua expansão em direcção ao Leste. A mesma auto-estrada que ainda hoje lá se mantém, remendada, estafada, repleta (nas bermas e apeadeiros) de indigentes, deslocados e prostitutas. E Kowalski lá vai filmando e inquirindo os indivíduos sobre uma auto-estrada que ele próprio não estudou (não acredito que o tenha feito; a parte sobre as pontes é sintomática disso). E lá vai falando da guerra passada e das marcas que ainda hoje perduram, enquanto nos mostra uma mata poluída (chega ao ponto de fazer close-ups a preservativos usados!), uma mata poluída! Mas o gajo é parvo?! E depois pára, perdurando, pateticamente, numa zona onde algumas prostitutas descansam e dão à língua. Numa cena (a que me fez levantar e sair) Kowalski está à conversa com umas tantas prostitutas e uma delas pede-lhe que páre de filmar (uma outra estava a emocionar-se demais ou algo parecido) e ele afirma que sim, desce a câmara, não pára (a cena não tem corte), levanta-a de novo e prossegue com a filmagem. Mais desonestidade não há. Mesmo que, posteriormente, tenha falado com elas e tenha obtido a sua permissão, o corte tinha de lá estar. Isto não é crime grave em documentário, é crime capital. Levantei-me e fui-me embora.
Terça-feira que vem tenho mais Kowalski para ver. Mas como o tema é a bola, mais propriamente a final do Campeonato do Mundo de 2006 (o jogo da cabeçada de Zidane), deve ser mais easy going. Será?
Há 10 anos
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