
Entretanto saiu, está aí. E que discaço temos em mãos! Não pára de girar cá em casa, de manhã à noite (até já invadiu uma destas noites...), e só me apetece destacar: Mal Por Mal (grande tema, enorme tema) a abrir, e muito bem!, o menino da menina... e não é que a mim só me faz lembrar Cassavetes! {weird}; Fado Toninho, palavras para quê?, passa aí a sangria...; Não Sei Falar de Amor é, a par do anterior, tema fundador e incontornável; Contado Ninguém Acredita sem o assobio do Menino fica um pouquinho mais triste, mas continua uma belíssima e alegre romaria-regada-a-lavanda-e-rosmaninho-pela-calçada-fora... a favorita da miúda cá de casa; Eu Tenho Um Melro (uma das minhas favoritas de sempre) continua a ser uma das minhas favoritas de sempre! O «então mulher» do Pedro está de morte... lânguido, lânguido...; Movimento Perpétuo Associativo cada vez mais perto de se tornar o novo Hino Nacional! Não paro de imaginar o início dos jogos de Portugal no Euro2008 ao som do MPA...; O Fado Não É Mau é FADO do melhor!!!!; ui, Lisboa Não É a Cidade Perfeita, ui, ai, ui...; o Fado Castigo continua genial como sempre; as palavras sábias de Canção Ao Lado muito sabiamente a apelidar este primeiro passo da Deolinda; e Clandestino a fechar, e muito muito bem!, o brinquedo do menino... tema enorme, assustador, viela cheia de humidade a incomodar a respiração.
Enquanto esperavámos pelo disco sabiámos que o grande desafio era, naturalmente, o como iria ela, a Deolinda, ultrapassar as paredes almofadadas do estúdio e regressar ao aconchego das paredes da sala de concerto, da tasca, da colectividade, da casa de fado, de modo a poder resgatar esse ambiente e dar-lhe roupagem de estúdio, tecnológica. Quem já viu a Deolinda em palco sabe que ela vive para o palco; as tábuas de madeira subjugadas pelas suas sabrinas são um espectáculo digno de se ver! O palco, a luz, o fumo, o bruá, o riso, a boca atirada lá do fundo são elementos essenciais, são também eles a Deolinda. E como iria todo esse mundo tão particular migrar para um estúdio e transparecer num disco de plástico? Processo complicado, imagino eu. Nada mais fácil, parecem eles responder. Desapareceram vários trejeitos e efeitos sonoros? Sim. O lado mais sujo, irregular e "rasca" que eu gosto de associar aos delírios da fadista ficaram um pouco de molho? Ficaram (já o esperava...). Mas o resultado é um disco impecável, sem nódoas, bem ilustrado (onde João Fazenda ajudou e muito...), um trabalho de quem sabe o que quer. E como o quer. Canção Ao Lado é um auspicioso começo. A Deolinda está, pois, de parabéns.
Mas é tempo de abordar o lado mais negro, qual negro qual quê?, menos vermelho, menos garrido. Lol. Cá em casa andamos a chamar-lhe o salgueiranço, tipo «é pá, aqui ela salgueirou», ou «mas porquê salgueirar aqui?, logo neste momento que era tão fixe...»; bom, mas é a vida, «eles é que sabem» dizemos nós, e até compreendemos, juro, compreendemos... nós é que não conseguimos concordar com o Mário Lopes, ou seja, nós é que não podemos nem com eles nem com a mulher... ;) Mas nota-se que naqueles quatro temas mais dados ao salgueiranço, e falo naturalmente do Eu Tenho um Melro, do Lisboa Não É a Cidade Perfeita, do Fado Castigo e do Clandestino, bom, nesses temas (e eles estão mesmo por essa ordem) topa-se nitidamente uma gradual salgueirização dos mesmos. Se o melro escapou (graças a Deus!) já Lisboa começa a ter uns ares de salgueirismo; e se o castigo mesmo é ter de ouvir o «laraaaia/ laraaaia» num tom que não é o da "nossa" Deolinda então o clandestino «e acaso nos tocar o azar» é uma dor na alma... que passa logo, logo, malta. Não fosse o Clandestino um dos grandes momentos da Deolinda! Sempre! Obrigado.
Mas as "queixas" não ficam por aqui... Andei três dias a ouvir o disco e sempre, sempre, algo me incomodava, uma suspeição, um incómodo, uma falta, sim, era isso, algo faltava ali no alinhamento... Ah, raios, eles tiveram coragem?!?! É isso mesmo... E o Ignara Vedeta?!?!?! Era obrigatório, rapariga! Fica para o próximo...
E agora? Agora resta juntarmo-nos a ela no próximo dia 7 de Maio, no Cinema São Jorge (Lisboa), e na sua presença, perante a sua magia e boa disposição, ver como e em que moldes Canção Ao Lado veio mudar, ajustar, cultivar, aparar, esfregar, soldar e vassourar a performance destes fantásticos temas que até então estávamos habituados a ver em palco. Este disco é um passo importante na caminhada da fadista suburbana e o próximo patamar desperta já muita curiosidade por estas bandas.
2 comentários:
Caramba!!!
Além dos pasteis também estamos aguardando esse disco.
Beijinhos
Zé
Sem dúvida!
Alguns exemplares vão atravessar o Atlântico daqui a uns dias...
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