sexta-feira, junho 01, 2012

As minhas rótulas não querem ir para Campinas


Há sensivelmente um mês que os meus joelhos me doem. Me deixam mal. Faço gelo quando me lembro, dou-lhes com o duche gelado quando tenho coragem. Mas não doem sempre. Nem a todo o momento. Se corro na praia a toda a brida, fugindo à Matilde, não se queixam, não me derrubam, deixam-me ser feliz. Mas se ando, por aí, no dia-a-dia, a descer escadas, a subi-las, ir às compras, busca a Júlia, faz a janta, bom, aí, é só sinais, arrepios, guinadas.

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Ontem à noite levei um tiro numa rótula. Sonhava... Sim, foi do "outro lado", mas foi duro. Não me lembro se era a esquerda, ou se era a direita. Lembro-me, sim, que sofri com a coisa, não foi agradável. Mas, por estranho que pareça {ou talvez não}, também não foi totalmente desagradável. Quando uma coisa tem um propósito não pode ser desagradável. Desagradável será sempre o tempo que demoramos até descortinar/ler/assimilar o dito propósito...

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Uma coisa sei. O tiro vinha com sotaque brasileiro, o ambiente geral era tropical, a bala foi disparada por um moleque desavindo com a vida. Até tive direito a sorriso e dichote maliciosos, logo após o disparo. Não me lembro da frase textualmente, mas creio que a ideia não deve andar longe disto: algo em mim resiste em andar. Melhor posto. As minhas rótulas não querem ir para Campinas.

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Elas sabem lá o que querem {poderemos pensar}. Mas eu sei o que quero. E ninguém {eu, aqui, caramba, oi, me escuta, aqui!} me ouve. Só me resta falar comigo mesmo, através delas. Há que estar atento, companheiro. A grande verdade é que quando corro na praia não penso onde será a repartição das Finanças em Campinas. Nem quanto custará um litro de leite no Brasil. Por outro lado, enquanto espero numa qualquer fila de supermercado, tenho tempo para isso. E não o desperdiço. Enquanto subo as escadas até lá acima {sempre são 4 andares sem elevador...}, mesmo sem dar por ela, estou a pensar se devo optar por casa ou apartamento, se deve ser com ou sem condomínio, se Barão Geraldo será ou não uma boa opção.

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Se a minha rica mãe me estivesse a ouvir neste preciso momento, não duvido que diria algo deste género: o importante é estar na fila do supermercado com o mesmo espírito de felicidade, com o mesmo coração aberto, com a mesma consciência, como quando corremos na praia, rindo com uma filha. Na praia como no supermercado, em Lisboa como em Campinas, em Campo de Ourique como em Barão Geraldo. Sempre atento. Sempre vivo. Sempre aberto ao que aí vem. Se ela me dissesse algo como isto isto, eu acenaria, concordaria, sorriria. Até acrescentaria um «que interessante!».

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Tenho de ir contar tudo isto às minhas rótulas...

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