Tão bom, tão bom, tão bom. Sobretudo porque ninguém estava à espera (e quem disser que estava, mente). Após os 10/15 minutos iniciais de tremideira que deixaram o estádio em polvorosa, após 1 golo do AC Milan e outros tantos falhados, eis que surje (à 2.ª tentativa), vindo da perna esquerda, o fabuloso golo de Maxi Pereira. Estádio em pé, gritos pr'ó ar e corações ao alto. Daí em diante foi jogo do melhor. Em pé de igualdade. O golo de Maxi Pereira disse ao resto da malta: «Bute aí, vamos dar a volta a esta merda, a ver se ainda seguimos em frente». E eles ouviram. E jogaram como ainda não os tínhamos visto jogar na Champions (ontem, até o Luís Filipe passou incólume...). Por vários momentos o pensamento geral era «porra, já merecíamos um golito mais» de tão bem estávamos a jogar. Mas as estatísticas (e ontem elas eram tema central entre os adeptos) são assim mesmo, ou seja, representam a realidade. E se ontem melhorámos a média (de 1 golo a cada 32 remates para 1 golo em 18 remates) mais não conseguimos. Tivesse o grande "Cebolla" jogado um pouco mais do que jogou e tivesse o "Angelito" inventado um pouco menos do que inventou e, talvez, o segundo golo tivesse surgido. E, por fim, porque foi mesmo até ao fim, o empate já chegava e todos se davam por contentes. Acabámos com esperança e, KAPOW!, os sacanas dos escoceses ganham no último segundo do último minuto do tempo de compensação! Neura. Só nos resta continuar a lutar pela Taça UEFA...
Como bem observou o "Maestro" no final do jogo, os adeptos perceberam o que ali se passou, perceberam que a equipa esteve bem, muito bem, e que, embora o resultado tivesse sido magro e infrutífero, o espectáculo foi de qualidade. Ontem ninguém foi para casa defraudado. E uma coisa é certa. Se sábado que vem jogarmos como jogámos ontem (e se o FCP também jogar como jogou ontem...) os 4 tornam-se em 1 num ápice! Assim seja.
Querem ficar deprimidos? Bem deprimidos? Deprimidos com qualidade? Então, vejam o documentário The Corporation (2003). Se calhar já o viram, mas eu, com um atraso de 4 anos (em matéria de filmes os atrasos são inevitáveis...), vi-o a semana passada. Ainda hoje estou em estado catatónico. Não porque não soubesse ou imaginasse metade do que ali vi, não, mas apenas porque constatar certas coisas deprime. Ponto final. E acabar por concluir (que, acho, foi o que concluí) que já não há fuga possível, apenas o recurso à vida underground (ou será sideground?) é foda. À margem. A única saída. Mudar a corporation? Tá bem, tá. Ir para as ruas? Pois. É verdade que os tipos que lutaram contra a privatização da água da chuva (!!!) na Bolívia conseguiram, mas... Estou deprimido. Aliás, não por acaso, leio hoje este sensato e perspicaz post do Reactor. Leiam-no e vejam o filme. E digam lá se não ficam bem deprimidinhos...
Trailer
Amanhã acordarei melhor. E vou para a rua. Apanhar chuva!
Nem mais. Mas será que está cada vez mais difícil distinguir a democracia de outros regimes devido às qualidades estranhas/inteligíveis/codificadas desses mesmos regimes, ou será, antes, que não as lemos, não as traduzimos, porque elas dão demasiado trabalho, ou mesmo porque elas colocam em cheque as nossas próprias democracias, as nossas próprias noções de Democracia? Ao longo dessa "discussão" que o Pedro Magalhães diz andar por aí, não raras vezes se menciona a definição de Democracia como sendo a voz/vontade do povo. Então, e a ser verdade o que dizem, porque não aceitam Chávez e o seu Governo? Ele é a expressão da vontade do povo. O povo que, às cegas por uma abusiva campanha mediática, e posto a salvo pelas televisões satélite e pela internet, saíu às ruas e desmascarou o golpe de direita. E recolocou Chávez em Miraflores. Pela segunda vez! Querem mais Democracia, isto é, vontade do povo, do que isto? Contudo...
