quarta-feira, dezembro 31, 2008

Enough Is More

No dia de hoje, em jeito de despedida e de reencontro, e com as várias crises da crise na ordem do dia, apeteceu-me aproveitar a boleia de Sagmeister e expressar graficamente um aforismo apropriado aos tempos que correm. Partindo da famosa tirada de Mies van der Rohe e seguindo o conselho de Sagmeister {In general I hate the use of quotes by designers – it just seems so lazy.*} resolvi então ter algum trabalho — «Não ser preguiçoso», eis outro aforismo com pés para andar — e deixar-vos com o pensamento mais apropriado aos ares do momento.

{Clicar para visualizar em condições; não sei porquê não estou a conseguir colocar isto em formato maior...}

— * —

Tudo isto porque, neste Natal, o meu cunhado me ofereceu um exemplar do livro Things I Have Learned In My Life So Far, do designer austríaco Stefan Sagmeister. Nestes tempos intermitentes que tenho vivido aqui por casa {if you know what I mean...}, este livro tem proporcionado uma leitura muito agradável. Pois como pequenos livrinhos que são, veiculando simples histórias e aforismos, adaptam-se bem ao meu ritmo actual. Dos vários aforismos patentes no livro apetece-me destacar aqui os seguintes — Everybody Thinks He Is Right. / Worrying Solves Nothing. / Money Does Not Make Me Happy. / Trying To Look Good Limits My Life. / Everything I Do Always Comes Back To Me. / Helping Other People Helps Me. / Everybody Who Is Honest Is Interesting. / Drugs Feel Great In The Beginning And Become a Drag Later On. / Thinking Life Will Be Better In The Future Is Stupid. I Have To Live Now. / Being Not Truthful Always Works Against Me. Mas mais agradável ainda foi constatar que praticamente tudo aquilo que ele foi descobrindo ao longo da sua carreira como designer, também eu o fui descobrindo ao longo destes anos de vida profissional. E não estou a ser imodesto ou a querer comparar-me ao austríaco, que não vale a pena nem uma nem outra. Mas a verdade é que {apesar de quase 10 anos de diferença entre nós} um paralelo existe, pois em 1991 eu arrancava mais ou menos a sério com a minha vida profissional {cof... cof...} e Sagmeister voava para Hong Kong a fim de iniciar uma carreira fulgurante; ainda conservo o exemplar da Print, dessa altura, em que era apresentado o seu notável trabalho para um congresso de oftalmologistas.... No fundo, a questão é que a leitura das suas descobertas {e a constatação da pouca surpresa da minha parte} deu-me a ver que também eu tenho estado a aprender, não tenho estado parado. A grande questão é que, no matter what, a vida está lá sempre, pronta a desvelar-se perante nós e a nossa vontade de crescer. A inegável questão é que, quer no Oriente (rodeado de dinheiro, massa crítica e oportunidades), quer junto ao Miradouro de Santa Luzia (rodeado de mofo e humidade), a oportunidade de crescer e ver um pouco mais além é sempre possível ao ser humano. Esse potencial não tem sido desbaratado nem em Sagmeister, nem em mim, nem em tantos outros. E isso é sempre bom constatar. Como tal, um bom 2009 para todos vós, seres humanos em crescimento!


* Até aqui o tipo é bom. A quantidade de vezes que ele já deve ter sido citado neste particular...

domingo, dezembro 28, 2008

Este Natal já está a compensar!

Isto porque o barbas da época trouxe-me um outro barbas, de seu nome Phil Sawyer. Não o inglês, mas antes o australiano. Não aquele que ficou conhecido por ter composto uns temas para anúncios da Timotei, mas antes esse obscuro singer song writer dos antípodas {nossos, claro}. Não aquele que está ligado aos percursos de Steve Winwood, Fleetwood Mac, Les Fleurs de Lys e Spencer Davies Group {um yikes geral...}, mas antes esse barbudo psicadélico praticamente desconhecido. Na grande rede muitas são as referências que nos levam ao percurso do inglês, mas muito poucas as que nos falam daquele que verdadeiramente interessa aqui. O melhor que apanhei até ao momento foi este texto aqui. O disco, Childhood's End {1971}, esse, é muito bom e não pára de rodar por estas bandas. Poderia deixar aqui qualquer tema dos disco, mas em tempos de violência cega e de histerias várias {oh, miséria das misérias... posso estar a falar de tanta coisa, não posso?}, deixo-vos com as palavras do notável "Stranger in the Street".



