Sempre que vejo filmes brasileiros faço por me convencer de que me encontro a ver não filmes brasileiros mas, antes, filmes em português, numa escandalosa e horrrenda tentativa de usurpação, numa derradeira esperança de que o cinema português se reflicta, partilhe e vibre também um pouco às custas desse primo afastado que lhe escreve, de vez em quando, do outro lado do Atlântico. Nos últimos dias banhei-me um pouco mais nesse mar que é o cinema brasileiro. De uma assentada foram três Arnaldos Jabor, um Joaquim Pedro de Andrade e um exercício da mais pura propaganda espírita.
Toda Nudez Será Castigda {1973}, Eu Sei Que Vou Te Amar {1986} e Eu Te Amo {1981} foram os Jabor em causa. Toda Nudez Será Castigada é pura e simplesmente genial, do ponto de vista do guião, um texto original de Nelson Rodrigues, esse mestre dos amores truculentos. O filme cumpre, não desapontando o belíssimo texto que tem como base e chega mesmo a ter cenas muito boas mesmo. Certos momentos aqui e ali do Rio dos anos 70 e toda a cena decorrida dentro da cela prisional {por muito deslocada que possa parecer em relação ao tom do resto do filme} valem bem o filme; mesmo que numa cópia um tanto ou quanto manhosa {a que eu vi, pelo menos}. Um Paulo Porto muito bom, uma Darlene Glória sofrível e um fantástico Hugo Carvana {numa hilariante cena} também ajudam à festa. E, claro está, o melhor do filme, o ladrão boliviano! E mais não digo...
Eu Sei Que Vou Te Amar foi o segundo momento e, bem, hum..., quase me fez deitar tudo a perder... Não há pachorra, senhores. De tal maneira que até seguiu em andamento rápido, para a frente, até ao finalzinho do DVD só mesmo para ver se eles se matavam um ao outro no fim... Booooriiiiing!
Mas o Eu Te Amo, bem, esse, é uma pedra, uma doideira bem à maneira, um filmaço. Louco, louco. Nudez {de Paulo César Peréio, Sónia Braga e Vera Fischer} do princípio ao fim numa cornucópia de filmagens homevideo, luzes fluorescentes, sacanagem com frutas tropicais à mistura, negócios e amores falidos, facas apontadas à genitália; tudo remisturado numa fenomenal penthouse sobre a lagoa Rodrigo de Freitas. Tudo muito à la Brian de Palma meets Coppola?... e estou a pensar no Dressed To Kill e no One From The Heart {sendo que este é posterior...}. Maybe. Mas está muito bom, sim senhor. Um bom Jabor. Tenho ali ainda o Opinião Pública e o Tudo Bem para ver; que é para ver para onde vai pender o fiel da balança...
Depois vieram Os Inconfidentes {1972}, de Joaquim Pedro de Andrade, o homem por detrás de dois grandes filmes brasileiros – Garrincha, Alegria do Povo {1962} e Macunaíma {1969}. Que neste caso nos narra uma interessante abordagem ao episódio histórico de revolta contra o jugo lusitano por parte do famoso Tiradentes e seus compadres. História de gente cheia de ideais e de sonhos futuros que os troca num ápice por uma garantia de mais umas respirações nesta terrena existência. Em plena ditadura e cheio de plenas referências. Aposto que foi censurado até mais não e por muito tempo. A ver. Esteticamente muito interessante.
Ah, é verdade, falta a peça propagandística espírita... Bom, só tenho uma palavra para vosotros: Joelma, 23.º Andar. Delirante!
Há 10 anos
Sem comentários:
Enviar um comentário