Quantos países europeus aceitariam ser governados por uma clique oriunda de uma empresa privada de exploração de petróleo? Pois. Quantos países europeus aceitariam que a Direita do seu país instrumentalizasse um canal de televisão em seu favor? Pois. A deputada que no outro dia deu umas estaladas a um pivot de televisão é inaceitável, senão mesmo idiota? É. Mas e o que dizer de Fernando Ruas (que, diga-se, continua na vida política activa) que há pouco tempo incitava ao apedrejamento de certos funcionários públicos? Afinal também há idiotas por aqui. O Chávez é pouco fiável, aconselhável, um desastre? Pode ser que sim. Mas o nosso anterior Primeiro-Ministro não o era também? Personagens desastrosos e momentos tortuosos todas as Democracias os têm. Se nós (Ocidente) os podemos ter porque não os venezuelanos?
o Lat. deliriu s. m., excesso de sentimento; fig., exaltação; entusiasmo; Med., desvio mórbido da razão contra o qual não valem a experiência nem a argumentação lógica e em virtude do qual o indivíduo se afasta cada vez mais da realidade.
Portugal parece estar satisfeito (e, logo, confiante) com o grupo de apuramento para o Mundial de 2010. Mas está tudo louco?!?! Já se esqueceram do grupo de apuramento para o Euro 2008?!?!? Foi rápido...
Liiiiiiiiiiiiiiiiiiiindo!!!!!! A dois dias do jogo já Domingos Paciência dava a entender o que o preocupava em relação ao jogo que se aproximava. Nem por uma única vez, nessa conferência de imprensa, ele referiu que a Académica ia lutar, que ia fazer tudo por tudo pelos 3 pontos, que isto ou que aquilo. Não. Contudo, por duas ou três vezes referiu o facto de o Glorioso se estar a aproximar do FCP, que o Glorioso ia tentar aproximar-se um pouco mais, que a distância confortável do FCP se estava a esfumar, FCP, FCP, FCP... Uma vez FCP, sempre FCP. É por estas e por outras que a vitória de hoje soube ainda melhor! Liiiiiiiiiiiiiiiiiiiindo!!!!!!
Duas mulheres conversam na Rua Garrett. Passo por elas e oiço isto. — Pois é, minha querida. Mal posso esperar. Estou de partida... Mé-xi-co. Praia, daquelas de morrer. Mas sem mexicanos...! — Ah, pois. Claro.
Com um sorrisinho na boca que não sei se denotava desprezo ou humor mesmo, não pude deixar de pensar: "Praia sem mexicanos? E não lhe bastava a Costa da Caparica?". É curioso como as pessoas se dão ao trabalho de atravessar um oceano para pôr em prática os seus preconceitos...
Há já uns meses que tento comprar este documentário mas não anda fácil. Nem no eBay (em bootleg version) se encontra actualmente. No Youtube, pelo contrário, embora difícil, encontra-se disponível em várias partes. Aqui ficam as possíveis (faltam 2 partes; prometo completar se possível). Aconselho vivamente, pois, que visionem os vídeos abaixo.
parte 1
parte 2
parte 3
parte 4
parte 5 (em falta; é pena, pois nesta, pelo que me contaram, assiste-se a uma interessante reunião do Governo golpista na qual fica escancarada a falta de legitimidade e responsabilidade democrática por parte do mesmo)
parte 6
parte 7 (em falta; o final do documentário)
Posto isto, só apetece dizer que só não vê quem não quer ver. Todas as recentes reacções e discussões acerca de Chávez e da Venezuela são reféns da falta de uma visão ampla e aberta à diferença, talvez da falta de um pensamento mestiço (aqui). Sim, estamos reféns das nossas ideias e ideais de Democracia. Como criadores da mesma (achamos nós) saímos em sua defesa à semelhança das bandas que saiem em defesa da sua música querendo com isso, e por isso, cercear a partilha de mp3 e afins. Democracia com royalties? Isso é um absurdo! Que olhemos para a Venezuela, ou outros locais por aí fora, e não nos revejamos, não nos identifiquemos, isso não deve ser um problema. Se o é, talvez esteja na altura de olharmos para nós próprios e identificarmos a razão pela qual não conseguimos deixar parte considerável do planeta viver em paz, ou em guerra se tal for a vontade. Nós (e está na altura de dizer, para os mais distraídos, que nós é o chamado Ocidente) aceitamos com muita dificuldade outros modelos de governação, outras dinâmicas de viver a vida, e isso é triste e redutor. Para nós mesmos. Olhando o documentário irlandês facilmente dá para ver que não sabemos (não queremos saber) da missa a metade. Mas a metade que nos servem basta?
[O meu agradecimento a kbcmighty pelos vídeos / Thanks to kbcmighty for the videos]
Quem me dera lá ter estado! Uma vez mais o meu obrigado ao Crestfall do Amplificasom pela descoberta (e pelo vídeo, mesmo escurinho...). Tenho andado a ouvir o Let the Churches Burn vezes sem conta e só me apetece gritar:
Depois de ver a conferência de imprensa de Scolari após o jogo desta noite, não tenho outra alternativa. Retiro aqui os meus desejos de boa sorte à selecção (ver post anterior) para o Euro2008. Que percam os 3 jogos do grupo por 10 e regressem chorosos à pátria basbaque! Como é que se pode torcer por esta gente?!?
