Esta fotografia da minha filha mais nova, tinha ela uns 5 meses, anda, desde então, a perseguir-me. Saltou quase imediatamente para o
desktop do PC cá de casa e diariamente a vejo ali, redondinha, uma lua-cheia amorosa, mas sempre recortada, como a vemos aqui. No dito
desktop eu olho para a fotografia completa, com fundo, com sofá, com áreas desfocadas, mas o que me fica ali a tinir na retina do mental é este recorte, este balão misterioso, sempre esta vinheta. E sempre a sensação de que algo de muito íntimo se espelha nesta fotografia tão recente, tão inexperiente. Como se nos conhecessemos há já muito tempo. Esta carinha redonda tem despertado em mim sensações de memórias, mas de memórias que não se dão a mostrar, que não se revelam. É estranho ter emoções mexidas por memórias que não se identificam. Um bom estranho.
Pois hoje de madrugada {creio mesmo que foi naquela fase de passagem do a dormir para o acordado, numa espécie de lusco-fusco revertido entre o consciente, o inconsciente e o subconsciente}, pois hoje, uns meses passados desta constante relação diária, desta persistência, dei-me conta da ligação. A similitude deu-se a mostrar.
A Máscara Misteriosa que marcou indelevelmente a minha infância está estampada {pelo menos para mim, que a mãe dela apenas encolheu os ombros...} na carinha marota da Júlia. Não se trata apenas de um álbum do Spirou. Trata-se "do" álbum do Spirou. A intriga, o medo, o delírio, Tati muito antes de Tati, o frenesim, o mal, os tempos e luzes e matizes e cheiros do dia e da noite, o "outro", o desespero, a febre e, finalmente, o clímax que esta aventura de Spirou e Fantásio derramava ocuparam de novo as minhas horas. E tudo graças à similitude. Por isso existia uma estranheza instalada. Agora que os motivos da estranheza estão identificados, resta-me explorar os motivos dos motivos. Que me quer ainda esta carinha laroca {marota?} mostrar, dizer, sussurrar? A ver em próximos capítulos...