terça-feira, março 30, 2010

Lingua Tertii Imperii {#11}



«Afirmo isso com segurança, pois nas demais metáforas de origem técnica do ministro da Propaganda e de seu círculo há muitas referências diretas ao domínio da mecânica, mas sem qualquer alusão à corrente elétrica. Pessoas ativas são reiteradamente comparadas a motores. Por exemplo, o Reich publica em Hamburgo que o Statthalter [prefeito] trabalhava como ein immer auf Hochtouren laufender Motor [motor em rotação máxima]. Muito mais forte do que essa comparação, que ainda deixa perceber uma separação entre a imagem e o objeto com o qual é comparada, é a seguinte frase de Goebbels, que oferece evidência mais óbvia e mais séria dessa atitude intrinsecamente mecanicista: "Brevemente, em diversas regiões, operaremos em rotação máxima". Não somos mais comparados a máquinas; somos as próprias máquinas.»


Trecho retirado do LTI. Lingua Tertii Imperii, Victor Klemperer, Contraponto, 2009.

Lingua Tertii Imperii {#10}



«Uma palavra semelhante surgiu durante a Segunda Guerra Mundial mas morreu também, apesar de aparentemente ter sido criada para durar para sempre. (...) o verbo coventrieren [coventrizar]. Coventry era nada mais que "um centro inglês de fabricação de armas"; segundo consta, apenas militares viviam ali. Pois, como diziam todos os comunicados, só atacávamos alvos militares. (...) Os bombardeiros alemães "tinham demolido a cidade inglesa de Coventry" e agora ameaçavam "coventrizar" as demais cidades (...) Em Outubro de 1940, ouvimos que Londres estava submetida a "ataques ininterruptos de represália", suportando "o maior bombardeio da história mundial", comparado a uma "noite de São Bartolomeu". Seria "coventrizada" se não concordasse logo em reconhecer a derrota.»


Trecho retirado do LTI. Lingua Tertii Imperii, Victor Klemperer, Contraponto, 2009.

There's no kind in Kindle...

Cory Doctorow - ebooks from Bloomsbury on Vimeo.


Cory Doctorow on Publishing, Price Discrimination, DRM, EULA, Amazon, Apple, Kindle, Piracy and whatnot. A must ear!


{via}

domingo, março 28, 2010

Obush



Após assistir a 5 minutos de Obama a discursar na base militar de Bangram, só vem à memória Bush a discursar, provavelmente, na mesma base aos, provavelmente, mesmos soldados. Obush! Ou será Bushama? Safa, que miséria!


PS — A foto não é a do evento de hoje, mas serve. Hoje ele estava um pouco mais Gary Cooper, com o blusão e tudo!

quinta-feira, março 18, 2010

Alto e mais alto, ninguém nos vai parar...



«Responsibility is not a game. It is one of the most authentic way of living — dangerous too.»

O não-pensamento do dia de hoje é sábio.
Nunca as palavras de Osho bateram tão certo.
O Marselha que o diga...

quarta-feira, março 17, 2010

Good morning life... la-la-la-la-la...



Absolutamente fantástico. Lindo, lindo, lindo.
LOGORAMA.

segunda-feira, março 15, 2010

É pouco bom, é...

Ontem, à noite, começou assim {"Harper Lewis"}...


e acabou assim {"Station"}.


Pelo meio foi sangue, suor e lágrimas.
Power!
Blitzkrieg!
Política de terra queimada!
Ai, o meu querido pescocinho...

E revisores, não à?

Eu sei que as gralhas tipográficas/ortográficas/ignorânticas acontecem nos jornais, e aos montes... Mas esta é inadmissível. E logo na capa.