Deste último jogo de apuramento apenas me apetece dizer isto. Vendo as imagens televisivas durante o tocar do hino de Portugal, apercebo-me nitidamente de quem são os dois verdadeiramente bons jogadores desta selecção. Falo de Quaresma e de Simão (que hoje não jogou). Porquê? Porque eram os únicos que não cantavam (leia-se, encenavam) o hino. Não cantavam fora de tempo, não desafinavam, não pensavam nas câmaras da RTP1 (a prestação de Cristiano Ronaldo, essa então, foi patética; aquele chorar para dentro de emoção só pode dar vómitos...). Estes dois, por seu lado, em silêncio, respiravam e encaravam o jogo que aí vinha. No fim desse jogo ficariam a saber se iriam jogar, ou não, à Suiça e à Áustria para o ano que vem. Isso sim é importante. Não o hino, não o agitar de bandeirinhas e o estender dos mais absurdos acolchoados nas janelas por esse território fora. É por Portugal ter jogadores (e seleccionador, sobretudo) que não percebem isto que nunca ganhará nada que se aproveite. Mas, bem, vá lá, apuraram-se e desejo-lhes a maior sorte. Ou a segunda melhor sorte. Não, porra, a terceira melhor sorte, que eu não quero um Holanda-Portugal na final... Cruzes canhoto!
Eu gosto de Hugo Chávez. Gosto de tipos que despertam ódios e rancores como aqueles a que tenho assistido recentemente. Um tipo que chateia àquele ponto o Rei de Espanha (que não passa de um idiota, convenhamos) só pode ter piada. E poder. E tomates. Aliás, toparam o tamanho dos mesmos durante a conversa com o Primeiro-Ministro Sócrates, hoje à tarde, em São Bento? Aquilo sim, eram uns tomates e tanto! Aquela visão era mesmo perturbante... Que se lixe o Bourbon, viva Chávez! E, sim, ele tem razão quando diz que o Rei não está habituado a muita coisa...
Diz-se que quando alguém cai, levanta-se. Nem mais. Mas como é quando um tipo cai de pé? A queda está lá, o aparato também, mas o estatelanço não. As marcas não ficam visíveis. Ao não haver mazelas não há fecho. Closure. E nessa sensação de incompletude, desse momento traumático, e daí em frente, abre-se um caminho que o medo não hesita em percorrer. Durante dois meses andei a percorrer esse caminho tortuoso. Hoje penso que saltei fora dele. Aprendi que tenho de confiar mais. Na vida, nas quedas, nos mestres. Domingo passado já tinha dado um passito. Pois nessa manhã não cavalguei, voei. Deixei-me ir. Agora resta saber se continuo neste caminho nos próximos dois meses...
Apesar de termos a melhor defesa de todas na fase de apuramento (apenas 3 golos sofridos; é obra!), o ataque, embora recheado de grandes jogadores, não dá tranquilidade e promete mesmo muito pouco, de tão desinspirado que anda. Também é verdade que este miúdos têm a difícil missão de fazer esquecer uma das melhores selecções que a Holanda teve nos últimos tempos (os rapazes de 1998 e 2000), e que só em 2004 entrou ao serviço Marco van Basten, mas também é verdade que ainda faltam muitos meses para se prepararem como deve ser. Para mim, a tantos meses de distância, arrisco-me a vaticinar que o Euro 2008 ainda vai ser o Euro de van Persie, Huntelaar e van der Vaart. A ver vamos.
De vez em quando estas coisas impõem-se, é uma questão de pura etiqueta. Mas sentida, entenda-se. Fica, pois, aqui registado o meu agradecimento (pela "linkagem" do Anauel no seus blogrolls) ao Mário Moura (The Ressabiator), ao José Bártolo (Reactor) e ao Tiago Ribeiro (Mil e Tal Filmes para ver antes que apanhe a Peste).
E já agora um abraço à Menina Limão pelo belo texto de ontem sobre o confronto com a estupidez...
