quarta-feira, julho 09, 2008

Rwanda

Por outro lado, há desgraças, momentos tumultuosos, períodos negros, ondas assassinas, mantos genocídicos, batalhas demoníacas, guerras de espírito, contendas humano-animalescas que não param de nos {me} fascinar. Momentos da História que quanto mais se sabe sobre eles, que quanto mais se escava e investiga, quanto mais se exploram, mais fascinantes e empolgantes e viscerais se tornam. No topo, naturalmente, encontra-se a II Guerra Mundial em todo o seu esplendor. É o momento-climax perpétuo. Não se extinguirá nunca, creio. A I Grande Guerra não lhe escapa {e é um desejo de há muito, ir por essa trincheira adentro; houvesse mais tempo e cabeça...}, antecedeu a campeã da mortandade selvagem e está recheada de "grandes" momentos, de enormes devaneios. A Guerra do Vietnam, por outro lado, acredito que pode muito bem habilitar-se ao terceiro posto, ter lugar no pódio. Não a domino, não desperta em mim desejos prementes, mas não hesito na classificação de "grande" momento barbárico da História recente. E depois vem o Rwanda. Concedo que este evento possa classificar-se ex aequo com os tumultos balcânicos do final do século passado, mas é ele que interessa aqui. O Rwanda {e não o consigo escrever com u; não dá...} é um episódio, um acontecimento, daqueles que obriga um tipo a parar com o que quer que seja que esteja a fazer. Quando aparece um documentário, uma reportagem, seja lá qual for, num zapping inofensivo, pás, parou tudo. Quando viro a página e caio num artigo com mais algo a acrescentar a esse trágico acontecimento, zás, é para ler até ao fim. É de uma dimensão avassaladora esse momento da História recente. Desafia todos os sentidos, toda a lógica, toda a pretensão de uma moral, de uma justificação — a morte de 1 milhão de pessoas em menos de 100 dias é algo de demoníaco – e, ao mesmo tempo, e isso sim é perturbador à quintessência, tão simples, tão corriqueiro, tão problema doméstico, tão "cá se fazem, cá se pagam" ou mesmo "quem vai à guerra, dá e leva". O Genocídio do Rwanda não é fácil. O lado negro do homem nunca é fácil.

Isto a propósito de um artigo muito interessante que li a semana passada numa Prospect do início deste ano. "The Perfect Crime?", assim se chamava o artigo de uma senhora também ela muito curiosa e interessante, Linda Melvern. Houvesse tempo, cabeça e estômago e este livro seria encomendado e lido aqui por estas bandas. Eu, que tenho o Hitler's Willing Executioners parado à espera de melhores dias {leia-se estômago e sentidos de ferro}, não sei sinceramente como encararia este...

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