terça-feira, agosto 12, 2008

Humaquê...?

Fui para férias com um índice de tolerância 0 à Humanidade. Regresso delas com o índice nuns {já} míticos -10. Em tempo de batimentos de recordes pessoais, olímpicos e mundiais {é curioso, isto dos tempos se baterem e não se quebrarem... para mim quebram-se} não está nada mal, não senhor.

Fui-me embora a pensar que estava mesmo necessitado de um descansozinho, tipo, a-ver-se-me-safo-nisto-do-extremamente-difícil-relacionamento-com-a-Humanidade... Mas não. Azedou ainda mais. Só piorou. E o mais curioso é que estive 15 dias sem jornais, sem TV, sem net, sem nenhuma das porras habituais que nos escaparracham a Humanidade nas fuças. Estive em família, a 4, debaixo de sol intenso e brilhante {isto quando não cobria}, submerso, a espaços, num líquido salgado maravilhoso {isto quando não gelava absurdamente}, num ritmo {suave, intemporal, detentor da sabedoria das marés} que desconhecia ser possível dominar, feliz da vida. E a Humanidade que se lixasse. O curioso mesmo é que quanto mais "isolado", mais desciam os níveis de tolerância. O projecto delineado antes das férias de total ausência de meios de comunicação no dia-a-dia cumpriu-se {quase, quase, à risca} mas em nada me adiantou. Nada me trouxe de bom. O germe está cá, dentro, fora, na derme, sei lá, não adianta. Humanity's a bitch!

Outra curiosidade está no facto de a Humanidade me enojar mais quando vista à distância, em grande plano, formato cinemascope. Quando vista ali ao lado, ali mesmo na barraca do lado, cheirada a um metro que seja, quando observada pelo canto do olho, de soslaio, ela, a Humanidade, até se safa, não causa alergias de maior. Os dramas da amiga traída, mentida, encornada, sussurrados ali entre os anseios das crianças e o espalhar do bronzeador, ali mesmo ao meu lado, numa espécie de telenovela particular, soap opera on demand, pareciam-me naturais, davam-me até prazer. Também aquelas três criaturas obesas, septuagenárias, ignorantes, enrugadas, estragadas pela vida, aos pulos, salpicando-se à beira-mar, deixando-se propositadamente cair e enrolar pelas ondas vigorosas, rindo numa felicidade quase absurda, também essas me repunham os índices de tolerância em altos valores positivos. Mas se me afasto, tudo se desmorona. Porque se me afasto, se enquadro, então as palavras das meninas da barraca ao lado tornam-se as maiores baboseiras de que há memória, as maiores mentiras da mentira da mentira. Se me afasto, já vejo então aquelas três criaturas, na esplanada da Conchinha a dizer mal dos pretos {perdão, agora são novamente os brasileiros...}. E assim não dá. Assim é demais. Chego então à conclusão de que a solução é mesmo manter-me ali bem pertinho. Eu e os outros. Pois. É isso. Ali juntinhos. A fazer pela vida. Não quero mais ver a Humanidade à distância. Mas que isto custa, lá isso custa. Só eu sei. Porra, se até eu que sou um tipo porreiro e encantador consigo ser a maior besta quadrada. Pois. Não me vejam, não me queiram ver, à distância...

2 comentários:

Anónimo disse...

...imagina se estivesses na Australia.

anauel disse...

Então? Como assim, anónimo?