quinta-feira, julho 07, 2011

É lixado!

Mas afinal o que nos custa assim tanto? Ouvir a Moody's, a Fitch e a Standard & Poor's chamar-nos de lixo? Ou sabermos, lá no fundo, que as ditas agências até têm razão e que não passamos de lixo? Infelizmente, uma vez mais, trata-se da primeira. É a indignaçãozinha do costume. Fosse a segunda e talvez pudéssemos um dia deixar de o ser. Mas, como sempre, a solução mais fácil, mais imediata, tão imediata que é já natural, é a do ofendido, a do pequeno injustiçado, e nunca a daquele que aproveita o golpe para se recolocar em posição. Ainda ontem lia na caixa dos comentários de um qualquer post recheado de indignação a seguinte invectiva: «Eles nem sabem com que povo se meteram!». Sabem, sabem, caro compatriota desiludido. E por isso mesmo saiu aquela nota. Ou pensa que eles lá nas agências não sabem que por cá os futuros magistrados da nação copiam nos exames? Sabem, sabem, pequeno guerreiro luso {sem poção mágica, felizmente...}. Ou pensa que eles lá nas agências não sabem que isto é um país de merceeiros, lápis atrás da orelha, discurso eternamente saudosista e um porradão de favorzinhos a mover a economia? Pois. Tivéssemos a coragem de olhar para os nossos defeitos, de encarar os nossos medos, os nossos vícios e as nossas deficiências e muito provavelmente não estaríamos nesta situação. Mas não. A indignação grassa. Logo, afasta-nos do problema, melhor, retira-nos, desresponsabilizando-nos, do problema. O problema já não somos nós, mas sim o insulto, a ousadia da agressão. A indignação está infinitamente mais bem cotada do que a vergonha em terras lusas. Não interessa saber se há um mínimo de justificação nisto tudo {quem de perfeito juízo emprestaria dinheiro a Portugal sem garantias atrás de garantias?!}; há, pelo contrário, que encontrar rapidamente o objecto da nossa revolta, da nossa indignação. É sempre a mesma história, há sempre um responsável, nunca nós, sempre alguém; já foi o Platini, já foram os finlandeses, os holandeses, a Merckel... Há uns meses atrás foi fácil, eram já seis anos seguidos de Sócrates, o nazi, o monstro, o drácula, o arrogante, e foi correr com ele {graças a Deus existem as eleições...}. Agora, são as agências, os especuladores, os capitalistas selvagens, os tais meninos depilados a laser que têm de pagar a coca que consomem nas festas. Mas quem vai correr com as agências? Pois, também me parece. Aqui não há eleições que nos valham. Aliás, para piorar ainda mais a nossa situação de indignado aldrabão, nunca antes nos passou pela cabeça desejá-las. Nunca antes as agências foram um problema, pois não? É que enquanto nos avaliavam bem {na realidade, mal} tudo estava bem {na realidade, mal}. Agora que nos avaliam {finalmente} bem, tudo está mal {pensamos nós}... É lixado!

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