Há uns dias atrás falei aqui do último filme de José Padilha, Tropa de Elite. No entretanto reparei que vários blogs por esse mundo fora também andam a falar dele, quase sempre favoravelmente e não raras vezes apaixonadamente. Pois hoje apetece-me acrescentar à discussão o notável documentário Notícias de uma Guerra Particular (1999), de Kátia Lund e João Moreira Salles. Vejam este documentário! Trata-se verdadeiramente do começo de Tropa de Elite, foi aqui, com este documentário, que tudo começou. E há 8/10 anos atrás! Se quando falei de Tropa de Elite mencionei o papel importante que o livro de Luíz Eduardo Soares tinha tido no processo, tenho agora de mencionar que este documentário em muito abre caminho para Tropa de Elite. O termo "Guerra Particular" nasce aqui. O BOPE já tinha 17 anos de existência por altura deste documentário, 20 anos hoje, no tempo de Tropa de Elite.Nada de novo, portanto. Os campos de treino dos homens de preto estão aqui. A questão do armamento também. Como é subir, interrogar, torturar e matar traficantes, está tudo aqui. Tropa de Elite não inventou nada. Apenas massificou, depois de ter embelezado um pouco. Tudo bem, Tropa de Elite é filme. Mas Notícias de uma Guerra Particular é documentário e, ao longo de pouco menos que uma hora, aborda as 3 vertentes desta problemática que é o tráfico (e a violência) carioca, isto é, a Polícia, o Marginal e o Trabalhador (o habitante da favela). Sempre recorrendo à entrevista e à filmagem presente, ali, em cima, ao lado, sem medos nem merdas, temos os testemunhos de alguns destes intervenientes. O documentário dá-nos a conhecer, pela primeira vez, o capitão Rodrigo Pimentel (o hoje tão badalado capitão Nascimento de Tropa de Elite), o escritor Paulo Lins (o homem por detrás da escrita de Cidade de Deus e Cidade dos Homens), o bandido Carlos Gregório (fundador do Comando Vermelho), o génio?, louco?, sensato? Hélio Luz (chefe da Polícia Civil do RJ à altura) e tantos outros, políticos de renome ou anónimos favelados. A edição que tenho comigo é da Videofilmes e é notável. Os extras são do melhor. Temos acesso às entrevistas (que deram origem ao documentário) na íntegra e ainda temos direito a um pequeno, mas muito interessante, documentário de Eduardo Coutinho – Santa Marta: duas semanas no morro (1987) – rodado 12 anos antes. De Coutinho a Padilha, passando por Lund e Moreira Salles, temos assim um retrato avassalador do que é uma parte da vida de um morro (e dos seus problemas) no Rio de Janeiro. Em suma, Notícias de uma Guerra Particular nada é mais do que um Tropa de Elite sem efeitos especiais, ou seja, é, está ali, exposto, cru e cruel. Aconselhável, fervorosamente!
O capitão Pimentel (não é incrível a semelhança física deste com o actor Wagner?!) no BOPE, Morro da Mineira ao fundo, enquanto alcunha para sempre a expressão "Guerra Particular".
Hoje de manhãzinha, sentado num banco lateral do 28 (pois, sempre o 28...), quietinho a ouvir os Isis, cruzo o olhar com uma senhora já entradota, de pé mesmo à minha frente, que se preparava para descer. E topo que, imediatamente, verifica se as correntes de ouro ainda lhe pesam no pulso e que aconchega pateticamente a mala que leva ao ombro. Aquela mulher tomou-me por um bandido! Hoje foi bandido por segundos, na mente daquela mulher. Não sei se já vos aconteceu tal episódio. Mas uma coisa é certa, é um pouco assustador. Isto porque não foi desagradável de todo... Primeiro, o sorriso perante tal patetice, depois, a constatação de que this is a fucked up world (sim, um mundo em que EU posso ser tomado por bandido só pode estar muito doente) e, finalmente, a sensação de que num mundo sequestrado pelo medo mais vale estar do outro lado. Se eu pudesse roubava aquela mulher, mas não lhe levava o ouro, levava-lhe o pavor, pagava-lhe uma meia de leite e um caracol e dava-lhe a mão. Mas não o fiz, sou... um bandido.
E como hoje é o dia em que faz 100 anos que morreu Konrad Maria, e como a morte de Konrad Maria está definitivamente ligada à vida de Claus Phillip, aqui fica registada a memória de Konrad.
Há 100 anos atrás, em Jettingen (perto de Günzburg), Alemanha, ao oitavo mês da sua gravidez, Caroline Stauffenberg deu à luz os gémeos Claus Phillip e Konrad Maria. Um dia depois Konrad faleceu. Trinta e sete anos depois foi a vez de Claus.
Tivesse a bomba tido efeito, e houvesse saudinha, e hoje Claus faria 100 anos! Parabéns, pois, a Claus Phillip Maria Schenk Graf von Stauffenberg! Esteja ele onde estiver, nunca as suas acções serão esquecidas.
Claus Stauffenberg junto ao seu grande amigo e compagnon de route (literalmente) Mertz von Quirnheim. Esta fotografia é uma delícia e este sorriso deslumbra-me. Ach!
