quinta-feira, março 01, 2007

Óbito

Bento – A fera das balizas
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A rigidez da sua expressão nunca enganou ninguém. O seu sorriso, de quando em vez amanhecido, também não. Manuel Bento sempre foi, desde a nascença até ao dia do seu falecimento (aos 58 anos, vítima de doença súbita), uma pessoa humilde e dono de uma simpatia muito própria e, acima de tudo, sincera. Talvez as suas origens o expliquem. Ainda miúdo, já Bento “partia pedra”, conhecendo o duro mundo das obras. O sustento da família era mais importante, naquela altura, do que outras levezas da vida. Leve, leve-zinho, Bento começou, nessa altura, a despertar uma outra paixão: o futebol. Aos 15 anos deu um novo rumo à sua obra e estreou-se com a camisola do Riachense. Mas não se fale em sonhos. Bem pelo contrário, a realidade de Bento continuava a ser dura, visto que cada treino era uma travessia de quilómetros (feitos, por norma, de bicicleta). A arte de pedreiro, juntamente com a condição física de “ciclista”, complementaram a qualidade que guardava entre mãos. Leve, levezinho (pelo menos para um guarda-redes), Bento pecava pela escassez de centímetros (não era um guardião muito alto), mas sobrava-lhe quilómetros de qualidade. Por isso mesmo, novo, novinho, transferiu-se para o Goleganense, clube da sua terra.
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A estória de uma paixão “encarnada”
As suas defesas voaram até Lisboa, onde o Sporting demonstrou interesse. Mas Bento não gostou da forma como os dirigentes leoninos quiserem vê-lo desvinculado do seu clube de sempre e não foi de modas: regressou a casa. Quem aproveitou tal brinde foi o Barreirense. Corria o ano de 1966, andava a Selecção Nacional a encantar meio mundo em terras de Sua Majestade, e o menino Bento tornava-se num reforço da turma da margem sul, satisfazendo o desejo do guardião, ou seja, ressarcindo o Goleganense. Passaram-se dois anos até que Bento obtivesse uma simbólica vitória ao serviço da turma do Barreiro: nem mais, diante do Sporting.
Bento tornou-se, indirectamente, num dos obreiros de mais um título do Benfica – visto que os “leões” até estavam bem lançados para tentar alcançar o ceptro máximo – e desde então que não mais os “encarnados” deixaram de lançar sérias propostas ao Barreirense, tendo em vista a contratação de Manuel Bento. Em Agosto de 1971, finalmente, chegou ao Benfica, já depois de ter participado na festa de homenagem a Mário Coluna, onde teve o prazer de substituir Lev Yashin. Curioso como, no lugar do melhor guarda-redes de sempre, Bento dava o primeiro passo para se tornar no melhor guardião português de todos os tempos (trata-se de uma opinião que pode ser discutida, claro).
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Pela “porta grande”
Felino, guerreiro e uma das caras (e mãos) da mística do Benfica, Manuel Bento tornou-se no senhor das redes do Glorioso ao longo de quase duas décadas, tendo conquistado, no total, 16 títulos. Razão para dizer que é... obra. E só não ganhou, igualmente, a Taça UEFA, porque o Benfica perdeu a final diante do Anderlecht, no início da década de 80. Seria o merecido reconhecimento europeu para uma brilhante carreira onde, entre milagrosas defesas, conseguiu estar 1290 minutos consecutivos sem golos sofrer. Mas mais que sofrer, até chegou a marcar golos (de penalty) em eliminatórias europeias.
O “Homem de Borracha”, como lhe chamavam os jornalistas britânicos também se tor-nou conhecido pelo mundo fora, tendo defendido as redes lusas no electrizante EURO 84 e no Mundial 86, embora aí tenha vivido a fase mais melindrosa da sua carreira, quando contraiu uma grave lesão num dos treinos realizados após a vitória por 1-0 sobre a Inglaterra. Rude golpe para uma Selecção que não mais se endireitou, perdendo com a Polónia e Marrocos e regressando a casa sob o estigma de “Saltillo”. A sua carrei-ra “durou” até à década de 90, despedindo-se dos relvados, mas seguindo o seu caminho no mundo do futebol enquanto treinador. Reencontrou, no entanto, a felicidade ao serviço do futebol juvenil do Benfica, onde era treinador de guarda-redes. Fica a sensação que tudo acabou cedo demais, mas se olharmos bem para os 58 anos de vida e mais de 40 de carreira de Manuel Bento, então não podemos deixar de concluir que se despediu da vida pela “porta grande”.
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Para a história
Manuel Galrinho Bento - Guarda-redes
18 épocas no Benfica (1972-90); 466 jogos; 8 Campeonatos Nacionais; 6 Taças de Portugal e 2 Supertaças; 63 Internacionalizações.
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Texto: Ricardo Soares
Bibliografia: “Grande Enciclopédia DN dos Europeus de Futebol”; “100 Anos, 100 Troféus”; “Memorial Benfica - 100 Glórias”; “História de 50 Anos do Desporto Português de A Bola” e “The World Encyclopedia of Football”.

Saquei o texto do site do SLB. Espero que não levem a mal. E viva o Bento!

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