sexta-feira, julho 31, 2009

I
Bem amiga comigo cantar
Esta minha linda canção
Tu para mim es tudo na vida
Estas dentro do meu coração

II
Tu és muito linda e Bela
No Mundo não á igual
Es a menina mais linda
Deste nosso Portugal

III
Es linda e és bela, simpatia
não te falta quando vais ao
pingo dôce es a alegria da malta

{transcrição integral; ler e/ou cantar na toada de "Canta, canta, amigo canta" de António Macedo}




A menina Júlia volta a fazer das suas... Desta vez não foi a avó a puxar da caneta, mas antes a mulher-a-dias cá de casa que se despede assim, a caminho de férias, da sua companhia quase diária. Eu percebo a Glória e o pessoal do Pingo Doce, a Júlia é de facto a alegria da malta. Nos dias que se avizinham serão os veraneantes da Consolação a consolarem-se com ela... Até um dia destes. Boas férias, a quem for de. Boa Lisboa, a quem ficar em.

terça-feira, julho 28, 2009

A Vida de morte em morte...

Se no episódio relatado no post anterior as importantes palavras surgiam de manhã, dou-me agora conta de que na noite anterior outras palavras tinham sido ditas e que, sim, umas estão relacionadas com as outras. No final de uma noite de jantarada e de copos, em casa de uma amiga felizmente recém-encontrada, no final de uma noite, dizia eu, que acabou em torno do tema morte, já estava eu de pé, casaco na mão, o pessoal a desmobilizar, por entre procuras simultâneas de objectos deslocados, onde estão as chaves de casa?, e os cigarros?, ouvi-me dizer, já a meio-gás, quase na certeza de que ninguém ouviu, que «no fundo, no fundo, um bom passo será sempre o de contrariarmos as nossas certezas, as nossas crenças, as nossas particularidades». Se tivermos a capacidade de contrariar o nosso sistema de crenças, se tivermos a coragem para nos interrompermos, se levarmos a cabo estas pequenas mortes {não confundir com la petite morte} de nós mesmos, então a vida cresce em nós. Matar, pouco a pouco, certas prisões de nós mesmos, liberta-nos. A minha mente, o meu desejo, diz-me «não vás ao baptizado, foda-se, era o que faltava agora ir perder o meu tempo com um baptizado, ainda por cima de fato e gravata, caramba, e o calor que está?»? Pois eu digo {e faço} «vou ao baptizado!». Fui.

segunda-feira, julho 27, 2009

Serviço

No domingo acordei com uma frase na cabeça. Ela acordou-me. Despertei para aquele dia que começava com a nítida sensação de aquela ideia estivera a noite toda a maturar, a construir-se, a aperfeiçoar-se depurando-se. E que, quando escrita a contento, me deixara dormir sossegado as horas que faltavam para o amanhecer. Quando a luz se impôs no corredor, a frase, a ideia, dava-me então os bons-dias dizendo-me que «se não conseguires fazer o que os outros te propõem, não vais conseguir fazer aquilo a que tu próprio te propões». O desafio era claro, a pena aventada dura.

Nessa manhã saquei o meu fato de casamentos e velórios e pendurei-o na ombreira da porta. Ali esteve a olhar-me até meio da tarde. Acabei de ver o Le Samouraï, vesti o fato e dirigi-me ao baptizado do filho da primo da mulher. Família é, também, isto. Durante duas semanas andei a remoer, evitar, desprezar, a isentar-me do fato antracite, mocassins pretos com sola de couro, cinto dupla-face e botões de punho. Agora, estou grato pela sabedoria da frase. Grato pela sabedoria que é saber que uma frase, um pensamento, pode mudar uma vida. O meu fato, agora, é de casamentos, velórios e baptizados. E eu estou, agora, um pouco mais capacitado para fazer aquilo a que me proponho. Bingo.



PS - A gravata ficou em casa, mas a lição estava aprendida...

quarta-feira, julho 15, 2009

Similitudes



Esta fotografia da minha filha mais nova, tinha ela uns 5 meses, anda, desde então, a perseguir-me. Saltou quase imediatamente para o desktop do PC cá de casa e diariamente a vejo ali, redondinha, uma lua-cheia amorosa, mas sempre recortada, como a vemos aqui. No dito desktop eu olho para a fotografia completa, com fundo, com sofá, com áreas desfocadas, mas o que me fica ali a tinir na retina do mental é este recorte, este balão misterioso, sempre esta vinheta. E sempre a sensação de que algo de muito íntimo se espelha nesta fotografia tão recente, tão inexperiente. Como se nos conhecessemos há já muito tempo. Esta carinha redonda tem despertado em mim sensações de memórias, mas de memórias que não se dão a mostrar, que não se revelam. É estranho ter emoções mexidas por memórias que não se identificam. Um bom estranho.