Aproveito ainda para promover o blogEs Lebe Unser Geheimes Deutschland que, umas vezes parado outras andando, lá vou mantendo sempre com carinho e dedicação. Este blog está em permanente construção e quem quiser participar é sempre bem-vindo.
Norman Mailer 31 de Janeiro, 1923 – 10 de Novembro, 2007
Nunca é tarde para se falar dos mortos... Três dias depois aqui fica o meu último adeus a esse grande senhor das letras norte-americanas. Dele apenas li o Harlot's Ghost (1991) e tenho ali, bem à minha vista, em lista de espera, o The Castle in the Forest (2006). Mesmo na literatura os meus gostos pessoais (a CIA num caso, Hitler no outro) ditam hábitos e costumes... deixando a leitura da literatura pela literatura sempre em maus lençois. Mas lembro-me com carinho dele e das suas tiradas num óptimo documentário, que eu juraria ser de Richard Copans (mas que o IMDB insiste em não lhe atribuir...), sobre os malefícios do plástico (em especial dos tupperwares) na nossa sociedade e nas nossas relações pessoais, isto tudo com o oceano e a neblina de Cape Cod em pano de fundo. Mailer é especial também por ter um dia despoletado em mim a ideia de que também eu poderia escrever, ser escritor. A vida encarregou-se de o desmentir, mas um escritor que opera tal ideia em alguém tem de ser especial... para esse alguém. Por isso mesmo RIP Norman Mailer.
Hoje foi (está a ser) um Domingo GLORIOSO! Após almoçar um cozido à portuguesa, paredes meias com a equipa do SLB, tive a oportunidade de apertar a mão ao Camacho, ao mister!, e de lhe pedir um autógrafo para a minha filhota (isto depois de já ter falado e pedido um outro autógrafo ao grande 7 do Glorioso, o Cardozo), tendo ainda tempo de receber um sorriso ternurento do Chalana (seguido de mais um autógrafo para a miúda...). Desejei-lhes a todos um bom jogo e fui para casa digerir o cozido... Agora que chego a casa após o jogo, o cozido já desfeito mas com a barrigada de golos ainda a fazer efeito, reparo que o SCP caiu na pedreira bracarense (não que exulte com a derrota alheia mas deixam de estar a soprar-nos na nuca, o que é sempre bom...). Quanto ao FCP, bem, é esperar mais 45 minutos para ver se me deito feliz, mesmo feliz, da vida. Mas o que aqui interessa mesmo é salientar o trabalho de Cardozo, Nuno Gomes, Rui "Maestro" Costa, Leo, "Angelito" Di María e o grande, cada vez melhor, de jogo para jogo cada vez mais total e confiável, um prazer de ver jogar, Cristian "o Cebola" Rodríguez! Grande jogo fez este tipo! Estiveram todos bem (bem, todos os 10 porque o Luís "ai, ai" Filipe, esse, é o que já todos sabemos...) e a vitória foi mais do que justa e conseguida. Pr'a semana há mais!
Hoje de manhã fiquei a saber, pela TSF, que ontem a Mariza perdeu o Grammy Latino para os colombianos Los Gaiteros de San Jacinto. Ok, acontece. Mas também fiquei a saber que ao mesmo tempo que decorria a cerimónia dos Grammies, a mesma Mariza dava um concerto no Pavilhão Atlântico e que, no final, e isto ouvi também na TSF, disse algo deste género: «O prémio foi para a Colômbia» [alguns assobios misturados com palmas ecoam na sala] seguido de um «Ainda bem que não fui e escolhi ficar aqui entre os meus...» [e aqui o público delira, entusiasta]. O desapontamento, a inveja, o desprezo que enformavam aquelas palavras de Mariza eram tão nítidos que até à minha cozinha chegaram, pela rádio e já com umas longas horas pelo meio... Mais deprimente e loserófono não há. A reportagem ainda referia qualquer coisa a ver com a humildade de Mariza. Pois a mim, cheira-me mais a humidade, que é como quem diz a mofo. O mesmo mofo que há muitos anos insiste em perdurar. Isto não tem emenda...
