Sempre que revejo o filme Casque d'Or (1952), de Jacques Becker, percebo o porquê deste filme ter constantemente lugar cativo na minha lista de filmes favoritos, esse exercício tão arriscado quanto irresistível. Este filme tem tudo para ser um grande filme: tem amizade, honra, traição, morte, ciúme e amor; tem putas, gente que trabalha em mesteres, bandidos, canalhas e polícias; tem bas-fonds, tem a Paris fin-de-siècle, clarabóias, montras pintadas à mão, seges e empedrado; tem bares, cafés, prisões e igrejas; tem Joinville (la campagne) com pássaros, rio, brisa fresca e café quente bebido em malgas; tem silêncios, música, muita música, bailes, riso e absinto a copo; e tem amor e mais amor, encastoado num dos mais intensos pares do cinema francês – Serge Reggiani e Simone Signoret.
A visão de Manda (a personagem de Reggiani) de faixa à cintura, jaqueta, lenço ao pescoço, boina de lado e cigarro na boca descendo um carreiro (em direcção ao rio), entre um chilrear intenso e um mar de árvores (que árvores são aquelas?) e silvas, quase nos fazem sentir o aroma e o gosto das amoras silvestres. E que dizer do aproximar do barco de Marie, enquanto Manda dormita na margem, do som dos remos nas águas calmas do rio? E o acordar de Manda?
Aqui fica uma pequena imagem dela, a casque d'or do título, a loira.
Sem comentários:
Enviar um comentário