quinta-feira, julho 17, 2008

La Zona

Enquanto ainda anda por aí tudo em amenas {ou não tão amenas assim...} cavaqueiras sobre as virtudes {ou os defeitos} de Tropa de Elite, eu deito uma acha nessa fogueira político-filosófica-crítico-de-cinema-quando-me-apetece-e-a-globalização-é-uma-treta e, vai daí, aconselho vivamente o filme La Zona {e uma vez mais, ufa, agradeço ao companheiro Ribas...}. A sugestão parece-me válida, pois ambos os filmes e respectivos realizadores parecem ter tantas similitudes que eu diria mesmo corresponderem às duas faces de uma mesma moeda, a do jovem realizador esquerdalho sul-americano {ui, bem sei que um é mexicano, logo...; mas ainda assim}. Atenção, nada de mal com isso, antes pelo contrário. Adiante. Os dois filmes são do mesmo ano {2007}, ambos os senhores têm à data três filmes realizados {o Tropa de Elite de Padilha é o seu terceiro filme; Plá já se encontra a realizar o seu terceiro}, ambos devem pertencer à mesma geração {mas não cosegui comprovar isto} e para ambos estes são o seu primeiro filme "a sério" {sendo que Rodrigo Plá começou por uma curta-metragem e Padilha por um documentário} deixando antever mais e bons filmes nm futuro próximo. Aliás, cá para mim, se Padilha pode vir a ser o próximo Meirelles, parece-me também óbvio que Plá pode muito bem vir a ser o próximo Iñárritu.

Mas o que tem La Zona de tão especial? Bom, "La Zona" é um bairro residencial altamente fortificado algures na cidade do México {presumo}. Uma cidade dentro da cidade, rodeada de favelas a perder de vista, e simultaneamente bem fora da cidade, e da realidade do mundo. Ali se vive um dia-a-dia asséptico, controlado, climatizado e feliz. Até ao dia em que a contaminação {como eu odeio esta palavra...; mas vai surgir inevitavelmente} toma lugar... Não digo mais {seria spoiler} mas digo que um dos méritos do La Zona é deslocar, e de uma maneira incómoda o suficiente, e isso é bom, não é?, o foco da nossa atenção da favela para o condomínio, do "bandido" para o economista/professor/arquitecto, da rua suja e putrefacta para a alameda florida e asfaltada, do caos urbano para o caos sensorial. E fá-lo bem, muito bem. Se Padilha vai em cima da relação policial/bandido e fá-lo na realidade das favelas cariocas {que, acredito, devam ser mais acessíveis que as mexicanas}, Plá parte para cima da relação classe média-alta consigo mesma e no inferno em que ela própria escolheu viver. Um filme a ver.

Depois também vi, nos extras, a primeira experiência de Rodrigo Plá, El Ojo en la Nuca {2001}, uma curta bem esgalhada, com um jovem Gael G. Bernal, sobre as consequências da repressão militar no Uruguai. Dá para ver um pouco de Montevideo, que parece ser um estranho lugar {mas um bom estranho...}.



O trailer é uma merda, eu sei; é mais uma similitude com Tropa de Elite...

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