quinta-feira, janeiro 22, 2009

Óbito

Shigeo Fukuda
4 de Fevereiro, 1932 – 11 de Janeiro, 2009


Coisas de que Obama se "esqueceu" de falar no seu inaugural speech (#3)

Claro que o post anterior remete-nos obrigatoriamente a este. Os EUA são o país do mundo com a maior taxa de armas particulares do mundo. Em mais nenhum local do planeta uma população se arma como a norte-americana. Os fantasmas, os perigos, os contágios, as miasmas, o Medo pura e simplesmente, são mais que muitos e de vária sorte. Pobre nação. Terá Obama sentido a necessidade de acalmar os espíritos daquele povo oprimido e de relativizar e reenquadrar essas palavras tão mal interpretadas que são Right to keep and bear arms? Pois, pois, é mais quem-vai-à-guerra-dá-e-leva...

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Coisas de que Obama se "esqueceu" de falar no seu inaugural speech (#2)

Os EUA estão desde o último quartel do século dezoito permanentemente envolvidos em acções militares, domésticas ou exteriores, em parcerias estratégicas ou isoladamente. Seja pela sua própria e legítima necessidade de sobrevivência, seja por via da famigerada Pax Americana ou através da nova War on Terror, os EUA são o país mais bélico que alguma vez habitou e governou à face deste planeta. Obama mencionou esta mancha, esta bloody frenzy que parece dominar as almas dos seus conterrâneos? Ponderou questionar as virtudes e vantagens de refrear e adocicar a seiva que lhes corre nas veias? Pois...

Coisas de que Obama se "esqueceu" de falar no seu inaugural speech (#1)

Os EUA são o país com a maior população prisional do mundo. Qualquer pesquisa, por mais superficial que seja, vos dirá isto. Os números variam, é certo, as abordagens também, mas uma coisa é inegável, nisto os EUA são campeões. Reparem que eles até séries televisivas fazem sobre o tema. Profissionais como ninguém. Mas Obama mencionou este vergonhoso estado da nação no seu discurso de ontem? É o mencionas.

We're All Gonna Die



Fragmentos de uma fotografia {100m x 0,78m} absolutamente genial. Não percam a experiência no site do fotógrafo, Simon Høgsberg. Isto in loco deve ser uma experiência e tanto.

terça-feira, janeiro 20, 2009

Some notes on the Obama's inaugural...

1. Sim, papei a cerimónia de uma ponta à outra. Em directo, na BBC, para que conste. Há sempre uma primeira vez... Mas não é assim tão grave, é como fazermos a bela da directa para assistirmos à cerimónia da entrega dos Oscars ou assistirmos ao primeiro episódio do Big Brother. É tudo showbizz, nada mais.

2. Há oito anos atrás, no rescaldo do falhanço Gore/Lieberman, após as insólitas recontagens da Florida, quem diria que esse povo burro, estúpido, tonto e tão ridicularizado por esse mundo fora seria o mesmo que hoje faz história... Pois é, a memória é curta. Muita gente devia estar neste momento a pedir perdão aos norte-americanos pelos insultos. A não ser que eles continuem a ser um povo estúpido por ter eleito Obama... Decidam-se.

3. Acima de tudo, uma palavra é devida por muitos a Bush, pois sem Bush nada feito. Sem oito anos de Bush parece-me óbvio que Obama nunca teria sido eleito.

4. Um pastor evangelista de vómito a anteceder o juramento de Biden. E ainda há quem se atreva a falar de {e atacar} nações e povos fundamentalistas, daqueles que misturam "perigosamente" Deus e Política...

5. Um discurso miserável por parte de Obama. Pobre, pobre, pobre. Nada de interessante ali se esgravata. Já o contrário... E não podia discordar mais quando ele afirma que os EUA não têm nada de pedir perdão por perseguirem o seu estilo de vida, seja lá a quem for. Ai têm, têm... E hão-de percebê-lo, mais tarde ou mais tarde.

6. Curioso o facto de o juramento do Vice-Presidente e o do Presidente serem tão distintos. O Presidente jura: I do solemnly swear (or affirm) that I will faithfully execute the office of President of the United States, and will to the best of my ability, preserve, protect and defend the Constitution of the United States. Já o Vice-Presidente jura: I do solemnly swear (or affirm) that I will support and defend the Constitution of the United States against all enemies, foreign and domestic; that I will bear true faith and allegiance to the same; that I take this obligation freely, without any mental reservation or purpose of evasion; and that I will well and faithfully discharge the duties of the office on which I am about to enter. So help me God. Mais vital aquela jurada por Biden {e Cheney antes dele}, não? Como se o Vice-Presidente fosse mais importante, não é?

