Uma jovem num autocarro, a caminho de Times Square (local onde daí a nada se vai fazer explodir; a ela e aos outros), vai murmurando para si mesmo, meio ladaínha, meio reza, motivos pelos quais as pessoas morrem. Tipo «algumas pessoas morrem atropeladas, algumas são atacadas por cães, outras morrem no sono, outras no chuveiro, outras de psoríase, outras ainda morrem em colisões frontais, outras nos hospitais, e eu, eu escolho esta forma, é uma forma como qualquer outra de ir». Nem mais, hoje em dia temos de nos capacitar de que isto é verdade both ways. Uns escolhem ir desta maneira, outros vão desta maneira (sem escolher, tal como já acontecia com todos os exemplos acima mencionados).
E capacitemo-nos que morrer porque alguém explodiu ao nosso lado é exactamente a mesma coisa que morrer no chuveiro. O que não é exactamente igual é uns terem chuveiro e outros não. Os que se fazem explodir já perceberam isto, nós não. Os que são explodidos ainda preferem pensar que eles são doidos e fundamentalistas (logo sem salvação possível) e que o que realmente interessa é o tamanho/preço das torneiras misturadoras das nossas banheiras...
Isto a propósito de ter ido, tipo ao calhas, ver Day Night Day Night (2006) de Julia Loktev. Gostei, não é famoso, mas gostei. E nunca é demais perceber quais as opções em cima da mesa para se ir desta para melhor.
Há 10 anos
1 comentário:
uma das minhas sensações de liberdade é justamente pensar: quando houver muita merda, posso sempre suicidar-me. será? hoje em dia acho que sim, temos sempre essa opção. mas, diz um amigo meu: bem, mas então se chegas a esse ponto, não tens nada a perder, e podes fazer tudo o que te apetecer, já pensaste nisso? fazer as loucuras todas que não fizeste antes por medo disto ou daquilo, pois quando a opção seguinte é morrer, já não há mais nada a perder, só a ganhar.
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