Hoje fiz algo de insano, mas algo que se revelou insanamente agradável. Dois musicais de seguida, a família toda alinhada no sofá, lanchinho pelo meio, numa tarde inteira dedicada a essa estranha forma de cinema. Desde sempre que resisto, que patino, que sinto tremendas dificuldades em aceitar os musicais. Claro que os entendo, que os respeito, alguns há que admiro (sempre parcialmente, nunca na totalidade... é muita fruta, muito rodopio, muito pó-de-arroz), alguns há que gosto verdadeiramente (e vem-me à memória o notável One From the Heart), mas nunca me enchem verdadeiramente as medidas. No meio da imensa fauna que pulula no reino do musical surge sempre um nome incontornável, um dos potenciais reis da selva, o de Vincente Minnelli. Pois esse foi, para mim, desde sempre, um dos lados negros do universo do musical. Vincente Minnelli não é sequer o Darth Vader do trálálá, não, ele é o Imperador do catrapinpumpum! Desculpem-me os amantes do género e do espécime, mas é assim, não há volta a dar. Bom, mas eu hoje, imbuído na mais honesta iniciativa, decidi dar-lhe a derradeira chance (o 1.º filme da tarde foi o An American in Paris), que até iniciou auspiciosa e pacifica mas que rapidamente descambou no desânimo e no insucesso. A partir de hoje Minnelli está proscrito da minha nação filmíca! Acabou-se. Não há pachorra! Impossível criatura... O segundo filme da tarde (Easter Parade) já foi diferente. Em vez do canastrão Gene Kelly (nada me tira da ideia que o tipo dava um bom serial killer...) temos o genial e elegante Fred Astaire; em vez da desgraçada da Leslie Caron (também é verdade que no seu primeiro filme...) temos a dócil quanto ai-ai-à-beira-de-um-ataque-qualquer Judy Garland; e que em vez de Minnelli temos Charles Walters (para mim um estranho, mas sempre bem-vindo após um Minnelli...). Facto é que gramei o filme, tem momentos muito bons (o slow motion de um dos sapateados de Fred Astaire é muito interessante), proporciona boas gargalhadas ocasionalmente (isto é entretenimento ou não?), a família acabou a tarde feliz da vida e ainda tive ocasião de ouvir da boca da minha filhota algo como "é pá, isto é bem melhor do que o High School Musical!"... O que pode um tipo querer mais?
Este momento também é muito bom...
Há 10 anos
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