7. A limusina que transportou Obama até ao Capitólio é um Humvee e chama-se {tão engraçadinhos que nós somos...} The Beast... E ele sentou-se nela? Não exigiu nova viatura? Como se não chegasse o mau gosto, quer da viatura quer do epíteto, é um mau começo para quem promete fazer frente ao aquecimento global e pretende promover a criação de novos combustíveis.

8. Ou muito me engano ou não vai faltar muito para o surgimento de novos slogans, tipo Yes, We Thought We Could ou ainda Time for Disappointment.

9. Vão ser 4 anos muito interessantes.

10. No fundo, no fundo, a tomada de passe de Obama foi como a comida norte-americana, foi como os cenários dos talkshows norte-americanos, como a construção e mediação imobiliária norte-americana, como a ida à Lua {dizem alguns...}, como as mamas das boazonas norte-americanas, ou seja, fake, fake, fake...

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Can they...?

Amanhã começaremos a observar se a Obamerica vai mesmo começar a mudar ou se, à semelhança da Janine {ver post anterior}, apenas vai começar a perder peso... Embora, a mim, me cheire mesmo mais é a facelifting. A ver vamos.

domingo, janeiro 18, 2009

— People can change, and I'm changing.
— You're not changing, Janine, you're just losing weight.



Pequena jóia dessa muito interessante e saborosa série/telefilme/filme/seriado da HBO que dá pelo nome de Empire Falls. Recheada de bons actores {tiro aqui novamente o chapéu a Paul Newman!}, cheia de histórias obscuras e gente retorcida, repleta desses deliciosos desentendimentos que ocorrem por vezes entre entre o passado e o presente de uns e de outros. Tudo passado num Maine absolutamente deslumbrante quanto misterioso e, mesmo, perigoso. Poder e submissão, com algum amor e misoginia pelo meio e mais um pouco de manipulação e desvio. Lovely, portanto.

Uma boa notícia...

Leio, no Público de hoje, que Manuel Cajuda só vai abrir a boca lá para 2010. Seja!

sábado, janeiro 17, 2009

Há coisas pelas quais vale a pena esperar

Andei anos a namorar esta fantástica edição da Criterion nas prateleiras da Fnac {Chiado} e ontem, finalmente, adquiri-a. Em saldos! Redução de 50%. Lindo. Neste filme tudo é bom. Sobretudo a banda sonora, de Miles Davies, de qual aqui deixo um cheirinho. E hoje, chuva molha-tolos lá fora, um nevoeiro do caraças, o dia não podia estar mais apropriado para me encafuar no elevador... Going up!

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Hell of a Western!

Tenho andado arredado destas lides, tenho andado "cansado", mais para lá do que para cá {mas num bom sentido, atenção...} e, apesar de tudo, sempre com uma vontade dos diabos de tirar as aventesmas do post anterior da vista de quem aqui regressa na esperança de algo novo. Hoje, finalmente, as enormidades sobre as relações católicos/muçulmanos proferidas pela besta, perdão, bispo Policarpo tinham tudo para ser o motivo certo e ideal, pareciam talhadas para arrancar este blog do marasmo. Mas não, nem isso. Quero é que o homem se vá catar, mais às suas ovelhinhas. O que tenho para vocês é isto — A Gunfight {1971}.
Mais um de 1971. Não é um western genial, é certo. Mas tem um enorme Johnny Cash {os minutos iniciais em que ele anda por ali, empoeirado e barbudo e gadelhudo, são muito bons}, tem um Kirk Douglas igual a si mesmo {ele não é lá grande coisa, pois não?; mas porque é que sabe sempre bem vê-lo...?}, tem a estreia do jovem Keith Carradine {a par de McCabe e Mrs. Miller, do mesmo ano} e tem uma mulher de armas, que sabe o que quer e que não hesita em expressá-lo {Nora Tenneray, a mulher de Kirk}, o que é sempre bom num western. Mas tem acima de tudo um belíssimo texto, muito bem esgalhado, recheado de falas muito bem sacadas. A ver, sem sombra de dúvida.



Também vi um outro western de 1971 recentemente — que isto dos westerns parece que vêm aos pares... — Soleil Rouge, de Terence Young.
Bom, este tem Charles Bronson {é preciso dizer algo mais...?}, tem Ursula Andress {é só manha, o raio da hellcat...} e tem um par de actores estrangeiros, exóticos, que não estamos habituados a ver com paisagens poeirentas em pano de fundo, nomeadamente Toshiro Mifune e Alain Delon! O samurai está caricato mas Delon então está muito curioso, no seu papel de pistoleiro canhoto, o Gauche, que numa onda toda estilosa lá se vai escapulindo com as massas do herói..

