segunda-feira, novembro 24, 2008

Círculo

O passado dia 23 viu, nas suas horas iniciais, a minha filha Júlia abrir os seus olhinhos ainda "inúteis" e viu, nas suas horas declinantes, o fechar dos olhos de um homem sensível e sabedor, Rogério Moura. Garanto-vos que sair de uma maternidade repleta de criaturas lactentes e ir directamente para um velório, o de um homem que muito tinha de menino e que, suspeito, foi um avô "à maneira", é uma verdadeira lição de vida. Um turbilhão de emoções, de uma clareza assertiva.

Rogério Mendes de Moura

Perdeu-se um Senhor. Mais não é preciso dizer neste momento. Até mais, amigo.

23 de Novembro de 2008—01h:03m—51,5cm—3,595gr

Sê bem-vinda a este planeta querida Júlia! Que a aventura te seja benéfica!

sexta-feira, novembro 21, 2008

Lightning Bolt

Domingo que vem, estes caramelos {que não têm outro nome} vão dar espectáculo num dos pisos do parque de estacionamento do Largo de Camões. Eu vou estar lá. Espero. Espero que a Júlia assim mo permita... Vê lá rapariga, ou antes ou depois, mas não durante, ok? Valeu.

quarta-feira, novembro 19, 2008

Fritz Walter


«Walter, a midfielder with I.FC Kaiserslautern, was a man of some footballing sophistication but personal simplicity and an obvious cypher for the characteristics of the German workforce that were hauling the country out of its economic abyss: focused, modest, loyal, unyielding and undying in his dedication to the collective cause. His enigmatic reticence made his life magnetic to myth and legend. At the end of the war Walter was attached to the football team of an air-force unit on the Eastern Front. He was captured by the Americans but handed over to the Soviets who put him on a train for Siberia. At the final stop at the Ukraine he joined a kickabout with the guards. He was recognized by the camp officers and miraculously sent back to Germany. During the war he was said to have contracted malaria, a condition he never entirely shook off, and was ever after strangely energized by dank wet weather – known colloquially as Fritz Walter weather. This was a man who miraculously survived the Armageddon of defeat and occupation, who carried the feverish sickness of the whole experience in his veins, who came back to the same club and the same life he had left in 1939 and just tried to get on with it.» David Goldblatt, The Ball Is Round, 2006


Fritz Walter, o primeiro alemão a erguer a Taça Jules Rimet, que é como quem diz o primeiro alemão campeão do mundo. Nos idos de 1954 sob a batuta de Sepp Herberger dirigindo o Das Wunder von Bern.

Rectificação — Na verdade, Fritz Walter foi o primeiro alemão a "segurar" a Taça Jules Rimet, e não a "erguer". Pois, como é sabido, o primeiro homem a fazê-lo, mesmo que por sugestão alheia, foi Hideraldo Bellini, 4 anos depois, na Suécia, quando o Brasil conquistou a sua, também, primeira Taça Jules Rimet.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Das Wunder von Bern

Como não ficar plenamente emocionado ao assistir a isto?









Estádio de Wankdorf, Berna {Suiça}, 4 de Julho de 1954. Final do V Campeonato do Mundo de Futebol. A fenomenal selecção da Hungria face à pouco reconhecida selecção da RFA. E o Milagre de Berna perante os olhos de milhares e os ouvidos de muitos mais. A Alemanha de Sepp Herberger e de Fritz Walter derrotando a Hungria de Gusztav Sebes e Ferenc Puskas! Mein Gott! Provavelmente a mais completa partida de futebol de sempre {embora esteja certo de que os brasileiros devam contestar tal imputação...}. Pela emoção do jogo propriamente dita, pela qualidade do jogo jogado, pelos casos {o offside a Puskas ainda hoje é contestado}, pelas bolas à trave, pelas magníficas defesas de ambos os guarda-redes, pela chuva torrencial, pelo lindíssimo relógio Longines, na torre, sempre presente, assustador e, sobretudo, pela implicação política que representou o regresso da Alemanha à competição e à realização de feitos de cariz mundial. E pelo relato radiofónico de Herbert Zimmermann, considerado por muitos como um dos mais expressivos e emocionantes radialistas desportivos de sempre {embora esteja certo de que os brasileiros devam contestar tal imputação...} Ainda hoje os seus efusivos berros finais «Aus! Aus! Aus! Das Spiel ist aus. Deutschland ist Weltmeister, schlägt Ungarn 3 zu 2!» são reconhecidos e despertam emoções na Alemanha. E, nem que fosse por este momento {ver os primeiros segundos do 3.º filme}, pela belíssima, deliciosa, magnética, fritzlanguiana saída de Sepp Herberger dos balneários, prestes a enfrentar a segunda parte e o destino.

sábado, novembro 15, 2008

Com amigos destes...

Um está de carraspana, em casa, desgraçado da vida. O outro enfrasca-se e já não recupera como dantes. Um outro mete-se em fins-de-semanas com gurus do branding ou whatever. E eu fico agarrado desta maneira... Sim, também eu já não tenho as forças do antigamente e o Barreiro ainda é longe, pá. Assim sendo, fico-me aqui com um duchesse na mão e os episódios derradeiros da fourth season do The Wire na caixinha mágica. Bom, resta-nos sempre este notável "Lord Have Mercy".

quinta-feira, novembro 13, 2008

Coração aquecido...