Pois hoje de madrugada {creio mesmo que foi naquela fase de passagem do a dormir para o acordado, numa espécie de lusco-fusco revertido entre o consciente, o inconsciente e o subconsciente}, pois hoje, uns meses passados desta constante relação diária, desta persistência, dei-me conta da ligação. A similitude deu-se a mostrar. A Máscara Misteriosa que marcou indelevelmente a minha infância está estampada {pelo menos para mim, que a mãe dela apenas encolheu os ombros...} na carinha marota da Júlia. Não se trata apenas de um álbum do Spirou. Trata-se "do" álbum do Spirou. A intriga, o medo, o delírio, Tati muito antes de Tati, o frenesim, o mal, os tempos e luzes e matizes e cheiros do dia e da noite, o "outro", o desespero, a febre e, finalmente, o clímax que esta aventura de Spirou e Fantásio derramava ocuparam de novo as minhas horas. E tudo graças à similitude. Por isso existia uma estranheza instalada. Agora que os motivos da estranheza estão identificados, resta-me explorar os motivos dos motivos. Que me quer ainda esta carinha laroca {marota?} mostrar, dizer, sussurrar? A ver em próximos capítulos...


quarta-feira, julho 08, 2009

Crescendo

Hoje ouvi uma parte de conversa alheia. Foi só um pouquinho, e não era privada. Uma pré-adolescente falava com um pré-adolescente. Faltavam da Matilde, uma colega de ambos na turma de equitação. Falavam de algo que não identifiquei à primeira, era algo lá deles. Gerou uma risada aqui, um aceno ali, um entendimento de ambas as partes. E eu observava-os, a uma distância, sob um céu chuvoso, deixando a brisa quente trazer-me alguns sopros da dita conversa.

E agora que faço o jantar, passadas tantas horas do sucedido, é que me dou conta da sensação de estranheza que me invadiu naquele momento. O verdadeiro interesse deste episódio. Isto é, o facto de a tal Matilde ser a minha filha mais velha. E de ali, naquele momento, a Matilde ser outra. Não era da minha filha que aqueles dois falavam. Era de outra Matilde que eles falavam. Dou-me conta de que a Matilde tem já, inquestionavelmente, uma vida dela, uma vida que me escapa, à qual eu não pertenço inteiramente. Existe já uma rede que emana dela, própria, característica, em crescendo. Existem já criaturas que se lembram dela em determinados momentos. Que a mencionarão em conversas ao sol. Quem sabe, que lhe telefonarão a propósito disto ou daquilo. Que ela influencia. A isto se chama crescer, expandir. Isto, sim, é a verdadeira rede social.

Isto é tão bom. É a única coisa que me ocorre dizer. Tão bom.

segunda-feira, julho 06, 2009

Salvação

Hoje aprendi que a Salvação surge de onde menos se espera. Uma mão na parede. Um despertar, um demolir paredes, um mundo novo que nos espera. Nina Simone, sweet music to my ears... Haja esperança.























{O Home fez-me lembrar o House, 1993, da Rachel Whiteread}

sexta-feira, julho 03, 2009

E pára o baile...

Sócrates pode ter muitos defeitos. Pode ser um trafulha, um convencido, um mirabolante, o que queiram. Muita gente já não o pode ver à frente. Convencidos que estão de que não há pior. Mas há. Há o lado negro de Sócrates, a verdadeira pecha da sua existência. Aquilo que é mesmo mau, porque, sim, ele tem um lado negro. Inominável. Falo, naturalmente, de Manuela Ferreira Leite. Manuela Ferreira Leite {na realidade, o PSD; este e qualquer um, porra...} é o verdadeiro problema que Sócrates representa para este país e para os seus habitantes. Parece haver por aí muita gente tentada a experimentar esse lado negro. A vertigem, essa puta. Mas também parece haver por aí muita gente a começar a ter medo de tal revelação. Pode ser que já seja tarde. Estão avisados. Estar sempre a ladrar e a roer as canelas do "engenheiro" tem um custo. Alto.

quinta-feira, julho 02, 2009

Sturmbannfüher

A noite é fria e dura.
O chão molhado, a água gélida da chuva recém-caída
repele a luz demente dos esparsos candeeiros
e dá novas arestas aos objectos,
aos abjectos.
O homem deita-se,
depois de ter despido o dólman que tresanda
a charuto
e a morte.
A última imagem que lhe atravessa a cabeça dormente
é aquela onde figuram dois pontos de luz que esvanecem.