Curioso também o facto de no site de Mariza encontrarmos referenciado que «pela primeira vez uma artista portuguesa é nomeada para os prémios considerados distinção maior na área da música. A Latin Academy of Recording Arts & Sciences apresentou a lista de nomeados para a 8ª edição dos Latin Grammy awards, entre os quais se encontra “Concerto em Lisboa” de Mariza, a artista portuguesa está nomeada na categoria de álbuns tradicionais (melhor disco folk). Entre os nomeados deste ano encontram-se Beyoncé, Manu Chao, Chick Corea, Arturo Sandoval, Caetano Veloso e Shakira». Wow! Ganda'Mariza, ali, a disputar prémios com a Beyoncé, e os Caetanos da vida... Mas, se nos dermos ao trabalho (e eu dei-me) ficamos, então, a saber que os seus contendores eram, na realidade, na Categoria 30, os Los Gaiteros De San Jacinto, os Los Muñequitos De Matanzas e os Sones De México Ensemble... Ah fadista!, perdão, santa cagança!
Ontem, em contextos bem diferentes, proferidas por pessoas bem distintas, ouvi as seguintes tiradas: «eu sofro tanto como aquele que mais sofre» e «de pobre não saio, a rico não chego».
Como sempre o Strange Maps trás-nos coisas interessantes. Como este mapa que (re)desenha o mundo tal como o conhecemos. Qual a ideia por detrás deste mapa? Cada país, um quadrado preto. Cada país, a mesma área. Com um planeta assim desenhado, duvido que houvesse alguma guerra no Iraque neste preciso momento...
No século dos transportes, em plena euforia das telecomunicações, numa era globalizada (dizem...), com as tecnologias todas e mais algumas, experimentem só comprar um bilhete de comboio, ida e volta, para o trajecto Lisboa-Valladolid. Vá, experimentem! Grrrr...
Mas eu não desisto Keila, amanhã vou lá e detono aquilo tudo...
Lendo apontamentos da antropóloga aqui de casa dei-me conta de um conceito extremamente interessante. Mesmo que só o tenha lido de leve, de raspão, mesmo que não saiba bem do que se tratará, mesmo não tendo lido a fonte de onde ele se escapuliu, acontece que fiquei a pensar na ideia, na imagem, no som, na respiração destas palavras — "pensamento mestiço". O homem (e será que estou outra vez a matutar na Humanidade...?) criou ao longo dos tempos o corpo mestiço (mulatos, cafuzos, mamelucos, and so on), a língua mestiça (crioulos vários e inúmeros slangs), a arte mestiça (e lembro-me da Europa dos anos 20 e do seu fascínio pelo Oriente) e outras mestiçagens, a outros níveis, certamente haverá. Mas e o pensamento mestiço? Haverá? Já o teremos alguma vez produzido? Assim, a frio, não me parece. E não só não me parece que exista como imediatamente me parece vital criá-lo. Já pensaram bem nas potencialidades de um verdadeiro pensamento mestiço? E em como o mundo como nós o conhecemos poderia tirar proveito da mestiçagem dos múltiplos pensamentos que neste mesmo mundo se criam, mais ou menos isolados, mais ou menos contagiados, mas nunca verdadeiramente miscigenados. A isto se chamaria cidadania, consciência universal, o lado bom da globalização? Não creio. Parece-me mais além. Onde não sei, mas quero estar cá para ver.
Isto a propósito do livro O Pensamento Mestiço do historiador Serge Gruzinski e do livro Hong Kong: Culture and the Politics of Disappearance do sociólogo Ackbar Abbas.
A propósito de mais uma daquelas polémicas sazonais que agitam os ares da blogosfera, não resisto, e deixo duas notinhas.
1. Cinema heterosexual?!?! Mas que merda é esta? Só há cinema!!!! Cinema heterosexual? Tenham juízo. Que haja malta que sente a necessidade, o desejo, o whatever, de criar uma definição como Cinema Gay, ou Cinema Lésbico, para posteriormente ter o argumento, a teoria e a iniciativa para organizar ciclos dedicados ao tema, até percebo e na boa. Isso já acontece há muito e com variados temas, como o Horror, o Musical, o Anime, e por aí fora (sim, sim, é exactamente a mesma coisa...). A questão é que isso não cria automaticamente um Cinema Heterosexual. Estávamos bem tramados! Respeitinho, que o Cinema merece-o.
2. O cartaz devia ser queimado e já! Como é possível fazer um cartaz tão horrendo, tão mal amanhado, tão miserável? Falo estritamente do ponto de vista gráfico, meus senhores (e senhoras). Quanto ao resto, é-me indiferente. E não, não vejo ali nenhuma citação cinéfila, como não vejo nenhuma imoralidade. Aliás, era impossível de tão ascoroso que é aquele cartaz.
Ah, pois, e o cartaz? Bem, o cartaz é tão feio, tão feio, tão feio, que se o quiserem ver terão de clicar aqui, que eu não o coloco no Anauel. Quanto à polémica propriamente dita podem passar pel'Os Tempos Que Correm e daí é só seguir caminho...
