Os jogos de futebol são um pouco como os filmes... devem ser vistos e revistos, várias vezes. A meu ver um jogo de futebol não se esgota no momento em que ocorre. Aliás, um jogo de futebol nunca é apenas e somente um jogo de futebol... Num jogo de futebol podem ver-se comportamentos humanos, dinâmicas de grupo, "fezadas" grupais, auto-imagens de sucesso, desejos inconcialiáveis, momentos únicos das histórias dos povos. Até a nós próprios nos podemos ver ali reflectidos... Por isso, quando possível, devemos rever os grandes jogos da nossa vida.
Ontem à noite revi grande parte do recente Holanda-Rússia, no Eurosport. A primeira conclusão foi a de que a Holanda não jogou assim tão mal como eu imaginava {e porque imaginava eu tal coisa, veremos já a seguir...}. Por um lado, isto abona um pouco mais a favor dos russos, pois afinal não bateram em ceguinhos...; por outro, comprova que foi a total falta de eficácia holandesa no último toque, no remate, no desvio para a rede, a par do que já aqui mencionei, os dois motivos fortes para o desaire. A Holanda massacrou mesmo em certos momentos. Mas não foi feliz. E contudo quem me lê neste momento, e viu o jogo então, não reconhece nada disto... Porque, e aqui entra a segunda conclusão {e a explicação para o recurso à imaginação ser tão frequente...}, a maior parte das pessoas vê os jogos com os ouvidos. Estamos em frente ao televisor, vemos os tipos a esfalfarem-se no relvado, mas onde estamos mesmo concentrados é nos comentários, nas observações, nas resenhas do que é suposto estarmos a ver... Bizarro, não é? Mas é verdade. E se ao vermos um jogo estivermos em grupo, cervejas à mistura, confusão geral, ainda menos objectivos somos e ainda mais destes paliativos nos socorremos. Porque eu, ontem, ao ver o jogo na Eurosport vi outro jogo, e em muito, apercebi-me, devido aos novos comentadores e respectivos comentários. No sábado passado eram os tipos da TVI, agora eram os da Eurosport. Aqueles tipos do Eurosport {e nem está em questão a qualidade de uns e de outros; embora estes sejam muito melhores...} tornaram possível outra leitura do jogo. Mas a grande questão é porque terão estes tipos, os comentadores, tamanha interferência, importância, na nossa percepção do jogo? Porque não conseguimos neutralizá-los? Como fazê-lo? E na impossibilidade de os neutralizar como fazer de modo a escolhê-los? Pagava para saber...
Porque no sábado a Rússia era um portento, uma pérola do futebol europeu, uma potência que só na final pararia. Ontem ao rever o jogo já não foi nada disso que vi. Vi antes uma cambada bem organizada, fisicamente dura e apostada única e exclusivamente no contra-ataque. E hoje, o que se viu? Bom, isso e uns três golos sem resposta...
E agora, que já não há Turquia nem Rússia? E, sobretudo, que já só há Alemanha {valha-nos Deus, diz o Sr. Manel} e Espanha {cruzes canhoto, devolve a Dona Emília}. Como ficam, com quem ficam, as apetências, as fabulações, os devaneios dos portugueses? Acabou-se, não é? Que comecem, então, os fogos florestais.
Há 10 anos
1 comentário:
ok, ningu'em quer que os alemães ganhem, mas caramba, eles marcaram golos lindos!
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