Entretanto, com o frio, e neste compasso de espera à espera da Júlia, regressei ao tricot. Um belo cachecol em três tons de castanho, bem Howlin Rain!, para aquecer o primeiro Inverno da filhota que aí vem. Sempre que ali volto, é a mesma história, a mesma sensação de bem-estar, de relaxe, de vida plena. Ontem – ali encaixado no sofá, de frente para a "gorda" e para a garota, eu no tricot, elas no crochet, todos embalados por uns tipos a cantar ópera em francês – foi puro deleite.

Howlin Rain

Ontem foi assim, em Barcelona. E depois de amanhã, no Barreiro?

terça-feira, novembro 11, 2008

E à 44.ª vez...


Por muitas dúvidas que eu tenha acerca do futuro aberto pela eleição, e sobretudo pela emoção gerada em torno da eleição, de Barack Obama, uma coisa é certa – contra factos não há argumentos. Além de que a ilustração está muito boa; está muito, como dizer?, ilustrada...

{Via}

quarta-feira, novembro 05, 2008

Afinal foi mais isto...

Ontem à noite, enquanto os EUA se preparavam para contratar o porteiro Obama, era com este "Harper Lewis" que os Russian Circles abriam as hostilidades. Abençoados sejam os três rapazes!

Bater no ceguinho...

Nada mais triste do que os elogios a que tenho assistido em relação a McCain e ao seu discurso de derrota. Típico da maledicência profissional que esculhamba a torto e a direito, esmifra o pobre do homem e a louca do Alaska e, depois de ganho o jogo, bom, lhe tira o chapéu e reconhece que o homem é capaz de ser nobre. Se fossem um pouco mais honestos berravam: «É bem feito! Toma! Engole, porco!». Mas não. Afinal, o coitado até que se portou bem.

Eu a leitura que faço do dito discurso é esta: até McCain gostou de ver Obama eleito. Atenção, não por se ver ele livre de tal cargo {como vi por aí várias vezes apregoado}, não, acho que ele acredita mesmo que Obama é melhor escolha. O que, bem vistas as coisas, não abona muito a favor de Obama, não é?

Os males de Morales...

Eu bem que gostava de ter visto ou ouvido tamanha comoção acerca das questões da raça, e de como é bonito e histórico e comovente ver alguém de uma outra cor ser eleito, quando Evo Morales foi eleito Presidente da Bolívia há dois anos atrás. Mas uns são mais pretos que os pretos, isto é, são índios. É a vida.

Obama

Não me consigo emocionar com a eleição de Obama. Primeiro, porque o cargo é sujo por natureza e é ele que agora o preenche. É por isso legítimo perguntarmo-nos se será bom vermos alguém que estimamos e em quem depositamos esperança ocupar {é mais ser ocupado...} tal cargo. Além do mais, não acredito que Obama, só por si, chegue para limpar o cargo de tamanha herança {veremos quem se segue na lista de nomeações}. Segundo, porque aquilo que para muita gente parece ser já uma grande, enorme, vitória {black power!? mas andam a brincar?}, a eleição, para mim, é apenas o início. A coisa começa agora, ou não? Ou acham que acabou? O tipo já está eleito e nós já podemos dormir descansados? Não creio. Porque, terceiro, mais do que saber se ele é preto, ou se acabou, como se diz aqui, com a Guerra Civil norte-americana {está bem, está}, o que me interessa realmente saber é se ele é inteligente, competente, civilizado e honesto e, por conseguinte, saber: se ele vai anular o infame Patriot Act {é o vais}; se ele vai fechar Guantanamo e julgar em tribunais civilizados os seus detidos {deve ser, deve}; se ele vai finalmente classificar o waterboarding como uma forma de tortura e bani-la de uma vez por todas; se ele vai deixar de atacar países como tem sido, infelizmente, a tradição {mas essa vem de longe, não é?}; se ele vai deixar de se imiscuir nos assuntos internos dos mais variados países a sul do seu próprio país {ai, a tentação...}; se ele vai fazer algo de concreto para evitar que as corporations continuem a envenenar, nas mais variadas frentes, os seus próprios concidadãos {e muitos outros por tabela}; se ele sabe verdadeiramente ler as várias comunidades e sentimentos afro-americanos e, sabendo-o, representá-las e dar um passo em direcção ao apaziaguamento da brutal guerra racial que por lá se desenrola; se ele vai afirmar um dia legalize it! e reforma a DEA de uma vez por todas; se ele vai fazer a tal diferença no processo israelo-palestiniano {ou o sonho é só ao nível interno?; aqui já crescem dúvidas...}; se ele vai dar a mão à palmatória e admitir e corrigir o gigantesco erro que foi, e continua a ser, a invasão, bombardeamento e o infeliz dia-a-dia iraquiano; se ele vai, acima de tudo {e porque tudo é business, tudo é showbizz e ele sabe-o melhor que ninguém...}, pontapear nos tomates todo e qualquer CEO aldrabão, ganancioso e fora-da-lei. São muitos ses, caramba. E é por todas as respostas a estas interrogações estarem ainda tão longe, e por eu não acreditar que Obama tenha coragem, capacidade, oportunidade, suporte para as fornecer, que continuo sem conseguir emocionar-me com o homem e a sua eleição. Para mim, Obama é mais um porteiro contratado para abrir as portas desse enorme edifício que dá pelo nome de corporation. E, vistas bem as coisas, não há nada assim de tão histórico em contratar um preto para porteiro...


P.S. — Ainda bem que este blog apenas é lido por amigos, conhecidos e desconhecidos civilizados. Se não fosse assim ainda me arriscava a ter de ler comentários deste nível aqui. É certo que o tipo esticou-se mas ter de ler «Ó meu granda camafeu ignorante...» {Barack anónimus, lol} não deve ser fácil.