Ontem passei uma tarde muito agradável. Obrigado malta. É fascinante ver o outro lado das coisas. As tensões e as concordâncias inerentes à construção do processo criativo são isso mesmo. Fascinantes.
Mais uma vez nos últimos momentos (quase estertores...), mas deu. De 8 passamos a 6. Agora, já "só" temos de ganhar todos os jogos e, zátá, campeões novamente! [meu Deus, tamanha cagança é assustadora... mas fazer o quê?]
Ainda no rescaldo de Tropa de Elite, e sabendo como os cariocas são danados para a sacanagem, e sabendo que um dos pilares da Humanidade é o riso (quem tiver dúvidas veja o notável filme de Preston Sturges, Sullivan's Travels), não resisto e deixo aqui esta sacanagem ao Botafogo (e eu até que simpatizo com o Fogoooo...) inspirada no Tropa de Elite...
Ontem à noite, sessão dupla com José Padilha. Primeiro o Ônibus 174 (2002), seguido do recente Tropa de Elite (2007).
No Ônibus 174 (de que gostei muito) vi novamente a Humanidade. Há uns tempos atrás tinha aqui falado da Humanidade e de como ela me parecia estar tão presente nas ruas e nas mentes do Rio de Janeiro. [curioso como também foi essa a primeira palavra/noção que expressei aqui em 2007...] Pois ontem ao ver o documentário de Padilha sobre o famoso sequestro do ônibus 174, sobre Sandro Barbosa do Nascimento e as suas reféns, eu vi novamente essa Humanidade de que tenho vindo a falar. A Humanidade que permite que Sandro chegue a ser abraçado, quase confortado, por algumas das reféns, que lhe chegam mesmo a dar uma medalha protectora; que faz com que elas joguem o jogo por ele proposto (um jogo, de tal ordem bizarro, em que até uma delas tem de fingir morta...); em que uma delas (pelo menos uma delas) sabe que hoje, passada a tormenta, até lhe perdoa o feito. Mas também a Humanidade que, ansiosa, esperou o momento do desfecho para poder linchar o Sandro mal houvesse oportunidade e, na falta dela, e como a Humanidade também está nos policiais, se mostrou em pleno no asfixiamento brutal (mortal) a que Sandro foi sujeito dentro do carro da polícia por agentes totalmente embrutecidos. É um documentário de imagens fortes mas sobretudo de ideias fortes. Padilha não se limitou a explorar as emoções mais básicas de uma história de terror urbano, indo, pelo contrário, e na melhor tradição do documentário, procurar as histórias por detrás da história. E deste modo temos acesso a fragmentos da vida passada e desconhecida de Sandro, desde os traumas de infância (e, sim, ver a mãe a ser esfaqueada por três tipos pode muito bem dar cabo de uma criança...) aos traumas de adolescência (se poucos minutos daquela prisão me enojaram, imagino o que não farão várias semanas...), passando pelo ponto alto que foi na vida dele o "Massacre da Candelária" (da qual foi vítima, ilesa, mas vítima...). Fio a fio, o novelo (ou a novela?) vai tomando forma até que se embrulha descontroladamente naquela tarde de Junho de 2000. Sandro não sabe o que fazer, as reféns não sabem o que fazer, a polícia não sabe o que fazer, as autoridades não sabem o que fazer. O caos instala-se, a lucidez de raciocínio turva-se (e porque não deixá-lo pirar-se dali, pura e simplesmente...?) e uma situação que pareceia banal (uma das miúdas chega a telefonar para o cursinho a avisar que vai chegar atrasada...) torna-se uma prova para a Humanidade. Prova que, a meu ver, acabou empatada. Humanidade 1 – Barbaridade 1. O desempate pode estar nas vossas mãos. Vejam Ônibus 174 assim que puderem!