Refiro-me, é óbvio, ao "À" que deve ler-se "Há"! ;D

domingo, março 14, 2010

Lingua Tertii Imperii {#09}



«Aqui cabe destacar a enorme importância da palavra ewig [eterno]. É uma daquelas palavras do léxico da LTI cujo aspecto especificamente nazista decorre de um uso despudorado: na LTI, tudo é historisch [histórico], einmalig [único] e ewig. Podemos considerar que ewig ocupa o mais alto grau da longa escada de superlativos nazistas. Atingindo-se esse estágio mais alto, pode-se entrar no céu. O atributo ewig está relacionado somente com o divino; quando qualifico algo como ewig, elevo-o à esfera do religioso. Na inauguração de uma Hitlerschule, no início de 1938, Ley disse: wir haben den Weg in die Ewigkeit gefunden [encontramos o caminho para a eternidade]. Nos exames de conclusão de cursos era comum haver a "pegadinha": Was kommt nach dem Dritten Reich? [o que vem depois do Terceiro Reich?]. Se um ingênuo ou um novato respondesse das vierte Reich [o Quarto Reich], era eliminado, mesmo que possuísse bons conhecimentos. A resposta correta era: Nichts kommt dahinter, das Dritte Reich ist das ewige Reich der Deutschen [Nada, pois o Terceiro Reich é o eterno Reich dos alemães].»


Trecho retirado do LTI. Lingua Tertii Imperii, Victor Klemperer, Contraponto, 2009.

Lingua Tertii Imperii {#08}



Se System é um termo proibido, então como se chama o sistema de governo dos próprios nazistas? Pois os nazistas, é claro, possuem um sistema de governo e sentem orgulho de que ele esteja na origem de cada manifestação e de cada situação de vida, razão pela qual Totalität é um dos pilares da LTI. Eles não possuem um "sistema", e sim uma organização Não sistematizam com a razão, mas ficam na espreita, tentando captar os segredos do organisch [orgânico].»

«Em 1936, trabalhando sozinho, um jovem mecânico conseguiu dar conta de um conserto complicado e urgente em meu carburador e disse: Habe ich das nicht fein organisiert? [Organizei isso bem, não é?]. As palavras "organização" e "organizar" estavam de tal forma enfronhadas em seu ouvido, ele se encontrava de tal forma impregnado da ideia de que qualquer trabalho tinha de ser organizado, ou seja, distribuído por um chefe para um grupo, que não lhe ocorriam expressões comuns como "trabalhar", "resolver", "executar" ou simplesmente "fazer".»


Trecho retirado do LTI. Lingua Tertii Imperii, Victor Klemperer, Contraponto, 2009.

Lingua Tertii Imperii {#07}



[6 Milhões no Desemprego. 6 Milhões Sem Pão.]

«Há o sistema de Copérnico, há sistemas filosóficos e sistemas políticos. Mas, quando o nacional-socialista diz "o System", ele se refere especificamente ao sistema da Constituição de Weimar. [...] Para os nazistas, o sistema de governo da República de Weimar era pura e simplesmente o System, contra o qual eles estavam em conflito permanente. Consideravam-no a pior forma de governo, alimentando contra ele uma oposição feroz, em contraposição à afinidade que sentiam, por exemplo, em relação à monarquia. [...]


Trecho retirado do LTI. Lingua Tertii Imperii, Victor Klemperer, Contraponto, 2009.

quinta-feira, março 11, 2010

Oh, la, la, ça c'est super...








«ViderParis is a series of computer altered images of the streets of Paris. All traces of life are removed from the images: vegetal, urban furnishings, pedestrians, cars, etc. All the buildings are sealed with sheets of concrete up to the second floor. The series of images are programmed to project randomly from a computer software.»

Vider Paris {1998-2001}, de Nicolas Moulin.

quarta-feira, março 10, 2010

Russian "Frickin" Circles

Bem sei que isto é só no Domingo à noite, no MusicBox.
Mas amanhã à noite há Benfica-Marselha, na Catedral.
E eu quero o Glorioso a jogar assim!




É favor saltar para os 3 minutos e 30 segundos, que é aí que começa o tema "Malko".
Aquele dedilhar inicial é o som do Di Maria a "desfazer" o Gabriel Heinze!

sábado, março 06, 2010

Lingua Tertii Imperii {#06}



«Muito antes do SS nazista existir, esse símbolo aparecia em vermelho nas caixas dos transformadores de voltagem, com a frase de advertência: "Perigo, alta tensão!" Nesse caso, era óbvio que o S dentado representava um raio estilizado. Pela energia e a rapidez, o raio era um símbolo caro ao nazismo, de modo que se podia supor que o sinal gráfico SS era uma materialização, uma imagem pictórica do raio. A linha dupla podia representar força redobrada, pois as bandeirinhas pretas das formações das crianças só tinham um S, ou seja, meio SS.»


