Em 1970 Nadine Trintignant (mulher do grande actor Jean-Louis Trintignant) perdeu a sua filha de 9 anos de idade, Pauline. Terrível fatalidade que, um ano depois, na companhia de Marcello Mastroianni e Catherine Deneuve, viu a sua sublimação sob a forma de um estranho (um bom estranho) filme – Ça n'arrive qu'aux autres. Numa pequena produção, com uma muito pequena equipa (7 pessoas) em que todos faziam de tudo, Nadine conta-nos a história de um casal que perde a sua filha de 1 ano e meio e consequente espiral de loucura, mágoa e salvação. Catherine Deneuve (grande amiga de Nadine e, por isso, presumivelmente sensível à situação, logo excelente no seu desempenho) é Catherine, Marcello Mastroianni é Marcello e só Pauline não é Pauline, mas sim Camille. O choque da notícia, a recusa da aceitação, a reclusão de ambos num apartamento parisiense e toda a explosão de sentimentos e dores várias são filmados por Nadine de uma maneira inteligente, muito doida (um bom doido) e experimental. Uma nota particular para a banda sonora (dum tal Michel Polnareff; verdadeiro cromo!) e seus loucos loops sonoros. Definitivamente a ver! Mais um bom filme de 1971.
Em 2003, decerto se lembram da história, Nadine Trintignant encontrava-se a filmar na Lituânia o seu último filme. Nele participava a sua filha, a actriz Marie Trintignant, que, na maior das tragédias, acabou brutalmente morta pelo seu namorado de então, o músico francês Bertrand Cantat. Nadine perdeu mais uma filha, aquela a quem tinha dedicado o filme de 1971 (e onde Marie tinha tido mesmo um pequeno papel). Cena macaca!
Há 10 anos
Sem comentários:
Enviar um comentário