Cada vez gosto mais da ARTV (para quem não sabe, trata-se do canal televisivo do Parlamento português). E quem me conhece sabe que não estou a brincar, gosto mesmo daquele canal. Sempre que lá caio (bem, aqui tenho de confessar que mesmo gostando do dito canal mantenho-o lá bem para a frente no meu alinhamento pessoal dos canais... gosto dele mas não sou doido...), mas sempre que por lá caio, por lá fico. Umas vezes mais tempo, outras vezes menos tempo, umas vezes bocejo, outras sorrio, mas na maior parte delas fascino-me. Aquilo é Portugal a trabalhar (e nem sempre temos essa chance, certo?). Ali temos a oportunidade de observar o verdadeiro tutano do português médio, o modo como se fazem as leis e discutem futuras leis, a encenação de uma contemporaneidade confrangedora mas, ainda assim, nacional e verdadeira. Quando assisto ao ARTV penso sempre o quão útil ao país seria trocar (obrigar mesmo!) os telejornais dos vários canais por uma horita de uma qualquer comissão parlamentar. Ali sim, ali poderiam os portugueses ficar a perceber um pouco mais (e melhor) de si mesmos. Mas atenção, estou a ser um pouco cínico (admito) mas não desonesto. Não. Embora na maior parte das vezes o que ali se assiste seja um triste espectáculo, uma coisa é certa – trata-se sempre de um espectáculo verdadeiro (logo, desejável e interessante). Ali Portugal (e os Portugueses com ele) fazem o melhor que podem (o que, na realidade, é o máximo que se pode exigir seja de quem for). Ali Portugal cumpre-se. Tenho dificuldade em lembrar-me de outros locais (ou circunstâncias) em que possamos assistir tão francamente e tão cruamente à realização, à laboração, deste nosso país.
Ontem calhou-me em sorte (porque, à semelhança do país, também o visionamento da ARTV acontece geralmente ao calhas) a Reunião Extraordinária do Conselho Consultivo para os Assuntos da Imigração (COCAI), dedicada ao tema da participação política dos imigrantes na sociedade de acolhimento. Ontem pude ter uma ideia mais real do que anda a ser discutido, onde e por quem, em relação aos temas da imigração (sobretudo no que diz respeito aos direitos de voto e de eleição por parte das comunidades estrangeiras em Portugal). Ali vi fragilidades, ali vi receios e disparates, ali vi sobrancerias várias, ali vi desinteresse, ali vi um debate a ser travado, uma nação (ou uma noção?) a dar um passo (de muitos) num assunto tão interessante quanto este. Ontem não vi (como geralmente não vejo) os telejornais, mas aposto que nem um mencionou esta reunião e o tema ali abordado. É pena, pois esta reunião e o que por lá se disse dizem-nos muito mais àcerca deste país do que a última notícia (do momento) sobre o último pedófilo (do momento), do que o último programa da Fátima Campos Ferreira, ou mesmo do que o último jogo da selecção nacional de rugby (que, graças a Deus, se vai embora dos escaparates já hoje, e não se fala mais nisso... de amadores está este país cheio). Disso não tenho dúvidas.
Sintonizem-se! A ARTV é do melhor que há. Não diz o povo que o que é nacional é bom?
Há 10 anos
Sem comentários:
Enviar um comentário