Trecho retirado do LTI. Lingua Tertii Imperii, Victor Klemperer, Contraponto, 2009.

Lingua Tertii Imperii {#05}



«SA e SS [...] tornaram-se abreviaturas impregnadas de tanta prepotência que deixaram de representar siglas. Passaram a ser palavras com sentido próprio. Seu significado original desapareceu.
Estou escrevendo aqui SS com a linha sinuosa dos caracteres normais de imprensa, premido pela necessidade prática. No tempo de Hitler, o SS das caixas tipográficas e do teclado das máquinas de escrever, usadas nas repartições públicas, era uma tecla especial com ângulos agudos que correspondiam à Siegrune [runa germânica da vitória]...»


Trecho retirado do LTI. Lingua Tertii Imperii, Victor Klemperer, Contraponto, 2009.

Lingua Tertii Imperii {#04}



«No outono de 1941, quando já se sabia que a guerra não terminaria logo, ouvi falar amiúde a respeito dos acessos de ódio de Hitler. Inicialmente teriam sido assomos de fúria, em seguida ímpetos de cólera. Dizia-se que o Führer mordia lenços e travesseiros, e que teria até mesmo se atirado no chão para morder o tapete.
As historietas provinham sempre de gente simples do nosso círculo, como operários, vendedores ambulantes e carteiros imprudentes. Enfim, dizia-se que ele tinha devorado as "franjas do tapete", e por ter adotado esse hábito recebeu o apelido de Teppichfresser [devorador de tapetes]»


Trecho retirado do LTI. Lingua Tertii Imperii, Victor Klemperer, Contraponto, 2009.

Lingua Tertii Imperii {#03}



«Algum tempo depois eu lhe perguntei sobre um rapaz que conhecia. Ele deu de ombros:
— Está na AEG, você sabe o que isso significa, não é? Não? Alles Echte Germanen [Todos Germanos Autênticos].
Ele sorriu e estranhou que eu não acompanhasse o sorriso.»


Trecho retirado do LTI. Lingua Tertii Imperii, Victor Klemperer, Contraponto, 2009.

sexta-feira, março 05, 2010

Tel{eu}úrico



Querem tremer? Tremer, tremer. Querem ficar paralisados? Boquiabertos? De rastos? Perturbados? Ou julgam que já têm a vossa conta? Que já sofreram o suficiente com as vítimas da malograda ilha. Que o Haiti vos deixou de rastos. Que o Tsunami ainda se faz sentir. Que ainda nem recuperaram bem do 9/11. Isso julgam vocês. Ainda não viram nada. Olhem que há coisas bem piores, bem mais diabólicas. Eu corri recentemente aqui o risco de vos parecer insensível, um tipo frio que se está a marimbar para as dezenas-centenas-milhares de pessoas que por aí caem redondas. Mas olhem que não fico. Mas, confesso, há outras dimensões que me tocam mais. As dimensões interiores. Os cataclismos interiores. Em que o sismo, o tremor, o abalo é entre o eu e o eu, o eu e o outro, o eu e o outro que sou eu, e o eu em que sou o outro e eu, o eu verdadeiro.... A mentira. A verdade. A mentira verdadeira. A verdade mentirosa. A mendarde e a vertira. E num ápice estamos perdidos, fodidos, desfeitos. Em que quem fica desalojado depois da enxurrada não é o cidadão, mas antes a percepção de si. A solidão, é o que é. A dor. A puta da vida. Bem ao contrário do que pensava Sartre, o Inferno somos nós. E há histórias, histórias dolorosas, que o comprovam, como a história de Frédéric Bourdin. Acreditem, esta história, esta{s} personagem{ns}, estas "aventuras", são verdadeiramente avassaladoras. Mas o mais fixe é que se o Inferno somos nós, bom, então significa que o Céu também podemos ser nós. Haja esperança. Não é essa a palavra de ordem que costumamos ouvir a seguir às catástrofes?

