Desta vez trata-se de um filme de Claude Chabrol, Juste Avant la Nuit. Notável filme que se integra perfeitamente no género que já nos deu filmes como Match Point (Woody Allen) ou L'Adversaire (Nicole Garcia), ou seja, filmes que lidam com a morte (geralmente na forma de assassínio) e a consequente manifestação da culpa. Sempre foram e serão filmes que me fascinam. Como se não bastasse tudo aquilo que leva um ser humano a tirar a vida a outro ser humano, filmes destes (como antes a literatura nos brindou com Crime e Castigo; a que o filme de Woody Allen notoriamente não escapa) proporcionam-nos posteriormente o espectáculo que sempre é a loucura infernal da culpa, trabalhando diariamente, nos mais pequenos recantos da alma (da consciência), levantando as dobras mais vincadas dos constragimentos sociais, envenenando, conspirando, destruindo fatalmente. A culpa, essa terrível companheira do ser humano. Os fantasmas e as alucinações (e aqui também lembro o genial L'Enfer, do mesmo Chabrol), as maquinações, o turbilhão em que a sanidade mental pode cair, sem poder escapar. A não-escapatória, o não-retorno. Existirá melhor tema, melhor guião, para um filme?
Claude Chabrol fala-nos aqui de Charles Masson (notável Michel Bouquet) que, após ter assassinado a sua amante (mulher do seu melhor amigo), vive dias de angústia e desespero. O modo como a culpa se vai insinuando e o desenrolar de toda a trama são do melhor. As voltas que a vida dá após uma morte naquelas condições são de arrepiar; a culpa, e o perdão, e a conivência, e sobretudo a reviravolta final, deixam-nos estupefactos neste belo filme de Chabrol. Mais um terrível filme de 1971! [Hã?!]
Charles Masson jogando Scrabble com a sua mulher após ter assassinado a sua amante...
Há 10 anos
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