quarta-feira, maio 23, 2007

Pó-de-arroz

«Após conquistar junto com Marcos Mendonça o campeonato de 1913, [Carlos Alberto] transferia-se com ele em 1914 para o Fluminense. No novo clube, ainda mais fidalgo que o primeiro, o próprio jogador parecia começar a incomodar-se com o tom da sua cútis. Xingado de "mulato pernóstico" por um torcedor mais exaltado em um jogo de 1914, ele decide tomar uma atitude. Tentando apresentar-se em campo de forma mais elegante, resolveu passar pó-de-arroz no rosto para esbranquiçar a tez morena. Derretendo em meio ao jogo, a maquiagem do atleta logo foi percebida pela torcida adversária, que aos gritos de "pó-de-arroz" dava origem a um dos símbolos que ainda hoje acompanham o clube das Laranjeiras. Mais do que uma excentricidade, o gesto de Carlos Alberto iluminava o preconceito ainda compartilhado pela maioria esmagadora dos sportmen ligados aos clubes elegantes em relação à presença negra e seus jogos.» Footballmania. Uma História Social do Futebol no Rio de Janeiro, 1902-1938, de Leonardo Affonso de Miranda Pereira.

Episódio delicioso este. O símbolo mencionado no excerto refere-se ao facto de a torcida do Fluminense ainda hoje ser conhecida por "pó-de-arroz", e de saudar a entrada da sua equipa em campo com o lançamento no ar de doses significativas de pó-de-arroz ou pó-de-talco. O meu amigo Ribas Soares que me desculpe, mas quase dá vontade de torcer pelo "pó-de-arroz"...

2 comentários:

Anónimo disse...

Carlos querido,
A história é certamente muito pitoresca e mais ainda a apropriação que dela faz a torcida tricolor. Mas existem histórias e histórias.
Um outro episódio dos primórdios do futebol carioca localiza com precisão o lugar de cada agremiação na memória dos que amam o futebol.
Em 1923, o Vasco da Gama, o clube desportivo da colônia portuguesa alcançou a primeira divisão do futebol carioca. Neste mesmo ano o Clube da Colina conquistou o seu primeiro campeonato, feito que repetiu no ano seguinte. Esse sucesso tão rápido deve ser creditado aos craques que formavam a equipe da cruz de malta, mas também deve ser observado um pequeno detalhe.
Flamengo, Botafogo e o time do pó-de-arroz não disputaram o campeonato. Times da elite carioca recusaram-se a jogar com o Vasco a quem acusaram de ser uma equipe de negros e mulatos. Defensores de uma política de segregação no futebol, a trinca não mediu esforços para evitar o crescimento do Vasco da Gama. Impossibilitados de legalmente proibir a participação do Vasco no Campeonato Carioca eles não interromperam seu combate racista e acusaram o Vasco de não ter um estádio próprio, o que levou os torcedores do Vasco ao esforço de construir o Estádio de São Januário, o maior da América Latina quando da sua construção.
Esse episódio ajuda a entender porque o Vasco deixou de ser apenas uma equipe apoiada por imigrantes portugueses e ganhou o caráter de clube de massa brasileiro. Afinal sua história está ligada aos Pelés, Didis, Romários,Garrinchas etc

anauel disse...

Bem sei, bem sei... Mas ainda vou em 1914, embora mal possa esperar por chegar a 1923... Mesmo sem saber dessas aventuras, sempre fui e serei Vasco. Não te preocupes, que, mal ou bem, um clube é para a vida... BENFICA em Portugal, e já agora... Barcelona em Espanha, Vasco no Brasil, Liverpool em Inglaterra, Juventus em Itália, Ajax na Holanda e Boca na Argentina.