Ah, e um enorme obrigado à Susana por mo ter oferecido. E por ter descoberto, essa que parece ser uma outra boa descoberta, a Past Perfect.

sábado, dezembro 27, 2008

Harold and Maude

Harold — You sure have a way with people.
Maude — Well, they're my species!

Harold — Maude.
Maude — Hmm?
Harold — Do you pray?
Maude — Pray? No. I communicate.
Harold — With God?
Maude — With life.

Maude — You know, at one time, I used to break into pet shops to liberate the canaries. But I decided that was an idea way before its time. Zoos are full, prisons are overflowing... oh my, how the world still dearly loves a cage.



Só pelas falas da Maude vale a pena ver Harold and Maude {1971}. De resto, diga-se em abono da verdade, não é lá grande espingarda. Sobretudo dada a fama de filme de culto que o mesmo carrega. E o que dizer da musiqueta desse tipo horrendo que dá pelo nome de Cat Stevens? Total downer!

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Berlim, 1945

«Aprés s'être tues si longtemps, ces grands-mères meurtries qui, dans leur maisons de retraite, sont prises de panique lorsqu'elles entendent des aides-soignantes parler russe ou lorsqu'on veut leur poser une sonde urinaire, sont-elles prêtes, au terme de leur vie, à raconter leur grand secret?»

A propósito de Anonyma, eine Frau in Berlin que o mais certo é ser uma banhada {trailer aqui}, mas sobre o qual, e cujo tema, o artigo do Le Monde de hoje levantou pontas perturbantes como a das linhas acima. A imagem é assustadora, não é? Quase que dá para cheirar a alcatifa e o rasto de sangue que a História vela, dia após dia.

sexta-feira, dezembro 19, 2008

PUB.

O meu amigo Nuno Fonseca tem um blog. E nesse espaço ele expõe aquilo que ele gosta mais de fazer, isto é, desenhar, encenar, elaborar, dar forma e cor {muita ou pouca, é conforme} a ideias, acontecimentos, sonhos e desejos. Dêem lá um salto, vale a pena.

Eu gosto particularmente desta {ampliar para desfrutar} que ele fez para uma animação de outro amigo {long time no see...}, o Nuno Leonel.

E agora?

Hoje, ao ler isto, apeteceu-me dizer, pensar, que finalmente alguma justiça tinha sido feita. Mas não é possível, pois não? A dimensão da coisa foi tão grande, tão sinistra, tão telúrica, que ver Theoneste Bagosora atrás das grades para todo o sempre de pouco adianta à história.

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Boas companhias...


Ainda há pouco, enquanto embalava a pequena Júlia junto às estantes dos DVDs, reparei com alegria que o Master and Commander: The Far Side of the World se encontra entalado entre os filmes do Visconti e os do Welles. Não está mal acompanhado, não senhor. Ainda bem para ele. E olhem que não se trata de aproveitar as boas companhias para a admissão de alguma espécie de guilty pleasure, não, não, gosto mesmo daquele enorme bicho de madeira e cordame a vogar pelo mundo fora.

domingo, dezembro 14, 2008

No Chump Love Sucker! No Chump Love Sucker!

Mas é óbvio, agora que revivo a coisa a propósito do post anterior, que o "No Chump Love Sucker" é que me enchia as medidas...

O Sol e eu

Foi há praticamente 20 anos atrás, em 1987/1988. Um sol do caraças, daqueles à maneira que aquecem até os ossos. Esparramado nas escadas da entrada da António Arroio. Ténis, calções e t-shirt. O Sol e eu em uníssono. A cabeça embalada em haxixe. Uma fome do caraças e uma barra de Mars na mão, prestes a ser metodicamente devorada. E nos headphones, na cabeça, no corpo todo, de alto a baixo, a vibrar, a hipnótica melodia de "Behind the Sun", do poderoso álbum dos Red Hot Chili Peppers The Uplift Mofo Party Plan {1987}. Naquela tarde devo ter ouvido o raio da música umas 100 vezes, num repeat assustador. Mas, meu Deus, aquela tarde foi perfeita demais!



