O meu amigo Rui diz-me que SIM, nem que seja para aumentar a oferta de clínicas e, logo, baixarem os preços. O meu amigo Zé diz-me que SIM, pois se a lei (a actual) não é para se aplicar então é porque não é boa e então que se mude. A minha mãe diz-me que se acreditarmos que é pior crime criticar o assassino que cometer o assassínio (e estou a falar de assassino mesmo, um tipo que dispara noutro; não estou a comparar o aborto a um assassínio...), então presume-se que SIM. Além de que uma vida pode vir a este planeta para ser abortada... A minha querida Susana diz-me que SIM, pois se todos os argumentos falharem sempre resta este: «Porra, como nós só a Irlanda e a Polónia! É aí que queremos estar?».
Ao meu amigo Rui digo que me incomoda a redução do debate a uma "questão de dinheiros". O SIM só fala de dinheiro, de quanto vai o Estado poupar ao não ter mais de corrigir os erros do aborto clandestino, de como seria se o SIM tivesse as massas do NÃO, de como são suspeitas as massas do NÃO... O NÃO, de resto, ao agitar de modo tão despudorado, hipócrita e católico-mesquinho, o valor da vida mais não faz do que acentuar o termo Valor e denegrir o termo Vida. Logo, esta questão dos "dinheiros" só me pode afastar (como já o fez em tempos) da mesa de voto.
Ao meu amigo Zé respondo que então que se mude o limite máximo de velocidade nas autoestradas para 180, visto que a actual lei não é cumprida, logo não é boa (e toda a gente o acha), logo não presta. Em termos de saúde pública parece-me bem mais séria esta questão. Mata muito mais (no sentido em que mata quem já cá está e não quem poderá vir aí), destrói muito mais as famílias (na maior parte das vezes o aborto é resolvido entre o casal, neste caso afecta mesmo toda a gente) e saca muito mais massas ao erário público (polícia, ambulâncias, hospitais, seguradoras, funerárias, próteses e afins; é tudo a gastar). Não me lembro de ver ninguém preocupado com esta questão...
À minha mãe só posso responder que sim, que aceito pacificamente que uma vida possa ter como destino abortar à última da hora (ou à primeira da hora... se preferirem). Mas esse argumento uma vez mais me afasta da mesa de voto. Pois, tal como continuo a achar que esta matéria nem a referendo devia ir, agora fico a achar que mal ou bem tudo está mal e bem. O NÃO acha que tudo está bem e nós sabemos que assim não é. O SIM acha que tudo vai ficar bem e acho que também sabemos que assim não será. Tenho dificuldade em perceber o que querem de mim. Ou se eu quero que queiram algo de mim.
Para a minha querida Susana não tenho resposta. Matreira como é, sabe qual a bandeira que deve agitar. Pois, como os polacos é que eu não quero ser! "Deus" me livre! Se calhar o SIM ainda vai ficar a dever o meu voto à Susana...
2 comentários:
Tenho a dizer em defesa do amigo Zé que há uma diferença entre uma lei que não é cumprida e uma lei que não é para cumprir. Em relação ao limite de velocidade quem transgride sabe que se for apanhado é multado e tem que pagar a multa, se a fiscalização for mais eficaz mais serão os que têm que pagar a multa. E não há nenhum movimento político ou da sociedade civil a favor da alteração do código da estrada, apesar de tudo a legitimidade é consensualmente aceite na sociedade. Já em relação ao aborto a lei não é para cumprir, ninguém quer mandar as mulheres para a prisão, de cada vez que há um julgamento as mulheres não são condenadas, e são os próprios defensores do NÃO quem usa como argumento não haver nenhuma mulher presa por ter cometido um aborto.
Eu acho que as leis são para cumprir, ou se faz de modo a que seja aplicada ou então muda-se.
Mas reconheço que o argumento da Polónia (e pior ainda: Malta) é mesmo o melhor...
Já agora, como é que é na Holanda?
sim!! e rápido! chega de caça às bruxas e hipocrisia religiosa, há 500 anos que a idade média acabou. e entretanto as nossas amigas http://womenonwaves.org/index.php?lang=pt cá estão para ensinar como se faz um aborto seguro com medicamentos legais que se compram nas farmácias portuguesas. ninguém pode decidir por ninguém o que fazer, podem proibir, mas não podem decidir.
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