domingo, maio 06, 2007

INLAND EMPIRE

Desta vez é que foi. Desta vez o homem passou-se e deixou-nos completamente à nora. Desta vez excedeu-se. Foi longe de mais. Sou fã incondicional de David Lynch desde o primeiro momento em que lhe pus os olhos em cima e estou, por isso, habituado a ter de digerir alguns dos seus filmes em várias sessões ao longo dos tempos. Pois este parece-me impossível de digerir. What the fuck!?!?!
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O filme é, como sempre, uma maravilha do ponto de vista da imagem, do som e da mistura sempre difícil dos dois. Mas a trama, o plot, a linha que nos conduz, porra, desta vez ficou lá bem submersa no escuro em que Lynch ultimamente parece banhar-se. Eu saí da sala a pensar que sim, que está bem, que o gajo lá deve saber muito bem o que nos quis dizer mas que nós é que ainda não estamos preparados, sabem? Tipo, há algo para além disto tudo que vemos e ouvimos, na realidade algo muito claro, muito cristalino, mas que nós não assimilamos, não estamos lá, topam? Eu não tenho dificuldade em acreditar nisto. Lynch é seguidor do Yogi Maharishi, medita 20 minutos de manhã e 20 minutos à noite (40 minutos por dia!), já o vi e ouvi discursar sobre a Luz e a Sombra, já filmou o Mal, já nos ofereceu o Bem, não me é, portanto, difícil aceitar que algo está ali naquelas imagens, naquelas portas falsas, naqueles gritos, naquelas penumbras, algo que pode muito bem fazer sentido um dia. É o cinema quântico, estúpido!
Ou é tudo isto ou o filme é uma merda...

4 comentários:

aquelabruxa disse...

e o eraser head? percebeste o enredo? eu nem consegui ver o filme do princípio ao fim ... ok, sabes, quando vi o mulholland drive pela primeira vez também disse: olha, ó lynch, vai-te lixar, tou farta de ser gozada! lol
mas quando vi esse filme pela segunda vez fez tanto sentido, percebi aquilo tão bem (de mim para mim) e inspirou-me tanto, que achei que o lynch sentia mesmo o que se passava (no universo e comigo).
e o inland empire, bem, como a minha opinão não é assim tão voraz, conto-te a do meu amigo mark, que no intervalo clamava "é o melhor filme dele, pure candy, no story, just beauty! i totally get it, too, it's the end of movies, and the beggining, just like life, no one knows what the hell it is about, all we can do is enjoy it, oh, i'm so inspired i just want to go home and start making music..."
quanto a mim, acho que o filme é um labirinto de histórias, e é essa a história. já o mulholland drive foi assim, dimensões cruzadas...
e as imagens do inland empire são belas, belas, novas, como é que é possível, ao fim de tantas décadas de cinema, este homem ainda conseguir fazer planos tão originais e tão belos? gostei muito do filme, das putas polacas que apareciam a dançar de repente, da frase "it's ok, you're just dying, that's all" do fim... uma relíquia!

anauel disse...

Pois é isso mesmo, eu pensava que o Eraser Head já tinha tido o seu tempo... mas parece que não... Quanto ao Mulholland Drive, bem, esse era de uma clareza quase total, tanto fez sentido na 1ª como na 2ª, como na 3ª vez que o vi. Este não. Este é mesmo marado. Até o Lost Highway que na 1ª vez me pareceu totalmente fora, já na 2ª vez que o vi fez sentido.

O «it's ok, you're just dying, that's all» é magistral, concordo, mas é um dos poucos momentos de narrativa, de cinema, a que estamos habituados. Mas então como fica todo o discurso proferido imediatamente antes, o da vagina com um buraco a ligá-la dirrectamente ao intestino... O que fazer com todos esses devaneios?, pergunto-me eu.

aquelabruxa disse...

lol

aquelabruxa disse...

It's better not to know so much about what things mean or how they might be interpreted or you'll be too afraid to let things keep happening. Psychology destroys the mystery, this kind of magic quality. It can be reduced to certain neuroses or certain things, and since it is now named and defined, it's lost its mystery and the potential for a vast, infinite experience.

david lynch