Porque raio este tipo de memórias assaltam um tipo quando ele está deitado num sofá, na penumbra, num dia frio e ventoso e chuvoso como o caraças, enquanto tenta recuperar uns minutinhos de sono perdido, é que me intriga sobremaneira. Ele há coisas...

invent yourself and then reinvent yourself...


no leaders, please


invent yourself and then reinvent yourself,
don't swim in the same slough.
invent yourself and then reinvent yourself
and
stay out of the clutches of mediocrity.

invent yourself and then reinvent yourself,
change your tone and shape so often that they can
never
categorize you.

reinvigorate yourself and
accept what is
but only on the terms that you have invented
and reinvented.

be self-taught.

and reinvent your life because you must;
it is your life and
its history
and the present
belong only to
you.




"Roubei" este poema do Bukowsky do blog da Joana. Soube-me muito bem lê-lo. Inventar, reinventar, desafiar, chocar, tirar o tapete a, desbaratinar, veste "azul" hoje e amanhã "castanho", são tudo verbos e acções que me são muito caras. Obrigado a ele e a ela.

sexta-feira, dezembro 12, 2008

No comments...



It's only castles burning...

Em tempo de crises várias, de barricadas e chamas, de voltas e revoltas, de hotéis explodidos, de classes sem classe, de gritos ao vento, sim, confesso, é verdade, voltei a comprar jornais..., apeteceu-me deixar aqui uma toadinha, uma bela fiadinha, do meu mais recente redescobrimento musical {ando outra vez apaixonado pelo homem, vejam lá...} e que me parece vir muito a propósito.

terça-feira, dezembro 02, 2008

A vida sai-nos, de facto, do lombo...

O rapaz devia ter uns 5, 6, 7 anos de idade. Era loiro loiro, sardas dispostas em redor do nariz, camisas aos quadrados e calças de fazenda {quando não de bombazina} e fazia as alegrias dos seus pais. Sabia-o, sentia-o. Na realidade, bem vistas as coisas, o rapaz nem era bem rapaz. Naquele tempo, naquele país, rapazes loiros com calças de fazenda eram meninos. E esse menino era esperto. Atento. E miserável. Encontrava-se na pior das situações, encurralado. Já tentara utilizar a manha, a sonsice, a manipulação, que tinha ao seu alcance, em doses adequadas à sua idade, para contrariar as intenções dos seus pais. Já ensaiara a fuga, solução de quando tudo falha, fuga desenfreada pelos corredores do hospital que tão bem conhecia. Era um hospital verde, e castanho, e tons cinza aqui e ali, nas fardas, nas maçanetas, nos aparelhos. Nas patentes, estava o dourado. Nas boinas e nos ombros. Mas esse dourado, esse brilho, não o fascinavam, não o ofuscavam, neste preciso momento. Agora era tempo de salvar a pele. Fuga. Falhada. Preso. Agarrado. E com um toque de força a mais! Aquele toque a mais que machuca além da pele. O menino estava desamparado. Além de que já tinha levado com aquele olhar felino, assustador, que tão bem conhecia na sua mãe. E levara também com aquele outro, do pai, tão assustado quanto ele, mas disfarçado de autoridade e resolução, mãos-dadas com a chatice de tudo aquilo. Era uma chatice, não houvessem dúvidas. Mas para o menino era também, e essencialmente, uma traição. Todos os meninos {e rapazes, que aqui não há distinções!} experimentam, têm de, a sensação de traição. A deste menino foi naquele dia. Era a traição que emanava, vejam bem!, de presenças tão fortes na sua vida, como não havia outras, as mesmas que infernizavam a sua vida naquele dado momento. Era a traição de o fazerem passar por estúpido ao lhe acenarem com o milagre dos gelados sem limites, sem restrições, sem escolha de sabores, eram todos possíveis. Era só pedir. Que se lixassem os gelados! Ele queria era manter as amígdalas! Ele queria era evitar toda aquele sofrimento e humilhação. É verdade que já lhe tinham explicado que era assim mesmo, necessário, e que nem havia de custar horrores. E havia o tal prémio, no fim. Mas nem o conforto dos gelados o demovia daquele estado de terror. E agora, apanhado que estava, imóvel na cadeira, só lhe restava a traição daqueles ali em volta, aqueles estranhos de bata, frenéticos, embasbacados uns, resolutos outros, todos aplicados naquele ataque coordenado. Em relação a estes nem se tratava de traição, que não os conhecia de lado algum, nem eles a ele. Não havia laços, a quebrar. Estes, o que praticavam era mesmo tortura. E esbirros que eram, machadada letal deram. Na forma de máscara etílica, sufoco, grito, morte. Pontos cyan, magenta, yellow, black. Tudo decomposto. E de seguida o vazio. A morte. O silêncio.