Chega de paleio. Façam-se à estrada. Leiam o texto. O artigo original em inglês ou em português.

De seguida podem dar uma saltada à conta youtube de Frédéric Bourdin {e comprovar que a esperança começa a viver por ali também...}.

Acrassicauda



A não perder! Heavy Metal in Baghdad, documentário sobre a primeira {e ainda única?} banda de heavy metal iraquiana, os Acrassicauda. Mais do que o interesse natural pelo facto de haver uma banda de metal em Baghdad, o que torna mesmo bom este documentário é podermos assistir e compreender um pouco mais a realidade quotidiana daquele Inferno-na-Terra, as suas particularidades, as anedotas de todo um regime, o êxodo iraquiano para os países vizinhos, as ansiedades e os traumas de quem por lá {sobre}vive. Obrigado, pois, à vbs.tv, a Spike Jonze e, acima de tudo, a Eddy Moretti e Suroosh Alvi {crazy motherfuckers}.

Myspace

Harmonia

Sair para a rua, headphones na cabecinha, debaixo desta chuva miudinha, sobretudo com a gola subida, ao som de Dick Farney



não podia ter um bom final, não podia ir longe... Rapidamente entram em cena os Cult of Luna



e a caminhada fica logo outra, o dia passa a algo que poderia chamar de solarengo. Não há nada como estar em sintonia, em harmonia, com os elementos!

quinta-feira, março 04, 2010

Copinhos de leite...

Por razões profissionais tenho andado ultimamente às voltas com centenas de páginas de paleio sobre o 5 de Outubro e a Implantação da República. São cerca de 800 páginas escritas na primeira pessoa por alguns dos ilustres cidadãos, para não lhes chamar gandas'cromos, que nesses dias andaram aos tiros e à espadeirada pelas ruas da capital. Mais do que as intrigas, mais do que a bandalheira, sinceramente até mais do que a insistente pergunta «mas como é que estes tipos conseguiram alguma vez levar isto em diante e instaurar a dita República?!», o que mais me choca, no sentido de surpreender, o que mais me diz deste povo tonto e fracote é que, não um, não dois, não três, mas vários, vários mesmo, desses tipos, valorosos combatentes, a uns e dados momentos da contenda, achavam por bem, a fim de sossegar o espírito e o estômago, tragar uns copitos de... leite!


Aguardentes disto ou daquilo, vinho branco ou tinto, cerveja morna ou fria, traçados, rascantes, distilações caseiras, múltiplas opções poderiam ter regado as bocas sedentas daqueles combatentes. Mas... nada disso. A escolha fiel e segura era o leite. Decididamente, isto só faz lembrar, 100 anos depois, o notável «Come antes uma peça de fruta, que te faz melhor, rapaz».




É exigida uma rectificação. Afinal também houve lugar a libações. «Vim descendo para o acampamento, e pelo caminho reparei em diversos grupos de rapazolas que se entregavam a libações dentro das barracas, não se importando com os tiros que rebentavam por cima das nossas cabeças; entrei numa e confesso que não dei o tempo por mal empregado, pelo que gozei, chegando a rir com vontade dos chistes que ali dentro se diziam; dois rapazes, os tipos mais farsantes e excêntricos que em minha vida tenho encontrado, estavam por detrás do balcão dizendo chalaças e oferecendo vinho, sem exigirem dinheiro por ele. Tudo aquilo nos pertencia, podíamos fumar, comer e beber de graça.» Assim, sim.

terça-feira, março 02, 2010

Óbito

7 de Junho, 1930 – 27 de Fevereiro, 2010



Admiro tipos destes...



Tipos como John Downer, artífices, a vida passa por eles, ou eles pela vida, certamente de modo bem diferente de como passa pelo restante de nós. A tensão, a respiração, o mundo lá fora, passando em segundo plano, uma buzinadela, um riso, um avião, enquanto, apoiados no vidro, num equilíbrio particular, assistem, no sentido de ajudar, socorrer, ao nascer de algo único.


Reserve Glass Gilding by John Downer from Reserve LA on Vimeo.