Já o Tropa de Elite é diferente. Primeiro, é cinema, não é documentário. Segundo, centra-se no policial, não no marginal (este termo não meu, é da sociedade brasileira...). Terceiro, a Humanidade já não está tão presente, porque Tropa de Elite pretende lançar questões profundas e fomentar (ou será formatar?) o debate na sociedade brasileira (e tal dinâmica não diz respeito à Humanidade...). Tropa de Elite nasce em grande parte na sequência do livro Elite da Tropa de Luiz Eduardo Soares, antropólogo e durante um período Secretário Nacional de Segurança Pública. Ambos se centram no dia-a-dia dos elementos do BOPE (Batalhão de Operações Especiais), o batalhão da caveira, os homens de negro, os responsáveis pelo "caveirão". O lado incorruptível (será?) das forças de policiamento, mas o lado violento, violentíssimo, da acção policial. O filme mostra-nos como se preparam, e para que fins se preparam, estes soldados da cidade maravilhosa. Soldados, porque é de uma guerra que se trata, dizem-nos. Este é o primeiro desafio social que o filme propõe. De dia para dia este termo – guerra – está cada vez mais presente no discurso em volta do tráfico e da violência. Mas não será isto um profundo erro? Olhando para o BOPE e para as suas acções e métodos, a resposta é evidente. Lamentavelmente, não o é para todos. Outro desafio que o filme lança é o do papel das classes médias e altas cariocas neste cenário. A proposiçao é esta: por cada baseado que um "mauricinho" fuma (ou trafica na sua faculdade) há um garoto que morre na favela. Será assim? A mim parece-me que sim, que em locais como o Rio de Janeiro fumar (ou não) maconha, cheirar (ou não) coca, acarreta uma forte responsabilidade social. Por muito que me doa estar de acordo com a maioria dos membros do BOPE (que, como se vê no filme, têm um profundo desprezo pelos "playboys" e pelas suas práticas ilícitas) parece-me que um charro no Rio não é o mesmo que um charro em Lisboa. Estes desafios, estes debates, são intensos e interessantíssimos. Basta pesquisar no YouTube filmes sobre a violência policial no Rio de Janeiro e assistir às batalhas de comentários que acompanham cada filme para se perceber que o tema é tudo menos pacífico. Se não é pacífico, será, então, a guerra...?
A cópia que eu vi parece-me que não é a final. A que eu vi foi comprada num camelô bem no centro do Rio de Janeiro, ainda o filme estava a ser montado (a gigantesca máquina de pirataria deste filme gerou outro vasto e interessante debate). Mas gostava ainda de ver a versão final. Gostava de saber se o agente Matias acaba ou não com o traficante e, caso o faça, de que maneira o faz. Parece-me importante sabê-lo. Assim como o vi, ontem, na cópia do camelô, não me agradou, mas, diga-se, neste assunto nada é lá muito agradável... Mas o filme, esse, é de ver. Bem filmado, uma boa fotografia e uma óptima preparação de actores (que vim a saber ser da autoria de Maria Fatima Toledo, que já trabalhara com os miúdos da Cidade de Deus e com os graúdos da Cidade Baixa). A ver, decididamente. E como dizia Mónica Marques no seu blog, «e você, está preparado para amar um capitão do BOPE?». [embora, pensando bem, me interrogue sobre o que quereria ela dizer com isto...]
E aqui deixo também a ida de José Padilha ao programa de Jô Soares.
Porra, mais porra, não fazia ideia de que ainda existiam bandas assim (e porque não haveriam de existir?), que este som ainda mexia, que esta energia toda ainda se conseguia materializar nos dias de hoje. Esta semana só tenho ouvido estes tipos, de trás para a frente, da frente para trás. Cinco tipos oriundos de Marshalltown, Iowa, a tocarem que nem uns doidos um som na senda do melhor hardcore possível. Um hardcore que já vem com algumas décadas em cima do movimento original, o que só melhora a perspectiva da coisa. Oiço estes tipos e só me vêm à cabeça os meus idos de 80 e os arranhanços dos Cryptic Slaughter, DRI, Minor Threat, Agnostic Front, COC, Dead Kennedys e tantos outros. Mas Modern Life Is War é tudo isto e tudo o mais que entretanto se passou. Não podiam ser mais actuais, portanto. A energia é que é, atrevo-me a dizê-lo, a mesma. Como se pode comprovar pelas amostras aqui em baixo.
Mas não se iludam pelo som manhoso dos vídeos, estes tipos em disco têm um som imaculado, com um power que poucos conseguem. Para quando Modern Life Is War em Portugal? E a acontecer será que eu ainda teria coragem para um concerto destes gajos? À Maria Filomena Mónica sei que faria bem, para ver se se enquadrava um pouco mais com o mundo actual...
Ah, e o meu obrigado ao Crestfall do Amplificasom pela descoberta.
«Há 30 anos, quando os meus filhos entraram para o ciclo preparatório (actuais 5.º e 6.º anos), numa escola pública (a Manuel da Maia), ao lado da Casal Ventoso, quase todos os alunos pertenciam à burguesia. O ambiente que ali se respirava reflectia a cultura que as crianças traziam de casa: mesmo quando não livresco, o ethos era hierárquico.» Maria Filomena Mónica (Público, 01-10-2007)
Das duas uma, ou não foi há 30 anos (mas também não imagino quando terá sido), ou as drogas do Casal Ventoso na altura eram bem melhores do que as de hoje, para MFM não ter percebido a dimensão do buraco onde os seus filhos caíram. Eu conheço muito boa gente que ao ler isto só se pode rir...