Há 10 anos
terça-feira, agosto 31, 2010
In a Lonely Place
In a Lonely Place {1950} figura entre os melhores de sempre. Sempre figurou. Não tenho dúvidas de que irá continuar a figurar. Este filme é absolutamente perfeito. Respira excelence em todos os momentos. Quando fazemos {porque fazemos!} aquele exercício de elencar os 5, 10, 15 filmes favoritos, ele está lá sempre. É, de resto, quase sempre o primeiro a saltar para a lista. Tudo nele é genial. O filme negro mais brilhante de sempre. O som, a luz, os settings, as deixas, o fumo, os olhares, as curvas, a intimidade familiar face a face aos embaraços da vida boémia, os diálogos de antologia, o álcool, o ódio tão forte quanto o amor, a elegância massajada pelo indecoro. É um filme genuíno, com nervo. Um filme cheio de histórias para além dele {e tem-nas aos pontapés}. Como aquela que acabei de ler.
Sim, estas férias consegui finalmente ler o original In a Lonely Place. O livro. A origem. De Dorothy B. Hughes. Andava mortinho por lê-lo há já uns tempos. Saltou-me à vista na FNAC e foi comigo para perto do mar {atenção, não o li senão à noite, na cama ou no sofá...}. Quis ver como se comportavam aqueles olhares, aqueles ambientes, aquelas maquinações, em letra após letra, sob a luz do candeeiro e não através da do projector, como se alinhariam elas no papel, identificar quais as que tiveram força para saltar para a película, e quais não a tiveram.
Wow! Grande baque, este. Então a mulher, no original {atenção, spoilers à vista!}, fez do Dix um cínico serial killer misógino?! No final das contas, o tipo quebra, vai-se abaixo, desata a chorar e vai dentro?! E é aquela desgraçada de nariz empinado e olhos de carneiro mal morto {sim, depois da Jeff Donnell não dá para imaginar mais nenhuma senhora Nicolai...} quem o desmascara e o arruina?! E o delicioso Mel Lippman afinal é um tal de Mel Terriss que evidentemente nunca chegou ao Rio de Janeiro?! E Dix e Laurel afinal passam mais tempo afastados que aconchegados?! Afinal ele não começa a escrever desenfreadamente após conhecê-la?! Ah, pois, parece que afinal ele nem escreve... É um rol de discrepâncias, de rupturas, de desarmes, de fatalidades mesmo, que nem dá para imaginar...
Mas desenganem-se. É um livro muito bom de se ler. A tal senhora Hughes parece que {diz a contracapa da edição da Penguin(*)} faria corar de vergonha o mestre Chandler... Bom, não sei se diria tanto, dou desconto à necessidade de "vender" o livro, mas deu para perceber que a senhora Hughes maneja bem a escrita. O livro tem áreas muito boas mesmo. Aconselho vivamente. Boa leitura negra para férias agitadas. No fundo, no fundo, o seu único aspecto negativo é o de "custar" muito a quem gosta, ama, muito o filme. Eis um bom exemplo de quando o filme ultrapassa {e em muito!} o livro.
Deixo como apontamento sonoro final o belo tema "I Hadn't Anyone 'Til You" cantado por Hadda Brooks. A cena é do filme. E não consta do livro...
(*) Já agora aproveito para cascar na Penguin... Sempre tão exemplar na elaboração das suas capas, desta vez fizeram uma grande borrada. Não dava, não dava mesmo, para colocarem uma imagem de Bogart e Grahame na capa! Não dava! Sendo o livro e o filme duas criaturas tão distintas, não dava!
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