domingo, dezembro 16, 2007

Babel

Não consigo perceber qual o sururu à volta de Babel. Vi-o hoje e gostei. Pronto, já está escolhido o lado da barricada. Mas não gostei assim tanto. Cumpre mas não arrebata. E não percebo o sururu. Porquê odiou tanto e tanta gente o filme? O que terá sido assim tão intrigante, assustador, desafiador? Não sabemos já todos que tudo isto anda mal e que o cheiro a podre não demorará muito a chegar?! Mas há quem ainda se incomode assim tanto com esta crónica falta de comunicação?! Já repararam que estamos constantemente a chocar-nos, se não é com uma cena é com outra. Num verdadeiro processo de profissionalização (em tempos era a banalização) do horror. Há uns bons anos atrás Sonatine (não é o do Kitano, mas o de Micheline Lanctôt) mostrava-nos duas adolescentes no metro de Paris a emborcarem comprimidos atrás de comprimidos, à vista desarmada, e népias, nada, zilch. Agora vem Babel. É cíclico. E vamo-nos tornando cada vez mais profissionais na coisa... Bahhh... estou farto de indignações. Não valem nada (por isso já só as guardo para a bola... e para a condução... yikes!).

















Mas gostei muito desta adolescente. E das suas dificuldades em comunicar, ser aceite e experimentar os prazeres da carne. E gostei de saber que a expressão "estar fulo" não se perde nestas andanças dos défices de comunicação. Quando um tipo está fulo está fulo. E não precisa de palavras. Ela não as tinha (literalmente), mas tinha o toque. E o toque é o que interessa no fim das contas e dos paleios, não é? O toque não mente e deixa-nos no reino do básico (não do limitado), do concreto, do amor e do ódio. Ah, talvez perceba agora porque o filme incomodou tanta gente... Uma coisa é não falarmos, tudo fazermos para não o fazer, e vivermos numa (aparente) boa; outra coisa é constatarmos que nos falta o toque, apercebermo-nos do grau da amputação. Isso já dói.

1 comentário:

aquelabruxa disse...

boa crítica do filme :)
também gostei, especialmente visto no cinema, é bonito, mas só gostei até meio, depois fartou-me um bocado tanta dramalhada...
mas acho que mostras mais sensibilidade e entendimento que eu sobre o bicho ;)