sábado, dezembro 31, 2011

2012?

Vila Viçosa



Vila Viçosa tem a extraordinária capacidade de nos entregar à luz com o mesmo à-vontade com que nos coloca perante a ausência da mesma. Mais do que a famosa refracção deste Alentejo calcinado, é esta dualidade, esta oscilação, que mais me fascina. De um momento para o outro a luz implacável do Sol {mesmo na última semana do ano} dá lugar à penumbra mais inesperada. As salas e salões do Paço Ducal acrescentam tons de preto aos múltiplos brancos {incluíndo certos azuis} das vielas lá fora. O desfilar do mármore é serenamente interrompido pela luz coada e modular dos interiores {do restaurante "Ouro Branco", por exemplo}. Pontos de luz intensa, branca, partindo de um céu azul vibrante, perfuram o casulo gélido e obscuro que é o entrelaçado de salas e torreões do Castelo. Vila Viçosa diz-nos uma coisa, mas mostra-nos outra. Ou mostra-nos uma coisa e diz-nos outra, não sei bem. Será isso o ser-se viçoso?

sexta-feira, dezembro 30, 2011

Um ano entre linhas...



Comecei 2011 a ler o The Bell Jar e acabei 2011 a ler o The Catcher in the Rye. Foi, portanto, um belo ano, o de 2011. A sério. Belíssimo ano! Não podia começar, nem acabar, melhor. Bless you Plath, bless you Salinger.

You don't say...

domingo, dezembro 04, 2011

Óbito

19 de Fevereiro, 1954 – 04 de Dezembro, 2011

 
  «A primeira selecção que apoiei foi a do Brasil de Sócrates e companhia. Era forçoso que assim fosse, pode dizer-se, uma vez que o meu primeiro Mundial foi o de 1982, o do Naranjito, em Espanha. Foi nesse ano que acompanhei com algum interesse {difícil saber o quanto}, pela primeira vez, um acontecimento desta natureza. O Euro de 1980 {em Itália} e o Mundial de 1978 {na Argentina} passaram-me ao lado, mas o Naranjito cativou-me {e como não?} e despertou-me para esta realidade dos países, com exércitos de 11, em grupos de 4 e depois em eliminatórias a doer, todos com um único objectivo, o de erguer a taça. Bom, as regras eram estas e estavam entendidas, mas faltava-me algo. Torcer por alguém. Portugal não estava lá {embora figure na caderneta dos cromos de então...}, mas eu queria na mesma jogar aquele jogo. Logo, era preciso torcer por outro alguém. E o Brasil pareceu-me a solução óbvia, ou possível, ou alguém mo suspirou? E naquela altura, do alto dos meus 11 aninhos, eu convenci-me de que aquela era uma turma especial. Fiquei hipnotizado. Não sei se era o azul e o amarelo, se a barba do Sócrates {eu diria que é impossível ficar indiferente a um jogador de barba...}, se era aquele ar doidão do Falcão, se a magia do Zico, mas aqueles eram decididamente os meus tipos. Para quem, como eu, começava naquele momento a admirar aqueles duelos colectivos, aquelas guerras pacíficas {ou nem tanto}, aquele Brasil era a escolha óbvia. E naquele fatídico jogo frente a Paolo Rossi {nunca um hat-trick, numa altura em que nem sequer sabia que tal coisa existia, me soube tão mal...} eu saboreei o amargo da derrota, a injustiça injustificável. Foi um baptismo terrível. Ali começava a minha devoção ao mundo da bola e ali eu chorei pela primeira vez por causa de um resultado de um jogo de futebol. Encontrava-me de férias no hotel da Torralta {o amarelinho; o mesmo amarelinho do escrete...} na serra da Estrela com o meu pai, nunca me esquecerei. Vi o jogo dentro do hotel, numa televisão na sala de estar, em silêncio, angustiado. Terminado o jogo, fui dar uns toques de bola, na relva, lá fora, com o meu pai. Sempre em silêncio. Aguentando em surdina algo de muito estranho para mim. Até que rebentei e chorei como a criança que era. É isto que guardo daquele que foi, provavelmente, o melhor escrete canarinho de sempre. A minha primeira selecção, como as primeiras escolhas?, foi efémera e amarga...»

sábado, dezembro 03, 2011

"Grupo da Morte"

No Europeu de 2004, a Holanda ficou no grupo da Alemanha, da República Checa e da Lituânia.
No Mundial de 2006, a Holanda ficou no grupo da Argentina, da Costa do Marfim e da Sérvia.
No Europeu de 2008, a Holanda ficou no grupo a Itália, da França e da Roménia.
Todos estes grupos foram, na altura, considerados o "grupo da morte". A Holanda está, pois, mais do que habituada ao chamado "grupo da morte".

No Europeu de 2012 {Ucrânia/Polónia}, a Holanda ficou no grupo da Dinamarca, da Alemanha e de... Portugal. Ter Portugal no chamado "grupo da morte" adiciona, de facto, nova densidade, novo sentido, ao termo "morte".

Tanto a Dinamarca como a Alemanha adversários de longa data da Holanda, com rivalidades há muito firmadas {no caso da Alemanha basta lembrar 1974, 1988 e, bem, há 15 dias atrás... :( }, mas apesar de tudo bem equilibrados. Já com Portugal...

Vejamos. Frente à Dinamarca, em 30 jogos, contam-se 12 vitórias, 10 empates e 8 derrotas. Frente à Alemanha, em 37 jogos, contam-se 10 vitórias, 13 empates e 14 derrotas. Mas frente a Portugal, em 10 jogos, a Holanda ganhou 1, empatou 3 e perdeu 6. Se isto não é mau, não sei o que seja. Desde o jogo nas Antas, sob chuva torrencial, em Outubro de 1990 – o primeiro jogo de sempre entre as duas selecções – até ao jogo de Junho de 2006, ainda hoje {tristemente} lembrado como a "batalha de Nuremberga" – o último jogo entre as duas selecções até à data – o saldo tem sido francamente negativo para o lado laranja. Não são só as derrotas em si, mas as derrotas que foram. Dessas 6 derrotas: a última eliminou a Holanda nos oitavos-de-final no Mundial de 2006; a penúltima eliminou a Holanda nas meias-finais do Europeu de 2004; e a antepenúltima {com a ajuda de um terrível empate a 2} não qualificou a Holanda para o Mundial de 2002. Não são jogos banais. São jogos decisivos. E Portugal tem levado sempre a melhor.

Mas, parafraseando o meu avô {em contexto absurdamente distinto}, «Isto vai!».

sexta-feira, dezembro 02, 2011

I'm loving it, I'm loving it, I'm loving it...

Acabo de descobrir este novo projecto liderado por Jonathan Wilson {o autor desta bela obra}. Quem grama a trama e o drama sobre a grama, não deve perder a oportunidade. Puta revista!


E, sim, por vezes, os golos são mesmo sobrevalorizados. Um adolescente {no caso, Gabriele Marcotti; ver número dois da revista}, sozinho em casa, de joelhos no chão da sala, agitando-se freneticamente, para a frente e para trás, olhos fechados, ouvindo o relato dos penalties do ItáliaxArgentina em 1990 vale tanto {ou mesmo mais} que o golo do Schillaci no ItáliaxUruguai desse mesmo torneio.