{...}

A mão da mãe na sua. Sussurros. A respiração da mãe, ali ao alcance de um olhar. Mas os olhos insistiam em permancer pesados. O corpo, mais que a alma, dorido. E lentamente o menino despertou. Com a luz veio um pouco de rapaz até àquele menino. Assim meninos se tornam rapazes, assim rapazes se tornam homens. Assim homens se tornam meninos. Mas o corpo dorido persistia. Agora que pensa nisso, lembra-se de ter comido, realmente, um ou outro gelado. Mas também se recorda de que não souberam a nada {a sua mãe, mais tarde, contou-lhe que, recordando esse episódio, ele lhe confessou que só anuiu em comer e saborear e elogiar os famigerados gelados por consideração pela sua mãe e pelo seu sentido sentido de culpa}. E se não lhe sabiam a nada não era devido a um qualquer defeito físico, não, era mesmo porque o mal estava feito. E mais do que isso, era o mal estar feito e nada ter mudado. O mundo não acabara. Antes pelo contrário.


Quando contaram ao homem que fora esse rapaz que fora esse menino que toda esta aventura, toda esta dor e toda esta culpa estavam aninhadas ao longo da sua espinha dorsal, das suas vértebras e dos seus múltiplos nervos, proporcionando-lhe dores e incómodos, todos eles assentes em 30 anos de culpabilização dos progenitores, ele nem queria acreditar. Mas era, de facto, bem simples. Não lhe restaram dúvidas quando, após mãos mágicas operarem as suas artes e deixando essa energia entrar-lhe corpo/mente/espírito adentro, tudo se dissipou, os nós se desfizeram, e lavar a louça sem dores adicionais voltou a ser possível. A questão, para ele, agora, é determinar o que significarão, o que ocultarão, aqueles pequenos incómodos que ainda por ali se manifestam...




Por aqui é a osteopatia que fascina e as capacidades de quem é realmente competente. Aqui é mais a vertente sacrocraniana e a certeza de que tudo está no "realmente". Bliss!, essa é que é essa!

A little comfort...

Nos pequenos momentos {que não têm sido lá muitos} em que consigo resgatar resquícios daquilo a que cá em casa chamamos de "vida própria" ainda consegui iniciar, e dar alguma espécie de continuidade, ao The Naked and the Dead do falecido Norman Mailer. E, como se isso servisse de conforto..., lá vou pensando, noite adentro, quatro da manhã que podiam ser onze da noite ou mesmo, quem sabe?, dez da manhã, que se eu penso que isto das noites mal dormidas é difícil, o que pensar de estar desterrado, seminu e apavorado, a milhares de quilómetros de casa, cheirando mal e picado por bichos vários, sob a metralha e na vã esperança de se manter vivo até ao fim do dia? Sim, isso é difícil. Isto, é apenas divertido; é o que é.

Interregno...

Ainda há uma hora atrás a nossa querida Maria José nos afirmava, entusiasmada e encorajadora, que «o primeiro mês é para a Júlia, ela é que vos guia!». E isto, realmente, não tem andado fácil... São tantos os percalços, soluços, berreiros, alegrias e fervilhanços que não tem sido fácil sentar e escrever. A ver vamos se o Anauel {e os seus leitores, onde quer que estejam} aguentam tamanho hiato.