É ou não é melhor estar a ver filminhos deste calibre, do que estar a dar demasiada importãncia às tiradas do bispo Mentecapto, perdão, Policarpo? Ah, pois é...

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Race With The Devil



O filme é manhoso, mas é daqueles que um tipo vê por obrigação e por atenção para com Warren Oates. Que, diga-se em abono da verdade, tirando uma boca foleira ou outra não vai lá grande coisa. Nem o Peter Fonda, de resto. Mas esta sequência de potenciais filhos do Diabo que a loira histérica de serviço observa das águas da piscina é muito bem esgalhada. Aqui ficam eles. E o Obama que se cuide, se pensa que estes tipos já não andam por cá. Esta América, a que o filme tenta apontar o dedo, ainda existe.

«Devolver o rio aos lisboetas.»

Ciclicamente surge-nos esta expressão aos ouvidos, aos olhos. Na imprensa, na rádio, na televisão. Desde sempre que a oiço, surgindo a propósito do negócio dos contentores, da generosidade do POZOR, de um projecto megalónomo, de uma nova licença de um novo restaurante/museu/concessionário automóvel, whatever. Garanto-vos que nunca a entendi. Mais, que sempre me irritou solenemente. Que treta é essa de devolver o rio aos lisboetas? Quando é que eles o viveram realmente? Em que época de ouro? E quando é que foram espoliados de semelhante valor? Deve ter sido um trauma espectacular! De tal ordem que ainda hoje tal vaticínio salvífico se mantém — havemos um dia de devolver o rio aos lisboetas. Ah, dream on, dream on. Mas a expressão e a quimera lá vão persistindo. Ano após ano. Década após década. Século após século.
Pois bem, desta vez foi no Público do último dia do ano de 2008 que ela se fez sentir. Era grande o artigo sobre o caos que grassa nessa zona nobre da cidade que é o intervalo entre a Praça do Comércio e o Cais do Sodré. Que era Feios, Porcos e Maus, que era Kusturica, que era uma vergonha. Que está repleta de indigentes que ali acampam e secam os seus trapos ao ar livre {Aldeia da Roupa Branca reloaded, topam?}, que tem fogareiros improvisados, que não é segura. Que não é modo de tratar aquela zona da cidade. Pois bem, malta. Primeira chamada à realidade — há 37 anos, pelo menos, que aquela zona da cidade é assim, suja, feia, inóspita e desagradável. Sempre mal tratada, sempre habitada por tipos suspeitos. Lembram-se do café que servia a antiga estação fluvial, o Wagon-Lit, ou lá o que era? Lembram-se? Aquilo era pura e simplesmente intragável, infecto. E quantos anos não esteve aquilo para ali, aberto, ao serviço? Para não falar de um posto de gasolina que por lá andou, logo a seguir, anos a fio, entaipado, envergonhado. Dava muito jeito, sim senhor, mas era uma vergonha tê-lo ali. Se calhar, ainda lá está... E o Tolan? Sim, aquele tabuleiro ali à beira-rio, tão digno da cidade, ficará para a história como a plateia dos mirones do espectáculo da remoção do Tolan! Lembram-se? Eu estive lá, com o resto dos papalvos... {e não estive sozinho, que estas fotografias não são minhas...} Segunda chamada à realidade — já vos passou pela cabeça que agora sim, pela primeira vez na história desta cidade, o rio, a zona ribeirinha, tenha de facto sido devolvida aos lisboetas? Sim, aquela malta que por lá anda neste momento também é lisboeta e está a viver o Tejo como ninguém! Pois, por mim, que o curtam. Finalmente a expressão faz sentido, tem razão de ser. Será que, finalmente, não a ouviremos mais?

enough e há enough...

De um ponto de vista financeiro não se pense que o post anterior incita ao miserabilismo. Que não fique a ideia de que enough é querer pouco, de que quem sabe dizer enough é forçosamente alguém pobre, remediado. Ou que o dinheiro não tem importância. Não. Ele tem-na e aqui damos-lhe toda a que lhe é devida. Aliás faço minhas as palavras do ponto 6 das 10 leis para se ser feliz... Mas se acho que todos temos um ponto enough, também acho que ele não é igual para todos. O meu enough não deve ser igual ao de, digamos, Ricardo Salgado. O meu enough é uma coisa, o dele é outra. Mas ambos temos o nosso enough e ele é tão importante quanto o nosso dinheiro. Se eu descuidar o meu enough e for ganancioso {que é disso que se trata quando falha a coragem para dizer «estou bem, satisfeito, obrigado»} posso viver uma separação amorosa, passar por uma humilhação terrível no escritório ou criar um grave problema de saúde. Mas se um qualquer Ricardo Salgado descuidar o seu enough, bom, aí temos a crise financeira. Belo serviço, sim senhor.