Lendo apontamentos da antropóloga aqui de casa dei-me conta de um conceito extremamente interessante. Mesmo que só o tenha lido de leve, de raspão, mesmo que não saiba bem do que se tratará, mesmo não tendo lido a fonte de onde ele se escapuliu, acontece que fiquei a pensar na ideia, na imagem, no som, na respiração destas palavras — "pensamento mestiço". O homem (e será que estou outra vez a matutar na Humanidade...?) criou ao longo dos tempos o corpo mestiço (mulatos, cafuzos, mamelucos, and so on), a língua mestiça (crioulos vários e inúmeros slangs), a arte mestiça (e lembro-me da Europa dos anos 20 e do seu fascínio pelo Oriente) e outras mestiçagens, a outros níveis, certamente haverá. Mas e o pensamento mestiço? Haverá? Já o teremos alguma vez produzido? Assim, a frio, não me parece. E não só não me parece que exista como imediatamente me parece vital criá-lo. Já pensaram bem nas potencialidades de um verdadeiro pensamento mestiço? E em como o mundo como nós o conhecemos poderia tirar proveito da mestiçagem dos múltiplos pensamentos que neste mesmo mundo se criam, mais ou menos isolados, mais ou menos contagiados, mas nunca verdadeiramente miscigenados. A isto se chamaria cidadania, consciência universal, o lado bom da globalização? Não creio. Parece-me mais além. Onde não sei, mas quero estar cá para ver.
Isto a propósito do livro O Pensamento Mestiço do historiador Serge Gruzinski e do livro Hong Kong: Culture and the Politics of Disappearance do sociólogo Ackbar Abbas.
Há 10 anos
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