quarta-feira, junho 04, 2008

As minhas selecções, parte 2

{parte 1}

Isto tinha de parar, pensei. Urgia abraçar uma selecção que me desse garantias... lol. E, naturalmente, surgiu a França. E que França! Era a França de Platini, de Giresse {lindo!}, de Amoros, de Batt, de Tigana {o que eu gostava dele!}, Fernández, Tresor, Battiston e Six. E era a França que eu começava a descobrir, a França que eu visitara no ano anterior, naquela que foi a minha primeira saída a sério, ao exterior. Eu e o meu pai, uma semana em Paris, oh lá lá, la belle vie! A França da Paris que ainda vibrava no meu coração. A França do Francês que aprendia então, na escola, com o maior dos prazeres. E, sei-o hoje, sentia-o então, é por razões destas que eu escolho torcer por um país, e pela sua selecção. Foi isto que aprendi então. Eram as letras, as telas, os sons, o Sena, os jardins, a carte orange e a orangina de pamplemousse que eu via naqueles calções brancos espreitando timidamente entre as camisas azuis e as meias vermelhas! E só assim faz sentido, para mim, desde então. E também aqui o desenho, a estética, a marca, jogaram forte. Não o esqueçamos, a França também era o Le Coq Sportif! Quem é da minha geração sabe bem a importância destas palavras. Muito desenhei também aquele galo... e quantos ténis daquela marca {particularmente o modelo Arthur Ashe} esfrangalhei.
Eu já tinha dado pela França quando ainda andava abazurdido com o escrete de 1982. E como esquecê-los? Sobretudo depois daquela entrada brutal de Schumacher sobre Battiston, naquela endiabrada meia-final em Sevilha, como poderia eu esquecê-los? E como não poderia eu "odiar" para sempre os alemães {sim, creio que é desde aí que não posso com eles... a atitude de Schumacher é absolutamente odiosa}, que agora se juntavam aos italianos. Eu já os conhecia, portanto, e agora, chegado 1984, e acabado o meu flirt fugaz com a Escócia, era o momento certo para a adopção dos bleus, logo agora, que lhes cabia a organização do Europeu de Futebol. Mas com esse namoro declarado, eis que veio a prova de fogo... Portugal frente a frente à França, nas meias-finais. Dommage! Lembro-me como se fosse ontem. Estádio Vélodrome, Marselha, 23 de Junho. Noite de São João {com fogueiras e tudo}. A casa da minha mãe estava pejada de gente, tudo em volta da televisão, uma barulheira dos diabos, todos menos um a torcer por Portugal... E Portugal tinha uma selecção do caraças, meio Benfica lá dentro! O jogo até começou bem {1-0 aos 24' por Domergue}, a França e Portugal faziam magia e a um quarto de hora do final Jordão empata o jogo e leva-o para prolongamento. Que começa praticamente com o 1-2 {novamente por Jordão} e que, durante um quarto de hora, me deixa totalmente exaurido {imaginem...} até novo empate {novamente por Domergue}. E a um minuto do fim, quando já toda a gente esperava pelas grandes penalidades, Platini {quem mais?} marca o golo da vitória! Aquela França era a maior. E foi-o novamente, mais tarde, na final frente à Espanha. E continuou-o a ser, para mim, no Mundial de 1986, no México. Saltillo e as suas macacadas passaram-me ao lado, era Platini e os bleus que eu queria. Tinha definitivamente {pensava eu} encontrado a minha selecção. E já nem a derrota que impuseram ao Brasil de Sócrates me incomodou... aquela série de penalties final é ainda hoje um mimo... Não, na França eu vingara a má sorte canarinha de 4 anos antes e, em simultâneo, encontrara uma equipa forte, bela, elegante e vencedora. Tinham ganho o Europeu dois anos antes e abalançavam-se para a conquista do Mundial {tinham equipa para isso}. Mas eis que surge no caminho, novamente na meia-final, a Alemanha... A França já tinha feito a proeza de eliminar a Itália e o Brasil e agora ainda lhe colocavam estes tipos {novamente} à frente? Ok, era fruta a mais, mas era possível. Mas não foi... Naquele jogo Platini percebeu que se tinha acabado o sonho {o Europeu de 88 e o Mundial de 90 já não contariam com a França}. A Alemanha seguiu para a final e lá teve o que merecia... A taça era da Argentina! Da preciosa Argentina e do maior jogador de sempre, Diego Maradona. Nunca uma selecção aliou tão bem a mestria da bola com a mestria da "ciganice"! Essa é igualmente uma importante descoberta para quem anda a aprender os misteriosos caminhos da bola... Ah, além de que eram a outra selecção que era vestida pela Le Coq Sportif...
Entretanto eu entrava a toda a brida nos meus 15 aninhos e as minhas paixões começavam a ser outras...

{continua}

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